No dia 29 de abril de 2022, a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) aprovou a nova matriz de competências para áreas de atuação do programa de Medicina Paliativa. Se você quer saber mais sobre essa nova matriz, além das características dessa especialidade médica, continue nesse artigo!
Navegue pelo conteúdo
A Medicina Paliativa
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a medicina paliativa pode ser definida como:
“[…] uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e familiares que estejam lidando com uma doença ameaçadora da vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, ao identificar e tratar precocemente a dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais”
Isso nos diz, portanto, que o principal objetivo de um profissional de medicina paliativa é proteger as pessoas do sofrimento trazido por doenças graves e que colocam a vida em risco.
A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) nos traz também um pouco da história desses cuidados. Para alguns historiadores, a filosofia paliativista começou na antiguidade, desde que se começou a pensar em cuidar. Avançando para a Idade Média, no período das Cruzadas, pensadores relembram que os monastérios não abrigavam apenas os doentes, como também aqueles que tinham fome, mulheres em trabalho de parto, pessoas necessitadas, órfãos e leprosos. Ou seja, esse local de cura não tinha apenas o propósito de sanar uma doença, mas possuía também a questão do acolhimento e proteção.
Adiante, já no final do século XVIII e início do século XIX, temos diversos exemplos de ações e locais que começaram a dar conceito aos cuidados paliativos. Em 1879, as Irmãs de Caridade Irlandesas fundaram o “Our Lady’s Hospice of Dying”, em Dublin, já em 1905 a Ordem de Irmã Mary Aikenheads abriu o “St Joseph’s Hospice”, em Londres. Os “Hospice” eram espécies de abrigos para cuidar de peregrinos e viajantes.
Além de todos esses exemplos, a grande protagonista e referência de cuidados paliativos no mundo todo é a médica, enfermeira e assistente social londrina, Cicely Saunders.
Cicely dedicou toda sua vida ao alívio e proteção do sofrimento humano. Em 1967, fundou o St. Christopher´s Hospice, primeira instituição a oferecer serviço completo, desde o controle dos sintomas até tratamento ao sofrimento psicológico do paciente. Algo que a figura falava muito era: “ainda há muito a fazer”, refutando outros médicos quando era dito aos familiares que não havia mais nada a ser feito.
Princípios da Medicina e Cuidados Paliativos
O Manual de Cuidados Paliativos da ANCP elenca os 9 princípios a serem seguidos nesse ramo da saúde. São eles:
1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis;
2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida;
3. Não acelerar nem adiar a morte;
4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente;
5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte;
6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença
do paciente e a enfrentar o luto;
7. Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e
seus familiares, incluindo acompanhamento no luto;
8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença; e
9. Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente a outras
medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia e
incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar
situações clínicas estressantes.
Rotina de um profissional de Medicina Paliativa
Antes de tudo é necessário compreender que o dia a dia de um médico especializado em medicina paliativa é composto por uma equipe multidisciplinar. Ou seja, além do médico em si, há enfermeiros, psicólogos, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente espiritual e dentista.
O profissional graduado em medicina deve observar os sintomas, efeitos colaterais e também o emocional do paciente, visando sempre a melhor qualidade de vida possível que pode proporcionar. Fora isso, é necessário estar preparado para situações como: dores de difícil controle, depressão, tristeza, angústia, fadiga, náuseas e perda de movimentos.
Mercado de trabalho em Cuidados Paliativos
Todos os cuidados relacionados à medicina paliativa ainda precisam ser regulamentados como lei no Brasil, por isso, não se tem muitos dados sobre a profissão. Contudo, a ANCP fez um levantamento, em 2020, que mostra um pouco da remuneração em cuidados paliativos.
Os médicos entrevistados alegaram ganhar, em média, R$ 105,80 por hora trabalhada, desses, 45% se mostraram satisfeitos e 65% insatisfeitos com a remuneração.
Residências em Medicina Paliativa
O histórico de Medicina e Cuidados Paliativos no Brasil é recente, por isso, ainda são poucas as instituições que oferecem residência médica em cuidados paliativos no país. O Portal do Estratégia MED elencou aqui para você, todas as que existem no país atualmente. Confira:
Sudeste
- Hospital Infantil João Paulo II – Belo Horizonte, MG;
- Hospital Felício Rocho – Belo Horizonte, MG;
- Hospital Risoleta Tolentino Neves – Belo Horizonte, MG;
- Instituto Nacional de Câncer (INCA) – Rio de Janeiro, RJ;
- Hospital de Amor de Barretos – Barretos, SP;
- Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (USP RP) – Ribeirão Preto, SP;
- Hospital do Servidor Publico Estadual de São Paulo (IAMSPE) – São Paulo, SP; e
- Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP SP) – São Paulo, SP.
Sul
- Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre, RS;
- Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Porto Alegre, RS;
- Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – Porto Alegre, RS; e
- Centro de Pesquisas Oncológicas (CEPON) – Florianópolis, SC.
Nordeste
- Hospital universitário Walter Cantídio – Fortaleza, CE;
- Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza, CE; e
- Instituto de Medicina Integral Profº Fernando Figueira (IMIP) – Recife, PE.
Centro-Oeste
Hospital de Apoio de Brasília – Escola Superior em Ciências da Saúde (ESCS) – Brasília, DF.
OBS: segundo dados da ANCP, não há nenhuma instituição que ofereça Residência Médica na região Norte.
