E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre a Vasopressina, um potente antidiurético endógeno e também sendo administrado de forma artificial.
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Definição da Vasopressina
A vasopressina, também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), é um hormônio peptídico secretado pela neuro-hipófise e sua principal função é regular o equilíbrio hídrico do corpo, atuando sobre os rins, especialmente nas células da porção distal do néfron e nos túbulos coletores, promovendo a reabsorção de água e, assim, reduzindo a produção de urina.
Este hormônio é liberado em resposta a sinais de baixa pressão arterial, alta osmolaridade plasmática ou baixa pressão arterial detectada por barorreceptores e receptores de estiramento localizados em diferentes partes do sistema cardiovascular e no átrio esquerdo do coração. Além de seu papel crucial na homeostase da água, a vasopressina também tem efeitos vasoconstritores, ajudando a elevar a pressão arterial quando necessário.
Quando utilizada como droga, a vasopressina pode ser administrada para tratar condições médicas específicas. Ela é empregada no tratamento de diabetes insípido central, uma condição onde há uma deficiência na produção de vasopressina endógena, resultando em produção excessiva de urina diluída e desidratação.
A administração exógena de vasopressina ajuda a controlar a produção urinária e a manter o equilíbrio de água no corpo. Além disso, a vasopressina pode ser usada em situações de hemorragia para ajudar a aumentar a pressão arterial por meio de seus efeitos vasoconstritores.
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Mecanismo de ação da Vasopressina
A vasopressina, ou hormônio antidiurético (ADH), exerce seu efeito por meio da interação com dois tipos distintos de receptores: V1 e V2, cada um associado a diferentes mecanismos de sinalização e efeitos fisiológicos.
O receptor V1, encontrado nas células musculares lisas vasculares, está acoplado à proteína G do tipo Gq. Quando a vasopressina se liga a esse receptor, ocorre a ativação da via de sinalização mediada por Gq, que aumenta a produção de inositol trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG) a partir de fosfatidilinositol bifosfato (PIP2).
O IP3, por sua vez, promove a liberação de cálcio intracelular do retículo endoplasmático. Esse aumento de cálcio leva à contração das células musculares lisas, resultando em vasoconstrição. Esse efeito é crucial para a elevação da pressão arterial, especialmente em situações de hemorragia ou baixa pressão arterial.
Já o receptor V2 está localizado nas células principais do ducto coletor renal e é acoplado à proteína G do tipo Gs. A ligação da vasopressina ao receptor V2 ativa a adenilato ciclase, que aumenta os níveis de AMP cíclico (AMPc) no citosol. O aumento de AMPc ativa a proteinoquinase A (PKA). A PKA, por sua vez, fosforila a aquaporina 2 (AQP2), uma proteína de canal de água.
Esta fosforilação induz a translocação de vesículas contendo AQP2 para a membrana apical das células principais do ducto coletor renal. A inserção aumentada de AQP2 na membrana apical facilita a reabsorção de água do lúmen tubular para o interstício renal, o que é essencial para a regulação da osmolalidade urinária e plasmática e para a manutenção do volume intravascular durante a desidratação grave.
Principais drogas análogas da Vasopressina
As principais drogas análogas da vasopressina são desenvolvidas para otimizar a eficácia clínica do hormônio antidiurético (ADH), com foco em aumentar a duração de ação e alterar a seletividade entre os receptores V1 e V2.
A vasopressina em si é utilizada clinicamente com uma duração de ação relativamente curta e baixa seletividade por receptores V2, o que limita seu uso a situações em que um efeito antidiurético e vasoconstritor imediato é necessário. Ela pode ser administrada por via subcutânea, intramuscular ou por infusão intravenosa, dependendo da necessidade clínica.
A desmopressina é um análogo da vasopressina com uma maior duração de ação e seletividade predominante pelos receptores V2, o que a torna mais eficaz para tratar o diabetes insípido com menor efeito pressórico. Sua formulação permite diversas formas de administração, incluindo spray nasal, o que a torna conveniente para uso ambulatorial.
A terlipressina apresenta uma duração de ação prolongada e uma ação vasopressora moderada, com propriedades antidiuréticas mínimas. Devido à sua ação prolongada, é útil em condições que requerem um efeito vasoconstritor sustentado, mas onde um efeito antidiurético não é desejado.
A felipressina é conhecida por seu efeito vasoconstritor de curta duração. É frequentemente utilizada em combinação com anestésicos locais, como a prilocaína, para prolongar o efeito anestésico, aproveitando sua ação vasoconstritora para reduzir o fluxo sanguíneo na área tratada e, assim, melhorar a eficácia da anestesia.
Uso clínico da Vasopressina
A vasopressina e seus análogos desempenham um papel importante no tratamento de várias condições médicas. No caso do diabetes insípido, a felipressina e a desmopressina são frequentemente utilizadas. O diabetes insípido é uma condição caracterizada pela produção excessiva de urina diluída, resultante de uma deficiência de vasopressina endógena ou de uma resposta renal inadequada ao hormônio.
Outro uso clínico significativo da vasopressina e seus análogos é no tratamento inicial de varizes esofágicas com sangramento. Vasopressina, terlipressina e felipressina são utilizadas para controlar a hemorragia dessas varizes. A ação vasoconstritora da vasopressina ajuda a reduzir o fluxo sanguíneo para as varizes esofágicas, diminuindo o sangramento.
Na profilaxia de sangramentos em pacientes com hemofilia, especialmente antes de procedimentos como a extração dentária, a vasopressina e a desmopressina são utilizadas. Estes agentes aumentam a concentração do fator VIII no plasma, ajudando a prevenir sangramentos excessivos.
Além desses usos, a felipressina é empregada como vasoconstritor em combinação com anestésicos locais, prolongando a ação anestésica e reduzindo o fluxo sanguíneo na área tratada. Já a desmopressina é utilizada para o tratamento da enurese noturna persistente em crianças maiores e adultos. Sua ação prolongada e seletividade pelos receptores V2 tornam-na eficaz na redução da produção noturna de urina, ajudando a prevenir episódios de enurese.
Efeitos adversos
- Cardiovascular:
- Fibrilação atrial;
- Bradicardia;
- Doença cardíaca isquêmica;
- Isquemia de membros (distal);
- Baixo débito cardíaco;
- Insuficiência cardíaca direita; e
- Choque hemorrágico.
- Dermatológico: lesão cutânea (isquêmica).
- Endócrino e metabólico: hiponatremia.
- Gastrointestinal: isquemia mesentérica.
- Hematológico e oncológico: diminuição da contagem de plaquetas, hemorragia (intratável).
- Hepático: aumento da bilirrubina sérica.
- Renal: insuficiência renal.
Contraindicações
A vasopressina é contraindicada em pacientes que apresentam hipersensibilidade à própria vasopressina ou a qualquer componente da formulação. Esta contraindicação é crucial, pois a administração em indivíduos sensibilizados pode desencadear reações alérgicas graves, incluindo anafilaxia.
Além disso, hipersensibilidade ao clorobutanol é uma contraindicação específica para a formulação injetável de Vasostrict de 10 mL. O clorobutanol é um conservante usado em algumas preparações farmacêuticas e a presença desta substância pode causar reações adversas em pacientes sensibilizados, tornando essencial a verificação da composição do medicamento antes da administração.
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Referências
GOLAN, David E. (Ed.). Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
RANG, H.P.; DALE, M.M. Farmacologia Clínica. 8. ed. Elsevier, 2016.
SILVERTHORN, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada, 7ª Edição, Artmed, 2017.
BERNE e LEVY – Fisiologia – Tradução da 7ª Edição. Editores Bruce M. Koeppen e Bruce A. Stanton. Editora Elsevier, Rio de Janeiro, 2018.
Clínica.Vasopressin: Drug information. Waltham (MA): UpToDate, Inc., 2021. Acesso em: 22 de Julho de 2024.