E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a cisplatina, um medicamento quimioterápico amplamente utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer, como os de pulmão, ovário e bexiga. Ela age interferindo no DNA das células tumorais, inibindo sua divisão e crescimento.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse tema e ajudar você a aprimorar seus conhecimentos, garantindo uma prática clínica cada vez mais eficaz no manejo de tratamentos oncológicos.
Vamos nessa!
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Definição de Cisplatina
A cisplatina (cis-diaminodicloroplatina(II)) é um agente quimioterápico amplamente utilizado no tratamento de diversos tipos de câncer, como os de pulmão, ovário e testículos. Sua estrutura consiste em um metal de platina central, ligado a dois átomos de cloro e duas moléculas de amônia.
O seu mecanismo de ação ocorre quando a cisplatina atravessa a membrana celular, sendo ativada por hidrólise, onde os grupos cloreto são substituídos por grupos hidroxila. Isso permite que a substância se ligue ao DNA celular, formando ligações cruzadas que impedem a replicação do DNA, a transcrição de RNA e a síntese de proteínas, resultando na morte celular.
Embora seja eficaz no combate a células tumorais, a cisplatina também pode causar efeitos colaterais, como toxicidade renal e náuseas. A descoberta da cisplatina revolucionou o tratamento de câncer e, desde sua aprovação em 1978, ela tem sido uma das drogas mais utilizadas na oncologia.
Indicações da Cisplatina
A cisplatina é um agente quimioterápico amplamente utilizado para o tratamento de diferentes tipos de câncer, sendo indicada principalmente em casos de tumores avançados ou metastáticos. Suas principais indicações incluem:
Tumores metastáticos de testículo
A cisplatina é amplamente utilizada em casos de tumores metastáticos de testículo, sendo parte de esquemas de poliquimioterapia estabelecidos em combinação com outros agentes quimioterápicos aprovados. Esta abordagem é indicada para pacientes que já passaram por tratamentos cirúrgicos e/ou radioterápicos apropriados.
Nessas situações, a cisplatina contribui para a destruição de células cancerígenas que se disseminaram além do testículo, oferecendo uma alternativa eficaz para controlar a progressão da doença.
Tumores metastáticos de ovário
Nos tumores metastáticos de ovário, a cisplatina é empregada principalmente como parte de combinações terapêuticas com outros quimioterápicos. Este uso é destinado a pacientes que já realizaram tratamentos cirúrgicos e/ou radioterápicos.
Além disso, a cisplatina pode ser usada como agente isolado em casos de tumores ovarianos metastáticos refratários à quimioterapia padrão, especialmente em pacientes que ainda não foram tratadas previamente com esse fármaco. Essa indicação reforça seu papel em cenários de resistência ao tratamento convencional, ampliando as opções terapêuticas para o câncer de ovário.
Câncer avançado de bexiga
A cisplatina é indicada como monoterapia para o câncer avançado de células de transição da bexiga. Este tipo de tumor pode deixar de responder a tratamentos locais, como cirurgia ou radioterapia, e a cisplatina se torna uma alternativa eficaz para controlar a doença. Seu mecanismo de ação, que interfere diretamente no DNA das células cancerígenas, é crucial para retardar ou interromper a progressão do câncer em estágios avançados.
Carcinomas Espino-celulares de cabeça e pescoço
Para os carcinomas espino-celulares localizados na cabeça e no pescoço, a cisplatina é usada em combinação com outros agentes quimioterápicos aprovados.
Essa abordagem é frequentemente adotada como uma terapia adjunta a procedimentos cirúrgicos e/ou radioterápicos, maximizando as chances de controle da doença.
A cisplatina desempenha um papel importante na redução do tumor e na prevenção de recidivas, contribuindo para um tratamento mais abrangente e eficaz.
Contraindicações de Cisplatina
O uso da cisplatina requer atenção cuidadosa devido a contraindicações que podem limitar sua aplicação em determinados pacientes. Abaixo, estão descritas as principais situações em que o uso da cisplatina é contraindicado, considerando os riscos associados ao medicamento e a necessidade de avaliação médica criteriosa.
