E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Prostatite, uma condição caracterizada pela inflamação da próstata, que pode ter origem bacteriana ou não bacteriana e apresentar-se de forma aguda ou crônica.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Prostatite
A prostatite é uma inflamação da glândula prostática que pode se apresentar de forma aguda ou crônica e inclui um amplo espectro de manifestações clínicas. Nos quadros agudos, o início é súbito e frequentemente marcado por febre, calafrios, dor perineal intensa e sintomas urinários irritativos ou obstrutivos.
Já nas formas crônicas, os sintomas podem persistir por mais de três meses, envolvendo dor pélvica recorrente, desconforto genital, alterações urinárias e impacto significativo na qualidade de vida, incluindo prejuízos na função sexual e bem-estar emocional.
Embora muitas vezes esteja associada a infecções por bactérias do trato urinário, especialmente enterobactérias como a Escherichia coli, existem formas sem agentes infecciosos identificáveis, nas quais fatores neuromusculares, imunológicos e até psicológicos podem desempenhar papel relevante.
A classificação moderna divide a prostatite em prostatite bacteriana aguda, prostatite bacteriana crônica, síndrome da dor pélvica crônica inflamatória ou não inflamatória e prostatite inflamatória assintomática, refletindo a diversidade de causas, mecanismos e apresentações clínicas da doença.

Classificação da Prostatite
Categoria I: Prostatite bacteriana aguda
Esta categoria corresponde a uma infecção aguda da próstata. O início é súbito, com sintomas sistêmicos como febre e calafrios, associados a dor perineal e alterações urinárias. A urocultura e, em alguns casos, a hemocultura costumam identificar o agente infeccioso.
Categoria II: Prostatite bacteriana crônica
Caracteriza-se por uma infecção persistente da glândula prostática. Os pacientes apresentam infecções urinárias recorrentes e podem estar sintomáticos ou assintomáticos entre os episódios. O diagnóstico é feito quando há número significativamente maior de bactérias no fluido prostático ou na urina pós-massagem em comparação às amostras iniciais.
Categoria III: Síndrome da Dor Pélvica Crônica
Refere-se a quadros de dor pélvica com duração superior a três meses, sem infecção documentada. Divide-se em dois subtipos. A categoria III A corresponde à forma inflamatória, na qual há presença de leucócitos no sêmen, no fluido prostático ou na urina obtida após massagem. A categoria III B corresponde à forma não inflamatória, na qual não há aumento de leucócitos e não se identifica bactéria nas culturas.
Categoria IV: Prostatite inflamatória assintomática
Nesta categoria há evidência de inflamação em exames como sêmen, fluido prostático, urina pós-massagem ou biópsia, porém sem sintomas clínicos. É geralmente identificada de modo incidental durante avaliações de PSA elevado, investigação de infertilidade ou exames prostáticos de rotina.
Etiologia da Prostatite
A etiologia da prostatite envolve um conjunto de fatores infecciosos e não infecciosos que contribuem para o desenvolvimento da inflamação prostática. Nas prostatites bacterianas, a causa mais importante é a infecção por enterobactérias provenientes da flora gastrointestinal.
A Escherichia coli é responsável pela maioria dos casos, podendo representar de 65 a 80 por cento das infecções. Outras bactérias Gram-negativas, como Pseudomonas, Serratia e Klebsiella, também podem estar envolvidas, embora em menor proporção.
Esses microrganismos apresentam fatores de virulência, como fímbrias e hemolisinas, que favorecem sua adesão aos ductos prostáticos e sua permanência no biofilme, especialmente nas formas crônicas.
A participação de Gram-positivos, principalmente Enterococcus, é considerada discreta e ainda discutida, sem definição clara se atuam como agentes causais ou apenas colonizadores. O papel de Staphylococcus, Streptococcus, Ureaplasma e Chlamydia permanece incerto, não havendo consenso de que sejam causas confirmadas de prostatite.
Além da infecção, outros elementos podem contribuir para a etiologia. Cálculos prostáticos e corpóreas amiláceas podem obstruir os ductos, favorecendo retenção bacteriana e perpetuação da inflamação. O refluxo de urina para dentro dos ductos prostáticos é considerado um mecanismo central, pois pode levar bactérias ou substâncias irritantes da urina para o interior da glândula, desencadeando inflamação mesmo na ausência de patógenos identificáveis.
Fatores de risco como infecção urinária prévia, epididimite, sonda uretral, cirurgias transuretrais, penetração anal sem proteção, disfunções anatômicas ou neurofisiológicas que aumentam a pressão urinária e procedimentos no trato urinário inferior também favorecem a instalação da doença. Em muitos casos crônicos, mecanismos neuromusculares e imunológicos se associam, contribuindo para quadros de dor persistente sem isolamento bacteriano.
Fisiopatologia da Prostatite
A fisiopatologia da prostatite envolve a interação entre fatores infecciosos, inflamatórios, anatômicos e neuromusculares. Um dos mecanismos centrais descritos no documento é o refluxo de urina para os ductos prostáticos, especialmente da zona periférica.
Esse refluxo leva bactérias e substâncias irritantes presentes na urina para dentro da glândula, desencadeando um processo inflamatório local. Quando a infecção se instala, o sistema imune responde com aumento de IgA e IgG no líquido prostático e elevação do PSA sérico, embora essa relação ainda seja motivo de debate.
A presença de infecção urinária prévia, epididimite, sonda uretral, cirurgias transuretrais e alterações que aumentam a pressão durante a micção favorecem esse refluxo. Disfunções do colo vesical, da uretra ou do controle neuromuscular também contribuem para esse mecanismo. Uma vez estabelecida a inflamação, ocorre infiltração de células imunes, principalmente linfócitos no estroma adjacente aos ácinos prostáticos.
