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Visão geral
O Êxtase é o nome dado a substância 3,4-metilenodioxi-metanfetamina (MDMA), uma droga sintética que altera o humor e a percepção do ambiente. A grande utilização dessa substância hoje em dia é para sua ação psicotrópica, com elevado potencial de abuso.
Para prática médica, até o momento, a maioria das pesquisas clínicas sobre MDMA em pacientes concentrou-se na psicoterapia para tratar o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Ações do êxtase no corpo humano
O MDMA atua aumentando a secreção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina em neurônios pré-sinápticos, além de impedir a destruição desses neurotransmissores pela enzima monoaminoxidase (MAO). É uma ação muito parecida com os antidepressivos utilizados na prática clínica.
O aumento da síntese de dopamina promove ativação dos centros de prazer dependentes de dopamina no cérebro. Além disso, o MDMA é químicamente semelhante a estimulantes e alucinógenos, produzindo sensações de aumento de energia, prazer, calor emocional e percepção sensorial e temporal distorcida.
O racional farmacológico para estudos que utilizam MDMA em transtornos mentais, principalmente relacionados a TEP, são:
- A atividade nos receptores 5-HT1A e 5-HT1b, aumentando níveis de serotonina nas fendas sinápticas, atenua sentimentos de depressão e ansiedade, reduz a resposta de medo da amígdala e aumenta os níveis de autoconfiança;
- O MDMA facilita a liberação de ocitocina, hormônio associado a maior empatia e vinculação social;
- Estudos em animais demonstraram que o MDMA aumenta os níveis de fator neurotrópico derivado do cérebro (BDNF) na amígdala, mecanismo que, teoricamente, diminui a sensação de medo.
Uso recreativo da êxtase (MDMA)
Os efeitos desejados para uso recreativo da droga são: maior empatia, percepção de memórias inconscientes, sentimento de proximidade com as outras pessoas, aumento das sensações emotivas e sensuais, euforia, elevação da auto-estima e alteração da percepção visual.
O uso recreativo de ecstasy frequentemente envolve amostras impuras de MDMA, várias outras drogas e muitas vezes prestando pouca atenção aos aspectos fisiológicos da experiência com drogas, tais como misturas com LSD (ácido dietilamida lisérgico), anfetamina, efedrina, pseudo-efedrina, cetamina, cafeína, salicilatos ou antitussígeno dextrometorfano (DTX).
Uso terapêutico da êxtase (MDMA)
#Ponto importante: Todas os usos terapêuticos citados aqui ainda estão em estudos, sem evidências de segurança ou eficácia comprovadas ou uso aprovados pelas organizações de saúde nacionais e internacionais.
Desde os anos 60, psicoterapeutas tentam associar o uso de MDMA com melhorias em transtornos mentais, alguns com métodos científicos duvidosos. O LSD já vinha em estudos, mas a molécula de MDMA produz um estado mais suave e facilmente tolerado em comparação com o LSD.
No entanto, em 1985 após ser classificado pelo DEA (Drug Enforcement Administration) como droga nível 1, com alto potencial de abuso e sem uso médico atualmente aceito, teve seu uso clínico proibido seguindo a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, ao longo da década de 1990, surgiram tensões entre a comunidade clínica, visto que alguns autores propunham que o MDMA era seguro em circunstâncias controladas, a mídia e os políticos que defendiam a proibição estrita para controlar o uso recreativo.
Atualmente, estudos promissores de fase 2, como ocorreu nos EUA, Israel e Canadá, demonstraram resultados consistentemente positivos e boa tolerabilidade. Por este motivo, a Food and Drugs Administration (FDA) na América e a European Medicines Agency (EMA) na Europa, agrupam todos os ensaios de Fase 2 e formaram a base para a expansão em vários locais de ensaios de Fase 3 de Terapia MDMA para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Os estudos estão em andamento.
A maiorias das pesquisas mais avançadas estão focadas no tratamento do TEPT, mas muitas pessoas que sofrem com outros transtornos mentais crônicos descrevem algum grau de trauma pré-mórbida, como transtornos depressivos e associados a álcool. Além disso, outra área de pesquisa contemporânea com a terapia de MDMA explorou o potencial de alívio da ansiedade social associada ao autismo.
Efeitos colaterais da êxtase (MDMA)
Doses baixas dessa substância podem causar efeitos menos acentuados e transitórios, geralmente associados a estimulação simpática:
- Taquicardia, hipertensão e sudorese;
- Inapetência;
- Tremor, trismo e bruxismo;
- Náuseas;
- Insônia;
- Cefaléia.
Dose mais elevadas tem como principais efeitos colaterais sinais de neurotoxicidade, como ataxia, nistagmo, aumento da acuidade para cores, alucinação visual, aumento da sensibilidade ao frio, dormência, formigamento nas extremidades, além de sinais de hepatite tóxica.
Superdosagem ou intoxicação grave
O efeito da estimulação simpática excessiva, ou seja, da intensa liberação de noradrenalina nos terminais pré-sinápticos dessa droga é a principal responsável por mortes associadas à overdose de MDMA.
Nos casos de intoxicação grave, os sintomas mais preocupantes são as arritmias cardíacas e a hipertensão arterial, psicose, hipertermia, rabdomiólise, falência renal e hepática e coagulação intravascular disseminada (CID) complicada por sangramentos. Todos eles precisam ser tratados de forma rápida e adequada para restabelecer a saúde do paciente.
A hipertermia, a qual contribui para os outros efeitos sistêmicos graves, é manejada com a retirada das roupas, hidratação e resfriamento corporal objetivando a termorregulação. Em situações de hipertermia aguda extrema, além de situações de hipertensão, taquicardia e psicose, os benzodiazepínicos são os mais utilizados para controle das complicações.
Veja também:
- De intoxicação a falso diagnóstico: os riscos da automedicação
- Resumo de intoxicação exógena
- Resumo de transtorno de ansiedade generalizada
Referências bibliográficas:
- Larissa MVS et al. Revisão Toxicológica e Tratamento da Intoxicação pelo Êxtase. Rev. Neurociências 11(1): 18-22, 2003.
- Sessa B, Higbed L, Nutt D. A Review of 3,4-methylenedioxymethamphetamine (MDMA)-Assisted Psychotherapy. Front Psychiatry. 2019 Mar 20;10:138. doi: 10.3389/fpsyt.2019.00138. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6435835/
- Xavier, C.A.C. et al. Êxtase (MDMA): efeitos farmacológicos e tóxicos, mecanismo de ação e abordagem clínica. Rev. Psiq. Clín 35 (3); 96-103, 2008.
- Crédito da imagem em destaque: Pexels