E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre a Disartria, um grupo de distúrbios da fala gerado a partir de uma lesão neurológica.
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Definição de Disartria
A disartria pode ser definida como um grupo de distúrbios da fala resultante de uma lesão no mecanismo neurológico, tanto central quanto periférico, que regula o movimento da fala. Esses distúrbios são caracterizados por sintomas como lentidão, fraqueza, imprecisão e/ou incoordenação na articulação da fala.
O termo disartrofonia é introduzido para abranger também as alterações acústicas da voz associadas ao distúrbio articulatório, que resultam em deformações na onda sonora devido à interferência do filtro vocal.
A disartria pode apresentar um caráter evolutivo em doenças neurológicas degenerativas, variando conforme a doença de base e sua velocidade de progressão. Em contraste, em condições como traumatismo cranioencefálico ou acidente vascular encefálico, os déficits de fala não tendem a piorar.
Causas de Disartria
Diversas condições, incluindo doenças neuromusculares, vasculares, distúrbios de movimento, demências, síndromes, encefalites, meningites, traumatismos cranioencefálicos, infecções e tumores, podem apresentar a disartria como sintoma.
Além do comprometimento da articulação, a disartria envolve outras funções relacionadas à fonação, como voz, entonação, ritmo de fala, órgãos fonoarticulatórios e respiração. A avaliação fonoaudiológica é essencial para compreender os processos motores básicos da fala, considerando a contribuição individual e global de cada aspecto.
A interação entre essas informações e os achados otorrinolaringológicos e neurológicos, por meio de um trabalho interdisciplinar, é crucial para desenvolver um programa terapêutico adequado e objetivo, visando maximizar a comunicação do paciente.
Classificação da Disartria
A classificação estabelecida por Darley et al. em 1975, na Mayo Clinic, é amplamente reconhecida e utilizada globalmente como um estudo clássico na área, mantendo sua relevância até os dias atuais.
Disartria flácida
A disartria flácida é um tipo específico de distúrbio na fala que ocorre em pacientes com paralisia bulbar, resultante de lesões no neurônio motor inferior ou periférico, afetando os pares cranianos V, VII, IX, X e XII. Quando essas pessoas falam, é comum notar a presença de hipernasalidade.
A disartria flácida se caracteriza por uma produção vocal com qualidade soprosa, rouca e crepitante, apresentando redução na intensidade vocal e um tom mais grave.
Outras características incluem ataque vocal aspirado ou isocrônico, diminuição na taxa máxima de fonemas, incoordenação entre respiração, produção vocal e articulação, relação entre as consoantes ‘s’ e ‘z’ maior que 1,2, quebras na sonoridade e redução nos movimentos verticais da laringe devido à falta de força.
Além das características vocais, a disartria flácida também se manifesta por imprecisões na articulação, resultantes da falta de pressão intraoral devido à incompetência velofaríngea e/ou imobilidade dos lábios e língua, causada por disfunções nos nervos facial e hipoglosso.
Essa forma de disartria está frequentemente associada a condições médicas como traumatismos cranianos, distúrbios vasculares, síndrome de Guillain-Barré, esclerose lateral amiotrófica (com predomínio de forma flácida) e esclerose múltipla.
Disartria espástica
A disartria espástica está associada à paralisia pseudobulbar, resultante de lesões no neurônio motor superior, como múltiplos acidentes vasculares encefálicos (AVE), traumatismos cranioencefálicos, paralisia cerebral, tumores cerebrais extensos, esclerose lateral amiotrófica (ELA) com predominância espástica, encefalite, esclerose múltipla (EM) ou degeneração cerebral progressiva.
Os pacientes podem enfrentar dificuldades na linguagem, deglutição e labilidade emocional, com mudanças abruptas de riso e choro.
A fala na disartria espástica é caracterizada por lentidão, hipernasalidade, articulação imprecisa e esforçada. As características perceptivas incluem rouquidão, aspereza com qualidade vocal tensa-estrangulada, pitch grave, instabilidade na emissão, loudness reduzida, diminuição da movimentação vertical da laringe devido à hipertonia local, incoordenação pneumofonoarticulatória, ataque vocal brusco, aumento da taxa máxima de fonemas (TMF) e relação s/z menor que 0,8.
Sinais miofuncionais orais revelam movimentos lentos e limitados quando solicitados ao paciente. A hipertonia da musculatura fonatória pode ser observada, mas coexiste com fraqueza e hiperreflexia laríngea.
