Resumo de Ablação Cardíaca: conceito, indicações e mais!

Resumo de Ablação Cardíaca: conceito, indicações e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A palavra “ablação” tem sua origem no latim e significa “levar embora” ou “remover”. A ablação cardíaca é um procedimento utilizado para tratar arritmias. O objetivo é destruir pequenas áreas do coração que estão gerando sinais elétricos anormais e causam as arritmias.

Vem com o Estratégia MED conhecer as técnicas de ablação, suas indicações e complicações. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!  

Conceito de Ablação Cardíaca 

A ablação cardíaca é um procedimento utilizado no tratamento de arritmias cardíacas, especialmente aquelas que não respondem bem à terapia medicamentosa ou quando essa terapia não é tolerada. A ablação é uma técnica minimamente invasiva que usa energia, como radiofrequência ou crioenergia, para destruir pequenas áreas de tecido cardíaco que estão causando os ritmos cardíacos anormais. Isso ajuda a restaurar o ritmo normal do coração.

Indicações de Ablação Cardíaca 

As indicações para a ablação por cateter de uma arritmia cardíaca envolvem geralmente o tratamento de uma arritmia sintomática recorrente ou persistente que tem sido refratária à terapia medicamentosa ou para a qual a terapia medicamentosa não é tolerada ou preferida.

  1. Taquicardia reentrante atrioventricular associada à síndrome de wolff-parkinson-white: ablação é indicada para prevenir recorrências. 
  1. Taquicardia reentrante nodal atrioventricular: recomendada para pacientes sintomáticos. 
  1. Flutter atrial: ablação por cateter de radiofrequência é indicada para manter o ritmo sinusal. 
  1. Fibrilação Atrial Paroxística: indicada para pacientes sintomáticos refratários a pelo menos um medicamento de classe I/III. 
  1. Ectopias ventriculares prematuras e Taquicardia ventricular idiopática: considerada para pacientes com corações estruturalmente normais e para aqueles com cardiomiopatia induzida por VPB.
  1. Taquicardia Sinusal Inapropriada: pode ser considerada em pacientes refratários.
  1. Taquicardia Atrial Multifocal: em pacientes refratários pode-se considerar ablação completa da junção atrioventricular com implantação de marcapasso permanente.

Contraindicações a Ablação Cardíaca 

As contraindicações absolutas à ablação por cateter incluem: 

  • Angina instável; 
  • Bacteremia ou septicemia; 
  • Insuficiência cardíaca congestiva aguda descompensada não causada pela arritmia; 
  • Diátese hemorrágica maior;
  • Trombose venosa aguda dos membros inferiores se a canulação da veia femoral for desejada; e 
  • Massa intracardíaca ou trombo.

Mapeamento Cardíaco 

O mapeamento cardíaco envolve a movimentação cuidadosa de um cateter de mapeamento ou ablação na área de interesse para identificar o local onde a radiofrequência ou a ablação criotérmica será eficaz na cura da arritmia

Este processo identifica as distribuições temporal e espacial dos potenciais elétricos gerados pelo miocárdio durante ritmos normais e anormais, permitindo descrever a propagação da ativação desde seu início até sua conclusão em uma região de interesse, focando na identificação do sítio de origem ou de condução crítica para uma arritmia. A técnica consiste em: 

Gravações de Eletrogramas 

  • Unipolar: representam com precisão o tempo de ativação local mas podem detectar sinais de campo distante devido à ampla separação dos polos. 
  • Bipolar: evitam a detecção de sinais de campo distante, sendo mais amplamente empregados no mapeamento.

Equipamento Necessário

  • Cateteres especiais multipolares, como cateteres bipolares ou quadripolares, “halo”, circulares/espirais, e “flor” com múltiplos eletrodos. 
  • Sistemas de registro digital com alta taxa de amostragem para evitar aliasing.

Técnicas Específicas 

  • Mapeamento endocárdico: movimentação sequencial de um único eletrodo para medir a ativação local. 
  • Mapeamento ventricular epicárdico: utilizado quando a abordagem endocárdica não é bem-sucedida. 
  • Mapeamento eletroanatômico: uso de cateteres com sensores localizáveis conectados a um sistema de navegação para criar mapas tridimensionais de atividade elétrica. 
  • Mapeamento sem contato: utiliza um conjunto de multieletrodos montado em um cateter com ponta de balão para mapear taquiarritmias.

Limitações 

  • O local de origem da taquicardia pode não ser acessível pela abordagem endocárdica, necessitando de mapeamento epicárdico. 
  • Mecanismos focais de taquicardia ventricular podem ser difíceis de mapear devido à sua instabilidade hemodinâmica.

Mapeamento Anatômico 

  • Usado quando a arritmia tem um curso anatômico conhecido, como no flutter atrial típico, onde a ablação é direcionada para criar uma linha de bloqueio de condução bidirecional entre o anel tricúspide e a veia cava inferior.

Fontes de Energia Utilizadas para Ablação Cardíaca 

Essas diferentes fontes de energia proporcionam alternativas eficazes e seguras para a realização da ablação por cateter, cada uma com suas vantagens específicas dependendo do tipo de arritmia e da condição clínica do paciente:

Energia de Radiofrequência (RF)

  • A energia de radiofrequência (RF) é uma energia elétrica de alta frequência e baixa tensão (30 KHz a 1,5 MHz), geralmente liberada da ponta de um cateter para a superfície endocárdica. 
  • Produz ablação tecidual focal controlada, ao contrário dos danos mais extensos causados pela fulguração da DC. 
  • Inicialmente limitada pelo aquecimento progressivo do cateter, levando à formação de um coágulo isolante na ponta do cateter. 
  • A energia de RF não estimula diretamente os nervos ou o miocárdio, tornando o procedimento relativamente indolor e sem necessidade de anestesia geral.

Energia Criotérmica

  • A ablação criotérmica oferece o benefício do mapeamento reversível a frio; se o resfriamento leve tiver o efeito pretendido, o congelamento mais profundo pode causar dano tecidual permanente
  • Se o resfriamento limitado tiver um efeito indesejado ou nenhum efeito, o tecido pode descongelar sem danos permanentes. 
  • Continua a ser uma alternativa em situações onde a RF não é adequada.

Ablação por Campo Pulsado (PFA)

  • A ablação por campo pulsado (PFA) é uma modalidade mais recente, aprovada nos Estados Unidos e na Europa para o tratamento da fibrilação atrial (FA) e investigada para o tratamento da taquicardia ventricular (TV). 
  • Utiliza uma série de pulsos elétricos ultrarrápidos e de alta amplitude para dessecar o tecido por eletroporação da membrana sarcolemal, sem aquecer significativamente o tecido
  • A forma energética é mais específica para o tecido miocárdico, enquanto outros tecidos são mais resistentes a esta modalidade.

Duração do Procedimento de Ablação Cardíaca 

A duração do procedimento de ablação por cateter pode variar dependendo do tipo de arritmia sendo tratada, da complexidade do caso e da experiência do operador. Em média, os procedimentos de ablação por cateter para arritmias simples podem durar entre 2 a 4 horas. Procedimentos mais complexos, como a ablação de fibrilação atrial, podem levar mais tempo, estendendo-se frequentemente para 4 a 6 horas ou mais. 

A duração específica de cada procedimento é influenciada por vários fatores, incluindo o número de lesões necessárias, a localização das arritmias, a necessidade de mapeamento eletroanatômico e a resposta do paciente durante a ablação. Técnicas avançadas de imagem e mapeamento ajudam a reduzir o tempo total do procedimento, proporcionando uma abordagem mais precisa e eficiente​.

Riscos de uma Ablação Cardíaca 

Os principais riscos associados à ablação por cateter incluem: 

  • Morte: a taxa de mortalidade associada ao procedimento é baixa, variando de aproximadamente 0,1 a 0,3%. 
  • Bloqueio cardíaco: pode ocorrer em 1 a 2% dos casos, exigindo a colocação de um marcapasso permanente. O bloqueio atrioventricular (AV) pode não ser observado imediatamente, mas pode progredir após o procedimento. 
  • Tromboembolismo: Inclui riscos de acidente vascular cerebral, embolia sistêmica e embolia pulmonar, com incidência menor que 1%. 
  • Complicações relacionadas ao acesso vascular: essas incluem sangramento, infecção, hematoma e lesão vascular, com uma incidência de 2 a 4%. 
  • Trauma cardíaco: pode incluir perfuração miocárdica, tamponamento, infarto, dissecção ou embolia da artéria coronária e dano valvar, ocorrendo em 1 a 2% dos casos. 
  • Novas arritmias: o procedimento pode induzir novas arritmias, que podem ocorrer devido às lesões de radiofrequência que servem como focos arritmogênicos. 
  • Exposição à radiação: os riscos de exposição à radiação durante o procedimento são uma preocupação, especialmente para procedimentos mais longos. 
  • Hipertensão pulmonar: pode ocorrer devido à estenose da veia pulmonar após o isolamento da veia pulmonar para fibrilação atrial. 
  • Lesão do nervo frênico: pode ocorrer após a modificação do nó sinusal para taquicardia sinusal ou ablação de fibrilação atrial, particularmente com crioablação. 
  • Lesão esofágica: pode ocorrer após ablação por cateter para fibrilação atrial.

Cai na Prova 

Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED): 

SP – HOSPITAL DO CÂNCER DE BARRETOS – HCB 2018  Durante a visita dessa manhã à Enfermaria, você solicitou avaliação da cardiologia para um paciente com Fibrilação Atrial, sendo então comentado com os colegas a respeito da eficácia da ablação da FA, dentro das características clínicas da arritmia e a extensão da cardiopatia de base do seu caso, dentre os fatores envolvidos na decisão de realizar a ablação, qual não seria adequado? 

A. As evidências mais robustas de benefício, mas infelizmente com os piores resultados são obtidos nos pacientes jovens com FA paroxística/persistente sintomática sem cardiopatia estrutural relevante. 

B. Nesse perfil de pacientes, a intervenção proporciona melhora significativa da sintomatologia e da qualidade de vida. 

C. Porém, faltam dados que comprovem o benefício do procedimento nos pacientes muito idosos, com FA persistente de longa duração, ou IC avançada. 

D. A indicação para pacientes assintomáticos ainda não está estabelecida, sendo motivo de grande controvérsia.

Comentário da Equipe EMED: Incorreta a alternativa “a” pois existem evidências robustas dos benefícios, em termos de sintomas e hospitalizações, da ablação da fibrilação atrial em pacientes com cardiopatias estruturais, principalmente quando a causa da disfunção sistólica for taquicardiomiopatia.

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Referências Bibliográficas 

  1. Samuel Lévy. Overview of catheter ablation of cardiac arrhythmias. UpToDate. Last updated: May 13, 2024.
  1. Imagem em destaque: Pexels 
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