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Visão geral
A história dos agentes antipsicóticos típicos passa pela aprovação clorpromazina na década de 50, com base em observações de sua eficiência na esquizofrenia, porém com pouca compreensão do mecanismo de ação. Com o tempo, a capacidade desses fármacos de bloquear a neurotransmissão dopaminérgica, particularmente sua afinidade pelos receptores D2 no SNC, foi elucidada.
Indicações e dosagem
Segundo a bula, a clorpromazina tem uma grande margem de segurança, podendo a dose variar entre 25 a 1600 mg ao dia, dependendo da necessidade do paciente. No entanto, os efeitos adversos podem ser maiores e devido a questões de segurança, alguns especialistas consideram 800 mg/dia como a dose máxima aceitável.
- Agitação ou agressividade grave: Pode ser usada no contexto de pronto-atendimento para ambientes onde antipsicóticos parenterais mais seguros não estão disponíveis nos casos em que a psicose seja a principal causa de agitação/agressividade.
- A dose intramuscular inicial é de 25 mg, com adição de 25 a 50 mg em 1 hora com base na resposta e tolerabilidade. A dose diária habitual pode ser repetida a cada 4 a 6 horas, conforme necessário, até 200 mg/dia.
- Esquizofrenia: É considerado agente de segunda linha no tratamento da esquizofrenia e transtornos psicóticos. Os agentes atípicos são preferíveis pela menor taxa de efeitos adversos. A administração via oral inicial de 25 a 200 mg/dia em 2 a 4 vezes ao dia, aumentando conforme tolerabilidade e resposta à dose habitual de 400 a 800mg/dia
- Transtorno bipolar: É um agente alternativo no tratamento de episódios maníacos associados ao transtorno bipolar. A administração via oral inicial de 30 a 75 mg/dia em 2 a 4 vezes ao dia, aumentando conforme tolerabilidade e resposta à dose habitual de 400 a 800mg/dia.
- Problemas de comportamento: Tratamento de problemas de comportamento graves em crianças de 1 a 12 anos de idade marcados por combatividade e/ou comportamento explosivo hiperexcitável. Em crianças acima de 2 anos deve-se usar uma dose inicial de 1 mg/kg/dia, dividida em 2 ou 3 tomadas. O total da dose diária não deve exceder 40 mg, em crianças abaixo de 5 anos, ou 75 mg, em crianças mais velhas.
- Soluços: Usado para soluços com duração maior que 48 horas, apesar das manobras físicas e outras terapias convencionais. A dose inicial é de 25mg 3 a 4 vezes ao dia, aumentando conforme resposta e tolerabilidade até dose máxima de 200 mg/dia.
- Náuseas e vômitos agudos autolimitados: pode ser considerado se pacientes alérgicos aos antieméticos ou não estiverem disponíveis. Também usado off label como um agente alternativo para náuseas e vômitos refratários da gravidez, segundo ACOG 2018.
- A dose IM é preferível por causa dos vômitos. Dose inicial única de 25 mg, administrar 10 a 25 mg a cada 3 a 4 horas, conforme necessário, com dose máxima de 200 mg/dia. Se o paciente tolerar uso via oral, a dose inicial é de 10 a 25 mg a cada 4 a 8 horas, conforme necessário, com dose máxima: 150mg/dia.
- Tétano: pode ser associado a barbitúricos no tratamento do tétano.
Contraindicações
As contraindicações absolutas incluem:
- Glaucoma de ângulo fechado.
- Em pacientes com risco de retenção urinária, ligado a problemas uretropráticos.
- Uso concomitante com levodopa .
- uso concomitante com grandes quantidades de depressores do SNC (álcool, barbitúricos, opióides, etc).
- Estados comatosos.
Principais efeitos adversos da clorpromazina
Os efeitos adversos são derivados dos por ação antagonista nos receptores D2 de dopamina fora dos sistemas mesolímbico e mesocortical e aqueles causados por ação antagonista inespecífica em outros tipos de receptores.
O efeito mais proeminente é a síndrome extrapiramidal, que induz sintomas parkinsonianos, com discinesias precoces, como torcicolo espasmódico, crises oculógiras, trismo e etc.. Depois de algum tempo, quando os receptores D2 estriatais tornam-se supersensibilizados, a maioria dos pacientes em uso da clorpromazina apresenta uma melhora dos efeitos adversos parkinsonianos.
Entretanto, depois de meses a anos de uso crônico de antipsicóticos típicos, verifica-se o desenvolvimento de uma afecção conhecida como discinesia tardia em cerca de 20% dos pacientes, caracterizado por movimentos estereotipados involuntários e repetitivos da musculatura facial, braços e tronco.
Os receptores D2 na hipófise inibem a secreção de prolactina. Por este motivo, o uso da clorpromazina aumenta a secreção de prolactina, resultando galactorréia e amenorréia nas mulheres e em ginecomastia e diminuição da libido nos homens.
Características farmacológicas da clorpromazina
Farmacodinâmica do Amplictil®
A clorpromazina é um antipsicótico fenotiazínico alifático que bloqueia os receptores dopaminérgicos pós-sinápticos no cérebro. Apesar de bloquearem os receptores D2 em todas as vias dopaminérgicas do SNC, seu mecanismo de ação como agentes antipsicóticos parece envolver o antagonismo dos receptores D2 mesolímbicos e, possivelmente, mesocorticais.
Além de seu efeito sobre as vias dopaminérgicas, exibe um forte efeito bloqueador alfa-adrenérgico e deprime a liberação de hormônios hipotalâmicos e hipofisários. Acredita-se que o efeito depressor sobre o sistema de ativação reticular afete o metabolismo basal, a temperatura corporal, a vigília, o tônus vasomotor e a êmese.
Farmacocinética
É rapidamente e quase completamente absorvido por via oral, mas sua biodisponibilidade relativa em relação à via intramuscular é em média de 50%, pelo grande efeito de primeira passagem devido ao metabolismo durante a absorção na mucosa GI.
A clorpromazina sofre também intensa metabolização hepática, com formação de metabólitos tanto ativos quanto inativos, com reciclagem entero-hepática. A excreção é feita através da urina e pelas fezes, onde aparece principalmente sob a forma de metabólitos. A meia-vida plasmática é curta, durando algumas horas, mas a eliminação é lenta e dura cerca de quatro semanas ou mais.
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Referências bibliográficas:
- GOLAN, David E. e col. Editora Guanabara Koogan, 3ª edição, 2014. Farmacologia.
- Bula. Amplictil®.- cloridrato de clorpromazina. Disponível em Saúde Direta
- Chlorpromazine: Drug information. Uptodate.
- Moreira FA, Guimarães FS. Mecanismos de ação dos antipsicóticos: hipóteses dopaminérgicas. Medicina (Ribeirão Preto) 2007; 40 (1): 63-71.
- Crédito da imagem em destaque: Pexels