Resumo sobre Hipomagnesemia e diabetes tipo 2: entenda essa relação
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Resumo sobre Hipomagnesemia e diabetes tipo 2: entenda essa relação

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco está na relação entre hipomagnesemia e diabetes tipo 2, uma conexão metabólica que tem ganhado cada vez mais relevância na prática clínica.

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Vamos nessa!

Magnésio

O magnésio é o segundo cátion mais abundante dentro das células humanas, ficando atrás apenas do potássio, e ocupa a quarta posição entre os minerais mais abundantes do corpo, depois de cálcio, potássio e sódio. 

Cerca de 60% do magnésio corporal está armazenado nos ossos e dentes, enquanto aproximadamente 40% está presente nos compartimentos intracelulares. Menos de 1% do magnésio total está no sangue, o que limita a utilidade da dosagem sérica como indicativo do status total ou intracelular do mineral.

Esse mineral exerce funções vitais, atuando como cofator ou ativador em mais de 800 reações enzimáticas essenciais à vida. O magnésio participa da síntese de proteínas, estabilidade do DNA, metabolismo energético e regulação de diversas vias bioquímicas. Sua atuação no metabolismo da glicose e na sinalização da insulina é especialmente importante, tornando-o relevante no contexto de doenças metabólicas, como o diabetes tipo 2.

A manutenção do equilíbrio do magnésio no organismo depende da absorção intestinal e da reabsorção renal, sendo regulada por mecanismos delicados. Além da absorção passiva, canais específicos como os TRPM6 e TRPM7 são responsáveis pela captação ativa. 

A deficiência de magnésio pode ocorrer devido a baixa ingestão dietética, má absorção intestinal, uso de medicamentos (como diuréticos e metformina) ou perda renal aumentada, como se observa frequentemente em pacientes com diabetes.

Estudos apontam que a ingestão de magnésio diminuiu consideravelmente nas últimas décadas em países ocidentais, sendo inferior às recomendações diárias (420 mg para homens e 320 mg para mulheres). 

Essa deficiência tem sido associada ao aumento do risco de diversas condições crônicas, incluindo síndrome metabólica e resistência insulínica. Assim, o magnésio é considerado um micronutriente essencial não apenas para funções celulares básicas, mas também para a prevenção de doenças metabólicas.

Relação entre diabetes tipo 2 e magnésio

A relação entre o magnésio e o diabetes tipo 2 é profunda e multifacetada, envolvendo aspectos do metabolismo da glicose, da ação da insulina e da função das células β pancreáticas. 

O magnésio participa diretamente da ativação de enzimas essenciais para a utilização da glicose pelas células, como a glucocinase, que atua como sensor de glicose nas células β. Além disso, o magnésio é fundamental para a formação do complexo Mg-ATP, indispensável para a secreção de insulina em resposta ao aumento da glicemia.

No contexto do diabetes tipo 2, o magnésio contribui para a melhora da sinalização da insulina nos tecidos periféricos. Ele facilita a fosforilação do receptor de insulina, favorecendo a captação de glicose pelas células musculares e adiposas. 

Dessa forma, níveis adequados de magnésio promovem maior sensibilidade insulínica e podem atenuar mecanismos associados à resistência à insulina, um dos principais fatores fisiopatológicos do diabetes tipo 2.

Estudos também demonstram que a ingestão adequada de magnésio está associada à redução do risco de desenvolvimento de diabetes. Pesquisas populacionais indicam que o consumo elevado de magnésio, especialmente proveniente de alimentos como grãos integrais, vegetais verdes e nozes, pode ter um efeito protetor, sobretudo em indivíduos com sobrepeso, grupo de risco para a doença.

Déficit de magnésio e o diabetes tipo 2

A hipomagnesemia exerce influência significativa na fisiopatologia e no agravamento do diabetes tipo 2. A redução dos níveis de magnésio no organismo compromete mecanismos fundamentais da ação da insulina e da homeostase da glicose. 

