Como vai, futuro Residente? O tema doenças diarreicas é muito frequente nas provas de Pediatria. Por isso, nós do Estratégia MED preparamos um resumo exclusivo com tudo o que você precisa saber para alcançar sua vaga. Para saber mais, continue a leitura. Bons estudos!
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Introdução
Diarreia é a eliminação de fezes malformadas ou líquidas (ou seja, de consistência diminuída) e frequência aumentada. Confira alguns conceitos importantes sobre o tema:
- Diarreia invasiva: acompanhada de sangue e muco;
- Diarreia infecciosa: causada por infecção;
- Diarreia não-infecciosa: não causada por infecção;
- Diarreia aguda:até 14 dias;
- Diarreia persistente: mais de 14 dias; e
- Diarreia crônica: mais de 30 ou 14 dias de evolução.
Em relação ao mecanismo fisiopatológico, podem ser divididas em:
- Diarreia secretora: secreção excessiva de fluidos pela mucosa intestinal, secundários a distúrbio do transporte hidroeletrolítico;
- Diarreia osmótica: presença de solutos osmoticamente ativos e poucos absorvíveis no lúmen intestinal, levando a retenção de água no lúmen;
- Diarreia esteatorreica: ocorre pela má absorção de lipídios (gordura);
- Diarréia inflamatória: ocorre hipersecreção e hipermotilidade intestinal causadas por citocinas e mediadores inflamatórios;
- Diarreia motora: alteração na motricidade do trânsito gastrointestinal que prejudicam a capacidade absortiva;
- Diarreia factícia: distúrbios psiquiátricos que simulam ou provocam a diarréia; e
- Diarreia iatrogênica: ocorre após procedimentos cirúrgicos.
Para saber mais detalhes sobre a clínica de cada diarreia, consulte nosso material completo na plataforma Estratégia MED! Agora vamos falar mais especificamente sobre algumas delas.
Diarreia aguda
A diarreia aguda é aquela que ocorre por até 14 dias, geralmente autolimitadas e causadas por agentes infecciosos, ou por medicamentos, intoxicação exógena e outros. Para as provas, é importante saber os grupos de alto risco para diarréia infecciosa: viajantes, crianças que frequentam creches e seus familiares, indivíduos institucionalizados, hábitos alimentares específicos e imunodeficientes.
A diarreia aguda infecciosa pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários e helmintos, na maior parte transmitidos via fecal-oral, ingestão de água e alimentos contaminados, que causam sintomas como vômitos, febre e dor abdominal. Dependendo do agente etiológico e do mecanismo patogênico, a diarreia aguda pode apresentar características clínicas e alterações laboratoriais específicas. Veja os principais a seguir:
Bactérias
1. Escherichia coli: bactéria gram-negativa causadora de diarreia. É transmitida por alimentos e água contaminados com fezes a partir da produção de enterotoxinas e/ou citotoxinas.
- E. coli enterotoxigênica: causa diarreia aquosa, patógeno comumente responsável pela “diarreia dos viajantes”.
- E. coli enteropatogênica: causa diarreia aquosa e afeta principalmente crianças de até 2 anos.
- E. coli enteroinvasiva: causa disenteria e febre.
- E. coli êntero-hemorrágica: causa disenteria, colite hemorrágica severa e síndrome hemolítico-urêmica (pela toxina Shiga).
2. Vibrio cholerae: bacilo gram-negativo, transmitido água contaminada.
- Mecanismo fisiopatológico: produção de enterotoxina.
- Clínica: diarreia aquosa profusa (aspecto “água de arroz”), vômitos são frequentes.
- Alto risco de desidratação.
3. Campylobacter: gram-negativa em espiral, transmitida principalmente por meio de alimentos e água contaminados.
- Clínica: febre, dor abdominal e cólica.
- Diarreia que dura 2 a 3 dias, de aspecto aquoso a sanguinolento.
- Pode causar “pseudoapendicite”, assim como a Yersinia.
- Pode desencadear a síndrome de Guillain-Barré.
4. Salmonella: bastonete gram-negativo, transmitido por alimentos contaminados.
- Salmonella typho é a causadora da FEBRE TIFÓIDE.
- Mecanismo fisiopatológico: produção de enterotoxina.
- Clínica: Diarreia aquosa seguida pela sanguinolenta, náuseas e vômitos, eventos sistêmicos graves.
5. Shigella: bastonete Gram-negativo, transmitido por via fecal-oral e por alimentos e água contaminados.
- Mecanismo fisiopatológico: produção de enterotoxinas que penetram nas células intestinais.
- Clínica: diarreia aquosa seguida por colite com diarreia mucossanguinolenta; hipoglicemia ocorre com maior frequência do que nas outras doenças diarreicas.
