Olá, querido doutor e doutora! A catatonia representa uma síndrome neuropsiquiátrica complexa, caracterizada por alterações motoras, comportamentais e afetivas, cuja identificação precoce permite intervenções eficazes e redução de morbidade. Trata-se de um quadro que pode surgir em múltiplos contextos psiquiátricos e médicos, exigindo abordagem integrada e vigilância contínua.
Em muitos pacientes, a resposta ao lorazepam ocorre de forma rápida, permitindo melhora expressiva dos sinais catatônicos após a primeira dose.
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O que é Catatonia
A catatonia é uma síndrome neuropsiquiátrica marcada por alterações psicomotoras, afetivas e comportamentais, que surgem como expressão de uma condição subjacente, geralmente psiquiátrica, médica ou neurológica. O diagnóstico clínico exige a presença de três ou mais sinais característicos, como estupor, mutismo, catalepsia, flexibilidade cérea, negativismo, posturas anormais, maneirismos, estereotipias, caretas, ecolalia ou ecopraxia.
Epidemiologia e fatores associados
Prevalência e distribuição clínica
A catatonia é identificada com frequência em serviços de saúde mental, com prevalência variando entre dez e trinta por cento dos pacientes internados em unidades psiquiátricas. Em contextos médicos gerais, como enfermarias de neurologia e unidades de terapia intensiva, ocorre em uma proporção menor, porém consistente. Estudos populacionais sugerem incidência aproximada de dez episódios por cem mil pessoas ao ano, demonstrando que o quadro é mais frequente do que historicamente presumido.
Condições psiquiátricas associadas
A síndrome aparece de forma recorrente em pacientes com transtorno bipolar, episódios depressivos graves, transtornos psicóticos e transtornos do espectro autista. Nesses grupos, a manifestação catatônica costuma ocorrer em fases de maior desorganização comportamental ou alteração intensa da responsividade.
Condições médicas e neurológicas associadas
Diversas doenças orgânicas podem precipitar o quadro, incluindo encefalites infecciosas ou autoimunes, doenças autoimunes sistêmicas, infecções do sistema nervoso central, distúrbios metabólicos, endocrinopatias, epilepsia e lesões estruturais cerebrais. Situações de descompensação metabólica ou insuficiências orgânicas também podem estar envolvidas.
Fatores farmacológicos e tóxicos
O uso de antipsicóticos de primeira geração, a retirada abrupta de benzodiazepínicos, suspensão de clozapina, intoxicações e exposição a determinadas substâncias podem desencadear sintomas catatônicos. Além disso, níveis reduzidos de ferro sérico e valores elevados de creatina quinase já foram descritos em alguns pacientes com a síndrome.
Aspectos ambientais e psicossociais
Elementos como história de maltratamento, exposição à violência e crescimento em ambientes urbanos aparecem associados ao risco aumentado em alguns estudos. Esses fatores podem atuar como facilitadores, principalmente em indivíduos com vulnerabilidade biológica ou psiquiátrica prévia.
Classificação e apresentações clínicas
Catatonia acinética
É a forma mais frequente, caracterizada por imobilidade, posturas mantidas, redução da resposta a estímulos e mutismo. O paciente costuma manter consciência preservada, porém, com marcada dificuldade de iniciar ações. Sinais como estupor, olhar fixo e diminuição da interação com o ambiente são predominantes. A ingesta alimentar pode reduzir-se de modo significativo, aumentando o risco de complicações clínicas.
Catatonia excitada
Nesta apresentação, predominam hiperatividade, comportamentos impulsivos e movimentos sem propósito. O paciente pode aparentar agitação intensa, episódios de agressividade, labilidade comportamental ou manifestações próximas ao delirium. Apesar do aumento motor, os movimentos são geralmente desorganizados e sem objetivo definido, conferindo risco de autolesão ou lesão a terceiros.
Catatonia maligna
Quadro grave marcado por instabilidade autonômica, que inclui hipertensão lábil, hipertermia, taquicardia, diaforese e rigidez muscular acentuada. Normalmente evolui em ritmo rápido com deterioração clínica progressiva, podendo levar a falência cardiovascular, coma e morte se não tratada de forma imediata. Costuma ser precedida por sinais catatônicos típicos, seguidos de piora sistêmica abrupta.
Particularidades pediátricas
Em crianças e adolescentes, a catatonia pode iniciar-se de forma aguda ou mais insidiosa. Sinais como perda de habilidades previamente adquiridas, recusa alimentar, retraimento social, incontinência e movimentos automáticos compulsivos podem ser predominantes. Pacientes com transtornos do neurodesenvolvimento, especialmente transtorno do espectro autista, podem manifestar aumento súbito de estereotipias ou comportamento motor anormal previamente existente.
Catatonia em idosos
Em adultos mais velhos, o reconhecimento pode ser dificultado pela sobreposição com quadros como delirium ou demências. São frequentes sinais como rigidez, mutismo, perseveração, redução da mobilidade e alterações autonômicas. A apresentação costuma ser mais prolongada e associada a maior risco de complicações clínicas, especialmente em contextos de comorbidades e polifarmácia.
