Olá, querido doutor e doutora! O transplante de membrana amniótica tem ganhado destaque como recurso terapêutico em múltiplas especialidades médicas. Suas propriedades regenerativas e anti-inflamatórias oferecem alternativas eficazes para o tratamento de lesões complexas, especialmente em oftalmologia e queimaduras. Com a recente incorporação da técnica ao SUS, amplia-se o acesso a uma abordagem biológica com excelente perfil de segurança.
Além de promover a cicatrização, a membrana contribui para o alívio da dor e redução de complicações infecciosas.
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Conceito
O transplante de membrana amniótica representa uma estratégia biológica cada vez mais adotada em diferentes campos da medicina, principalmente na oftalmologia e no tratamento de queimaduras. A técnica consiste na utilização da membrana interna da placenta humana — o âmnio — como um enxerto ou curativo com propriedades regenerativas, anti-inflamatórias e antimicrobianas.
Seu uso clínico remonta à década de 1940, quando foi inicialmente aplicado para reconstrução conjuntival e manejo de queimaduras oculares. Nas últimas décadas, com o aprimoramento dos métodos de preservação e controle microbiológico, a membrana amniótica ganhou espaço como alternativa segura e eficaz para promover reepitelização rápida, alívio da dor e proteção contra infecções, especialmente em superfícies corporais expostas ou danificadas.
Características biológicas da membrana amniótica
A membrana amniótica é a camada mais interna da placenta humana, composta por uma estrutura delgada, porém biologicamente ativa, que a torna particularmente adequada para aplicações terapêuticas. Sua constituição inclui um epitélio cúbico simples, uma membrana basal rica em colágeno tipo IV e laminina, e uma matriz estromal avascular subdividida em camadas compacta, fibroblástica e esponjosa.
Essa arquitetura oferece um substrato favorável à adesão, migração e proliferação de células epiteliais, além de atuar como suporte estrutural temporário em áreas lesionadas. Uma de suas principais vantagens é a ausência de expressão significativa de antígenos HLA de classe I e II, o que reduz substancialmente o risco de rejeição imunológica.
Do ponto de vista funcional, a membrana amniótica contém citocinas, fatores de crescimento e proteínas bioativas com ação anti-inflamatória, antifibrótica, antimicrobiana e angiostática. Dentre esses mediadores, destacam-se o TGF-β, EGF, FGF, VEGF, IL-10 e G-CSF, que colaboram para a modulação da resposta inflamatória e promoção da regeneração tecidual.
Além disso, a membrana possui propriedades analgésicas indiretas, por proteger terminações nervosas expostas e manter o ambiente úmido, o que contribui para o conforto do paciente durante o processo de cicatrização.
Processo de obtenção e preparo
A obtenção da membrana amniótica ocorre a partir de placentas humanas coletadas em cesarianas eletivas, com consentimento informado e rigorosa triagem sorológica da parturiente para HIV, hepatites B e C, sífilis e outras infecções transmissíveis. Em ambiente estéril, o âmnio é separado do córion por dissecção mecânica, lavado com soluções antibióticas e antifúngicas, e fixado com a face epitelial voltada para cima sobre papel de nitrocelulose. Os fragmentos são então armazenados em meio conservante contendo glicerol, mantidos congelados a -80 °C ou utilizados frescos por até 24 horas a 4 °C. Este protocolo assegura a preservação das propriedades biológicas e a segurança microbiológica do tecido até o momento do uso clínico.
Indicações clínicas e aplicações práticas
O transplante de membrana amniótica tem sido empregado em uma ampla gama de contextos clínicos, principalmente como estratégia para proteger superfícies epiteliais lesionadas, estimular a regeneração e controlar processos inflamatórios e infecciosos. Na oftalmologia, seu uso está bem estabelecido no manejo de defeitos epiteliais persistentes, queimaduras químicas, síndrome de Stevens-Johnson, penfigoide cicatricial, pterígio recidivado e ceratopatia bolhosa, oferecendo alívio sintomático e melhora na reepitelização, especialmente em pacientes com limbo preservado.
No tratamento de queimaduras cutâneas, a membrana é aplicada como curativo biológico tanto em áreas doadoras quanto receptoras de enxertos, promovendo redução significativa da dor, aceleração da cicatrização e menor incidência de infecções locais. Estudos demonstram que pacientes tratados com essa abordagem apresentam melhor mobilidade precoce e menor necessidade de analgesia nos primeiros dias pós-operatórios.
Outras áreas médicas também têm incorporado a técnica, como a ginecologia (reparação de fístulas e reconstrução vaginal), a urologia (revestimento de feridas uretrais), a cirurgia plástica (tratamento de feridas complexas) e a otorrinolaringologia (reconstrução de mucosas). Em algumas situações, a membrana também tem sido explorada como suporte para o cultivo de células-tronco epiteliais, ampliando seu papel em abordagens regenerativas mais avançadas.
Limitações e cuidados na utilização
Apesar das vantagens clínicas e da ampla aplicabilidade, o uso da membrana amniótica requer atenção a algumas limitações. Por ser um tecido biológico, há risco potencial de contaminação, exigindo triagem rigorosa das doadoras e manipulação sob condições estéreis para evitar transmissão de infecções virais como HIV, hepatites e sífilis. A membrana também apresenta resistência mecânica limitada, o que restringe sua utilização em casos de perfurações extensas ou lesões que demandem suporte estrutural mais robusto.
Além disso, episódios de hipopion estéril e inflamação ocular transitória já foram relatados após uso repetido da membrana em transplantes oculares, especialmente quando provenientes do mesmo doador. Por isso, recomenda-se variar a origem do enxerto em aplicações sucessivas. Outro ponto importante é que a fixação inadequada pode levar ao deslocamento precoce da membrana, comprometendo seu efeito terapêutico — sendo necessário o uso de suturas finas ou adesivos biológicos para garantir sua estabilidade.
Incorporação pelo SUS e avanços no Brasil
Em 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a oferecer o transplante de membrana amniótica como terapia no tratamento de queimaduras, marcando um avanço importante na atenção pública às lesões cutâneas extensas. A decisão foi oficializada por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União e aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), com base em evidências clínicas que demonstraram benefícios como alívio da dor, proteção antimicrobiana e redução na formação de cicatrizes hipertróficas e queloides.
A membrana amniótica será utilizada como cobertura biológica temporária, coletada com consentimento das doadoras em ambiente hospitalar, seguindo critérios técnicos de segurança e rastreabilidade. Sua introdução representa uma alternativa terapêutica menos invasiva, de custo acessível e com potencial para acelerar o tempo de recuperação em pacientes queimados, especialmente naqueles com lesões extensas ou que necessitam de múltiplos enxertos.
Além disso, a inclusão dessa técnica no regulamento do Sistema Nacional de Transplantes sinaliza uma abertura para que bancos de tecidos incorporem protocolos específicos para o preparo e a distribuição da membrana, fortalecendo a rede de assistência especializada em feridas complexas no país.
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Referências Bibliográficas
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- SRIDHAR, Uma; TRIPATHY, Koushik. Amniotic Membrane Graft. In: STATPEARLS. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025.