E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Disfonia Aguda, uma alteração vocal que pode ser causada por infecções, abuso vocal ou irritações da laringe, comprometendo a comunicação e a qualidade de vida do paciente.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Disfonia Aguda
A disfonia aguda refere-se a qualquer alteração na qualidade da voz que dura menos de três semanas. Pode se manifestar como rouquidão, cansaço ao falar, falhas na voz ou até mesmo perda temporária da emissão vocal. Essa condição pode afetar pessoas de todas as idades, com etiologias que variam conforme o grupo populacional.
As principais causas da disfonia aguda incluem infecções respiratórias, como laringites virais, uso excessivo ou inadequado da voz, exposição a agentes irritantes (fumo, poluição, substâncias químicas) e reações alérgicas.
Embora a maioria dos casos seja benigna e autolimitada, a disfonia pode causar grande impacto na vida pessoal e profissional, dificultando a comunicação e sendo uma das razões mais comuns para afastamento do trabalho.
O tratamento depende da causa, mas repouso vocal, hidratação adequada e evitar fatores irritantes são medidas fundamentais. Em casos persistentes ou associados a sintomas como dor intensa, dificuldade para engolir ou sangramento, a avaliação médica é essencial para excluir condições mais graves.
Laringite Aguda
A laringite aguda é uma inflamação da mucosa laríngea e das pregas vocais, sendo responsável por aproximadamente 40% dos casos de disfonia. Geralmente, é uma condição autolimitada e pode ser causada por infecções virais e bacterianas, refluxo laringofaríngeo, abuso vocal, inalação de produtos tóxicos, alergias ou tosse persistente. A etiologia mais comum é viral, com destaque para o vírus parainfluenza, seguido por rinovírus, influenza e adenovírus.
Os sintomas típicos incluem disfonia, tosse, odinofagia (dor ao engolir), congestão nasal, coriza e, em casos mais graves, dispneia. O tratamento é baseado no alívio dos sintomas, com uso de anti-inflamatórios, analgésicos, repouso vocal e hidratação adequada.
Laringite Catarral Aguda
A laringite catarral aguda é um tipo comum de laringite, frequentemente associada a infecções do trato respiratório superior. Geralmente, ocorre após uma infecção viral e pode evoluir para um quadro bacteriano secundário.
Sintomas
- Dor na garganta;
- Tosse inicialmente seca, que pode se tornar produtiva com secreção mucopurulenta;
- Disfonia, variando de leve a intensa;
- Febre baixa, de início súbito.
Diagnóstico
A laringoscopia pode revelar edema difuso na laringe, especialmente nas regiões glótica e supraglótica, além da presença de exsudato mucoso ou mucopurulento. A estroboscopia pode demonstrar uma redução da onda mucosa e fenda glótica durante a fonação.
Causas bacterianas mais frequentes
- Moraxella catarrhalis
- Haemophilus influenzae
- Streptococcus pneumoniae
- Chlamydia pneumoniae
Tratamento
O manejo inclui antibioticoterapia nos casos bacterianos, corticoterapia oral para os quadros mais graves, nebulização com soro fisiológico, hidratação adequada e repouso vocal.
Laringite Alérgica Aguda
A laringite alérgica aguda é uma condição ainda pouco compreendida, sem consenso definitivo na comunidade científica. Muitos pesquisadores questionam sua existência como uma entidade clínica isolada, já que seus sintomas se assemelham aos da laringite viral e ao refluxo laringofaríngeo.
Sintomas
- Disfonia leve a moderada;
- Tosse seca persistente;
- Pigarro constante;
- Sensação de corpo estranho na garganta;
- Gotejamento pós-nasal;
- Secreção espessa na laringe;
- Em casos mais graves, edema laríngeo intenso com risco de dispneia.
Diagnóstico
O diagnóstico é baseado na investigação da presença de atopia (predisposição genética a reações alérgicas), sinais evidentes de alergia e exclusão de outras causas, como infecções e refluxo laringofaríngeo.
Tratamento
Pacientes alérgicos com queixas vocais podem apresentar melhora dos sintomas com tratamento antialérgico. Estudos indicam que indivíduos com alergia apresentam mais queixas vocais em comparação a grupos sem essa condição.
Laringite por Refluxo Laringofaríngeo
A laringite por refluxo laringofaríngeo ocorre devido ao retorno do conteúdo gástrico para a laringe, causando irritação crônica na mucosa laríngea. Esse tipo de laringite é muito comum entre pacientes disfônicos crônicos, sendo identificado em 55-79% desses casos e em até 91% dos pacientes idosos com disfonia.
Sintomas
- Tosse crônica e persistente;
- Sensação de pigarro constante;
- Globus faríngeo (sensação de algo preso na garganta);
- Disfonia, que pode ser intermitente ou persistente;
- Rouquidão matinal.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se nos sintomas e na laringoscopia, que pode revelar:
- Espessamento da comissura posterior;
- Edema e eritema dos aritenoides;
- Edema e hiperemia difusa da laringe;
- Alterações estruturais nas pregas vocais, como queratose e lesões ulcerativas, que impactam a onda mucosa e a qualidade vocal.
Tratamento
O manejo inclui mudanças no estilo de vida, como evitar alimentos ácidos, gordurosos e refeições volumosas antes de dormir, além do uso de inibidores da bomba de prótons (IBPs). Embora estudos indiquem melhora dos sintomas vocais após três meses de tratamento com IBPs, nem sempre há correlação com melhora nos achados laringoscópicos.
