Resumo de Deslocamento e Redução de Dedos: técnica e mais!
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Resumo de Deslocamento e Redução de Dedos: técnica e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Os deslocamentos dos dedos representam lesões frequentes na prática clínica, especialmente em contextos esportivos e traumáticos, exigindo avaliação sistematizada e conduta adequada. O reconhecimento do tipo de deslocamento, das estruturas envolvidas e da estabilidade articular orienta a técnica de redução e o manejo subsequente. 

A imobilização prolongada após a redução está associada a maior risco de rigidez articular e limitação funcional.

O que é Deslocamento e redução de dedos

O deslocamento de dedos corresponde à perda do alinhamento anatômico normal entre as superfícies articulares das falanges ou entre a falange e o metacarpo, resultando em incongruência articular. Pode acometer as articulações interfalângica proximal, interfalângica distal ou metacarpofalângica, com apresentação clínica caracterizada por deformidade visível, dor imediata, edema e limitação funcional.

A redução do deslocamento consiste na restauração manual ou cirúrgica do posicionamento articular, visando recuperar a congruência da articulação, permitir mobilização precoce e reduzir o risco de instabilidade, rigidez ou deformidades tardias.

Anatomia funcional dos dedos  

Estrutura óssea

Os dedos da mão são formados por falanges proximais, médias e distais, exceto o polegar, que possui apenas duas falanges. As articulações envolvidas incluem a metacarpofalângica, a interfalângica proximal e a interfalângica distal, responsáveis pelos movimentos de flexão, extensão e ajustes finos de preensão.

Articulações e cápsula articular

As articulações interfalângicas funcionam como dobradiças, permitindo principalmente flexão e extensão. A cápsula articular envolve cada articulação, contribuindo para a estabilidade passiva e limitando movimentos excessivos que favorecem deslocamentos.

Placa volar

A placa volar é uma estrutura fibrocartilaginosa localizada na face palmar das articulações interfalângicas e metacarpofalângicas. Atua como restritor da hiperextensão e está frequentemente envolvida em deslocamentos dorsais, podendo sofrer estiramento, ruptura ou interposição intra articular.

Ligamentos colaterais

Os ligamentos colaterais próprios e acessórios reforçam lateralmente as articulações, mantendo o alinhamento durante movimentos de flexão e extensão. Lesões desses ligamentos estão associadas a instabilidade residual, sobretudo nos deslocamentos laterais.

Estabilizadores dinâmicos

Os músculos intrínsecos e extrínsecos da mão, por meio dos tendões flexores e extensores, contribuem para a estabilidade dinâmica das articulações. Alterações no equilíbrio dessas forças podem interferir na estabilidade após a redução e influenciar o processo de reabilitação.

Classificação dos deslocamentos 

Classificação segundo a articulação acometida

Os deslocamentos dos dedos podem ser classificados conforme a articulação envolvida. Os mais frequentes ocorrem na articulação interfalângica proximal, especialmente em contextos esportivos. Também podem acometer a articulação interfalângica distal e a articulação metacarpofalângica, esta última geralmente associada a mecanismos de trauma de maior energia.

Classificação segundo a direção do deslocamento

Conforme o sentido do desvio da falange distal em relação à superfície articular proximal, os deslocamentos podem ser:

  • Dorsais, quando a falange distal se desloca posteriormente em relação à face palmar;
  • Volares, quando o deslocamento ocorre em direção à face palmar; e
  • Laterais, quando há desvio radial ou ulnar do eixo articular.

Essa classificação tem relação direta com o padrão de lesão ligamentar e com a estabilidade articular após a redução.

Classificação quanto à complexidade

Os deslocamentos também podem ser definidos como:

  • Simples, quando não há interposição de partes moles e a redução fechada é possível;
  • Complexos, quando ocorre interposição de estruturas como placa volar, ligamentos colaterais ou tendões, dificultando ou impedindo a redução fechada.

