Resumo de Radiologia da Traqueia: alterações, métodos e mais!
Dynamed.

Resumo de Radiologia da Traqueia: alterações, métodos e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A radiologia da traqueia reúne métodos de imagem voltados à avaliação detalhada da anatomia, do calibre luminal e da dinâmica da via aérea central. A interpretação adequada dos achados permite reconhecer variações anatômicas, alterações congênitas e doenças adquiridas, além de diferenciar padrões fixos e dinâmicos.

Alterações do calibre traqueal podem ser fixas ou dinâmicas, sendo a tomografia inspiratória e expiratória útil para essa diferenciação.

O que é Radiologia da Traqueia 

A radiologia da traqueia corresponde ao conjunto de métodos de imagem utilizados para a avaliação morfológica e funcional da traqueia, permitindo a análise do lúmen, da parede traqueal e das estruturas adjacentes. Esses exames auxiliam na identificação de alterações congênitas, processos inflamatórios, estenoses, colapsos dinâmicos, compressões extrínsecas e lesões tumorais, além de possibilitar a diferenciação entre padrões fisiológicos e patológicos.

Anatomia traqueal normal e variações anatômicas  

Configuração anatômica geral

A traqueia normal estende-se da cartilagem cricoide até a carina, com comprimento médio de 10 a 12 cm no adulto. O segmento cervical mede cerca de 2 a 4 cm, enquanto a porção intratorácica apresenta aproximadamente 6 a 9 cm. Em exames de imagem, o lúmen mostra contornos regulares e calibre uniforme ao longo do trajeto.

Estrutura da parede traqueal

A parede traqueal é composta por quatro camadas: mucosa, submucosa, arcabouço cartilaginoso anterior e lateral, e parede posterior membranosa formada pelo músculo traqueal. Os anéis cartilaginosos em formato de C garantem rigidez anterior e lateral, enquanto a parede posterior confere flexibilidade fisiológica.

Dimensões e variações conforme idade e sexo

Os diâmetros traqueais variam de acordo com sexo e faixa etária. Em adultos, o diâmetro coronal tende a ser maior em homens do que em mulheres. Em crianças e adolescentes, a traqueia apresenta menor calibre e maior complacência, com crescimento progressivo até a idade adulta.

Comportamento fisiológico nos exames de imagem

Durante a inspiração, a traqueia apresenta aspecto predominantemente arredondado. Na expiração, observa-se discreta concavidade da parede posterior, com redução moderada do lúmen, considerada fisiológica quando não há colapso acentuado.

Variações anatômicas mais frequentes

Entre as variações anatômicas benignas, destacam-se o brônquio traqueal, geralmente originado da parede lateral direita, e o brônquio cardíaco acessório, que emerge do brônquio intermediário ou do brônquio principal direito. Ambas costumam ser achados incidentais em tomografia.

Variações anatômicas raras

A trifurcação traqueal representa uma alteração incomum da arborização brônquica, podendo estar associada a outras anomalias congênitas. Pequenas evaginações paratraqueais, como divertículos, também podem ser observadas, em geral, sem repercussão clínica.

Métodos de imagem na avaliação da traqueia 

Radiografia de tórax

A radiografia de tórax costuma ser o exame inicial na investigação de alterações traqueais. Permite visualizar o segmento cervical distal, a porção intratorácica da traqueia e os brônquios principais, podendo evidenciar desvios do eixo, alterações do calibre, estreitamentos focais e sinais indiretos de obstrução, como atelectasias e hiperinsuflação. A sobreposição das estruturas mediastinais limita a detecção de alterações sutis.

Radiografia frontal do tórax demonstrando calcificação da traqueia (setas azuis). Dyanmed.

Tomografia computadorizada

A tomografia computadorizada é o método mais utilizado para avaliação detalhada da traqueia. Oferece análise precisa do lúmen, da espessura da parede traqueal e da relação com estruturas adjacentes. Permite identificar estenoses, alargamentos, calcificações, massas intraluminais e compressões extrínsecas, além de caracterizar a extensão longitudinal das alterações.

Tomografia computadorizada axial do tórax exibindo extenso enfisema subcutâneo (seta azul), pneumomediastino (seta rosa) e pneumotórax direito (estrela branca). Dynamed.

Tomografia dinâmica inspiratória e expiratória

A tomografia dinâmica, realizada em inspiração e expiração forçada, possibilita a avaliação funcional da traqueia. É particularmente útil na detecção de colapso expiratório, variações do calibre luminal e instabilidade da parede posterior, contribuindo para a diferenciação entre alterações estruturais fixas e fenômenos dinâmicos.

Reconstruções multiplanares e tridimensionais

As reconstruções multiplanares nos planos coronal e sagital facilitam a mensuração do comprimento e do grau das estenoses. As reconstruções tridimensionais e técnicas de renderização volumétrica auxiliam na visualização global da via aérea, no planejamento terapêutico e na avaliação pré e pós-procedimentos intervencionistas.