Um dos principais efeitos da deficiência de magnésio é a diminuição da fosforilação do receptor de insulina, o que prejudica a cascata de sinalização intracelular e reduz a captação de glicose pelos tecidos-alvo, contribuindo para a resistência insulínica.

O déficit de magnésio afeta diretamente a função das células β pancreáticas, essenciais para a secreção de insulina. A baixa disponibilidade de magnésio prejudica a formação do complexo Mg-ATP, necessário para a atividade da glucocinase e para o fechamento dos canais de potássio dependentes de ATP (KATP). Isso leva a uma menor despolarização da membrana celular e reduz o influxo de cálcio, etapa crítica para a liberação de insulina.

Estudos demonstram que pacientes com diabetes tipo 2 descompensado apresentam taxas elevadas de hipomagnesemia, com frequência bem superior à observada na população geral. Essa condição está associada a piores indicadores metabólicos, como maiores níveis de hemoglobina glicada (HbA1c), maior índice de massa corporal (IMC) e maior resistência à insulina, demonstrada por elevações no HOMA-IR. A deficiência de magnésio tende, portanto, a agravar o controle glicêmico e a dificultar o manejo da doença.

A hipomagnesemia também é perpetuada pelo próprio estado hiperglicêmico e pela insulino-resistência, que aumentam a excreção renal de magnésio. Essa relação bidirecional forma um ciclo vicioso em que o diabetes favorece a perda de magnésio, e a deficiência de magnésio, por sua vez, intensifica os distúrbios metabólicos do diabetes.

Magnésio como estratégia complementar no manejo do diabetes tipo 2

A suplementação de magnésio tem sido considerada uma abordagem complementar no tratamento do diabetes tipo 2 (DM2), especialmente em pacientes com deficiência do mineral. Estudos indicam que a baixa ingestão ou níveis reduzidos de magnésio aumentam o risco de intolerância à glicose e desenvolvimento do DM2. 

Nesses casos, a reposição pode melhorar a sensibilidade à insulina, reduzir glicemia em jejum e pós-prandial, diminuir marcadores inflamatórios e até beneficiar a função endotelial e o humor em idosos diabéticos.

Apesar dessas evidências, os ensaios clínicos apresentam resultados inconsistentes. Isso se deve, em parte, ao pequeno número de participantes, variação nas doses e tipos de magnésio utilizados, além da avaliação baseada em magnésio sérico total, que não reflete o magnésio ionizado e ativo. 

Por isso, recomenda-se que futuros estudos foquem em pacientes com deficiência confirmada, com maior rigor metodológico, para definir o papel da suplementação na prática clínica e sua possível inclusão nas diretrizes para o manejo do DM2.

Veja também!

Referências

Barbagallo M, Dominguez LJ. Magnesium and type 2 diabetes. World J Diabetes. 2015 Aug 25;6(10):1152-7. doi: 10.4239/wjd.v6.i10.1152. PMID: 26322160; PMCID: PMC4549665.

AKIMBEKOV, Nuraly S. et al. The role of magnesium in pancreatic beta-cell function and homeostasis. Frontiers in Nutrition, [S.l.], v. 11, 25 set. 2024. DOI: https://doi.org/10.3389/fnut.2024.1458700. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnut.2024.1458700. 

LIMA, Maria de Lourdes et al. Deficiência de magnésio na resistência à insulina, síndrome metabólica e diabetes mellitus. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, São Paulo, v. 49, n. 6, p. 959-965, dez. 2005. DOI: https://doi.org/10.1590/S0004-27302005000600016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abem/a/nkT3KrcsL5snc9grcv9zYLJ. 

DASGUPTA, Arundhati; SARMA, Dipti; SAIKIA, Uma Kaimal. Hypomagnesemia in type 2 diabetes mellitus. Indian Journal of Endocrinology and Metabolism, [S.l.], v. 16, n. 6, p. 1000-1003, nov./dez. 2012. Disponível em: https://www.ijem.in/article.asp?issn=2230-8210;year=2012;volume=16;issue=6;spage=1000;epage=1003;aulast=Dasgupta.

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