Olá, querido doutor e doutora! A tirzepatida representa um marco no tratamento integrado do diabetes tipo 2 e da obesidade, oferecendo resultados expressivos tanto no controle glicêmico quanto na redução de peso. Sua ação inovadora como agonista duplo de GLP-1 e GIP possibilita benefícios metabólicos ampliados e sustentados, indo além do que se observa com terapias tradicionais.
Estudos clínicos demonstraram perdas de peso superiores a 20% em parte dos pacientes tratados com doses mais altas.
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Conceito
A tirzepatida, conhecida comercialmente como Mounjaro® e Zepbound®, é um medicamento injetável de aplicação semanal, indicado para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 e da obesidade.
Trata-se de uma molécula inovadora por atuar de forma simultânea nos receptores de GLP-1 e GIP, o que a diferencia dos análogos clássicos de GLP-1. Essa ação combinada favorece maior controle glicêmico, melhora da função das células beta pancreáticas e redução expressiva do peso corporal.
Inicialmente aprovada para diabetes, a tirzepatida também demonstrou eficácia em indivíduos com obesidade, sendo considerada uma das terapias farmacológicas mais eficazes para manejo metabólico e redução de risco cardiovascular em pacientes selecionados.
Mecanismo de ação
A tirzepatida exerce sua ação por meio do agonismo duplo dos receptores de GLP-1 (glucagon-like peptide-1) e GIP (glucose-dependent insulinotropic polypeptide). Essa combinação levou ao termo “twincretina”, pois une em uma mesma molécula os efeitos de dois hormônios incretínicos.
- Ação do GLP-1: reduz o apetite, retarda o esvaziamento gástrico, estimula a secreção de insulina de forma dependente da glicose e diminui a secreção de glucagon.
- Ação do GIP: potencializa a resposta insulínica e melhora a sensibilidade à insulina, além de participar da regulação do metabolismo lipídico e do equilíbrio energético.
A atuação conjunta resulta em maior efeito sobre controle glicêmico e redução de peso do que o observado com o uso isolado de agonistas de GLP-1. Além disso, estudos mostram que a tirzepatida promove alterações favoráveis na composição corporal, com redução mais expressiva de massa gorda em relação à massa magra, e impacto positivo em parâmetros cardiometabólicos.
Indicações clínicas
A tirzepatida possui indicações já aprovadas e outras em fase de investigação:
Diabetes Mellitus tipo 2
Utilizada como terapia adjuvante a dieta e exercício para melhorar o controle glicêmico em adultos. Pode ser prescrita em monoterapia ou em combinação com outros antidiabéticos, exceto com outros agonistas de GLP-1.
Obesidade e Sobrepeso com Comorbidades
Indicada para adultos com IMC ≥30 kg/m², ou ≥27 kg/m² quando associado a pelo menos uma condição relacionada ao excesso de peso (ex.: hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono). A aprovação também inclui casos de obesidade com apneia obstrutiva do sono moderada a grave.
Usos em estudo (off-label ou em investigação)
Pesquisas avaliam benefícios da tirzepatida em condições como esteatose hepática associada a disfunção metabólica, síndrome metabólica e redução de risco cardiovascular em indivíduos com alto risco.
Restrições de uso
Não é indicada para diabetes tipo 1, em pediatria, nem em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.
Posologia e administração
Esquema de início e titulação
O tratamento com tirzepatida deve começar com 2,5 mg subcutâneo uma vez por semana, durante 4 semanas. Essa dose inicial serve apenas para adaptação do organismo, não sendo considerada terapêutica. Após esse período, a dose é aumentada para 5 mg semanais, podendo ser posteriormente escalonada em incrementos de 2,5 mg a cada 4 semanas, até atingir 10 mg ou 15 mg por semana, de acordo com a resposta clínica e a tolerância do paciente.
Dose máxima e esquecimento da aplicação
A dose máxima recomendada é de 15 mg por semana. Caso o paciente esqueça de aplicar, a orientação é administrar a dose perdida o quanto antes, desde que o intervalo não ultrapasse 96 horas (4 dias). Se esse limite for excedido, deve-se pular a dose esquecida e retomar o esquema regular no dia habitual, sem aplicações adicionais para compensação.
Vias e locais de administração
A medicação é administrada exclusivamente por via subcutânea, podendo ser aplicada no abdome, coxa ou braço, sempre alternando os locais para reduzir o risco de reações no ponto de injeção. O horário da aplicação é flexível, podendo ser realizado em qualquer momento do dia, independentemente da ingestão de alimentos.