Ressonância magnética

A ressonância magnética permite avaliação anatômica da traqueia sem exposição à radiação ionizante. É útil para análise de estruturas mediastinais adjacentes, diferenciação entre tecido inflamatório e fibrose e investigação de compressões vasculares. Apresenta menor resolução espacial para o lúmen traqueal quando comparada à tomografia.

PET CT

O PET CT é utilizado em situações selecionadas, principalmente na avaliação de lesões neoplásicas, permitindo análise metabólica associada à anatomia. Auxilia no estadiamento tumoral e na detecção de acometimento linfonodal ou à distância, com papel limitado em alterações benignas.

Anomalias traqueais congênitas e variantes benignas

Brônquio traqueal

O brônquio traqueal caracteriza-se pela origem anômala de um brônquio diretamente da traqueia, mais frequentemente à direita, acima da carina. Nos exames de imagem, observa-se um ramo aéreo acessório direcionado ao lobo superior. Pode estar associado a infecções respiratórias recorrentes ou atelectasia, especialmente em situações de intubação.

Brônquio cardíaco acessório

O brônquio cardíaco acessório é uma variante rara, originada do brônquio intermediário ou do brônquio principal direito, com trajeto inferior em direção ao mediastino. Geralmente termina em fundo cego e é identificado como achado incidental na tomografia, sem repercussão funcional na maioria dos pacientes.

Trifurcação traqueal

A trifurcação traqueal representa uma alteração incomum da arborização traqueobrônquica, na qual a traqueia se divide em três ramos principais. Pode ocorrer de forma isolada ou associada a malformações cardiovasculares e esofágicas. A tomografia é o método mais adequado para sua caracterização anatômica.

Anéis vasculares e compressões associadas

Algumas anomalias vasculares congênitas, como arcos aórticos anômalos, podem causar compressão extrínseca da traqueia, simulando estreitamentos intrínsecos. Os exames de imagem evidenciam deformação do lúmen traqueal associada à proximidade de estruturas vasculares.

Divertículos traqueais

Os divertículos traqueais são pequenas evaginações preenchidas por ar, geralmente localizadas na região paratraqueal direita, próximas à entrada do tórax. Podem ser congênitos ou adquiridos e costumam ser pequenos, sem repercussão clínica, sendo melhor visualizados na tomografia.

Alargamento da traqueia

Divertículos traqueais

Os divertículos traqueais manifestam-se como pequenas evaginações aéreas da parede traqueal, mais frequentemente na região paratraqueal direita, próximo à entrada torácica. Podem ser congênitos ou adquiridos e, geralmente, são assintomáticos. A tomografia evidencia estruturas preenchidas por ar, com comunicação variável com o lúmen traqueal.

Traqueobroncomegalia

A traqueobroncomegalia, também conhecida como síndrome de Mounier Kuhn, caracteriza-se por dilatação difusa da traqueia e dos brônquios principais. A tomografia demonstra diâmetro traqueal aumentado, aspecto irregular do lúmen e protrusões mucosas entre os anéis cartilaginosos, conferindo padrão ondulado. Pode estar associada a infecções respiratórias de repetição e bronquiectasias.

Estreitamento e colapso da traqueia

Traqueobroncomalácia

A traqueobroncomalácia caracteriza-se por aumento da complacência da parede traqueal, com redução acentuada do lúmen durante a expiração. Nos exames dinâmicos, observa-se colapso significativo do lúmen, frequentemente superior a 70%, com deformação da parede posterior. Pode ser congênita ou adquirida, estando associada a doenças pulmonares crônicas.

Bainha de sabre

A bainha de sabre é uma alteração adquirida, caracterizada por redução do diâmetro transversal e aumento do diâmetro anteroposterior da traqueia intratorácica. A parede traqueal mantém espessura normal, sem colapso dinâmico relevante. É frequentemente observada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica.

Compressão extrínseca

O estreitamento por compressão extrínseca ocorre quando estruturas adjacentes, como massas mediastinais, linfonodomegalias ou alterações vasculares, deformam o lúmen traqueal. A tomografia evidencia redução do calibre associada à identificação da estrutura compressiva, auxiliando na diferenciação de causas intrínsecas.

Estenose traqueal

Estenose traqueal congênita

A estenose congênita decorre da presença de anéis cartilaginosos completos ou quase completos, resultando em traqueia rígida e pouco complacente. A tomografia demonstra lúmen estreito, com paredes regulares e ausência de parede posterior membranosa flexível. Pode estar associada a outras malformações congênitas.

Estenose pós-intubação e pós-traqueostomia

A estenose iatrogênica é a causa adquirida mais frequente em adultos. Costuma ocorrer no local do cuff do tubo endotraqueal ou no estoma da traqueostomia. A tomografia evidencia estreitamento focal, frequentemente com formato em ampulheta, podendo haver espessamento parietal, fibrose ou tecido de granulação.