Hemorragia de Prega Vocal
A hemorragia de prega vocal ocorre devido à ruptura de vasos sanguíneos localizados no espaço de Reinke, resultando em extravasamento de sangue na lâmina própria da prega vocal. Essa condição afeta diretamente a vibração das pregas vocais, podendo comprometer significativamente a qualidade vocal, especialmente em indivíduos que utilizam a voz profissionalmente.
Causas
A principal causa da hemorragia de prega vocal é o abuso vocal, caracterizado pelo uso excessivo, inadequado ou forçado da voz. Esse esforço pode levar ao rompimento dos vasos sanguíneos, principalmente se houver predisposição vascular. Outras causas incluem:
- Uso de anticoagulantes, que reduzem a capacidade de coagulação do sangue e aumentam o risco de sangramento espontâneo nos vasos das pregas vocais.
- Infecções do trato respiratório superior, que podem provocar inflamação e fragilidade vascular, favorecendo a ruptura dos capilares na região.
- Fatores anatômicos predisponentes, como ectasia vascular (dilatação anormal dos vasos) ou vasculodisgenesia (alterações congênitas nos vasos sanguíneos), que aumentam a vulnerabilidade à hemorragia.
Quadro Clínico
O sintoma clássico da hemorragia de prega vocal é a disfonia súbita, que pode variar de uma leve rouquidão até a completa perda da voz (afonia). Diferentemente de outras doenças laríngeas, a hemorragia geralmente ocorre sem outros sintomas, como dor, febre ou dificuldade respiratória. Essa súbita alteração vocal gera grande preocupação, especialmente em profissionais da voz, como cantores, professores, palestrantes e atores, pois impacta diretamente suas atividades.
Diagnóstico
O diagnóstico da hemorragia de prega vocal é realizado por meio de exames endoscópicos, como:
- Laringoscopia: evidencia um hematoma na mucosa da prega vocal, podendo variar de pequenas manchas avermelhadas até áreas extensas de sangramento.
- Videolaringoestroboscopia: exame mais detalhado que avalia a vibração das pregas vocais, demonstrando uma redução da onda mucosa devido ao efeito de massa causado pelo acúmulo de sangue e pela alteração da viscosidade da lâmina própria.
As figuras citadas no texto (39.4 e 39.5) ilustram esses achados, mostrando o impacto do sangramento na mobilidade e vibração das pregas vocais.
Prognóstico e impacto na voz
Embora a hemorragia seja uma condição preocupante, não há evidências de que cause deterioração vocal a longo prazo. O receio de que hemorragias recorrentes levem à fibrose da mucosa da prega vocal e, consequentemente, à piora da voz, não foi comprovado cientificamente.
No entanto, a repetição frequente de sangramentos pode resultar na formação de lesões estruturais permanentes, como pólipos e sulcos vocais, que podem comprometer a flexibilidade e vibração das pregas vocais.
Tratamento
O tratamento da hemorragia de prega vocal é essencialmente conservador, incluindo:
- Repouso vocal absoluto: essencial para evitar que a vibração das pregas vocais agrave o sangramento e prolongue o processo inflamatório.
- Hidratação intensiva: fundamental para manter a mucosa laríngea lubrificada, favorecendo a recuperação.
- Controle de fatores predisponentes: em casos de uso de anticoagulantes, pode ser necessária a revisão da medicação, sempre sob orientação médica.
Nos pacientes com ectasia vascular ou vasculodisgenesia, o risco de hemorragia é dez vezes maior, tornando necessário um acompanhamento mais rigoroso. Para esses casos, pode ser indicada cirurgia, como:
- Cauterização dos vasos dilatados, reduzindo a chance de novas hemorragias.
- Excisão de lesões vasculares, prevenindo sangramentos recorrentes.
Disfonia funcional
A disfonia funcional é uma alteração vocal causada pelo uso inadequado da voz, sem a presença de lesões estruturais na laringe. É mais comum em profissionais que utilizam intensamente a voz, como professores e operadores de telemarketing, e apresenta maior incidência no sexo feminino. Pode ocorrer devido a tensão musculoesquelética ou fatores emocionais, como estresse e conflitos pessoais.
A disfonia funcional pode ser dividida principalmente em dois tipos: disfonia por tensão musculoesquelética e afonia de conversão, ambas resultantes de uso inadequado da voz sem alterações estruturais na laringe.
A disfonia por tensão musculoesquelética ocorre devido ao uso excessivo dos músculos da laringe, podendo estar associada a fatores como rinossinusite, laringite ou refluxo. O esforço vocal excessivo leva à elevação da laringe e à hiperconstrição da faringe, causando fadiga vocal e dificuldade na projeção da voz. Esse tipo de disfonia é comum em profissionais que utilizam a voz intensamente, como professores e atendentes de telemarketing.
Já a afonia de conversão tem origem psicogênica e está relacionada a fatores emocionais, como estresse e conflitos pessoais. O sintoma surge de forma súbita, com grande comprometimento da fala, mas o paciente mantém a capacidade de tossir e pigarrear normalmente. Durante a videolaringoscopia, é possível observar constrição laríngea, fenda triangular anteroposterior e ausência de vibração das pregas vocais.
O diagnóstico é feito por exclusão, sendo necessária anamnese detalhada e videolaringoscopia, que revela ausência de lesões estruturais. O tratamento inclui hidratação, fonoterapia para reeducação vocal, orientações sobre higiene vocal e, nos casos psicogênicos, acompanhamento psicológico. A abordagem precoce melhora significativamente a recuperação da função vocal.
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Referências
PHMA, Fábio de Rezende; BENTO, Ricardo Ferreira (ed.). Manual de residência em otorrinolaringologia. Barueri, SP: Manole, 2018. ISBN 978-85-204-5066-6.