Resumo de Manobras Vagais: indicações, manobras e mais!
The New England Journal of Medicine

Resumo de Manobras Vagais: indicações, manobras e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Este resumo aborda as manobras vagais, técnicas utilizadas na prática médica para modular o ritmo cardíaco e auxiliar no manejo de arritmias específicas, especialmente a taquicardia supraventricular (TSV) estável. Com base em métodos não invasivos, essas manobras estimulam o nervo vago para induzir uma resposta parassimpática que diminui a frequência cardíaca. A seguir, serão apresentados os principais tipos de manobras vagais, suas indicações, contraindicações, complicações e o passo a passo de cada técnica.

Conceito de Manobras Vagais 

As manobras vagais são intervenções físicas que visam estimular o sistema parassimpático através do nervo vago, contribuindo para a modulação do ritmo cardíaco em casos de arritmias específicas. Ao ativar o nervo vago, essas manobras podem desacelerar a condução elétrica do coração, sendo especialmente úteis em episódios de taquicardia supraventricular (TSV) estável. Além de ajudar na redução da frequência cardíaca, as manobras vagais também podem auxiliar na diferenciação entre a TSV e outras arritmias, como a taquicardia ventricular. Existem diferentes tipos de manobras vagais: massagem do seio carotídeo, reflexo do mergulho e manobra de Valsalva modificada.

As manobras vagais representam uma abordagem simples e eficaz para o controle inicial de certas arritmias, oferecendo uma alternativa não invasiva e de baixo risco para a estabilização do ritmo cardíaco.

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Massagem do Seio Carotídeo

A massagem do seio carotídeo é uma técnica específica das manobras vagais, realizada visando reduzir a frequência cardíaca em casos de taquicardia supraventricular. Segue-se uma sequência detalhada para realizar o procedimento de forma segura e eficaz: 

  • Preparação do paciente: coloque o paciente em posição supina e instrua-o a relaxar. Certifique-se de que ele está monitorado com um eletrocardiograma contínuo e um oxímetro de pulso para observar qualquer alteração no ritmo cardíaco e nos sinais vitais. 
  • Localização do seio carotídeo: o seio carotídeo está situado na bifurcação das artérias carótidas, próxima ao ângulo da mandíbula, na lateral do pescoço. Antes de iniciar a massagem, identifique a área com precisão. 
  • Realização da massagem: com os dedos indicador e médio, aplique uma leve pressão sobre o seio carotídeo, movendo os dedos de forma suave e constante. A pressão deve ser mantida por cerca de 5 a 10 segundos. 
  • Observação da resposta: durante a massagem, observe a resposta do paciente no monitor cardíaco. Em muitos casos, a manobra leva a uma redução da frequência cardíaca ou até à interrupção temporária da arritmia. Caso a manobra seja ineficaz, ela pode ser repetida após um intervalo de pelo menos um minuto. 
  • Cuidados com a técnica: a massagem deve ser realizada em apenas um lado do pescoço por vez. A massagem bilateral é contraindicada, ao poder comprometer a circulação cerebral. Além disso, evite a massagem em pacientes com histórico de aterosclerose carotídea, AVC ou TIA. 
  • Encerramento: caso a manobra seja bem-sucedida, continue monitorando o paciente para garantir a estabilidade do ritmo cardíaco. Se a massagem não obtiver o efeito desejado após duas ou três tentativas, considere outras intervenções terapêuticas.
Massagem do seio carotídeo. The New England Journal of Medicine

Reflexo do Mergulho 

O reflexo do mergulho é uma das manobras vagais que pode ser utilizada para reduzir a frequência cardíaca em casos de taquicardia supraventricular (TSV) em pacientes estáveis. Esse reflexo é desencadeado pela exposição do rosto à água fria, ativando uma resposta parassimpática que pode desacelerar o ritmo cardíaco. Segue o passo a passo para realizar o procedimento: 

  • Preparação do paciente: posicione o paciente confortavelmente, geralmente sentado. Explique o procedimento, pedindo que ele relaxe e respire profundamente. Assegure-se de que o paciente está monitorado com um eletrocardiograma contínuo e um oxímetro de pulso para avaliar as mudanças no ritmo cardíaco. 
  • Preparo do material: utilize uma bacia com água fria (temperatura entre 0 e 10 graus Celsius) ou uma bolsa de gelo. Para populações mais vulneráveis, como crianças e idosos, recomenda-se o uso de uma bolsa de gelo ao invés da bacia, para evitar o risco de aspiração. 
  • Realização do procedimento: instrua o paciente a inspirar profundamente e prender a respiração. Em seguida, ele deve mergulhar o rosto na água fria ou, no caso de bolsa de gelo, mantê-la aplicada na região da face (testa, área ao redor dos olhos e nariz). Essa exposição ao frio deve ser mantida pelo máximo de tempo que o paciente conseguir tolerar, geralmente de 15 a 30 segundos. 
  • Observação da resposta: durante o procedimento, observe o ritmo cardíaco no monitor. A imersão no frio pode levar a uma redução na frequência cardíaca devido à resposta vagal. Caso não haja resposta, o procedimento pode ser repetido após alguns minutos. 
  • Cuidados e precauções: para evitar o risco de aspiração ou desconforto respiratório, não force o tempo de imersão além do limite do paciente. Para crianças e pessoas com dificuldades respiratórias, utilize a bolsa de gelo com cuidado, evitando a obstrução das vias aéreas. Também é importante monitorar a pele do paciente, especialmente em populações sensíveis, para evitar queimaduras pelo gelo. 
  • Finalização e monitoramento: ao finalizar o procedimento, continue monitorando o paciente para verificar a estabilidade do ritmo cardíaco. Caso o reflexo do mergulho não tenha o efeito desejado após algumas tentativas, outras alternativas de tratamento podem ser consideradas.

Manobra de Valsalva Modificada

A Manobra de Valsalva Modificada é uma variação da técnica tradicional, desenvolvida para aumentar sua eficácia na redução da frequência cardíaca em episódios de taquicardia supraventricular (TSV). Essa técnica combina o aumento da pressão intratorácica com uma mudança rápida de posição, potencializando a resposta vagal. Veja o procedimento passo a passo: 

  • Preparação do paciente: coloque o paciente em posição sentada e explique o procedimento, garantindo que ele entenda as instruções. O paciente deve estar monitorado com um eletrocardiograma e oxímetro de pulso para observação contínua dos sinais vitais. 
  • Instrução para o sopro: peça ao paciente que inspire profundamente e depois sopre com força contra uma resistência, como um êmbolo de seringa de 10 mL, por aproximadamente 10 a 15 segundos. A ideia é que o paciente faça força suficiente para tentar mover o êmbolo, gerando pressão intratorácica. 
  • Mudança de posição e elevação das pernas: imediatamente após o sopro, posicione o paciente rapidamente em posição supina (deitado) e eleve suas pernas a um ângulo de 45 a 90 graus. Esse movimento sincronizado de deitar o paciente e elevar as pernas aumenta o retorno venoso, potencializando a resposta vagal. 
  • Manutenção da posição: mantenha as pernas elevadas e a posição supina por cerca de 45 segundos a 1 minuto, monitorando o ritmo cardíaco do paciente durante esse período. 
  • Observação da resposta: verifique se há uma resposta no monitor cardíaco, como a redução da frequência cardíaca ou a reversão do episódio de TSV. Se não houver sucesso, a manobra pode ser repetida após alguns minutos. 
  • Finalização e cuidados: após a manobra, retorne o paciente à posição inicial e continue o monitoramento para assegurar a estabilidade dos sinais vitais. Caso a técnica não seja eficaz após duas ou três tentativas, outras alternativas terapêuticas devem ser consideradas.
Manobra de Valsalva modificada. Emergencymedicalminute

Indicações das Manobras Vagais

As manobras vagais são indicadas principalmente para o manejo de arritmias cardíacas, em especial para episódios de taquicardia supraventricular (TSV) em pacientes clinicamente estáveis. Elas são frequentemente utilizadas como uma abordagem inicial por serem métodos não invasivos, acessíveis e de baixo custo. As principais indicações incluem: 

  1. Tratamento da taquicardia supraventricular (TSV): em pacientes com TSV estável, as manobras vagais podem ajudar a reduzir a frequência cardíaca ou até interromper o episódio de arritmia, promovendo o retorno ao ritmo sinusal. 
  1. Diagnóstico diferencial: as manobras vagais também são úteis para distinguir entre diferentes tipos de taquicardias. Ao reduzir temporariamente a frequência cardíaca, é possível diferenciar a TSV de outras arritmias, como a taquicardia ventricular (TV), ajudando a determinar o tratamento mais apropriado.

Contraindicações das Manobras Vagais

As manobras vagais, embora eficazes e relativamente seguras, apresentam contraindicações que devem ser consideradas para evitar complicações. As principais contraindicações incluem: 

  1. Instabilidade hemodinâmica: em pacientes com taquicardia supraventricular (TSV) que apresentam sinais de instabilidade (como pressão arterial baixa, dor torácica ou sinais de insuficiência cardíaca), as manobras vagais são contraindicadas, sendo recomendada a cardioversão elétrica imediata nesses casos. 
  1. Histórico de acidente vascular cerebral (AVC) ou ataque isquêmico transitório (AIT): a massagem do seio carotídeo, em particular, não é indicada para pacientes com histórico de AVC ou AIT, devido ao risco de desencadear eventos neurológicos. 
  1. Doença da artéria carótida: em pessoas com aterosclerose carotídea, especialmente em idosos, a massagem do seio carotídeo pode aumentar o risco de acidente vascular. Nesses casos, há um risco aumentado de embolização de placas, podendo causar sintomas neurológicos transitórios ou permanentes. 
  1. Doenças cardíacas recentes: pacientes que tenham apresentado eventos como infarto do miocárdio, taquicardia ventricular ou fibrilação ventricular nos últimos três meses devem evitar a massagem do seio carotídeo, ao haver risco de piora no quadro cardíaco. 
  1. Problemas respiratórios: em pacientes com taquipneia ou dificuldade respiratória, a manobra de Valsalva pode ser ineficaz e potencialmente desconfortável, sendo recomendada cautela. 
  1. Risco de aspiração: no reflexo do mergulho, que envolve a imersão da face em água fria, deve-se considerar a possibilidade de aspiração, especialmente em pacientes com dificuldades respiratórias ou comprometimento da deglutição. Para populações mais vulneráveis, como crianças e idosos, uma bolsa de gelo pode ser uma alternativa mais segura.

Complicações das Manobras Vagais 

Embora as manobras vagais sejam geralmente seguras, podem ocorrer algumas complicações, especialmente em casos em que não são realizadas de maneira adequada ou em pacientes com contraindicações. As principais complicações incluem: 

  1. Bradicardia e Pausas Sinusais Prolongadas: Como as manobras vagais estimulam o sistema parassimpático, elas podem causar uma redução excessiva na frequência cardíaca (bradicardia) ou pausas sinusais mais longas que o normal, levando a sintomas de tontura e fraqueza temporária. 
  1. Bloqueio atrioventricular (AV): em alguns casos, pode ocorrer um bloqueio na condução elétrica entre os átrios e os ventrículos, resultando em bloqueio atrioventricular (AV). Essa complicação é, em geral, temporária, mas pode demandar atenção especial. 
  1. Hipotensão: a redução na frequência cardíaca provocada pelas manobras vagais pode levar a uma queda súbita na pressão arterial, especialmente em pacientes mais sensíveis, causando sintomas de tontura ou até síncope (desmaio). 
  1. Arritmias: embora raras, algumas manobras vagais podem desencadear outras arritmias, como fibrilação atrial, taquicardia ventricular ou, em casos extremos, fibrilação ventricular. Essas complicações são incomuns, mas exigem monitoramento. 
  1. Complicações neurológicas: a massagem do seio carotídeo pode, em casos raros, provocar eventos neurológicos transitórios, como fraqueza ou paralisia temporária de um lado do corpo, especialmente em pacientes com placas nas artérias carótidas. O risco de AVC é pequeno, mas deve ser considerado. 
  1. Risco de aspiração e afogamento: no caso do reflexo do mergulho, em que o rosto é imerso em água gelada, existe um risco de aspiração, particularmente em pacientes com dificuldades respiratórias. Para crianças e idosos, recomenda-se o uso de uma bolsa de gelo como alternativa para evitar essa complicação.

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Referências Bibliográficas 

  1. NIEHUES, Logan J.; KLOVENSKI, Victoria. Vagal Maneuver. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK551575/. Acesso em: 4 nov. 2024.
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