6. Staphylococcus: coco gram-positivo, transmitido por alimentos contaminados.
- Mecanismo fisiopatológico: produção de toxina.
- Clínica: diarreia e vômitos 2 a 8 horas após ingestão do alimento contaminado, diarreia aquosa.
- Melhora espontaneamente em 48 horas.
Protozoários
1. Cryptosporidium: protozoário transmitido por ingestão de oocistos na água e alimentos contaminados.
- Mecanismo fisiopatológico: diarreia secretora ou atrofia de vilosidades e/ou inflamação da própria lâmina.
- Clínica: diarreia aquosa que pode ser prolongada.
2. Giardia lamblia ou Giardia intestinalis: protozoário flagelado, transmitido por ingestão de cistos na água ou alimentos contaminados.
- Mecanismo fisiopatológico: destruição da borda em escova das células intestinais; “atapetamento” da mucosa intestinal.
- Clínica: assintomático ou diarreia aquosa, diarreia incoercível com fezes claras e gordurosas, que pode evoluir para diarreia crônica; síndrome disabsortiva e perda ponderal.
3. Entamoeba histolytica: protozoário transmitido por ingestão de cistos maduros na água ou alimentos contaminados.
- Mecanismo fisiopatológico: produz enzimas proteolíticas que ulceram e perfuram a mucosa.
- Clínica: assintomático ou disenteria, apendicite, megacólon tóxico,ameboma, peritonite, abscesso hepático.
Vírus
Rotavírus
O quadro clássico é de uma diarreia aquosa, associada a vômitos e febre.
No momento em que os casos por rotavírus começaram a diminuir, outros vírus aumentaram sua incidência. O número total de casos não aumentou, mas a epidemiologia mudou de cara. São eles:
- Norovírus e Calicivírus: vistos em surtos esporádicos, relacionados à água ou alimentos contaminados.
- Adenovírus: podem causar quadro respiratório associado ao intestino.
- Astrovírus: são os menos prevalentes. Acometem principalmente lactentes e crianças hospitalizadas.
- Mecanismo fisiopatológico: destruição de vilosidades e diarreia osmótica.
- Clínica: autolimitados; diarreias aquosas, com vômitos e febre.
Intoxicação alimentar
A intoxicação alimentar é decorrente da proliferação de agentes infecciosos produtores de enterotoxinas antes do consumo do alimento. É um quadro suspeito de intoxicação sempre que o período de incubação entre o consumo do alimento suspeito e o desenvolvimento dos sintomas for curto (menor que 9 horas).
Pacientes com esse quadro costumam ter náuseas e vômitos, além de diarreia e febre.
Diagnóstico e tratamento da diarreia aguda
O diagnóstico é baseado em uma boa anamnese, interrogando o doente. No exame físico, devemos ficar atentos aos sinais de desidratação: estado geral de irritabilidade, hipoatividade, letargia, torpor e coma, olhos fungos, mucosa seca, ausência de lágrimas e saliva, sede intensa, pulso radial fino ou até mesmo impalpável, pele sem turgor, além de taquicardia, hipotensão arterial e perda de peso.
Na suspeita de diarreia aguda, alguns exames laboratoriais podem ser pedidos, como hemograma completo, eletrólitos e função renal, além da avaliação fecal.
O tratamento consiste principalmente em reposição eletrolítica e, em alguns casos, antibioticoterapia. Para saber como funciona a reposição eletrolítica, confira o material completo do Estratégia MED!
Diarreia crônica
A diarreia crônica possui uma gama de possibilidades diagnósticas que devem ser investigadas, pois diversos distúrbios podem cursar com o quadro, como distúrbios funcionais, doenças inflamatórias intestinais, colite microscópica, distúrbios disabsortivos e desordens infecciosas.
Para o diagnóstico, além da anamnese e exame físico detalhado, devemos estabelecer se é um distúrbio orgânico ou funcional. Suspeitamos de distúrbio orgânico quando há sangue nas fezes, perda ponderal, hipotrofia muscular, febre, adenomegalias, massa abdominal palpável, sinais e sintomas carenciais, anemia e alterações cutâneas específicas. Além disso, devemos identificar a localização da origem da diarreia, podendo ser alta (no intestino delgado), ou baixa (intestino grosso).
Podem ser solicitados exames complementares, como hemograma completo, eletrólitos, pesquisa de antígenos, exames endoscópicos, exames de imagem e parasitológico de fezes. Assim, o tratamento varia de acordo com o diagnóstico do doente, por isso a investigação e definição da etiologia é tão importante. Para auxiliar nos sintomas, medicamentos como opióides e antagonista de receptor 5-HT podem ser utilizados.
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