Resumo sobre Barotrauma de ouvido: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Barotrauma de ouvido: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema importante? Hoje o foco é o Barotrauma de ouvido, uma condição causada por variações de pressão que podem afetar a integridade da membrana timpânica, resultando em dor, perda auditiva e outros sintomas.

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Barotrauma de ouvido

O corpo humano é constituído por diversas cavidades pneumáticas naturais, cuja fisiologia depende da integridade anatômica e das leis físicas que regem a variação de pressão. A Lei de Boyle, por exemplo, estabelece que, em temperatura constante, o volume de um gás é inversamente proporcional à sua pressão. 

Dessa forma, em condições normais, as variações pressóricas são reguladas por mecanismos orgânicos, como a trompa de Eustáquio, responsável pela equalização da pressão na orelha média, e os óstios que equilibram as cavidades paranasais.

Entretanto, quando há alterações bruscas nas pressões entre as cavidades corpóreas e o ambiente, podem ocorrer lesões conhecidas como barotraumas. Isso se deve ao fato de que o organismo humano contém diversas cavidades preenchidas por gases, tornando-o suscetível a desequilíbrios pressóricos. 

Esse fenômeno pode ocorrer em diferentes situações, como durante voos, mergulhos, explosões e outras circunstâncias que envolvem mudanças abruptas de altitude ou profundidade.

Barotrauma é definido como toda lesão causada por um trauma secundário a um desequilíbrio entre a pressão ambiental e uma cavidade preenchida por ar. Essas variações de pressão podem afetar diversas estruturas do corpo, levando a afecções como barossinusite, barotrauma dental, vertigem alternobárica e barotrauma pulmonar. 

As alterações de pressão e volume dentro dessas cavidades podem desencadear inflamações agudas ou crônicas, sobretudo nos seios paranasais e na cavidade da orelha média.

Os sintomas do barotrauma podem ser resultantes de pressões positivas ou negativas dentro das cavidades corpóreas, dependendo da situação em que ocorre a variação pressórica. 

Fisiopatologia do Barotrauma de ouvido

O barotrauma ocorre quando há uma variação súbita de pressão entre um ambiente e uma cavidade corporal preenchida por ar, como a orelha, os pulmões ou os seios da face. Essa discrepância pressórica pode causar lesões nos tecidos, resultando em dor, inflamação e até rupturas.

Orelha externa

Se houver uma obstrução no conduto auditivo externo (como um tampão de cerúmen), forma-se uma cavidade isolada onde a pressão pode não se equilibrar corretamente com o meio externo. Quando a pressão ambiental aumenta repentinamente (por exemplo, durante uma descida rápida em mergulho), o ar preso nesse espaço não se comprime adequadamente, levando a sintomas como dor intensa, hemorragia e até perfuração da membrana timpânica.

Orelha média

A tuba auditiva é responsável pela equalização da pressão entre a orelha média e o ambiente externo. Quando essa estrutura falha em sua função – seja por obstrução ou inflamação –, o ar na orelha média é reabsorvido lentamente pela mucosa, criando uma pressão negativa relativa. Essa pressão pode causar retração da membrana timpânica, levando a dor e inflamação. Se a diferença de pressão for extrema, a membrana pode se romper, resultando em perda auditiva e possível infecção.

Orelha interna

O barotrauma da orelha interna ocorre quando há um desequilíbrio abrupto de pressão entre a orelha média e a interna. Existem duas principais teorias sobre esse mecanismo:

  • Teoria Implosiva: Um aumento súbito da pressão na orelha média pode criar uma pressão negativa na orelha interna, levando à sucção da janela redonda, resultando em deslocamento da platina do estribo e formação de fístula perilinfática.
  • Teoria Explosiva: Durante uma tentativa malsucedida de equalização (como a manobra de Valsalva), a pressão no líquido cefalorraquidiano pode ser transmitida à orelha interna através do aqueduto coclear. Isso cria um gradiente de pressão excessivo, aumentando o risco de ruptura das membranas das janelas oval ou redonda.

Outros órgãos afetados pelo barotrauma

Além das orelhas, o barotrauma pode comprometer outras estruturas:

  • Seios da Face: A pressão desigual pode causar dor intensa, inflamação e sangramentos.
  • Pulmões: Em mergulhadores, a expansão ou colapso alveolar pode resultar em pneumotórax ou embolia gasosa.
  • Intestinos: Em altitudes elevadas, a expansão de gases pode gerar desconforto abdominal.

Situações mais comuns de barotrauma de ouvido

  • Aviação
    Durante a subida de uma aeronave, a diminuição da pressão atmosférica gera um gradiente de pressão de aproximadamente 15 mmHg. Como resposta, a tuba auditiva se abre automaticamente para liberar o excesso de pressão dentro da cavidade timpânica, o que pode ser percebido pelo passageiro como um estalido nos ouvidos. Já na descida, ocorre o inverso: a pressão negativa dentro da orelha média dificulta a abertura da tuba auditiva, tornando necessário o uso de manobras fisiológicas, como deglutição, mastigação ou a manobra de Valsalva, para auxiliar na equalização da pressão.
  • Mergulho
    No ambiente subaquático, a pressão aumenta proporcionalmente à profundidade, devido à densidade da água ser muito superior à do ar. A cada 10 metros de profundidade, há um acréscimo de 1 atmosfera (ATM) na pressão exercida sobre o corpo. Caso não haja uma adequada equalização da pressão nos espaços aéreos da orelha média, pode ocorrer barotrauma, resultando em dor intensa, hemotímpano e até perfuração do tímpano. Em casos mais graves, o barotrauma pode levar à perda auditiva neurossensorial súbita ou progressiva, principalmente nas frequências agudas. Qualquer mergulhador que apresente perda auditiva dentro de 72 horas após a imersão deve ser avaliado para possível fístula perilinfática.
  • Explosões
    A onda de choque gerada por uma explosão provoca uma mudança abrupta de pressão no ambiente. Diferente do barotrauma causado por mergulho ou aviação, a variação ocorre em fração de segundos, impossibilitando a adaptação gradual do ouvido médio. Isso pode resultar em contusão timpânica, hemotímpano, ruptura do tímpano, disjunção ossicular e lesão da orelha interna, levando a sintomas como tontura, zumbido e perda auditiva. Em muitos casos, o tímpano se regenera espontaneamente, mas aproximadamente 50% das perfurações timpânicas decorrentes de explosões exigem correção cirúrgica.