Residência Médica para a Área de Atuação
Em abril de 2022, o Ministério da Educação (MEC) aprovou a nova matriz de competências de Residência Médica para Área de Atuação em Medicina Paliativa no Brasil. A partir de 2023, o programa passa a contar com 2 anos de formação, além das seguintes competências:
Primeiro ano
- Aplicar os conceitos de cuidados paliativos, definindo elegibilidade dos pacientes, aplicando escalas e ferramentas aprovadas nos diversos cenários de ação da Medicina Paliativa.
- Compor equipe multiprofissional.
- Desenvolver as habilidades de comunicação em situação crítica e notícias difíceis, usando linguagem compreensível pelo paciente e família.
- Dominar os aspectos éticos e legais, considerando a proporcionalidade terapêutica.
- Gerenciar os tratamentos e conceito de futilidade terapêutica
- Dominar a fisiopatologia e o manejo da dor e dos sintomas físicos.
- Dominar o uso de opioides para controle de dor e dispneia
- Dominar o uso da hipodermóclise.
- Integrar os aspectos espirituais ao cuidado.
- Manejar as intercorrências paliativas.
- Dominar as indicações, contraindicações e desprescrição de medidas invasivas.
- Aplicar os conceitos de bioética em Pediatria, considerando a autonomia do paciente e a interação com pais e responsáveis.
- Manejar o processo ativo de morte nos diferentes cenários.
- Dominar os cuidados paliativos no ambiente hospitalar considerando: bases diagnósticas, abordagem clínica geral, avaliação prognóstica, principais causas de distanásia, controle avançado de sintomas, elaboração de plano avançado de cuidados, critérios de inclusão e exclusão para desospitalização, encaminhamentos para assistência domiciliar e ambulatorial, avaliação e acompanhamento por outros especialistas, emergências paliativas, através da tomada de decisão e decisão compartilhada.
- Promover transição de cuidados responsável e ativo no ambiente intra-hospitalar (de unidade de tratamento intensivo para enfermaria) e na desospitalização.
- Dominar os procedimentos de retirada de suporte artificial de vida e sedação paliativa.
- Dominar a indicação, contraindicação e cuidados na intervenção na via aérea, além de outras opções terapêuticas, em pacientes com lesões tumorais de cabeça e pescoço, nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Dominar a indicação e cuidados para via alimentar alternativa.
- Dominar o manejo dos cuidados de feridas neoplásicas e não neoplásicas, bem como de lesões por pressão, nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Dominar as principais indicações, contraindicações e benefícios de cirurgias paliativas e medidas intervencionistas no controle de sintomas e melhora da qualidade de vida, nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Dominar o manejo de estomas do trato digestivo baixo e dos dispositivos em vias urinárias nas diversas faixas etárias.
- Aplicar o cuidado em feridas complexas.
- Analisar o benefício de intervenções endoscópicas e minimamente invasivas no manejo de sintomas nas diversas topografias anatômicas (stents, drenos, sondas, terapias ablativas), nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Ajuizar riscos e benefícios de terapias utilizando radiação no controle de sintomas, bem como o manejo de complicações locais.
- Apreciar os riscos e benefícios de terapias oncológicas (medicamentosas, cirúrgicas ou radioterápicas) em contexto não curativo como auxiliares na manutenção da qualidade de vida dos pacientes em cuidados paliativos nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Dominar as indicações e aplicações das terapias e técnicas de reabilitação bem como reabilitação paliativa nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
Segundo ano
- Coordenar o planejamento de cuidados, com metas realistas nos cenários hospitalares, ambulatorial e domiciliar.
- Estabelecer as diretivas antecipadas de vontade, aplicando os princípios bioéticos e legais.
- Dominar as principais afecções psicológicas e mentais da medicina paliativa nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Aplicar abordagem familiar, avaliando a sobrecarga do cuidador, manejando as diversas formas de luto, nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Dominar o manejo dos cuidados paliativos perinatais e neonatais.
- Coordenar os cuidados paliativos em fase final de vida nas faixas etárias pediátrica, adulta e idosa.
- Articular o suporte ao óbito, óbito domiciliar e óbito em domicílio na presença de familiares menores de idade.
- Aplicar os cuidados paliativos em rede, gerenciando os pontos de atenção à saúde.
- Coordenar o trabalho multiprofissional e transdisciplinar em cuidados paliativos.
- Manejar o sofrimento da equipe de saúde considerando burnout, fadiga por compaixão e autocuidado.
- Desenvolver e coordenar a educação em saúde em cuidados paliativos.
- Dominar os cuidados paliativos no ambiente ambulatorial e domiciliar.
- Dominar as estratégias para desospitalização.
- Dominar o manejo da ventilação mecânica invasiva e não invasiva em domicílio
- Dominar o manejo da nutrição parenteral e enteral em domicílio.
- Conduzir reuniões familiares complexas e manejar situações de conflito entre família/paciente, bem como as reuniões com equipes.
- Conhecer as principais terapêuticas complementares e integrativas usadas em pacientes em cuidados paliativos e reconhecer suas indicações.
- Produzir um artigo científico, utilizando o método de investigação adequado e apresentá-lo em congresso médico ou publicar em revista científica, ou apresentar publicamente em forma de trabalho de conclusão de curso (TCC).
Aprendeu tudo sobre Medicina Paliativa, Futuro Residente? Não deixe de acompanhar o Portal do Estratégia MED para receber mais textos como esse!