Mecanismos de trauma e fatores associados

Mecanismos de trauma

Os deslocamentos dos dedos ocorrem, geralmente, por trauma indireto, geralmente associado à hiperextensão articular combinada a carga axial. Impactos sobre o dedo estendido, comuns em atividades esportivas com bola, favorecem deslocamentos dorsais, especialmente na articulação interfalângica proximal.

Forças aplicadas no sentido radial ou ulnar podem resultar em deslocamentos laterais, frequentemente acompanhados de lesão dos ligamentos colaterais. Já os deslocamentos volares estão relacionados a mecanismos menos comuns, envolvendo flexão forçada ou torção, com maior risco de comprometimento do tendão extensor.

Fatores associados

Entre os fatores associados, destacam se a prática esportiva, principalmente modalidades com contato direto das mãos, quedas com apoio palmar e acidentes ocupacionais. Traumas de maior energia aumentam a probabilidade de lesões associadas, como fraturas articulares, avulsões ligamentares e interposição de partes moles.

Avaliação Clínica

Anamnese dirigida

A avaliação inicial deve incluir investigação do mecanismo do trauma, tempo decorrido desde a lesão e tentativas prévias de redução. É relevante questionar dominância da mão, atividade no momento do trauma e presença de dor intensa, sensação de falseio ou perda súbita da função do dedo.

Inspeção

Na inspeção, observa se deformidade articular evidente, edema, aumento de volume e alterações do eixo do dedo acometido. Em alguns casos, o edema pode mascarar a deformidade, exigindo comparação com o lado contralateral.

Palpação

A palpação avalia pontos de dor localizada, crepitação e possível interposição de partes moles. Dor acentuada na face palmar pode sugerir lesão da placa volar, enquanto dor lateral sugere comprometimento dos ligamentos colaterais.

Avaliação da mobilidade

A análise da amplitude de movimento ativa e passiva auxilia na identificação de instabilidade ou bloqueio mecânico. Movimentos irregulares, com sensação de travamento, podem indicar fratura associada ou deslocamento complexo.

Avaliação neurovascular

Deve ser realizada avaliação sistemática da perfusão distal, coloração, temperatura e sensibilidade digital, documentando o estado neurovascular antes e após a redução, a fim de detectar possíveis complicações iatrogênicas.

Indicação e papel dos exames de imagem

Indicações para exames de imagem

Os exames de imagem são indicados quando há dúvida diagnóstica, suspeita de fratura associada, edema importante que dificulte a avaliação clínica ou sinais de instabilidade articular. Também devem ser solicitados em casos de trauma de maior energia, falha na redução inicial ou dor desproporcional ao exame físico.

Radiografia simples

A radiografia é o método mais utilizado na avaliação dos deslocamentos dos dedos. Deve incluir incidências anteroposterior, perfil e oblíqua da articulação acometida, permitindo identificar desalinhamento articular, fraturas intra articulares, avulsões ósseas e sinais indiretos de interposição da placa volar.

Avaliação pós-redução

A realização de imagem após a redução é recomendada para confirmar congruência articular, descartar subluxação residual e avaliar a estabilidade da articulação. Alterações persistentes no alinhamento podem indicar necessidade de nova intervenção ou encaminhamento especializado.

Outros métodos de imagem

Em situações selecionadas, a ultrassonografia pode auxiliar na identificação de lesões ligamentares e da placa volar. A tomografia computadorizada é reservada para casos complexos, com suspeita de fraturas articulares ocultas ou incongruência não esclarecida pela radiografia.

Procedimento da redução 

Preparação e segurança

  1. Verifique e registre o status neurovascular distal antes de qualquer manobra: perfusão, coloração, temperatura e sensibilidade.
  1. Inspecione a pele e procure feridas abertas. Em lesão aberta, irrigue e trate como potencial contaminação, com avaliação cirúrgica conforme o caso.
  1. Se houver suspeita de fratura associada, instabilidade importante ou deformidade pouco clara por edema, realize radiografia antes da redução.

Analgesia e anestesia

Geralmente, um bloqueio digital com anestésico local sem vasoconstrictor é suficiente para permitir manobras seguras e reduzir espasmo muscular. Em pacientes pediátricos ou muito ansiosos, pode ser necessária sedação conforme protocolo institucional.

Princípios técnicos da redução fechada

  • Realize a manobra com tração longitudinal suave e contínua, evitando movimentos bruscos.
  • Prefira técnicas que “deslizem” a articulação de volta ao lugar, em vez de puxar com força.
  • Evite múltiplas tentativas de redução fechada, pois isso aumenta edema, dor e risco de aprisionamento de partes moles.

Técnicas de redução por articulação

Interfalângica proximal

Deslocamento dorsal

  • Segure a falange proximal para estabilizar.
  • Aplique tração longitudinal com leve extensão.
  • Em seguida, faça pressão no segmento deslocado direcionando para volar até perceber o realinhamento.
  • Alternativa frequente: “exagerar” discretamente a deformidade em extensão e então tracionar e reposicionar.

Deslocamento lateral

  • Aplique tração longitudinal e, simultaneamente, conduza o dedo no sentido oposto ao desvio (ulnar ou radial) até reduzir.
  • Após reduzir, teste estabilidade dos ligamentos colaterais.

Deslocamento volar

  • Pode ter maior chance de falha na redução fechada por aprisionamento de estruturas e lesão do sistema extensor.
  • Se optar por tentativa fechada em casos estáveis, realize com metacarpofalângica e punho em flexão para relaxar estruturas dorsais, aplique tração distal e faça rotação suave oposta ao desvio, mantendo a articulação em flexão durante o reposicionamento.
  • Se houver bloqueio mecânico ou instabilidade importante, considerar abordagem cirúrgica.

Interfalângica distal

Deslocamento dorsal

  • Aplique tração longitudinal e pressione a base da falange distal no sentido adequado para restaurar a congruência.
  • Atenção para lesões de partes moles, que são relativamente comuns nessa articulação.

Deslocamento volar

  • Pode reduzir com tração axial com a articulação em flexão, mas em alguns casos a lesão pode evoluir bem mesmo sem manobra imediata, desde que não haja bloqueio, instabilidade ou lesão associada relevante.

Metacarpofalângica

  • Realize com cautela, pois há risco de interposição da placa volar e transformação em deslocamento complexo após tentativas repetidas.
  • Técnica: com punho e interfalângicas em flexão, aplique pressão distal e volar sobre a base dorsal da falange proximal e conduza a articulação para “deslizar” de volta à posição.
  • Se houver falha ou sinais de aprisionamento de partes moles, encaminhar para redução aberta.

Imobilização e manejo após a redução

ArticulaçãoTipo de deslocamentoMétodo de imobilizaçãoTempo aproximadoObservações clínicas
Interfalângica proximalDorsal estávelBuddy tapingAté 2 semanasAssociar mobilização ativa precoce conforme dor
Interfalângica proximalDorsal instávelSplint em bloqueio de extensão ou órtese em figura de oitoVariável conforme estabilidadePermitir flexão ativa e ajustar progressivamente a extensão
Interfalângica proximalLateralBloqueio leve de extensão entre 10 e 15 graus + buddy taping2 a 4 semanasAvaliar estabilidade dos ligamentos colaterais
Interfalângica proximalVolarSplint em extensão completa4 a 6 semanasManter interfalângica distal livre para mobilização
Interfalângica distalDorsalSplint em leve flexão dorsal ou volar2 a 3 semanasNão incluir interfalângica proximal na imobilização
Interfalângica distalVolarSplint em leve hiperextensãoCerca de 6 semanasFlexão durante o período exige reinício da contagem
MetacarpofalângicaQualquer direção após redução fechadaPunho em extensão ~30 graus e metacarpofalângica em flexão 30 a 60 graus3 a 6 semanasInterfalângicas devem permanecer livres
MetacarpofalângicaPós-redução abertaÓrtese funcional com punho em extensão e metacarpofalângica em flexãoCerca de 2 semanasIniciar mobilização progressiva conforme estabilidade

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Referências Bibliográficas 

  1. DYNAMED. Digit dislocation and reduction. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025.

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