E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é o Crupe, uma condição respiratória comum em crianças, caracterizada por inflamação das vias aéreas superiores, resultando em tosse rouca, estridor e dificuldade respiratória.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura. Vamos nessa!
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Definição de Crupe
O crupe é uma doença respiratória aguda caracterizada por estridor inspiratório, tosse “ladrante” (semelhante ao latido de um cachorro) e rouquidão. Esses sintomas resultam da inflamação da laringe e da região subglótica da traqueia. Embora, na maioria dos casos, o crupe seja uma condição autolimitada e de evolução benigna, pode haver obstrução significativa das vias aéreas superiores e desconforto respiratório.
O termo “crupe” é geralmente utilizado para descrever uma variedade de condições respiratórias superiores em crianças, mas, de forma mais específica, refere-se à laringotraqueíte viral. Essa forma clássica, conhecida como crupe viral, afeta com mais frequência crianças entre seis meses e três anos de idade, sendo causada por vírus respiratórios. O quadro clínico pode incluir sintomas associados como febre e congestão nasal, e tende a se resolver espontaneamente em até três dias.
Outra forma é o crupe espasmódico, que também acomete crianças na mesma faixa etária, mas apresenta início e término abruptos, sempre durante a noite, com ausência de febre e episódios que podem se repetir por várias noites consecutivas. Esse tipo está associado a histórico familiar de alergias e é, por isso, por vezes chamado de “crupe alérgico”.
Há ainda o crupe recorrente ou atípico, definido por episódios frequentes ou que se manifestam fora da faixa etária típica (antes dos seis meses ou após os cinco ou seis anos), ou por sintomas mais graves e prolongados. Nesses casos, é recomendada investigação de possíveis anomalias estruturais das vias aéreas.
Condições relacionadas, mas distintas do crupe, incluem:
- Laringite: inflamação limitada à laringe, com rouquidão, mais comum em crianças maiores e adultos.
- Laringotraqueobronquite: envolve extensão da inflamação até os brônquios, com sinais de acometimento das vias aéreas inferiores, como sibilos e estertores.
- Traqueíte bacteriana: infecção exsudativa grave da traqueia, que pode ocorrer primariamente ou como complicação de crupe viral, marcada por febre alta, aspecto tóxico e piora significativa do quadro respiratório.
Apesar de apresentações que variam em gravidade, o crupe, em sua forma típica, costuma ter evolução favorável, especialmente com medidas de suporte e alívio sintomático.
Epidemiologia do Crupe
A laringotraqueobronquite, conhecida como crupe, é a principal causa de obstrução de vias aéreas superiores em crianças, sendo responsável por cerca de 90% dos casos de estridor. Representa entre 1,5% e 6% das doenças respiratórias da infância.
Afeta principalmente crianças de 1 a 6 anos, com pico de incidência aos 18 meses. É mais comum no sexo masculino, com uma razão de 1,4 a 2 casos em meninos para cada caso em meninas. Apesar de ocorrer ao longo de todo o ano, os casos se concentram no outono e inverno.
Etiologia do Crupe
A etiologia do crupe é predominantemente viral. Os principais agentes causadores são os vírus parainfluenza (tipos 1, 2 e 3), os vírus influenza A e B e o vírus sincicial respiratório. Em crianças com mais de 5 anos, o Mycoplasma pneumoniae também pode estar envolvido na origem do quadro.
Fisiopatologia do Crupe
O crupe viral inicia-se com infecção da nasofaringe, que se propaga ao longo do epitélio respiratório até atingir laringe, traqueia e árvore broncoalveolar. Seu principal marco anatômico é o estreitamento da via aérea subglótica, região abaixo das pregas vocais, circundada pela cartilagem cricoide, que por ser um anel completo, não permite dilatação. Assim, o edema nessa área leva a obstrução significativa das vias aéreas.
Além da obstrução fixa pelo edema, pode ocorrer obstrução dinâmica da traqueia extratorácica durante choro ou esforço respiratório, devido à pressão negativa e à flacidez da parede traqueal infantil. Em casos graves, a luz subglótica pode se reduzir a 1–2 mm, podendo haver exsudato fibrinoso e pseudomembranas, agravando a obstrução.
A inflamação também atinge as pregas vocais, prejudicando sua mobilidade. Histologicamente, observam-se infiltrados de histiócitos, linfócitos, plasmócitos e neutrófilos na lâmina própria edemaciada, submucosa e adventícia da laringe e traqueia.
Manifestações clínicas do Crupe
O crupe viral geralmente começa com sintomas leves de infecção, como rinorreia clara, faringite, tosse discreta e febre baixa. Em 12 a 48 horas, surgem sinais de obstrução das vias aéreas superiores, como tosse metálica (“em latido de cachorro”), rouquidão e estridor inspiratório, especialmente durante o choro ou agitação.
A maioria dos casos é autolimitada e se resolve em 3 a 7 dias. Formas graves podem evoluir com febre alta, taquipneia, taquicardia, retrações torácicas, batimento de aletas nasais, cianose, agitação e sonolência, podendo durar até 14 dias. Crianças com histórico de cirurgias, intubações ou doenças das vias aéreas exigem atenção redobrada.
A gravidade é avaliada por escores clínicos que consideram sinais como estridor em repouso, retrações, cianose, expansibilidade pulmonar e nível de consciência. Hipoxemia, embora tardia, indica doença avançada e necessidade de internação em UTI. A oximetria deve ser feita em todos os casos com estridor, mesmo que a saturação esteja normal. Crupe moderado com hipoxemia sugere possível acometimento das vias aéreas inferiores.
