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Visão geral
A imunoglobulina humana intravenosa (IH) é derivada do plasma de milhares de humanos, geralmente mais de 10.000 doadores pagos e voluntários selecionados. É utilizada no tratamento de uma série de distúrbios, incluindo estados de imunodeficiência primária e secundária e uma variedade de distúrbios auto imunes e inflamatórios.
Existem vários produtos disponíveis para cada preparação, que variam em concentração de imunoglobulina G (IgG), aditivos, estabilizadores e conteúdo de IgA. Antes de ser disponibilizada, a IH passa por diversos processos de purificação, como cromatografia de troca iônica para separar ainda mais a IgG desejada, além de inativação e remoção de patógenos transmitidos pelo sangue. Esse processo pode levar até 01 ano.
Indicações e dosagem
No Brasil, o Ministério da Saúde autoriza a dispensação de imunoglobulina humana endovenosa (IGIV) para oito situações clínicas comprovadas, que pode ter efeito na reposição de anticorpos ou na imunomodulação:
- imunodeficiência primária com predominância de defeitos de anticorpos
- anemia hemolítica autoimune
- aplasia pura adquirida crônica da série vermelha
- dermatomiosite e poliomiosite com risco de vida ou refratárias.
- imunossupressão no transplante renal
- miastenia gravis
- púrpura trombocitopênica idiopática
- síndrome de Guillain-Barré.
Cerca de 75% das imunodeficiências primárias são responsivas à imunoglobulina humana. Os exemplos incluem erros inatos da imunidade que afetam a produção ou função de anticorpos, leucemia linfocítica crônica (LLC), mieloma múltiplo, função imunológica reduzida após transplante de células-tronco hematopoiéticas e estados de perda grave de proteínas.
Das imunodeficiências secundárias, a hipogamaglobulinemia secundária a malignidades, transplantes de células hematopoiéticas. É utilizada como profilaxia contra infecção bacteriana.
Além do uso autorizado pelo MS para síndrome de Guillain-Barré, tem ação em outros distúrbios neuroimunológicos como em polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PDIC), neuropatia motora multifocal, síndrome de Guillain-Barré e miastenia gravis.
Outras condições inflamatórias associadas incluem trombocitopenia imune (em pacientes com alto risco de hemorragia ou antes da cirurgia para corrigir a contagem de plaquetas), neutropenia autoimune, síndrome de von Willebrand adquirida causada por autoanticorpos contra o fator de von Willebrand, doença de Kawasaki.
Imunoglobulina anti-D
É utilizado em processos aloimunes, principalmente na doença hemolítica do feto e do recém-nascido. Nas gestantes com Rh – e fetos com Rh+ devem receber a imunoglobulina anti-D em até 72 horas após o parto para prevenção de reação em gestações futuras.
É utilizada também em casos de púrpura pós-transfusional, rejeição de transplante de órgãos mediada por anticorpos e crise hiper-hemolítica em indivíduos com doença falciforme que receberam transfusões.
Mecanismo de ação
Nas hipogamaglobulinemia por imunodeficiência por deficiência de anticorpos, seja secundária ou primária, a IH atua basicamente fornecendo concentrações adequadas de anticorpos contra uma ampla gama de patógenos, fornecendo imunidade passiva.
O mecanismo de ação no tratamento de doenças autoimunes ainda não é totalmente compreendido, mas parece ter relação com a neutralização de antígenos e superantígenos (incluindo autoantígenos), o bloqueio do receptor Fc e aumento do catabolismo e regulação anti-idiotípica de autoanticorpos.
Na incompatibilidade Rh que ocorre na gestação em mulheres RhD-negativa com um feto potencialmente RhD-positivo, o uso de imunoglobulina anti-D funciona por um mecanismo que ainda não foi comprovado. As possibilidades incluem eliminação rápida mediada por macrófagos de glóbulos vermelhos revestidos com anti-D e/ou regulação negativa de células B específicas do antígeno antes que ocorra uma resposta imune.
Efeitos adversos da imunoglobulina humana
As reações adversas ocorrem com até 5 a 15% de todas as infusões de imunoglobulina intravenosa (IVIG) e são mais comuns em doses mais altas, taxas de infusão mais rápidas e em condições subjacentes do paciente, como estados pró-trombóticos.
- Reações imediatas: anafilaxia, TRALI, sobrecarga de volume.
- Reações atrasadas: eventos trombóticos (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, tromboembolismo venoso), lesão renal aguda, hemólise, hiponatremia.
- Reações tardias: Dermatite eczematosa associada à terapia com IVIG, diminui eficácia sobre efeito de vacinas, aumenta risco de infecções.
Contraindicações
Pacientes com deficiência seletiva de IgA que desenvolveram anticorpos contra IgA, como a administração de um produto contendo IgA, podem resultar em anafilaxia. A solução é contraindicada em caso de diabetes descompensada, outras intolerâncias conhecidas à glicose (como situação de estresse metabólico), coma hiperosmolar, hiperglicemia, e hiperlactatemia.
#Ponto importante: O protocolo para uso da imunoglobulina para imunodeficiência por deficiência de anticorpo traz critérios de exclusão para seu uso. São eles:
Serão excluídos deste protocolo todos os pacientes que apresentarem pelo menos um dos seguintes critérios:
- infecção ativa e/ou neoplasia;
- insuficiência renal ou hepática;
- história de reação anafilática a IGH;
- diagnóstico laboratorial incidental de IP com predominância de defeitos de anticorpos, sem história de infecções de repetição ameaçadoras da vida;
- deficiência de IgA somente;
- deficiência de IgM somente;
- deficiência de IgD somente;
- imunodeficiência predominantemente celular.
Características farmacológicas da imunoglobulina humana
Farmacocinética
A imunoglobulina humana é rápida e completamente biodisponível após administração intravenosa e possui boa distribuição entre o plasma e o líquido extravascular, após aproximadamente 3 – 5 dias de equilíbrio entre os compartimentos intra e extravascular.
Possui meia vida de aproximadamente um mês, tempo pelo qual a imunoglobulina confere proteção, sendo que pode variar de paciente para paciente, em particular na imunodeficiência primária. O IgG e os complexos IgG são degradados nas células do sistema reticuloendotelial.
Veja também:
- Resumo da Síndrome de Guillain-Barré: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de púrpura trombocitopênica imune: diagnóstico, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
- Goudouris ES, Silva AM do R, Ouricuri AL, Grumach AS, Condino-Neto A, Costa-Carvalho BT, et al.. II Brazilian Consensus on the use of human immunoglobulin in patients with primary immunodeficiencies. einstein (São Paulo) [Internet]. 2017Jan;15(einstein (São Paulo), 2017 15(1)). Available from: https://doi.org/10.1590/S1679-45082017AE3844
- Mark Ballow, Nadine Shehata. Overview of intravenous immune globulin (IVIG) therapy. Uptodate.
- 9 Human Immunoglobulins. Transfus Med Hemother. 2009;36(6):449-459. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2997299/
- Bula profissional Imunoglobulina humana. ANVISA.
- Crédito da imagem em destaque: Pexels