Estenose subglótica idiopática

A estenose subglótica idiopática caracteriza-se por estreitamento progressivo da região subglótica, sem história prévia de trauma, infecção ou doença sistêmica. Afeta predominantemente mulheres de meia-idade. Os exames de imagem mostram estreitamento concêntrico, geralmente curto, com preservação das estruturas adjacentes.

Estenose pós-traumática

A estenose pós-traumática ocorre após lesões penetrantes ou contusas da traqueia. Pode manifestar-se tardiamente, após processo cicatricial. A tomografia pode demonstrar deformidade do lúmen, irregularidades parietais e redução segmentar do calibre.

Doenças inflamatórias e autoimunes com acometimento traqueal

Policondrite recidivante

A policondrite recidivante cursa com inflamação e destruição progressiva da cartilagem traqueal. Nos exames de imagem, observa-se espessamento difuso da parede traqueal, frequentemente com preservação da parede posterior, além de calcificações cartilaginosas e possível colapso expiratório.

Granulomatose com poliangeíte

Na granulomatose com poliangeíte, o acometimento traqueal ocorre, em geral, na região subglótica. A tomografia pode demonstrar estreitamento focal ou difuso, associado a espessamento irregular da parede e, em alguns casos, nódulos ou ulcerações.

Amiloidose

A amiloidose traqueobrônquica caracteriza-se por depósitos proteicos na parede da via aérea. Os achados de imagem incluem espessamento mural nodular ou difuso, calcificações irregulares e redução do lúmen, envolvendo frequentemente a parede posterior.

Sarcoidose

Na sarcoidose, o acometimento direto da traqueia é incomum, mas pode ocorrer na forma de espessamento parietal e estreitamento luminal, geralmente associado a linfonodomegalias mediastinais que contribuem para compressão extrínseca.

Doença inflamatória intestinal associada

Em casos raros, pacientes com doença inflamatória intestinal podem apresentar comprometimento traqueobrônquico, com espessamento circunferencial da parede e estreitamentos, frequentemente acompanhados de outras manifestações pulmonares.

Corpos estranhos na via aérea

Achados radiológicos diretos

Corpos estranhos radiopacos podem ser visualizados diretamente na radiografia ou na tomografia, localizando-se com maior frequência nos brônquios principais, sobretudo à direita. A tomografia permite definir posição exata, relação com a parede da via aérea e possíveis complicações associadas.

Achados radiológicos indiretos

Quando o corpo estranho é radiotransparente, os exames podem evidenciar hiperinsuflação distal, atelectasia, desvio mediastinal, infiltrados pulmonares ou pneumonite aspirativa. A persistência desses achados em pacientes com quadro respiratório arrastado deve levantar suspeita de aspiração.

Considerações especiais

Em crianças, a aspiração de corpos estranhos é causa frequente de sintomas respiratórios agudos. Em adultos, pode ocorrer de forma insidiosa, sendo confundida com outras doenças obstrutivas. O reconhecimento dos padrões de imagem contribui para a indicação adequada de broncoscopia diagnóstica e terapêutica.

Tumores e pseudotumores da traqueia

Tumores benignos

Os tumores benignos costumam apresentar crescimento lento e limites bem definidos. Os achados incluem nódulos intraluminais, geralmente pequenos, com contornos regulares e ausência de invasão extratraqueal. Entre os mais comuns estão os papilomas, hamartomas e condromas, que podem causar sintomas obstrutivos conforme o tamanho.

Pseudotumores traqueais

Os pseudotumores englobam condições como traqueobroncopatia osteocondroplástica e depósitos inflamatórios ou infecciosos. Nos exames de imagem, observa-se espessamento nodular da parede, frequentemente com preservação da parede posterior, além de calcificações associadas.

Tumores malignos primários

Os tumores malignos primários da traqueia são incomuns, sendo os mais frequentes o carcinoma espinocelular e o carcinoma adenoide cístico. A tomografia evidencia massas intraluminais ou espessamento irregular da parede, com possível extensão para tecidos adjacentes e redução significativa do lúmen.

Invasão secundária da traqueia

A invasão secundária ocorre quando neoplasias de estruturas próximas, como tireoide, esôfago ou pulmão, acometem a traqueia. A imagem demonstra deformação do lúmen associada à massa adjacente, auxiliando na diferenciação entre lesão primária e secundária.

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Referências Bibliográficas 

  1. DYNAMED. Radiology of the trachea. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025. Atualizado em 28 ago. 2023.
  1. ACR Appropriateness Criteria® Tracheobronchial Disease. Expert Panel on Thoracic Imaging, Little BP, Walker CM, et al. Journal of the American College of Radiology : JACR. 2024;21(11S):S518-S533. doi:10.1016/j.jacr.2024.08.015.

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