Sinal | 0 | 1 | 2 | 3 |
Estridor | Ausente | Com agitação | Leve em repouso | Grave em repouso |
Retração | Ausente | Leve | Moderado | Grave |
Entrada de ar | Normal | Normal | Diminuída | Muito diminuída |
Cor | Normal | Normal | Cianótica com agitação | Cianótico em repouso |
Nível de consciência | Normal | Agitação sob estímulo | Agitação | Letárgico |
Escore total: < 6 = leve; 7-8 = moderada; > 8 = grave |
Diagnóstico de Crupe
O diagnóstico do crupe viral é principalmente clínico, baseado nos sinais e sintomas característicos da doença. O uso da radiografia cervical para identificar o estreitamento subglótico, conhecido como sinal da ponta de lápis ou torre de igreja, tem valor limitado, pois essa imagem pode ocorrer normalmente em crianças devido à anatomia dessa região.
Além disso, cerca de 50% das crianças com crupe viral apresentam radiografia cervical normal. Por isso, o exame radiológico é indicado principalmente para investigar outras causas dos sintomas semelhantes, como a aspiração de corpo estranho, ou em casos de evolução atípica da doença.
Tratamento do Crupe
O tratamento do crupe viral tem como objetivo principal a manutenção das vias aéreas desobstruídas, mantendo o paciente o mais calmo possível para evitar agravamento do quadro. O choro deve ser evitado, pois aumenta a pressão negativa no tórax, causando maior colapso das vias aéreas extratorácicas e aumentando a resistência ao fluxo de ar.
Nebulização
Embora comum, a nebulização com solução fisiológica ou ar umidificado não possui eficácia comprovada e deve ser evitada se causar agitação na criança. Pode ser utilizada como fonte de oxigênio em casos de hipoxemia, mas não há evidência de que a umidificação melhore o fluxo aéreo ou a eliminação das secreções.
Corticosteroides
São fundamentais para reduzir a gravidade dos sintomas, diminuir a duração da hospitalização e a necessidade de internação em UTI. A dexametasona é o corticosteroide mais recomendado devido à sua potência e longa ação (mais de 48 horas), podendo ser administrada oral ou parenteralmente, em dose única que varia conforme a gravidade do crupe (0,15 mg/kg para casos leves até 0,6 mg/kg para casos graves). O budesonida inalatório também é eficaz em casos leves a moderados, com efeito similar ao da dexametasona.
Epinefrina
Age rapidamente por meio da constrição dos capilares arteriolares, aliviando o estridor e os sinais de insuficiência respiratória. Seu efeito é breve, durando cerca de 2 horas, e o desconforto pode retornar após esse período.
A epinefrina inalatória é segura em dose única, mas seu uso repetido deve ser cauteloso, pois há relatos raros de efeitos adversos graves. Indicações incluem crupe moderado à grave e crianças com histórico de manipulação prévia das vias aéreas superiores. A dose recomendada é 0,5 ml/kg até um máximo de 5 ml de epinefrina não diluída (1:1000).
Intubação
Raramente necessária após tratamento com epinefrina e corticosteroides, a intubação deve ser realizada apenas em casos de obstrução iminente da via aérea, por profissional experiente e em ambiente controlado. A cânula traqueal deve ser de 0,5 mm menor que o diâmetro ideal para a idade da criança, devido à dificuldade anatômica e risco de obstrução total.
Internação
Indicada para crianças com toxemia, desidratação, incapacidade de ingerir líquidos, estridor ou retrações em repouso, e para aquelas que não respondem ou pioram após duas horas da administração de epinefrina.
Gravidade dos sintomas | Intervenção |
Crupe leve | – Dexametasona 0,15-0,3 mg/kg- Alta para casa |
Crupe moderado | – Nebulização com l-epinefrina: 5 ml- Dexametasona 0,3-0,6 mg/kg ou Budesonida inalatório: 2 mg- Observação por 3-4 horas e alta para casa ou admissão hospitalar |
Crupe severo | – Nebulização com l-epinefrina: 5 ml- Dexametasona 0,6 mg IM- Admissão na unidade de terapia intensiva |
Diagnósticos diferenciais
É importante descartar outras causas de obstrução das vias aéreas superiores, como edema angioneurótico, aspiração de corpo estranho, traqueíte bacteriana, abscessos retrofaríngeos ou peritonsilares e supraglotite infecciosa.
Esta última se diferencia do crupe por apresentar estridor e desconforto respiratório, mas sem tosse característica, rouquidão e com sinais clínicos de doença bacteriana grave, como estado tóxico e alterações circulatórias.
De olho na prova!
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SE – Universidade Federal de Sergipe – UFS (Hospital Universitário de Sergipe) – 2018 – Residência (Acesso Direto)
Com relação a doença denominada crupe viral, assinale a alternativa ERRADA:
A) A síndrome do crupe manifesta-se clinicamente com rouquidão, tosse ladrante, estridor predominantemente inspiratório e desconforto respiratório.
B) A etiologia viral do crupe é a mais comum, sendo os vírus parainfluenza um dos principais agentes.
C) Acomete crianças de 01 a 06 anos de idade, com pico de incidência aos 18 meses e é vista predominante no gênero masculino.
D) A maioria das crianças com quadro de laringotraqueíte viral apresenta sintomas intensos que progridem para obstrução progressiva de vias aéreas.
Opção correta: Alternativa “D”
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Referências
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento de Emergências. Crupe Viral e Bacteriano: Guia Prático de Conduta. nº 1, jan. 2017.
Charles R Woods, MD, MSMichael Goldman, MD, MHSLeidy Tovar Padua, MD. Croup: Clinical features, evaluation, and diagnosis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate