E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre o Valsartana, um dos principais antagonistas dos receptores da angiotensina II.
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Visão geral da Valsartana
A Valsartana é um medicamento que pertence à classe dos antagonistas do receptor da angiotensina II (ARA-II), também conhecidos como bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA). Esses medicamentos atuam impedindo a ação da angiotensina II, uma substância natural que causa a constrição dos vasos sanguíneos, o que pode levar ao aumento da pressão arterial.
Ao bloquear essa substância, a Valsartana ajuda a relaxar os vasos sanguíneos, facilitando o fluxo sanguíneo e, consequentemente, diminuindo a pressão arterial. Dessa forma, a Valsartana é utilizada principalmente no tratamento da hipertensão arterial.
Além de seu uso no controle da pressão alta, a Valsartana é eficaz no tratamento da insuficiência cardíaca e é utilizada em pacientes que sofreram um infarto do miocárdio. Sua ação permite que o coração bombeie o sangue de maneira mais eficiente, melhorando a função cardíaca e reduzindo a sobrecarga sobre o coração.
Recentemente, a Valsartana ganhou destaque em associações medicamentosas, como a combinação com o sacubitril, outro anti-hipertensivo. Estudos clínicos demonstraram que essa combinação promove uma redução significativa na mortalidade geral (16%), na mortalidade cardiovascular (20%) e nas internações hospitalares por insuficiência cardíaca (21%).
Isso evidencia a importância da Valsartana não apenas como um agente terapêutico isolado, mas também em combinações que potencializam seus efeitos benéficos para pacientes com condições cardiovasculares.
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Mecanismo de ação da Valsartana
A Valsartana é um medicamento pertencente à classe dos antagonistas do receptor da angiotensina II (ARA-II), especificamente do tipo 1 (AT1). Esses medicamentos atuam bloqueando a ação da angiotensina II nos receptores AT1 que são expressos na musculatura lisa dos vasos sanguíneos, no túbulo proximal dos rins, nas células da medula suprarrenal e em outros tecidos. A angiotensina II é um potente vasoconstritor e sua ação nos receptores AT1 resulta na contração dos vasos sanguíneos, elevação da pressão arterial, estimulação da secreção de aldosterona, e outros efeitos que contribuem para a hipertensão.
Ao bloquear os receptores AT1, a Valsartana impede que a angiotensina II exerça esses efeitos, resultando em vasodilatação (dilatação dos vasos sanguíneos), redução da secreção de aldosterona e, consequentemente, diminuição da pressão arterial. Além disso, a Valsartana não interfere nos níveis de bradicinina, uma substância que pode causar tosse e angioedema, efeitos adversos comumente associados aos inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECAs).
Farmacocinética da Valsartana
Embora o medicamento seja rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal, sua biodisponibilidade oral é relativamente baixa, cerca de 25%. Isso significa que apenas uma pequena fração da dose administrada atinge a circulação sistêmica em forma ativa. A presença de alimentos pode reduzir ainda mais a absorção, mas esse efeito é clinicamente insignificante, permitindo que a Valsartana seja administrada independentemente das refeições.
Após ser absorvida, a Valsartana apresenta uma alta ligação às proteínas plasmáticas, principalmente à albumina, com uma taxa de ligação superior a 95%. Essa característica contribui para um grande volume de distribuição, o que permite que o medicamento se distribua amplamente pelos tecidos corporais. A Valsartana atinge concentrações máximas no plasma em cerca de 2 a 4 horas após a administração.
A metabolização da Valsartana ocorre minimamente no fígado. Ao contrário de muitos medicamentos que são metabolizados extensivamente pelo sistema enzimático do citocromo P450, a Valsartana passa por um processo de glucuronidação, que é uma via de conjugação. Isso significa que a Valsartana é conjugada com ácido glucurônico, formando glucuronídeos, que são formas mais solúveis em água e mais facilmente excretáveis do medicamento.
A excreção da Valsartana é predominantemente fecal, com cerca de 83% da dose eliminada nas fezes, principalmente como composto inalterado, e 13% excretada na urina. A meia-vida de eliminação da Valsartana é de aproximadamente 6 horas. A excreção biliar desempenha um papel importante, e o transportador MRP2 é significativo na eliminação do medicamento via bile. A necessidade de administração duas vezes ao dia deve-se à sua meia-vida relativamente curta para manter níveis plasmáticos eficazes durante 24 horas.
Indicações da Valsartana
A Valsartana é amplamente indicada para o tratamento de várias condições cardiovasculares. Inicialmente, foi aprovada para o tratamento da hipertensão arterial, sendo utilizada para controlar a pressão alta. Ao bloquear os receptores AT1 da angiotensina II, a Valsartana ajuda a relaxar os vasos sanguíneos, reduzindo a pressão arterial e diminuindo o risco de complicações associadas à hipertensão, como acidentes vasculares cerebrais (AVC) e ataques cardíacos.
