A residência médica em Neurocirurgia está entre as mais longas e exigentes do Brasil. Com formação que se estende por cinco anos, é voltada a médicos que desejam atuar no tratamento cirúrgico de doenças do sistema nervoso central e periférico. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) se destaca como uma das instituições que oferecem essa formação. A seguir, você confere um panorama completo desse programa!
Para entender melhor a estrutura e as particularidades da residência médica em Neurocirurgia da UERJ, conversamos com a Dra. Sâmara Stocco, ex-residente do serviço, que compartilhou sua experiência durante e após os anos de residência.
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A residência em Neurocirurgia na UERJ
O programa de residência em Neurocirurgia da UERJ tem duração de cinco anos (R1 a R5), com a entrada de dois residentes por ano. Os residentes têm grande exposição prática desde os primeiros meses e acumulam responsabilidades progressivamente.
A residência é sediada no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), unidade vinculada à UERJ. O HUPE não é um hospital porta aberta, ou seja, não recebe pacientes diretamente do SAMU ou de pronto atendimento. Em geral, os casos atendidos são regulados ou fazem parte do seguimento ambulatorial do próprio hospital. Mesmo assim, o volume de casos é alto e a formação é bastante sólida.
Estrutura do hospital
O setor de Neurocirurgia do HUPE possui 17 leitos próprios, além de atuar em pacientes internados em outras clínicas que necessitem de avaliação neurocirúrgica, como Pediatria, Clínica Médica, UTI e outras especialidades. O serviço realiza cirurgias diariamente, de segunda a sexta-feira, e também atua em casos de urgência nos finais de semana, mesmo que o hospital não atue como referência primária para trauma.
A equipe realiza diversos tipos de procedimentos neurocirúrgicos, incluindo cirurgias cranianas, de coluna, cirurgias funcionais e endovasculares. Há uma sala dedicada para as cirurgias endovasculares, que ocorrem às sextas-feiras, e também um dia reservado às cirurgias pediátricas, geralmente às segundas. O hospital realiza ainda procedimentos de estimulação cerebral profunda (DBS) para doenças como Parkinson e dor crônica.
O volume cirúrgico é considerado bom e equilibrado entre crânio e coluna, o que diferencia o serviço de outros que concentram seus casos apenas em uma dessas áreas.
Parte teórica
Os residentes participam de sessões clínicas semanais, que ocorrem às quintas-feiras, com apresentações baseadas no livro Youmans – Neurological Surgery, um dos principais referenciais da especialidade. Cada residente apresenta capítulos em rodízio.
Além disso, durante o primeiro ano, os residentes têm acesso a aulas e seminários durante o rodízio em Neurologia, com discussões clínicas, seminários de psicofarmacologia e treinamento em exame físico neurológico.
O clima acadêmico do serviço é bem estabelecido, com discussões clínicas diárias (rounds) entre os residentes, R+, preceptores e chefes, sempre com foco no raciocínio clínico, planejamento cirúrgico e preparo do paciente.
Rotina através dos anos
Primeiro ano (R1)
O R1 é dividido em duas etapas principais: 6 meses em Neurologia Clínica e 6 meses em Neurocirurgia.
Na Neurologia, os residentes atuam na enfermaria durante as manhãs e participam de ambulatórios e sessões clínicas no período da tarde. Também realizam plantões de sobreaviso aos finais de semana, já vinculados à Neurocirurgia.
Durante esse período, há grande ênfase no aprendizado do exame físico neurológico, diagnóstico diferencial das patologias neurológicas e no manejo clínico dos pacientes. Os residentes também realizam punções lombares em ambulatório, procedimento que será amplamente utilizado posteriormente na Neurocirurgia.
Nos seis meses seguintes, os residentes são alocados diretamente no setor de Neurocirurgia. A rotina se inicia às 7h com o round clínico, em que todos os casos são discutidos. Em seguida, o R1 é responsável pela gestão da enfermaria, organizando exames, acompanhando pacientes no pré e pós-operatório e prestando assistência nas avaliações interclínicas. Sempre que possível, o R1 também participa das cirurgias, principalmente aos finais de semana, quando está de sobreaviso.
A carga horária gira em torno de 60 horas semanais, podendo ultrapassar esse número em semanas com cirurgias longas ou urgências. O expediente oficial vai até 17h, mas é comum estender-se, dependendo da demanda do dia.
Segundo ano (R2)
O R2 passa a ter responsabilidades fora da enfermaria principal, atuando junto aos pacientes da UTI, pós-operatórios e Pediatria. É esperado que o residente já domine os fluxos internos do hospital, conseguindo se organizar para estar presente no centro cirúrgico com maior frequência.
A partir do R2, os residentes deixam de realizar plantões aos finais de semana, mas passam a fazer sobreavisos noturnos (duas vezes por semana, em média). As atividades passam a ser mais voltadas para a prática cirúrgica, com participação mais ativa nos procedimentos.
Terceiro ano (R3)
O R3 atua mais diretamente no centro cirúrgico, muitas vezes sendo o responsável por cirurgias de menor complexidade, como derivações ventrículo-peritoneais e liberação de túnel do carpo. Também é o ano em que o residente passa a responder pareceres interclínicos de forma mais autônoma.
Nesse ano, o residente pode iniciar rodízios externos, geralmente em trauma, neurocirurgia pediátrica e endovascular. Esses rodízios ajudam a ampliar a formação em áreas não plenamente cobertas pelo HUPE, dado que o hospital não é referência em trauma, por exemplo.
Quarto e quinto ano (R4 e R5)
Os dois últimos anos da residência são voltados para o aperfeiçoamento técnico e aquisição de maior autonomia cirúrgica. O R4 e o R5 geralmente atuam no tempo principal das cirurgias complexas, sob supervisão dos preceptores. Também são responsáveis por:
- Solicitações de vagas para pacientes externos;
- Apoio aos rodízios de residentes mais novos; e
- Participação ativa no planejamento cirúrgico dos casos.
Além disso, os R4 e R5 realizam rodízios externos em serviços conveniados, com possibilidade de atuar em instituições com alto volume de trauma ou em subespecialidades específicas.
Clima entre os residentes
Um dos diferenciais apontados por Sâmara foi o ambiente do serviço. Apesar da rotina puxada e da pressão natural da especialidade, o clima entre os residentes é colaborativo e a chefia do serviço é descrita como acessível e preocupada com a formação dos residentes.
Há uma boa divisão de tarefas entre os anos, com respeito aos limites e atribuições de cada etapa da residência. Os residentes mais experientes auxiliam os mais novos, principalmente nas cirurgias.
Descubra mais sobre como é o programa de residência médica em Neurocirurgia da UERJ com o bate-papo “Vida de Residente” entre a professora Ana Luiza Viana e a Dra. Sâmara Stocco, que concluiu a sua residência na instituição. No vídeo abaixo, ela compartilha sua experiência ao longo dos cinco anos de formação, destaca os diferenciais do serviço, a rotina intensa, os rodízios realizados e muito mais:
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