E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é nas rupturas retinianas, alterações que ocorrem na retina e podem comprometer seriamente a visão.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, garantindo uma prática clínica ainda mais precisa e eficaz.
Vamos nessa!
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Definição de Rupturas Retinianas
Rupturas retinianas são rasgos que atingem todas as camadas da retina neurossensorial, um tecido composto por dez camadas localizado no fundo do olho, responsável por captar a luz e convertê-la em impulsos elétricos para o cérebro.
Essas rupturas geralmente ocorrem na periferia da retina devido à tração do vítreo, uma substância gelatinosa que preenche a cavidade ocular e está aderida à retina.
Podem surgir espontaneamente, como consequência do descolamento do vítreo posterior, ou ser causadas por traumas. São um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do descolamento da retina.
Epidemiologia de Rupturas Retinianas
A ruptura retiniana apresenta uma incidência entre 6% e 11% em necropsias de indivíduos com mais de 20 anos e uma prevalência de 6% a 14% em pacientes de rotina com idade igual ou superior a 10 anos sem histórico de doenças oculares.
A incidência de descolamento de retina, uma das possíveis complicações das rupturas, é de aproximadamente 12 casos por 100.000 habitantes ao ano, embora nem todas as rupturas evoluam para essa condição.
A ocorrência de rupturas retinianas aumenta com a idade, mas não há diferença estatisticamente significativa entre homens e mulheres. Em pacientes míopes, a prevalência de rupturas é semelhante à da população geral (cerca de 11%).
Contudo, a miopia é um fator de risco importante, contribuindo para 42% dos casos de descolamento de retina em olhos fácicos. Além disso, a degeneração em lattice, caracterizada pelo afinamento periférico da retina e adesões vitreorretinianas, é outro fator relevante, sendo encontrada em 11% das necropsias, com maior frequência em indivíduos mais velhos.
Traumas oculares, como contusões e lesões penetrantes, também aumentam o risco de rupturas retinianas. A diálise retiniana é o tipo mais comum após contusões, enquanto rupturas causadas por trauma penetrante podem ocorrer imediatamente ou como consequência de tração vítrea posterior.
Patogênese de Rupturas Retinianas
A patogênese da ruptura retiniana está diretamente relacionada à interação entre o vítreo e a retina. O descolamento do vítreo posterior, processo natural do envelhecimento ocular, é o principal mecanismo envolvido.
Durante o descolamento, o vítreo, uma substância gelatinosa que preenche a cavidade ocular, pode exercer tração nos pontos de adesão à retina. Essa tração pode gerar rupturas, especialmente em áreas de fragilidade, como nas regiões periféricas da retina.
Fatores predisponentes, como a degeneração em lattice, contribuem para o surgimento de rupturas. Essa condição é caracterizada pelo afinamento da retina periférica, liquefação do vítreo e adesão pronunciada nas margens, aumentando a probabilidade de tração e rasgos retinianos.
Além disso, traumas oculares podem causar rupturas retinianas, seja por impacto direto, como ocorre em lesões penetrantes, ou por tração vítrea posterior, comum em contusões.
Em casos de ruptura, o líquido retro-hialoide pode passar para o espaço sub-retiniano, elevando o risco de descolamento de retina. A progressão para descolamento depende de fatores como extensão da ruptura, presença de tração residual e características do vítreo.
Manifestações clínicas das Rupturas Retinianas
As manifestações oculares das rupturas retinianas variam conforme o tipo de ruptura e a gravidade da condição, mas sempre requerem avaliação oftalmológica imediata para prevenir complicações mais graves, como o descolamento de retina.
Rupturas em Ferradura ou Aba
- Características:
- Rupturas de espessura total, geralmente em formato de ferradura.
- Causadas por tração vítrea, frequentemente associadas ao descolamento vítreo posterior (DVP).
- Ocorrem em áreas de adesão vítreo-retiniana forte, como na base vítrea.
- Sintomas:
- Floaters (moscas volantes): Resultantes de resíduos vítreos, como hemorragia ou células do epitélio pigmentado retiniano (EPR).
