Na endocrinologia, estudamos diversos órgãos e suas funções. Em geral, há a produção de hormônios que se regulam de maneira fina a fim de proporcionar sua função em estado otimizado e fisiológico. No texto a seguir, iremos nos aprofundar sobre a tireoide e o hormônio tireoidiano, passando por toda sua fisiologia e como analisar alguns resultados de exames. Venha conosco nessa viagem endócrina!
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A tireoide e hormônio tireoidiano
A tireoide é um órgão localizado no pescoço que apresenta como função principal a produção do hormônio tireoidiano. A unidade funcional da tireoide é o folículo, formado por células foliculares.
Como quase todos os órgãos com função endócrina, há uma íntima relação de retroalimentação entre outras substâncias. No caso da produção do hormônio tireoidiano temos a participação do hipotálamo, com a produção de TRH (hormônio liberador de tireotrofina), e da hipófise, com a produção de TSH (hormônio estimulador da tireóide).
- TRH >>> TSH >>> Hormônios tireoidianos (T3 e T4)
Devemos lembrar que o hormônio ativo é o T3, porém uma forma mais estável e duradoura no corpo é o T4. Assim, há participação de enzimas que convertem na periferia o hormônio T4 em sua forma ativa.
Iremos agora explorar o processo fisiológico de produção do hormônio tireoidiano pelas células foliculares. São um total de 7 passos, siga-nos a seguir:
- Acúmulo e transporte de Iodo por meio do transportador NIS
- Oxidação do iodeto por meio da enzima TPO
- Organificação do iodeto por meio da enzima TPO
- Acoplamento das iodotironinas
- Endocitose e fusão lisossomal dos hormônios
- Reciclagem de iodeto
- Conversão periférica de T4 em T3
O hormônio tireoidiano circula em nosso corpo quase que majoritariamente ligado a diversas proteínas. As principais proteínas que devemos lembrar são a TBG (Thyroxine-binding globulin) e a albumina. Cerca de 0,02% a 0,5% do total de hormônio tireoidiano é apresentado sob sua forma livre. Entretanto, a fisiologia e a retroalimentação entre hormônios e sistema nervoso central apenas ocorre por meio da fração livre.
Essas informações são importantes para entendermos o porquê de solicitarmos o T4 livre e também para compreendermos a homeostase tireoidiana que ocorre durante a gestação. O aumento de estrógeno estimula a maior produção hepática de TBG o que acarreta no aumento de hormônio tireoidiano total sem alterar a fisiologia quando há manutenção do nível da fração livre de hormônio tireoidiano.
Farmacologia do hormônio tireoidiano
A função endócrina do hormônio tireoidiano está associada ao aumento do metabolismo. De maneira geral, veremos que eles são cruciais para incremento de funções e estímulo de diversas ações corporais. Vamos a elas:
- Regulação termogênica propiciando aumento da temperatura corporal;
- Efeito no metabolismo de lípides: estimula a lipólise, facilita a ação da adrenalina e da insulina, aumenta o número de receptores de glicose na superfície celular;
- Efeito sobre o sistema cardiovascular: cronotropismo positivo, inotropismo positivo, redução de resistência vascular periférica;
- Estímulo a hematopoiese; e
- Fundamental no desenvolvimento neuronal tanto intra útero quanto extra útero.
Autoimunidade e a tireoide
Os principais marcadores de autoimunidade nas doenças tireoidianas estão envolvidos em personagens cruciais da biossíntese hormonal. Como visto lá em cima, há diversas enzimas e receptores envolvidos na formação e transporte do hormônio tireoidiano. Veja os principais anticorpos:
- Anti-TPO (Antitireoperoxidase);
- Anti-Tg (Anti Tireoglobulina); e
- TRAb (TSH Receptor Antibody).
Aqui iremos mostrar a prevalência de cada anticorpo em diversas situações, patológicas ou não:
- População Geral: Anti-TPO = 8 a 20% / Anti-Tg 5 a 20% / TRAb 0%.
- Doença Graves: Anti-TPO = 50 a 80% / Anti-Tg 50 a 70% / TRAb 80 a 95%.
- Tireoidite de Hashimoto: Anti-TPO = 90 a 100% / Anti-Tg 80 a 90% / TRAb 10 a 20%.
Como pudemos observar, a presença ou não de alguns anticorpos não necessariamente indica um processo patológico. A principal informação que devemos levar daqui, pois, é que a clínica do paciente que irá ditar o nosso diagnóstico. Não devemos começar nosso raciocínio por exames subsidiários.
Fenômeno de Jod-Basedow e Wolff-Chaikoff
Os fenômenos de Jod-Basedow e Wolff-Chaikoff são relações entre a administração de quantidades de iodo a certos indivíduos e a produção do hormônio tireoidiano.
- Jod-Basedow: em populações carentes de iodo, a glândula tireoide apresenta uma regulação e expressão gênica para produção de hormônio tireoidiano em uma situação de baixa ingestão de iodo. Quando repomos iodo em uma população com baixa ingesta há o risco de desenvolvimento de hipertireoidismo pela produção de hormônio tireoidiano insubordinada ao eixo hipotálamo hipófise.
- Wolff-Chaikoff: a administração de grandes quantidades de iodo, por outro lado, pode estimular um mecanismo de segurança que impede o transporte do iodeto para os folículos levando a um estado de hipotireoidismo.
Exames para avaliar a tireoide
Os principais exames que devemos pedir quando iremos avaliar a função da glândula tireoide envolvem exames laboratoriais e exames de imagem.
O primeiro exame é o TSH. Em caso de observarmos alguma alteração, devemos solicitar um novo TSH associado ao T4 livre; já explicamos acima porque a dosagem da fração livre é o mais importante nesse tipo de situação.
Já exames de imagem apenas devem ser realizados em caso de alterações no exame físico que irão sugerir algum nódulo ou bócio. Em outros casos, eles não são pertinentes.
Uma dúvida que deve vir nesse momento é: mas para quem devemos pedir exames?
Para todos os pacientes em que há alguma suspeita de hipotireoidismo ou hipertireoidismo por sinais clínicos. Porém, tal conclusão parece muito óbvia. E é comum você ver que diversos pacientes sem uma sintomatologia muito clara recebem a dosagem desses hormônios.
Mas isso é o certo? Infelizmente, nem tanto.
Não há critérios claros e precisos sobre o rastreamento de distúrbios da tireoide. Dessa forma, as principais associações de endocrinologia recomendam a dosagem de TSH em pacientes com elevado risco de hipotireoidismo e em pacientes maiores de 60 anos.
Interpretando os exames
- TSH normal: eutiroideo.
- TSH baixo:
– T4 livre normal: hipertireoidismo subclínico;
– T4 livre baixo: hipotireoidismo central;
– T4 livre alto: hipertireoidismo primário; - TSH elevado:
– T4 livre normal: hipotireoidismo subclínico;
– T4 livre baixo: hipotireoidismo primário;
– T4 livre alto: hipertireoidismo central;
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