Disartria hipocinética
Pacientes com essa condição apresentam características vocais e de fala distintas, incluindo loudness reduzida, voz monótona, monopitch, monoloudness, qualidade vocal rouca ou aspirada, pitch grave, imprecisão articulatória, redução na tessitura da voz falada e alterações na fluência. A incoordenação laríngea também é um aspecto observado.
Essas alterações vocais são frequentemente descritas em pacientes com Parkinsonismo. Os pacientes com disartria hipocinética exibem um deslocamento articulatório reduzido em comparação com falantes normais, além de incoordenação entre os músculos agonistas e antagonistas.
Além do parkinsonismo, a característica hipocinética pode ser observada em outras condições, como na disartria mista de atrofia de múltiplos sistemas (síndrome de Shy-Drager), síndrome neurológica associada a distúrbio hepático (doença de Wilson) e paralisia supranuclear progressiva (síndrome de Steele-Richardson-Olszewski).
Essas informações destacam a presença da disartria hipocinética em diversas condições neurológicas, com características específicas que afetam a produção vocal e a articulação da fala.
Disartria hipercinética
A disartria hipercinética ocorre em doenças que afetam o sistema extrapiramidal, resultando em movimentos involuntários de diferentes intensidades, que podem ser rápidos e súbitos ou lentos e contraturados.
Essa condição é frequentemente associada a distúrbios do movimento, como coreia, distonia, tremor vocal essencial, mioclonia palatofaringolaríngea e discinesias.
Os sintomas característicos incluem um aumento no ritmo da fala, presença de disfluência, dificuldade articulatória no final da emissão, falta de coordenação entre respiração, produção vocal e articulação, além de uma significativa redução na clareza da fala.
Disartria atáxica
A disartria atáxica resulta do comprometimento do cerebelo, que desempenha o papel de modulador dos movimentos originados em outras partes do sistema nervoso central (SNC) e regula o tônus muscular.
As características perceptivas e auditivas associadas à disartria atáxica incluem uma qualidade vocal áspera, entoação monótona ou excessiva, variações na intensidade vocal e hipernasalidade.
Disartria mista
A disartria mista ocorre devido a lesões múltiplas no sistema nervoso central (SNC) ou no sistema nervoso periférico (SNP), resultando em características articulatórias diversas.
Doenças como esclerose lateral amiotrófica (ELA), esclerose múltipla (EM), doença de Wilson e síndrome de Shy-Drager são exemplos principais que se enquadram nessa classificação.
Em diferentes graus de intensidade, os sintomas podem incluir aspereza vocal, qualidade vocal tensa-estrangulada ou pastosa em alguns casos, lentidão na prosódia, monotonia na entoação, redução na intensidade vocal, incoordenação laríngea, articulação imprecisa e alterações na entoação.
Tratamento da Disartria
O tratamento das disartrias é um processo abrangente que busca melhorar a comunicação e a qualidade de vida de pacientes que enfrentam distúrbios neuromotores na fala.
Geralmente, essa abordagem terapêutica envolve uma equipe multidisciplinar composta por fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, e, em alguns casos, médicos especializados em Neurologia e Otorrinolaringologia. Uma avaliação completa é o ponto inicial, permitindo entender a natureza específica da disartria, identificar causas subjacentes e determinar a extensão dos déficits.
Os fonoaudiólogos desempenham um papel central no tratamento, desenvolvendo programas personalizados que abordam as dificuldades específicas de cada paciente. As sessões podem incluir exercícios para fortalecer os músculos envolvidos na fala, melhorar articulação, entoação, intensidade vocal e promover estratégias compensatórias. Além disso, terapeutas respiratórios ou fisioterapeutas respiratórios podem oferecer exercícios específicos para melhorar a função respiratória quando necessário.
Em situações avançadas, dispositivos de comunicação assistida por computador (CAC) podem ser incorporados para auxiliar na comunicação. Estes dispositivos permitem que o paciente se comunique através de símbolos, texto ou voz sintetizada.
O treinamento familiar e suporte emocional também desempenham um papel crucial no processo, com familiares e cuidadores aprendendo estratégias para auxiliar na comunicação e fornecer o suporte necessário.
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Referências
LOPES FILHO, Otacílio (Editor); CAMPIOTTO, Alcione Ramos; COSTA LEVY, Cilmara Cristina Alves da; REDONDO, Maria do Carmo; ANELLI, Wanderlene (Outros Autores). Novo tratado de fonoaudiologia. 3. ed. Barueri, SP: Manole, 2013.