Quadro clínico do Barotrauma de ouvido

O barotrauma pode apresentar diferentes manifestações clínicas, variando conforme a intensidade da lesão sofrida. A gravidade dos sintomas pode ser classificada em três graus: mínimo, moderado e severo.

  • Barotrauma mínimo (grau I)
    Os sintomas são leves e autolimitados, incluindo otalgia discreta, sensação de plenitude auricular, zumbido de baixo volume e perda auditiva condutiva temporária. Geralmente, os sintomas desaparecem assim que a ventilação da orelha média é restabelecida, podendo durar até 24 horas e, em alguns casos, nem mesmo necessitam de tratamento.
  • Barotrauma moderado (grau II)
    Caracteriza-se pelos mesmos sintomas do grau mínimo, porém com maior intensidade e duração prolongada, podendo persistir por até uma semana. Esses casos costumam exigir medicações para alívio da dor e desconforto, como analgésicos e anti-inflamatórios.
  • Barotrauma severo (grau III)
    Envolve sintomas mais graves, como otalgia intensa e incapacitante, perda auditiva severa, zumbido intenso, vertigem e, em alguns casos, ruptura da membrana timpânica, o que pode levar ao alívio súbito da dor. O tratamento inclui repouso absoluto nas primeiras 24 horas, uso de corticoides em dose máxima, analgésicos potentes e antivertiginosos. Em situações mais graves, pode ser necessária internação e, em casos extremos, a realização de paracentese quando há acúmulo de líquido na orelha média.

O principal mecanismo fisiopatológico do barotrauma é o edema na porção nasofaríngea da tuba auditiva, muitas vezes secundário a infecções das vias aéreas superiores, processos alérgicos não controlados ou obstruções nasais crônicas, como desvios de septo e sinusopatias. 

Quando a pressão negativa na orelha média se torna significativa, pode ocorrer retração timpânica, ingurgitamento vascular e formação de transudato seroso ou hemorrágico, resultando em dor intensa e perda auditiva.

Diagnóstico de Barotrauma de ouvido

O diagnóstico do barotrauma é predominantemente clínico, baseado na associação dos sintomas com exposição a variações de pressão. A audiometria pode revelar perda condutiva na maioria dos casos, mas perdas neurossensoriais ou mistas podem ocorrer quando há comprometimento da orelha interna. Os principais diagnósticos diferenciais incluem otite média serosa, otite média aguda ou crônica e miringite bolhosa.

Tratamento de Barotrauma de ouvido

Na maioria dos casos, as lesões decorrentes do barotrauma se resolvem espontaneamente com o tempo, incluindo edema timpânico, hemorragia, otite serosa ou hemorrágica. Até mesmo rupturas da membrana timpânica podem cicatrizar naturalmente, desde que a função da tuba auditiva seja restaurada e a perfuração não tenha sido causada por uma lesão explosiva. O tratamento varia conforme o quadro clínico apresentado.

Quando não há transudação na orelha média, pode-se tentar a ventilação com a manobra de Valsalva. O uso prévio de descongestionantes tópicos pode aumentar a eficácia desse procedimento, que deve ser repetido até que a função da tuba auditiva se normalize. 

No entanto, se houver transudação, manobras de aeração da orelha média devem ser evitadas. Nesses casos, o tratamento envolve o uso de descongestionantes tópicos ou sistêmicos. Quando a tuba auditiva começa a se abrir, formando bolhas na orelha média, pode-se recorrer ao balão de Politzer para auxiliar na recuperação.

Descongestionantes e anti-histamínicos geralmente não influenciam significativamente a velocidade de recuperação. Antibióticos só são indicados quando há perfuração timpânica associada a infecção do ouvido médio. Analgésicos são úteis para controle da dor, conforme necessário. Não há evidências que sustentem o uso de glicocorticoides para acelerar a recuperação.

Situações de emergência podem ocorrer quando o barotrauma leva à formação de uma fístula perilinfática no ouvido interno, resultando em perda de fluido perilinfático, tontura e perda auditiva neurossensorial. Nesses casos, pode ser indicada a timpanotomia exploradora, com cuidados para evitar aumento da pressão intracraniana. 

O tratamento envolve repouso, decúbito elevado, dieta laxativa e o uso de vasodilatadores para melhorar a perfusão das células ciliadas. A miringotomia pode ser realizada para aliviar os sintomas, embora não melhore a função da tuba auditiva.

A cateterização do óstio da tuba auditiva nunca deve ser realizada, pois pode agravar o trauma e prolongar a inflamação. A timpanotomia (miringotomia) com ou sem a colocação de tubo de ventilação tem sido usada como método preventivo e terapêutico para barotrauma. 

Veja também!

Referências

PHMA, Fábio de Rezende; BENTO, Ricardo Ferreira (ed.). Manual de residência em otorrinolaringologia. Barueri, SP: Manole, 2018. ISBN 978-85-204-5066-6.

David M Vernick, MD. Ear barotrauma. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

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