- Insuficiência renal pré-existente: a cisplatina é contraindicada em pacientes que apresentam insuficiência renal, devido ao seu potencial nefrotóxico, que pode agravar ainda mais a função renal. No entanto, em casos específicos, o médico pode avaliar se os benefícios do tratamento superam os riscos.
- Deficiência auditiva: devido à ototoxicidade associada ao uso da cisplatina, o medicamento não deve ser utilizado por pacientes com perda auditiva preexistente. A administração pode ser considerada apenas em casos excepcionais, sob criteriosa avaliação médica.
- Mielodepressão: pacientes com mielodepressão, condição em que a medula óssea reduz a produção de células sanguíneas, não devem receber cisplatina. O medicamento pode piorar esse quadro, comprometendo a saúde do paciente.
- Reações alérgicas:
Pessoas com histórico de reações alérgicas à cisplatina, a outros compostos de platina ou a componentes da fórmula estão contraindicadas ao uso, devido ao risco de eventos adversos graves. - Gravidez: classificada na categoria de risco D, a cisplatina não deve ser utilizada por mulheres grávidas, pois pode causar danos ao feto. O uso só é permitido em situações extremas, sob orientação médica rigorosa, e o médico deve ser informado imediatamente em caso de suspeita de gravidez.
- Lactação: o medicamento é contraindicado durante a amamentação, pois pode representar riscos ao lactente. Mulheres em tratamento com cisplatina devem interromper a amamentação.
Mecanismo de ação da Cisplatina
O mecanismo de ação da Cisplatina, um dos principais compostos de platina utilizados no tratamento do câncer, envolve sua interação direta com o DNA, resultando em danos moleculares significativos. Esta interação é fundamental para sua atividade anticancerígena, sendo a principal causa da citotoxicidade observada.
A Cisplatina tem a capacidade de formar adutos com o DNA, levando à indução de quebra das fitas e à inibição da replicação e transcrição celular. Essas interações são responsáveis pela morte celular programada, ou apoptose, em células tumorais. As evidências dessa interação incluem o crescimento de filamentos em bactérias, a lise bacteriana, a inibição da síntese de DNA em culturas celulares, e a mutagênese induzida pela Cisplatina.
A Cisplatina interage com o DNA em pontos específicos, com uma das principais ligações ocorrendo entre os átomos de nitrogênio na posição N7 das purinas, especialmente a guanina. Essa ligação é facilitada pela estrutura de dupla hélice do DNA, onde as interações podem ocorrer durante processos como replicação e transcrição, quando as ligações de hidrogênio entre as fitas são momentaneamente desfeitas.
A platina pode formar adutos monofuncionais, onde uma única ligação é feita, ou bifuncionais, onde a platina se liga em duas posições no DNA, podendo ser tanto dentro da mesma fita (intrafita) quanto entre fitas diferentes (interfitas). Esses adutos bifuncionais são considerados mais eficazes em induzir danos significativos ao DNA, dificultando sua reparação e resultando em falha celular.
A formação dos adutos de Cisplatina com o DNA é complexa e envolve múltiplos tipos de interações. Entre os adutos mais comuns estão as ligações cruzadas entre guaninas da mesma fita de DNA, que representam uma grande parte dos adutos formados, mas também há interações com bases de fitas diferentes, embora essas representem uma menor proporção.
Além disso, a Cisplatina também interage com outras biomoléculas no meio biológico, como proteínas e peptídeos, particularmente através de grupos tiólicos, como a glutationa, que pode se ligar à platina, potencialmente influenciando a toxicidade do tratamento. A ligação com a glutationa é uma das principais responsáveis pelos efeitos colaterais, como a nefrotoxicidade, uma complicação significativa associada ao uso da Cisplatina.
Essas interações do complexo de platina com o DNA e outras biomoléculas são fundamentais para a compreensão do mecanismo de ação da Cisplatina e do desenvolvimento de estratégias para minimizar sua toxicidade e melhorar a eficácia do tratamento, especialmente em células resistentes.