Além da hipertensão, é indicada para o tratamento da insuficiência cardíaca. Em pacientes com insuficiência cardíaca, a Valsartana melhora a função cardíaca ao reduzir a carga de trabalho do coração e promover a vasodilatação. A combinação de sacubitril/valsartana, comercializada sob o nome de Entresto, é particularmente eficaz para essa indicação, oferecendo benefícios superiores aos tratamentos convencionais, como inibidores da ECA, betabloqueadores e espironolactona. Estudos clínicos demonstraram que essa combinação reduz significativamente a mortalidade cardiovascular e as hospitalizações por insuficiência cardíaca.
Outra importante indicação é para pacientes que sofreram um infarto do miocárdio. Nesse contexto, a Valsartana ajuda a prevenir a remodelação cardíaca adversa e melhora a sobrevida dos pacientes, sendo uma opção terapêutica valiosa para melhorar os desfechos pós-infarto. Além disso, a Valsartana pode ser utilizada em substituição aos inibidores da ECA em pacientes que apresentam tosse ou angioedema como efeitos adversos desses medicamentos.
Os antagonistas dos receptores AT1, como a Valsartana, também apresentam efeitos secundários benéficos que vão além do controle da hipertensão. Esses efeitos incluem propriedades antiagregantes, que podem ajudar a prevenir acidentes vasculares cerebrais, efeitos hipouricêmicos, que beneficiam pacientes com altos níveis de ácido úrico, efeitos antidiabéticos, que podem ajudar no controle da diabetes, e efeitos antiarrítmicos, que ajudam a controlar a fibrilação atrial. Embora os mecanismos desses efeitos secundários ainda não sejam completamente elucidados, eles ampliam o potencial terapêutico da Valsartana em diversas condições clínicas.
Contraindicações da Valsartana
A Valsartana é contraindicada em pacientes com hipersensibilidade ao valsartan ou a qualquer componente da formulação. Além disso, seu uso concomitante com aliscireno em pacientes diabéticos é contra-indicado devido ao risco de complicações como hipotensão, hipercalemia e insuficiência renal aguda.
Interações medicamentosas
A Valsartana, em geral, não apresenta interações medicamentosas clinicamente significativas relacionadas à metabolização hepática via citocromo P450, pois é metabolizada minimamente pelo fígado.
Estudos clínicos realizados com Valsartana mostraram que não há interações de relevância clínica com diversos medicamentos frequentemente utilizados, como cimetidina, varfarina, furosemida, digoxina, atenolol, indometacina, hidroclorotiazida, anlodipino e glibenclamida. Mesmo com medicamentos que possuem alta ligação às proteínas plasmáticas, como diclofenaco e varfarina, não foram observadas interações significativas em nível de ligação proteica in vitro.
No entanto, é importante considerar algumas interações específicas com diuréticos poupadores de potássio (como espironolactona, triantereno, amilorida), suplementos de potássio ou substitutos do sal que contenham potássio. O uso concomitante desses compostos com Valsartana pode aumentar os níveis séricos de potássio, o que pode ser especialmente relevante em pacientes com insuficiência cardíaca. Isso também pode resultar em aumentos na creatinina sérica, indicando possível comprometimento da função renal.
Principais efeitos adversos
Mais de 10% dos pacientes apresentam:
- Tontura;
- Hipotensão postural (queda de pressão ao levantar);
- Pressão arterial baixa; e
- Diminuição da função renal.
Menos de 10% dos pacientes apresentam:
- Hipotensão;
- Síncope (desmaio);
- Fadiga;
- Tontura ortostática (tontura ao levantar-se rapidamente);
- Cefaleia (dor de cabeça);
- Diarreia (5%);
- Dor abdominal;
- Náuseas; e
- Dor abdominal superior.
Outros efeitos observados durante estudos clínicos:
- Dor nas costas;
- Alteração de libido;
- Sinusite;
- Insônia;
- Dor nas articulações;
- Faringite;
- Coriza;
- Congestão nasal;
- Inchaço das mãos, tornozelos ou pés;
- Infecções do trato respiratório superior; e
- Infecções virais.
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Referências
E Kevin Heist, MD, PhD. ACE inhibitors, angiotensin receptor blockers, and atrial fibrillation. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate
Theo E Meyer, MD, PhD. Primary pharmacologic therapy for heart failure with reduced ejection fraction. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate
Valsartan: Drug information. UpToDate. Disponível em: UpToDate
Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012.