E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é o Pólipo Coanal, uma formação benigna que se origina na mucosa nasal e pode se estender até a nasofaringe, causando obstrução nasal, rinorreia e até distúrbios respiratórios.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Pólipos Coanais
Os pólipos coanais são lesões benignas isoladas do trato respiratório superior, caracterizadas por sua predominância unilateral e origem nos seios paranasais, de onde se estendem até a coana através do óstio do respectivo seio. Embora sejam majoritariamente unilaterais, há relatos raros de casos bilaterais.
Diferenciam-se da polipose nasossinusal associada à rinossinusite crônica, que apresenta acometimento bilateral e está relacionada a processos inflamatórios da mucosa nasal e dos seios paranasais.
Descritos inicialmente por Palfyn em 1753 e detalhados por Killian em 1906, os pólipos coanais representam de 4 a 6% dos pólipos nasais em adultos e cerca de 33% em crianças. São mais frequentes em crianças, adolescentes e adultos jovens, sem predileção por sexo.
A nomenclatura desses pólipos é baseada no seio paranasal de origem, sendo classificados em pólipos antrocoanais ou pólipo de Killian (originados no seio maxilar, mais prevalentes), esfenoidocoanais (seio esfenoidal), etmoidocoanais (seio etmoidal) e frontocoanais (seio frontal). Em casos raros, podem surgir em outros sítios, como o septo nasal, os palatos duro e mole, as conchas nasais inferior e média e a lâmina cribriforme.
Macroscopicamente, esses pólipos apresentam uma porção cística dentro do seio paranasal e uma parte mais sólida e consistente na cavidade nasal. Histologicamente, possuem uma cavidade central cercada por um estroma edematoso homogêneo e são revestidos por epitélio respiratório.
A etiologia dos pólipos coanais ainda não está completamente elucidada, mas há hipóteses que envolvem processos inflamatórios crônicos, obstrução linfática ou formação a partir de cistos intramurais.
Diferente da polipose nasossinusal da rinossinusite crônica, os pólipos coanais não costumam estar associados a condições inflamatórias sistêmicas, como rinite alérgica, asma ou intolerância a anti-inflamatórios não esteroides.
Manifestações clínicas dos Pólipos Coanais
Os pólipos coanais apresentam um quadro clínico de evolução crônica, sendo a obstrução nasal unilateral e progressiva o sintoma mais característico, especialmente perceptível durante a fase expiratória. Essa obstrução pode levar a dificuldade respiratória e piora da qualidade do sono.
Outros sintomas incluem rinorreia mucopurulenta, sensação de gotejamento pós-nasal, pressão facial, halitose, roncos noturnos, hiposmia (redução do olfato) e, em alguns casos, epistaxe (sangramento nasal).
Em situações mais graves, quando a porção coanal do pólipo cresce excessivamente, pode haver obstrução da fossa nasal contralateral (20-25% dos casos), resultando em sintomas como disfagia, dispneia e alterações na fala.
O exame físico por rinoscopia anterior ou endoscopia nasal revela uma lesão única, brilhante, esbranquiçada ou translúcida, ocupando a fossa nasal e com um pedículo emergindo do óstio do seio afetado.
Nos pólipos antrocoanais, a passagem pode ocorrer pelo óstio natural do seio maxilar ou por um óstio acessório, com possível alargamento do complexo ostiomeatal.
Em alguns casos, a oroscopia pode identificar a porção coanal do pólipo atrás do palato mole, confirmando sua extensão. Quando a origem exata não é facilmente identificável, exames de imagem auxiliam no diagnóstico e planejamento cirúrgico.
Diagnóstico de Pólipos Coanais
O diagnóstico dos pólipos coanais é baseado na história clínica e em exames físicos e de imagem. Inicialmente, a avaliação inclui anamnese detalhada, na qual são investigados sintomas como obstrução nasal unilateral progressiva, rinorreia, hiposmia e respiração oral.
O exame físico é realizado por rinoscopia anterior e endoscopia nasal, que permitem a visualização direta da lesão na fossa nasal, geralmente única, esbranquiçada ou translúcida, e com origem no óstio do seio acometido. Em casos de pólipos volumosos, a lesão pode ser identificada na oroscopia, posicionada na região posterior da cavidade oral.
A tomografia computadorizada (TC) de seios paranasais é o exame de escolha para confirmar o diagnóstico e determinar a extensão da lesão. O exame evidencia a origem do pólipo, o comprometimento das cavidades paranasais e possíveis deformidades ósseas associadas. A ressonância magnética pode ser solicitada em casos duvidosos, especialmente para diferenciar pólipos coanais de tumores nasossinusais.
A biópsia é indicada apenas quando há suspeita de malignidade, pois os pólipos coanais apresentam características benignas típicas e um padrão de crescimento previsível.
Tratamento dos Pólipos Coanais
O tratamento dos pólipos coanais é exclusivamente cirúrgico, sendo a exérese completa da lesão a única abordagem efetiva. No passado, a técnica de Caldwell-Luc era amplamente utilizada por permitir ampla exposição do seio maxilar e remoção da mucosa antral associada. No entanto, essa técnica caiu em desuso devido ao risco de parestesia do terço médio da face, edema facial e comprometimento do desenvolvimento dentário em crianças.
Atualmente, a abordagem endoscópica endonasal é considerada o padrão-ouro, pois permite a remoção da lesão com menor risco de complicações pós-operatórias. O procedimento pode ser realizado em monobloco para lesões pequenas ou segmentado, com ressecção inicial da porção nasal e remoção subsequente da porção antral. O microdebridador pode ser utilizado para otimizar o tempo cirúrgico.
Apesar da eficiência da técnica endoscópica, a remoção de pólipos localizados nas porções anteriores dos seios maxilares pode ser desafiadora. Para contornar essa limitação, utilizam-se endoscópios angulados (45°, 70° e 120°) e pinças curvas de maxilar, como a Heuwieser.
Em casos nos quais a remoção completa por via endoscópica não é viável, pode-se recorrer a uma abordagem combinada, associando a técnica de Caldwell-Luc clássica ou uma versão minimamente invasiva, com uma janela óssea reduzida na fossa canina.
Após a cirurgia, o paciente deve ser acompanhado ambulatorialmente, com curativos nasais sob visualização endoscópica para monitoramento de possíveis recidivas. A taxa de recorrência varia entre 2% e 13,2%, sendo que um seguimento pós-operatório de dois anos é suficiente para detectar 95% dos casos de recidiva.
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Referências
PHMA, Fábio de Rezende; BENTO, Ricardo Ferreira (ed.). Manual de residência em otorrinolaringologia. Barueri, SP: Manole, 2018. ISBN 978-85-204-5066-6.