Um tema sensível mas muito importante de ser discutido é o que envolve a decisão de trocar de especialidade durante a residência médica. Sabe-se que este não é o cenário ideal, ainda mais após todo o período de preparação para provas e o ingresso de fato no programa, mas, o que fazer quando você não está se identificando com a especialidade? Para compreender melhor essa possibilidade, o Estratégia MED conversou com Bianca Ratts, que passou por essa experiência e compartilhou sua trajetória conosco. Confira o texto!
Expectativas não superadas
Bianca é cearense e iniciou sua residência em Otorrinolaringologia no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Após quatro meses, percebeu que a especialidade não atendia suas expectativas e decidiu mudar para Pediatria, sua especialidade atual, sendo que já está no segundo ano do programa na Universidade de São Paulo (USP-SP).
Apesar da decisão difícil, Bianca nunca se arrependeu. A mudança trouxe alívio e a confirmação de que havia feito a escolha certa. Inicialmente atraída pela Cirurgia durante o internato, especialmente pela Cirurgia Vascular, ela optou por Otorrinolaringologia pela combinação de aspectos clínicos e cirúrgicos e pelas boas perspectivas de qualidade de vida e retorno financeiro.
No entanto, a vivência na especialidade mostrou-se insatisfatória, levando Bianca a buscar uma área mais alinhada com suas expectativas e habilidades. Ela aconselha futuros residentes a terem uma experiência prática mais íntima antes de tomar uma decisão tão significativa, ressaltando a importância de conhecer a rotina da especialidade escolhida. Porém, escolher uma especialidade médica é uma decisão complexa e pessoal e, embora o acompanhamento e a experimentação sejam essenciais, nem sempre garantem uma escolha definitiva, então não há porque ter medo de reavaliar o curso.
Experiência em Otorrinolaringologia
Durante os meses que passou na residência em Otorrinolaringologia, Bianca se dedicou intensamente, participando de cursos e acompanhando profissionais. A rotina de Otorrino, que inclui rodízios em diferentes áreas como nariz, orelha e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, inicialmente parecia promissora, prometendo qualidade de vida e estabilidade financeira. No entanto, a prática revelou outra realidade: a falta de empolgação e identificação com a especialidade tornou-se evidente.
Bianca notou que a especialidade não oferecia o acompanhamento longitudinal e a conexão com os pacientes que ela valorizava. Ao contrário de especialidades como Pediatria, em que o médico constrói uma relação duradoura com os pacientes e suas famílias, a Otorrino se mostrava mais focada em casos agudos e intervenções de curto prazo. Esta percepção se consolidou após quatro meses, quando percebeu que não sentia entusiasmo pelas próximas fases do treinamento.
A decisão de trocar de especialidade
Diante da insatisfação mencionada, Bianca tomou a difícil decisão de mudar de especialidade. Ela destaca que, embora o primeiro mês de residência seja crucial para considerar uma mudança, é insuficiente para uma avaliação completa. A pressão para decidir cedo é alta, mas a experiência prática é necessária para uma escolha bem-informada.
Ou seja, a decisão não foi fácil. A médica inclusive menciona a pressão interna de não querer decepcionar pessoas ao seu redor, incluindo familiares e colegas, como uma das maiores dificuldades. Mesmo assim, reconheceu que a satisfação profissional é uma batalha diária que só ela colheria os frutos.
Inicialmente, compartilhou suas dúvidas com pessoas de confiança, incluindo amigos e psicólogos, antes de comunicar sua decisão aos supervisores da residência. A reação mista dos amigos, muitos dos quais já suspeitavam que Otorrino não combinava com ela, reforçou a importância de uma decisão pessoal e informada.
Enfrentar a desaprovação e a pressão social, especialmente quando a especialidade oferece perspectivas de estabilidade financeira e qualidade de vida, foi um dos maiores desafios. No entanto, a autenticidade na escolha profissional prevaleceu. Bianca refletiu intensamente e decidiu seguir seu coração, reconhecendo que permanecer no programa seria apenas para agradar aos outros e não a si mesma.
Após comunicar sua decisão, Bianca encontrou apoio inesperado. Um amigo, que também enfrentava insatisfação em sua residência de Anestesiologia, inspirou-se em sua coragem e decidiu mudar para Cirurgia Geral, encontrando sua verdadeira vocação.
Já a reação dos colegas de Otorrino foi, em sua maioria, de apoio. Eles tentaram envolvê-la mais nas atividades da especialidade, oferecendo oportunidades para realizar procedimentos, na esperança de que ela reconsiderasse a decisão. No entanto, ela já não tinha dúvidas, mas fez questão de sair de forma correta e profissional, avisando com antecedência e cumprindo seus compromissos até o final do mês, deixando as portas abertas.
Para Bianca, é importante seguir o próprio instinto e garantir que a escolha da especialidade esteja alinhada com seus interesses e valores pessoais. Agora, a futura especialista em Pediatria está plenamente satisfeita e garante que, apesar das diferenças na carga horária e estilo de vida, faria a mesma escolha novamente.
Experiência em Pediatria
Ao dar plantões e atender crianças, Bianca descobriu uma alegria e uma conexão que não sentia em Otorrinolaringologia. E foi justamente a falta desse sentimento que inspirou sua decisão de mudar de especialidade. Para ela, a chave para tomar essa decisão foi ter uma perspectiva clara do que queria.
Ela também refletiu sobre sua trajetória na faculdade, lembrando-se de como sempre gostou de Pediatria. Isso ajudou a reforçar sua decisão.
Dicas
Bianca destaca a importância de diferenciar o cansaço normal do R1 da falta de identificação com a especialidade. Ela aconselha futuros residentes a buscar experiências que lhes permitam vivenciar diferentes áreas da medicina, conversando com profissionais e refletindo sobre o que realmente os faz felizes.
Além disso, recomenda buscar apoio de pessoas confiáveis e abertas a escutar sem julgamentos. Ela também sugere que aqueles que estão pensando em mudar de especialidade procurem lugares onde se sintam felizes, como ela fez ao descobrir sua paixão pela Pediatria.
Embora a decisão de mudar de especialidade possa ser difícil e repleta de incertezas, seguir o coração e buscar a verdadeira felicidade profissional é essencial. É possível encontrar realização e sucesso, mesmo que isso signifique dar um passo para trás para avançar em direção a um futuro mais alinhado com seus sonhos e valores.
Confira a mais dicas e a entrevista completa com Bianca Hatts no vídeo abaixo:
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