Olá, querido doutor e doutora! A vaginite aeróbica é uma condição ginecológica caracterizada por desequilíbrio da flora vaginal, inflamação da mucosa e substituição dos lactobacilos por bactérias aeróbias de origem intestinal. Apesar de menos prevalente que a vaginose bacteriana, apresenta impacto clínico significativo, especialmente pela associação com sintomas persistentes, risco de complicações obstétricas e ginecológicas e alta taxa de recorrência.
Diferentemente da vaginose bacteriana, a vaginite aeróbica cursa com inflamação evidente e secreção purulenta de odor pútrido.
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Conceito
A vaginite aeróbica é uma infecção vaginal caracterizada pela substituição da flora protetora dominada por lactobacilos por bactérias aeróbias, geralmente provenientes do trato intestinal. Esse desequilíbrio está associado a inflamação da mucosa, presença de leucócitos em atividade e células epiteliais imaturas, indicando deficiência na maturação do epitélio.
Clinicamente, distingue-se por secreção amarelada ou esverdeada, de aspecto purulento e odor fétido, acompanhada de sinais de irritação e vermelhidão vaginal. Diferentemente da vaginose bacteriana, a vaginite aeróbica cursa com inflamação evidente e pode se apresentar de forma persistente e sintomática.
Etiologia e fisiopatologia
A vaginite aeróbica resulta da diminuição ou ausência de lactobacilos e da colonização da mucosa vaginal por bactérias aeróbias, principalmente Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Streptococcus do grupo B e Enterococcus faecalis. Esses microrganismos, geralmente de origem intestinal, passam a dominar o ambiente vaginal, promovendo resposta inflamatória local.
O processo envolve múltiplos mecanismos:
- Redução da flora protetora: a perda de lactobacilos compromete a produção de ácido lático e peróxido de hidrogênio, que mantêm o pH vaginal ácido e limitam o crescimento de patógenos.
- Ativação imune: a presença de bactérias patogênicas estimula a liberação de citocinas inflamatórias (IL-1β, IL-6 e IL-8), que intensificam a reação inflamatória.
- Dano epitelial: a inflamação favorece a descamação de células epiteliais maduras e o aumento de células imaturas parabasal, sinal de deficiência na maturação tecidual.
- Influência hormonal: níveis baixos de estrogênio podem intensificar o quadro, já que o hormônio favorece a integridade do epitélio vaginal e a colonização por lactobacilos.
Esse conjunto de alterações explica a evolução clínica marcada por inflamação persistente, maior pH vaginal e risco de complicações ginecológicas e obstétricas.
Epidemiologia
A vaginite aeróbica é menos frequente que a vaginose bacteriana, mas sua ocorrência tem relevância clínica. Estima-se que esteja presente em cerca de 5 a 13% das mulheres em idade reprodutiva, com variações conforme a população estudada. Em gestantes, a prevalência tende a ser menor, variando entre 4 e 8%, embora o impacto seja maior devido às possíveis complicações obstétricas.
A condição pode surgir de forma isolada ou associada a outras infecções vaginais, como candidíase, vaginose bacteriana ou tricomoníase. Apesar de ainda subdiagnosticada, o reconhecimento tem aumentado em diferentes regiões, especialmente na Europa e na Ásia, onde o uso de exames microscópicos de rotina é mais frequente.
Avaliação clínica
A apresentação da vaginite aeróbica é bastante variável, mas geralmente marcada por sintomas persistentes, que podem se intensificar em fases de maior desequilíbrio da flora vaginal. Os principais achados são:
Secreção vaginal
A paciente apresenta corrimento espesso, amarelado a esverdeado, de aspecto purulento e odor fétido, descrito como pútrido. Diferentemente da vaginose bacteriana, não há odor típico de “peixe”.
Sintomas locais
São frequentes ardor, prurido, dor ou sensação de queimação na região vaginal e vulvar. Muitas pacientes também relatam dispareunia, principalmente nos quadros mais graves.
Sinais inflamatórios
Ao exame especular, observa-se eritema difuso, por vezes com edema da mucosa e presença de pontos hemorrágicos ou até erosões. Em casos mais severos, o aspecto pode se confundir com o da vaginite inflamatória descamativa.
Evolução
Os sintomas podem ser crônicos e recorrentes, persistindo por meses ou anos se não houver tratamento adequado. Além disso, há casos de associação com outras infecções, o que intensifica as manifestações clínicas.
Diagnóstico
O diagnóstico da vaginite aeróbica é estabelecido principalmente por meio da avaliação microscópica do fluido vaginal em lâmina fresca, de preferência com microscopia de contraste de fase. Esse exame permite identificar os critérios utilizados para a classificação da gravidade:
- Redução ou ausência de lactobacilos (avaliada pelo grau lactobacilar).
- Predomínio de bactérias aeróbias, como cocos em cadeias ou bacilos coliformes.
- Aumento de leucócitos, em especial leucócitos tóxicos, com granulações citoplasmáticas.
- Presença de células epiteliais imaturas parabasal, indicativas de atrofia ou deficiência estrogênica.
- Aspecto inflamatório da mucosa, correlacionado aos achados clínicos.
A partir desses parâmetros, é calculado um escore diagnóstico que varia de leve a grave, refletindo a intensidade da disbiose e da inflamação.
Testes complementares podem ser utilizados, como PCR quantitativo, ensaios enzimáticos (para detecção de sialidase, beta-glucuronidase ou leucocito-esterase) e, em alguns contextos, cultura microbiológica, embora o método microscópico seja considerado o mais informativo.
Tratamento
O manejo da vaginite aeróbica deve ser direcionado conforme a intensidade da inflamação, presença de atrofia epitelial e características microbiológicas. Não existe um esquema único padronizado, sendo necessária a individualização:
Antibióticos e antissépticos
Podem ser utilizados para reduzir a carga bacteriana, principalmente contra estreptococos, estafilococos e enterobactérias. Entre as opções estudadas estão clindamicina, kanamicina vaginal, nifuratel e moxifloxacino oral. O uso de dequalínio também mostrou eficácia como agente antisséptico local.
Corticosteroides tópicos
Indicados quando há predomínio do componente inflamatório, auxiliando na redução de sintomas como ardor, eritema e dor.
Terapia estrogênica local
Recomendada em casos com alto percentual de células parabasal, sinal de atrofia, especialmente em mulheres no pós-parto, em uso de contraceptivos hormonais de baixa dose ou no climatério.
Probióticos
Podem ser empregados como adjuvantes para restauração da flora vaginal, embora a eficácia ainda seja variável nos estudos.
A escolha terapêutica pode envolver combinação de estratégias, segundo os achados clínicos e microscópicos. A resposta deve ser monitorada, já que o risco de recorrência é significativo, sobretudo nos casos graves e crônicos.
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Referências Bibliográficas
- DONDERS, G. G. G. et al. Aerobic vaginitis: no longer a stranger. Research in Microbiology, v. 168, n. 9-10, p. 845-858, 2017. DOI: 10.1016/j.resmic.2017.04.004.
- EBSCO Information Services. Vulvovaginitis – Approach to the Patient. DynaMed. Ipswich, MA: EBSCO Information Services, atualizado em 26 ago. 2024. Disponível em: https://www.dynamed.com/approach-to/vulvovaginitis-approach-to-the-patient. Acesso em: 23 set. 2025.