- Flashes de luz (fotopsias): Provocados pela tração vítrea persistente.
Orifícios redondos com opérculos
- Características:
- Pequenas rupturas redondas na retina neural, frequentemente com um opérculo de tecido retiniano sobreposto.
- Geralmente indicam alívio completo da tração vítreo-retiniana no local.
- Sintomas:
- Tipicamente assintomáticos, exceto em casos de complicações.
Buracos atróficos
- Características:
- Formados devido ao afinamento da retina, sem envolvimento da tração vítrea.
- Comumente associados a áreas de degeneração em lattice.
- Sintomas:
- Geralmente assintomáticos, exceto em situações de progressão para descolamento de retina.
Rupturas traumáticas da retina
- Características:
- Podem ocorrer após trauma contuso ou penetrante no globo ocular.
- Tipos comuns incluem rupturas em ferradura, diálises retinianas e orifícios maculares.
- Diálises traumáticas geralmente localizam-se nas regiões inferotemporal e superonasal.
- Sintomas:
- Flashes de luz e floaters: Decorrentes de alterações vítreo-retinianas.
- Perda visual: Possível em casos mais graves ou com descolamento de retina associado.
Outros sinais comuns
- Hemorragia vítrea: Pode ocorrer em rupturas associadas a sangramento.
- Adesões vítreo-retinianas: Muitas vezes presentes em margens de degeneração em lattice, podendo levar a rupturas quando tracionadas.
Diagnóstico das Rupturas Retinianas
O diagnóstico das rupturas retinianas é realizado, preferencialmente, por meio de oftalmoscopia indireta ou exame com lente de contato, quando os meios oculares estão transparentes. Esses métodos permitem a observação direta da retina, identificando alterações estruturais características das rupturas. A oftalmoscopia binocular indireta é especialmente eficaz, principalmente quando associada à depressão escleral, que possibilita uma visão em relevo da retina.
Em casos onde há opacidade nos meios ópticos, como catarata ou hemorragia vítrea, a ultrassonografia ocular torna-se indispensável. Esse exame é capaz de detectar rupturas mesmo em condições de visualização limitada. Além disso, a crioterapia guiada por ultrassom pode ser empregada tanto para diagnóstico quanto para tratamento em situações específicas.
Para um diagnóstico diferencial preciso, é essencial diferenciar rupturas retinianas de outras condições que possam apresentar características semelhantes. Obstáculos como dilatação pupilar insuficiente, catarata ou opacidades capsulares em pacientes pseudofácicos podem dificultar a identificação adequada. O exame de três espelhos de Goldmann é frequentemente utilizado como complemento, oferecendo maior precisão na avaliação de lesões retinianas.
Tratamento das Rupturas Retinianas
O tratamento das rupturas retinianas é baseado na avaliação dos riscos e benefícios, considerando fatores como presença de sintomas, idade, saúde geral, grau de miopia, tipo e localização da ruptura, e status do outro olho.
Rupturas assintomáticas, especialmente orifícios atróficos ou com opérculos, raramente exigem tratamento profilático, enquanto rupturas sintomáticas apresentam risco de 35% de evolução para descolamento de retina e devem ser tratadas.
Rupturas em formato de ferradura, diálises traumáticas ou idiopáticas, e rupturas associadas a degeneração em lattice sintomáticas têm maior probabilidade de levar ao descolamento de retina e geralmente requerem terapia preventiva. A crioterapia e a fotocoagulação a laser são os principais métodos de tratamento.
A crioterapia é aplicada transconjuntivamente, causando adesão coriorretiniana em até três semanas. O laser de fotocoagulação utiliza queimaduras controladas para selar as bordas da ruptura, criando adesão imediata, com efeito máximo em até 10 dias. A escolha do método e anestesia depende da extensão e localização das rupturas, além da tolerância do paciente.
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Referências
SALMON, John F. Kanski oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 9. ed. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional, Editora Guanabara Koogan Ltda., 2023.
YANO, Myron; DUKER, Jay S. Oftalmologia. 5. ed. Rio de Janeiro: GEN | Grupo Editorial Nacional, Editora Guanabara Koogan Ltda., 2022.