Nas formas crônicas, a fisiopatologia não se limita à próstata. Há participação do sistema nervoso autônomo, que amplifica e perpetua o processo doloroso envolvendo a glândula, estruturas adjacentes e musculatura pélvica. Isso explica por que a dor pode persistir mesmo sem infecção ativa.
Fatores neurológicos, endócrinos e musculares passam a integrar o quadro, tornando-o multifatorial. O biofilme bacteriano e a aderência das bactérias aos ductos podem impedir seu crescimento em cultura, dificultando o diagnóstico. Cálculos prostáticos e corpóreas amiláceas também podem obstruir ductos, perpetuando a inflamação ao facilitar a colonização bacteriana e dificultar a ação dos antimicrobianos.
Manifestações Clínicas da Prostatite
Na prostatite bacteriana aguda, o quadro é súbito e intenso, com febre, calafrios, mal-estar, dor perineal ou suprapúbica e sintomas urinários como urgência, polaciúria, disúria e jato fraco. Casos graves podem evoluir para retenção urinária e sepse.
Na prostatite bacteriana crônica, os sintomas são mais leves e recorrentes, geralmente associados a infecções urinárias repetidas. Há desconforto perineal, ardência ao urinar e sensação de esvaziamento incompleto, com períodos de melhora entre os episódios.
Na síndrome da dor pélvica crônica, a dor é o elemento central por mais de três meses e pode ocorrer na região perineal, peniana, suprapúbica ou testicular. Dor ao ejacular ou após a ejaculação é um achado característico. Podem estar presentes sintomas urinários irritativos e obstrutivos, além de impacto significativo na qualidade de vida, com estresse emocional, disfunção sexual e prejuízo funcional.
Na prostatite inflamatória assintomática não há sintomas, e a inflamação é identificada incidentalmente em exames como análise de sêmen, investigação de infertilidade ou PSA elevado.
Diagnóstico de Prostatite
O diagnóstico da prostatite bacteriana aguda baseia-se inicialmente na suspeita clínica, especialmente em homens com sintomas sistêmicos e urinários acompanhados de dor pélvica ou perineal. A suspeita deve ser ainda maior em pacientes com fatores de risco como cateter urinário ou manipulação recente da próstata. A presença de piúria, bacteriúria ou PSA elevado pode reforçar a suspeita, embora o PSA não seja específico.
O exame digital do reto é essencial e, quando revela uma próstata edemaciada e dolorosa em um paciente sintomático, confirma o diagnóstico clínico. Esse exame deve ser realizado com suavidade e sem massagem vigorosa, para evitar desconforto e risco de bacteremia.
A identificação do agente etiológico depende principalmente da urocultura, que deve ser coletada antes do início dos antibióticos. A urinálise geralmente mostra piúria e nitrito positivo, mas resultados negativos não excluem a doença. Hemoculturas são indicadas em pacientes febris ou sépticos. Em indivíduos com risco de infecções sexualmente transmissíveis, recomenda-se testar para gonorreia e clamídia.
A imagem não é necessária para fazer o diagnóstico e é reservada para casos que não evoluem bem, quando se suspeita de abscesso prostático. Após a fase aguda, deve-se avaliar possíveis causas anatômicas que predisponham à infecção, como obstrução urinária.
Tratamento da Prostatite
O tratamento da prostatite depende do tipo e da gravidade do quadro, envolvendo terapias antimicrobianas, controle da dor, medidas de suporte e, em alguns casos, procedimentos cirúrgicos.
- Prostatite bacteriana aguda: o tratamento é iniciado de forma imediata com antibióticos que têm boa penetração prostática. Nos casos mais intensos, utiliza-se terapia endovenosa com penicilinas de amplo espectro, cefalosporinas de terceira geração ou quinolonas, podendo ser associadas a aminoglicosídeos. Quando há melhora clínica, o paciente continua com antibióticos por via oral por duas a quatro semanas. Se houver retenção urinária, pode ser necessário cateterismo ou drenagem suprapúbica. Persistência de febre ou dor deve levar à investigação de abscesso prostático.
- Prostatite bacteriana crônica: requer antibióticos de longa duração, geralmente quinolonas por quatro a seis semanas. Em caso de resposta parcial, um segundo ciclo pode ser indicado. Alguns pacientes se beneficiam do uso prolongado de antimicrobianos devido à dificuldade de erradicar bactérias alojadas nos ductos prostáticos.
- Síndrome da Dor Pélvica Crônica inflamatória: mesmo sem infecção comprovada, podem ser utilizados antibióticos inicialmente, além de alfabloqueadores para melhorar o fluxo urinário e anti-inflamatórios para reduzir a dor. A abordagem costuma ser multimodal.
- Síndrome da Dor Pélvica Crônica não inflamatória: como não há benefício com antibióticos, o tratamento foca no controle dos sintomas com alfabloqueadores, analgésicos, relaxantes musculares e terapias complementares.
- Prostatite inflamatória assintomática: só é tratada em situações específicas, como infertilidade ou PSA persistentemente elevado.
- Terapias complementares: fisioterapia do assoalho pélvico, acupuntura, exercícios físicos, hidratação adequada, banhos de assento, técnicas de relaxamento e suporte psicológico podem aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida, especialmente nos quadros crônicos.
- Tratamento cirúrgico: é reservado para complicações como abscesso prostático, quando se realiza drenagem por via transuretral, transperineal ou percutânea.
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Referências
NARDI, Aguinaldo Cesar et al. Urologia Brasil. São Paulo: PlanMark; Rio de Janeiro: SBU-Sociedade Brasileira de Urologia, 2013.
Alain Meyrier, MDBarbara W Trautner, MD, PhDPrathit A Kulkarni, MD. Acute bacterial prostatitis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate



