E aí, doc! Pronto para mergulhar em mais um tema importante? Hoje o assunto é Enterite por Radiação, uma condição que pode surgir como complicação da radioterapia, afetando principalmente o intestino delgado e, em alguns casos, o intestino grosso.
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Definição de Enterite por Radiação
Enterite por radiação é uma condição inflamatória e lesiva que acomete o intestino delgado e/ou grosso, decorrente da exposição à radioterapia, especialmente em pacientes submetidos a tratamento de cânceres pélvicos, abdominais ou ginecológicos.
A radiação danifica as células da mucosa intestinal, comprometendo a função de absorção e a integridade da barreira intestinal. Essa condição pode ser classificada em aguda, com início durante ou logo após o tratamento, e crônica, que pode surgir entre 3 meses e até 30 anos após a radioterapia.
Termos como colite por radiação, enteropatia por radiação, mucosite por radiação e doença pélvica por radiação são utilizados para descrever variações dessa lesão, de acordo com a localização e o grau de comprometimento intestinal.
Quando o reto e o cólon sigmoide são especificamente afetados, a condição é chamada de “retite por radiação”. A enterite por radiação pode causar sintomas como dor abdominal, diarreia crônica, sangramentos intestinais, perda de peso e má absorção, exigindo abordagem multidisciplinar para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes.
Fisiopatologia da Enterite por Radiação
A enterite por radiação resulta de lesões repetitivas causadas pela exposição da mucosa intestinal à radiação ionizante. Esse processo leva à formação de radicais livres, como a hidroxila, gerados a partir da interação da radiação com moléculas de água intracelulares. Esses radicais promovem quebras no DNA e morte celular, desencadeando um processo inflamatório e lesivo na mucosa intestinal.
Além disso, a radiação ativa genes que induzem a produção do fator de crescimento transformador beta (TGF-β), o qual estimula a expressão de colágeno e fibronectina, contribuindo para o desenvolvimento de fibrose tecidual.
Os tecidos com alta taxa de renovação celular, como o epitélio do intestino delgado, são particularmente sensíveis à radiação. Essa radiossensibilidade é maior no intestino delgado do que no cólon e no reto, possivelmente devido à menor presença da proteína Bcl-2 nas células intestinais, que tem função antiapoptótica.
As alterações patológicas mais características da enterite por radiação incluem fibrose e endarterite obliterativa, que comprometem a vascularização e perpetuam a inflamação e o dano crônico ao tecido intestinal.
Manifestações clínicas da Enterite por Radiação
A principal manifestação clínica da enterite por radiação é a diarreia, que pode ou não vir acompanhada de dor abdominal. Além desse sintoma, os pacientes podem apresentar uma variedade de sinais decorrentes do dano à mucosa intestinal e das alterações inflamatórias e cicatriciais causadas pela radiação.
Entre os sintomas mais frequentes estão a dor abdominal persistente, hemorragia intestinal e sinais de complicações mais graves, como obstrução e perfuração intestinal.
Em alguns casos, pode ocorrer formação de fístulas entre segmentos intestinais ou entre o intestino e outras estruturas. A má absorção de nutrientes é outra consequência comum, resultante da perda da função epitelial.
Quando há acometimento do reto, é comum a presença de dor retal e sangramento secundário à ulceração da mucosa. O quadro clínico pode variar conforme a extensão e a gravidade das lesões, exigindo avaliação clínica cuidadosa e acompanhamento contínuo.
Diagnóstico da Enterite por Radiação
O diagnóstico é confirmado por evidências de inflamação segmentar em áreas do intestino previamente expostas à radiação, identificadas por exames de imagem, endoscopia ou biópsia.
A avaliação diagnóstica busca descartar outras causas dos sintomas, confirmar o diagnóstico e determinar a extensão da doença. A revisão do histórico de radioterapia é fundamental para estimar a dose total recebida, frações, áreas irradiadas e tratamentos oncológicos associados, como cirurgia ou quimioterapia, que podem aumentar o risco de enterite.
A abordagem inicial varia conforme os sintomas. Para dor abdominal, náuseas e vômitos, realizam-se tomografia (TC) ou ressonância magnética (RM) com enterografia, além de endoscopia digestiva alta. Em casos de diarreia ou sangramento, a colonoscopia é o exame de escolha. Se os exames iniciais forem inconclusivos, pode-se repetir a avaliação com novos exames de imagem e endoscopia.
A investigação de supercrescimento bacteriano do intestino delgado é recomendada em pacientes com diarreia, dor ou distensão abdominal, utilizando-se teste respiratório, já que o tratamento empírico com antibióticos pode não ser suficiente e causar efeitos adversos.
A cápsula endoscópica é reservada para casos com suspeita clínica forte de enterite por radiação, mas sem achados nos exames prévios. No entanto, deve-se excluir estenoses intestinais antes de realizar o exame, devido ao risco de retenção da cápsula. Enteroscopia profunda é indicada em casos de sangramento de intestino delgado.
Achados endoscópicos e histológicos: incluem mucosa pálida, friável, telangiectasias serpiginosas e alterações contínuas. A biópsia revela espessamento da mucosa e serosa com deposição de colágeno, infiltrado inflamatório e vasculite oclusiva.
Achados de imagem (TC/RM enterografia): inflamação segmentar, espessamento de alça intestinal, realce da mucosa, estrias mesentéricas e estenoses. Em estágios avançados, podem surgir obstruções devido à fibrose.
Tratamento da Enterite por Radiação
O manejo da enterite por radiação depende da fase da doença (aguda ou crônica) e da gravidade dos sintomas. A enterite aguda, geralmente autolimitada, costuma responder bem ao tratamento de suporte, com o uso de agentes antidiarreicos e adequada hidratação oral. Nessa fase, a intervenção cirúrgica raramente é necessária.
Durante a radioterapia, a administração de antioxidantes tem demonstrado potencial para aumentar a eficácia do tratamento oncológico e reduzir seus efeitos colaterais. Em pacientes com suspeita de supercrescimento bacteriano, recomenda-se o uso de antibióticos orais, além da reposição de vitaminas e eletrólitos, conforme necessário.
Se houver suspeita de desnutrição, deve-se investigar tanto a ingestão inadequada quanto a má absorção intestinal. A remoção cirúrgica de alças intestinais em casos de má absorção mecânica geralmente não melhora os sintomas e deve ser avaliada com cautela.
Casos leves, com sangramento discreto e sintomas mínimos, podem não necessitar de tratamento adicional. Quando há proctite por radiação com tenesmo, o tratamento de primeira linha envolve o uso de enemas, como os de sucralfato.
Nos casos crônicos com complicações graves, como estenoses, fístulas ou perfurações, a cirurgia torna-se necessária. Entretanto, a taxa de morbidade pós-operatória é elevada, podendo ultrapassar 70%, e muitos pacientes necessitam de nutrição parenteral após o procedimento. Embora cirurgias repetidas possam ser requeridas, elas não parecem aumentar a morbidade geral.
A ressecção completa do segmento intestinal irradiado, quando possível, reduz o risco de novas intervenções. No entanto, essa conduta nem sempre é viável devido ao risco de síndrome do intestino curto e outras complicações associadas.
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Referências
Bhutta BS, Fatima R, Aziz M. Radiation Enteritis. [Updated 2023 Aug 17]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK526032/
Ingram Roberts, MD, MBA. Diagnosis and management of chronic radiation enteritis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate