Resumo sobre a aplicação da edição genética CRISPR no tratamento da Anemia Falciforme

Resumo sobre a aplicação da edição genética CRISPR no tratamento da Anemia Falciforme

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a edição genética CRISPR e seu potencial revolucionário no tratamento da anemia falciforme. Essa tecnologia permite a modificação precisa do DNA, abrindo novas possibilidades para corrigir mutações e oferecer terapias mais eficazes para os pacientes.

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Vamos nessa!

Anemia Falciforme e a CRISPR

A anemia falciforme é uma doença genética hereditária caracterizada por uma alteração na estrutura da hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue. 

Essa condição ocorre devido a uma mutação no gene da beta-globina, que leva à produção da hemoglobina S (HbS) em vez da hemoglobina A (HbA), considerada normal. Essa alteração provoca a deformação dos glóbulos vermelhos, que assumem o formato de foice ou meia-lua, tornando-se mais rígidos e propensos à obstrução dos vasos sanguíneos. 

Como consequência, os pacientes apresentam anemia hemolítica crônica, crises vaso-oclusivas e danos a diversos órgãos, sendo essas complicações responsáveis pelo aumento da morbidade e mortalidade da doença.

Apesar dos avanços no manejo da anemia falciforme, incluindo transfusões sanguíneas, hidroxiuréia e novos fármacos que reduzem os episódios vaso-oclusivos, esses tratamentos não corrigem a causa subjacente da doença. O transplante de medula óssea pode ser uma alternativa curativa, mas sua aplicabilidade é limitada pela disponibilidade de doadores compatíveis.

Nesse contexto, a edição genética por CRISPR-Cas9 surge como uma abordagem promissora para o tratamento da anemia falciforme. Essa técnica inovadora permite corrigir diretamente a mutação no gene da beta-globina, possibilitando que as células-tronco hematopoiéticas voltem a produzir hemácias saudáveis. 

O sistema CRISPR-Cas9 utiliza uma enzima (Cas9) para cortar o DNA em um local específico, guiado por um RNA complementar à sequência-alvo, permitindo a substituição ou reparo do gene defeituoso.

Os estudos clínicos iniciais demonstram resultados animadores, com aumento da produção de células normais e redução significativa dos sintomas da doença. Essa abordagem representa um avanço significativo para o tratamento da anemia falciforme, oferecendo perspectivas reais de cura e melhor qualidade de vida para os pacientes. 

Com o avanço da pesquisa e o aprimoramento da técnica, a CRISPR-Cas9 pode transformar o tratamento dessa e de outras doenças monogênicas, reforçando seu potencial na medicina de precisão.

Mecanismos de Edição Gênica pelo Sistema CRISPR-Cas9

O sistema CRISPR-Cas9 revolucionou a genética ao permitir a edição precisa do DNA. Originalmente identificado como um mecanismo de defesa bacteriano contra vírus, essa tecnologia foi adaptada para modificar genes em células humanas e tem grande potencial na pesquisa biomédica e no desenvolvimento de terapias gênicas.

Como Funciona o Sistema CRISPR-Cas9?

A edição genética pelo CRISPR-Cas9 pode ser dividida em três etapas principais:

  1. Reconhecimento: o RNA guia (gRNA) leva a proteína Cas9 até um local específico do DNA-alvo, onde há uma sequência chamada PAM (curta sequência necessária para que Cas9 possa cortar o DNA).
  2. Clivagem: a proteína Cas9 corta ambas as fitas da molécula de DNA no ponto identificado.
  3. Reparo: após o corte, a célula ativa seus mecanismos naturais de reparo, que podem seguir duas vias diferentes:
    • Reparo por junção de extremidades não homólogas (NHEJ): Processo mais comum, mas propenso a erros. Pode resultar na inserção ou exclusão de nucleotídeos, levando a mutações do tipo frameshift (mudança na leitura do gene) ou códons de parada prematuros.
    • Reparo por recombinação homóloga (HDR): Mais preciso, pois usa um modelo de DNA como referência. Ocorre apenas nas fases S e G2 do ciclo celular e permite a inserção ou substituição exata de um gene.

Aplicação da CRISPR na anemia falciforme

A principal abordagem consiste em corrigir diretamente a mutação no gene HBB, responsável pela produção da β-globina, ou então ativar a produção de hemoglobina fetal (HbF), que tem papel protetor contra os sintomas da doença. A reativação da HbF pode inibir a polimerização da hemoglobina S (HbS), principal fator causador das complicações da anemia falciforme.

A hemoglobina fetal é naturalmente produzida nos primeiros meses de vida e protege os recém-nascidos das manifestações da doença. No entanto, com o desenvolvimento da criança, ocorre a transição para a produção da hemoglobina adulta (HbA), que é substituída pela HbS nos indivíduos com anemia falciforme. Esse processo é regulado por proteínas transcricionais, como BCL11A, que inibem a expressão dos genes HBG1 e HBG2, responsáveis pela produção de HbF. A inibição dessas proteínas tem sido um dos principais alvos terapêuticos da CRISPR-Cas9, permitindo a reativação da hemoglobina fetal e a redução dos sintomas da doença.

Estudos mostram que pacientes com anemia falciforme que possuem mutações hereditárias benéficas associadas à persistência da HbF apresentam sintomas mais leves ou até mesmo são assintomáticos. Isso sugere que a indução da hemoglobina fetal por meio da edição gênica pode ser uma estratégia eficaz para o tratamento da doença. 

Técnicas baseadas na CRISPR-Cas9 têm sido utilizadas para cortar sequências específicas do DNA e impedir a atuação de BCL11A, favorecendo a produção de HbF nos eritrócitos adultos.

Além disso, pesquisas clínicas indicam que a correção da mutação no gene HBB, bem como a clivagem dos genes HBG1 e HBG2, demonstraram eficiência na indução da produção de hemoglobina fetal. Embora os resultados sejam promissores, os estudos clínicos ainda estão em fase inicial, com um número reduzido de pacientes tratados e um período de acompanhamento relativamente curto. 

Ainda assim, a edição gênica com CRISPR-Cas9 se destaca como uma alternativa inovadora, com potencial para transformar o tratamento da anemia falciforme e oferecer uma possível cura para a doença.

Principais tecnologias da edição gênica para tratar a anemia falciforme

As tecnologias de edição gênica, especialmente a CRISPR-Cas9, têm sido utilizadas no tratamento da anemia falciforme por meio de duas principais estratégias. A primeira consiste na correção da mutação no gene HBB, permitindo o aumento dos níveis de hemoglobina adulta (HbA)

A segunda busca induzir a produção de hemoglobina fetal (HbF) ao interromper genes reguladores que inibem sua expressão, reduzindo assim a polimerização das hemácias e minimizando os sintomas da doença.

O mecanismo de edição do CRISPR-Cas9 baseia-se no reconhecimento de sequências específicas de DNA, seguido pela criação de quebras de fita dupla (DSBs). Essas quebras podem ser reparadas por diferentes vias, como a junção de extremidades não homólogas (NHEJ), que pode resultar em deleções e inativação gênica, ou a recombinação homóloga (HDR), que permite a correção precisa da mutação. No entanto, devido à possibilidade de efeitos fora do alvo e variações na eficiência do reparo, são necessários mais estudos e ensaios clínicos para garantir a segurança e eficácia dessa terapia.

Outra abordagem promissora envolve a ruptura dos promotores dos genes HBG1 e HBG2, responsáveis pela regulação da expressão da hemoglobina fetal. Utilizando CRISPR-Cas9, pesquisadores realizaram eletroporação de células CD34+ – células-tronco hematopoiéticas – com Cas9 associada a um conjunto de 72 guias de RNA (gRNA), direcionadas aos promotores HBG1/2. 

Essa edição resultou em altos níveis de HbF sem gerar mutações fora do alvo, demonstrando segurança e eficácia. Após diferenciação in vitro ou transplante das células modificadas, os pacientes com anemia falciforme grave apresentaram melhora clínica significativa, evidenciando o potencial dessa abordagem no tratamento da doença.

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Referências

LIMA, Stephane Raquel Barreto; OLIVEIRA, Suammy Alejandra Vasquez; SILVA, Cleber Medeiros; FORTES, Iaci Gama. Aplicação da CRISPR-Cas9 no tratamento da anemia falciforme. Revista Caderno Pedagógico – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v. 21, n. 7, p. 1-19, 2024. DOI: 10.54033/cadpedv21n7-192.

FDA. FDA aprova as primeiras terapias gênicas para tratar pacientes com doença falciforme. 8 dez. 2023. Disponível em: https://www.fda.gov/news-events/press-announcements/fda-approves-first-gene-therapies-treat-patients-sickle-cell-disease. Acesso em: 25 mar. 2025.

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