Situações especiais
Não há necessidade de ajuste de dose em casos de insuficiência renal ou hepática, mas deve-se monitorar pacientes que apresentem risco de desidratação devido a efeitos gastrointestinais. Em idosos, a eficácia e segurança são comparáveis às de indivíduos mais jovens, embora seja recomendável atenção especial à tolerância. Já em pacientes que serão submetidos a cirurgias com anestesia geral ou sedação profunda, orienta-se suspender temporariamente a medicação para reduzir o risco de aspiração associado ao esvaziamento gástrico retardado.
Efeitos adversos
Manifestações gastrointestinais
Os eventos mais comuns associados à tirzepatida são de origem gastrointestinal, em especial náusea, diarreia, constipação, vômitos, dor abdominal e dispepsia. Esses sintomas tendem a surgir principalmente durante a fase de titulação das doses e, em geral, são leves a moderados e autolimitados.
Alterações metabólicas e endócrinas
O medicamento pode causar hipoglicemia, sobretudo em pacientes que utilizam concomitantemente insulina ou secretagogos, como sulfonilureias. Outro ponto de atenção é o risco teórico de tumores de células C da tireoide, motivo pelo qual há contraindicação formal em indivíduos com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2.
Complicações pancreatobiliares
Foram descritos casos de pancreatite aguda em pacientes em uso de tirzepatida, o que exige suspensão imediata diante de dor abdominal persistente. Além disso, a rápida perda de peso induzida pela droga pode favorecer o aparecimento de colelitíase e colecistite, ainda que com baixa frequência.
Reações em outros sistemas
Podem ocorrer reações de hipersensibilidade no local da injeção, tontura, cefaleia, alopecia e refluxo gastroesofágico. Em pacientes com retinopatia diabética pré-existente, pode haver piora transitória dos sintomas devido ao controle glicêmico rápido. Casos de insuficiência renal aguda também foram relatados, geralmente relacionados à desidratação secundária a vômitos ou diarreia intensos.
Considerações de segurança
Embora os eventos adversos sejam, na maioria, toleráveis e manejáveis, é necessário monitoramento clínico, especialmente durante o período inicial de tratamento e nas fases de aumento de dose. Pacientes devem ser orientados a reconhecer sinais de pancreatite, hipoglicemia ou alterações tireoidianas e procurar atendimento médico imediatamente se ocorrerem sintomas sugestivos.
Interações medicamentosas e precauções
Interações com antidiabéticos
O uso combinado de tirzepatida com insulina ou sulfonilureias aumenta o risco de hipoglicemia, exigindo redução da dose desses fármacos para evitar episódios graves. Já a associação com outros agonistas de GLP-1 não é recomendada, pois não há evidências de benefício adicional e pode elevar a incidência de efeitos adversos.
Efeito no esvaziamento gástrico
A tirzepatida retarda o esvaziamento gástrico, o que pode interferir na absorção de medicamentos orais que dependem de concentrações plasmáticas estáveis ou que possuem índice terapêutico estreito (como anticoagulantes e alguns antibióticos). Nesses casos, o acompanhamento deve ser mais rigoroso, podendo haver necessidade de ajustes de dose.
Contraceptivos orais
Durante as primeiras semanas de uso e após cada titulação da dose, a tirzepatida pode reduzir a eficácia dos contraceptivos orais. Por esse motivo, recomenda-se o uso de métodos não orais ou a associação de método de barreira por pelo menos 4 semanas após o início ou o aumento da dose.
Precauções em situações clínicas especiais
O medicamento é contraindicado em pacientes com histórico pessoal ou familiar de carcinoma medular de tireoide ou síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2. Deve-se ter cautela em indivíduos com pancreatite prévia, retinopatia diabética (devido ao risco de progressão com melhora glicêmica rápida) e em pacientes com doenças biliares. Em cirurgias com anestesia, recomenda-se suspender temporariamente a medicação para reduzir risco de aspiração por esvaziamento gástrico lento.
Gravidez e lactação
Os dados em humanos ainda são insuficientes, mas estudos em animais sugerem potencial teratogenicidade, com risco de malformações. Assim, a tirzepatida não deve ser utilizada durante a gestação, a menos que os benefícios superem claramente os riscos. Em relação à lactação, não há evidências conclusivas, e a orientação é de uso cauteloso, especialmente em recém-nascidos e prematuros.
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Referências Bibliográficas
- JASTREBOFF, A. M. et al. Tirzepatide Once Weekly for the Treatment of Obesity. New England Journal of Medicine, v. 387, n. 3, p. 205-216, 2022.
- FARZAM, K.; PATEL, P. Tirzepatide. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024.
- DYNAMED. Tirzepatide. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025.
- CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DA PARAÍBA (CRM-PB). Tirzepatida eficaz contra diabetes e obesidade. Artigo de atualização clínica, 2023.