Efeitos Adversos da Cisplatina
A cisplatina é um quimioterápico que pode causar diversos efeitos adversos. A monitorização rigorosa e a administração de medicamentos para prevenir ou tratar essas reações são essenciais durante o uso da cisplatina.
Alguns dos principais incluem:
- Nefrotoxicidade: a insuficiência renal é uma das toxicidades mais comuns e limitantes. Cerca de 28% a 36% dos pacientes que recebem uma dose única de 50 mg/m² podem apresentar alterações renais, geralmente manifestadas por aumento nos níveis de ureia e creatinina, além de redução no clearance de creatinina. A toxicidade renal tende a ser mais grave com o uso repetido da droga. A função renal pode ser recuperada com o tempo, mas é importante monitorar os pacientes e suspender a administração se houver sinais de comprometimento.
- Ototoxicidade: até 31% dos pacientes podem apresentar problemas auditivos, como zumbido ou perda auditiva nas frequências mais altas (4.000-8.000 Hz), principalmente após doses repetidas. Crianças são mais suscetíveis a essa toxicidade. A perda auditiva pode ser unilateral ou bilateral e tende a se agravar com o uso contínuo de cisplatina. A ototoxicidade pode ser reversível ou não, e o monitoramento auditivo regular é recomendado durante o tratamento.
- Hematológicas: a cisplatina pode causar mielodepressão, afetando entre 25% a 30% dos pacientes. Isso pode resultar em leucopenia (redução de glóbulos brancos), trombocitopenia (redução de plaquetas) e anemia. Os nadires de plaquetas e leucócitos geralmente ocorrem entre o 18º e 23º dia após a administração, com recuperação em torno do 39º dia. A anemia também é comum e, em alguns casos, pode estar associada à hemólise, com teste de Coombs positivo.
- Gastrintestinais: a maioria dos pacientes apresenta náuseas e vômitos acentuados, que podem ser tão graves que levam à suspensão do tratamento. Os sintomas começam geralmente entre uma a quatro horas após a infusão e podem durar até 24 horas ou mais. Em alguns casos, esses sintomas persistem por uma semana. Diarreia também foi reportada em alguns pacientes.
- Distúrbios eletrolíticos: a cisplatina pode causar alterações nos níveis de eletrólitos, como hipomagnesemia, hipocalcemia, hiponatremia, hipocalemia e hipofosfatemia, geralmente devido aos efeitos renais. Em casos graves, a hipocalcemia e hipomagnesemia podem levar a tetania. A correção dos níveis de eletrólitos e a suspensão da cisplatina geralmente restauram os níveis normais.
- Neurotoxicidade: neuropatias periféricas são uma complicação conhecida, podendo ocorrer após meses de tratamento, mas também podem se manifestar após uma dose única. Outros sintomas neurológicos, como o sinal de L’Hermitte e mielopatia, também foram reportados. Cãibras musculares e, raramente, convulsões também podem ocorrer. A neuropatia periférica pode ser irreversível em alguns casos.
- Toxicidade ocular: embora rara, a cisplatina pode causar neurite óptica, edema papilar e até cegueira cerebral. A visão turva e alterações na percepção de cores também foram observadas, especialmente após doses mais altas. Esses efeitos geralmente melhoram após a suspensão do medicamento.
- Reações anafiláticas: embora raras, reações alérgicas graves, como edema facial, zumbido, taquicardia e hipotensão, podem ocorrer, sendo tratadas com epinefrina, corticosteroides e anti-histamínicos.
- Outras reações: a cisplatina também pode causar diarreia, anorexia, erupções cutâneas, alopecia, astenia e mal-estar. Casos raros de alterações cardíacas, como infarto do miocárdio, microangiopatia trombótica e síndrome hemolítica urêmica também foram observados.
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Referências
Mark A Perazella, MD, FACPDidier Portilla, MDA Mazin Safar, MD. Cisplatin nephrotoxicity. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate
CONSULTA REMÉDIOS. Cisplatina: bula. Disponível em: https://consultaremedios.com.br/cisplatina/bula. Acesso em: 25 nov. 2024.