Diagnóstico
Critérios clínicos
O diagnóstico de catatonia é essencialmente clínico, baseado na identificação de pelo menos três sinais característicos, como estupor, mutismo, rigidez, catalepsia, flexibilidade cérea, negativismo, posturas anormais, maneirismos, estereotipias, ecolalia ou ecopraxia. A avaliação deve ser contínua, pois muitos sinais apresentam flutuação ao longo do dia. A presença desses achados em pacientes com alteração acentuada da responsividade, independente do diagnóstico psiquiátrico ou médico primário, deve levantar suspeita imediata.
Escalas de avaliação
Instrumentos estruturados auxiliam na confirmação do quadro e no monitoramento terapêutico. A Bush-Francis Catatonia Rating Scale é amplamente utilizada, permitindo quantificação dos sinais em diferentes dimensões motoras, comportamentais e verbais. Já a Northoff Catatonia Rating Scale expande a avaliação para itens afetivos e cognitivos, sendo útil em casos complexos ou em acompanhamento de resposta ao tratamento. Embora úteis, essas escalas não substituem os critérios diagnósticos formais.
Diagnóstico diferencial
A síndrome deve ser diferenciada de condições com apresentação semelhante, como síndrome neuroléptica maligna, síndrome serotoninérgica, estados de coma, locked-in, status epiléptico não convulsivo, encefalopatias metabólicas, distonias, afasias e quadros de delirium. A identificação de hiperreflexia, clônus, alterações pupilares, ausência de reflexos ou achados neurológicos focais pode direcionar para alternativas diagnósticas. A resposta ao teste com lorazepam pode ser informativa em muitos casos.
Exames complementares
A investigação deve incluir hemograma, painel metabólico, função tireoidiana, ferro sérico, creatina quinase, vitamina B12, folato, amônia e rastreio toxicológico. Dependendo da apresentação, realizam-se neuroimagem, eletroencefalograma e, quando houver suspeita de encefalite, punção lombar. Esses exames auxiliam na exclusão de epilepsia, encefalites, distúrbios metabólicos e causas estruturais.
Teste de provocação com lorazepam
A administração de lorazepam, em dose inicial de um a dois miligramas, pode produzir redução significativa dos sinais em poucos minutos nos pacientes com catatonia, funcionando como ferramenta diagnóstica e terapêutica. Uma melhora superior a cinquenta por cento dos sintomas sugere fortemente o diagnóstico e auxilia na seleção do tratamento inicial.
Tratamento
Princípios gerais de manejo
O manejo da catatonia envolve três eixos: alívio rápido da síndrome catatônica, tratamento da condição de base (psiquiátrica ou médica) e prevenção de complicações clínicas decorrentes de imobilidade, desnutrição e instabilidade autonômica. A conduta não deve aguardar a conclusão de toda a propedêutica quando o quadro é grave ou há suspeita de catatonia maligna. Sempre que possível, é importante revisar a medicação em uso, com atenção especial a antipsicóticos e à possibilidade de suspensão abrupta de benzodiazepínicos.
Benzodiazepínicos como primeira linha
Os benzodiazepínicos, em especial o lorazepam, constituem o tratamento inicial mais utilizado. Após o teste de provocação, o lorazepam é mantido em doses fracionadas, frequentemente entre 1 e 4 mg ao dia, podendo chegar a doses mais altas em alguns casos. A via oral é preferida quando factível, mas vias intravenosa ou intramuscular são indicadas em pacientes com recusa alimentar, negativismo ou risco clínico.
A resposta costuma ocorrer em horas a poucos dias, com taxas de remissão elevadas em quadros ligados a transtorno bipolar e depressão maior, e menores em catatonia crônica associada à esquizofrenia. A retirada deve ser gradual, com atenção à recorrência dos sintomas.
Terapia eletroconvulsiva (ECT)
A ECT é indicada em diversas situações: falha de resposta adequada ao benzodiazepínico, catatonia maligna, associação com síndrome neuroléptica maligna, risco alto à vida, gravidez com necessidade de evitar uso prolongado de benzodiazepínicos e quadros com intenso comprometimento nutricional ou autonômico.
Em geral utiliza-se ECT bilateral, aplicada pelo menos duas vezes por semana, até remissão dos sinais ou estabilização clínica. A ECT tende a ser particularmente útil em catatonia grave, em pacientes com esquizofrenia de difícil controle e em situações em que a velocidade de resposta é determinante para reduzir mortalidade.
Outras opções farmacológicas
Quando o uso de benzodiazepínicos é limitado ou contraindicando, ou quando há resposta apenas parcial, podem ser testados antagonistas do receptor NMDA, como amantadina e memantina, como terapia de segunda linha ou adjuvante. Há relatos de benefício com carbamazepina, valproato, topiramato e outros estabilizadores do humor em subgrupos de pacientes, principalmente quando há comorbidade afetiva.
O uso de antipsicóticos requer cautela: pode agravar a catatonia e aumentar o risco de síndrome neuroléptica maligna. Em pacientes com transtornos psicóticos, prefere-se antipsicóticos de segunda geração, em doses baixas, tituladas lentamente, idealmente em combinação com benzodiazepínico e com monitorização rigorosa de sinais autonômicos.
Suporte clínico e prevenção de complicações
Paralelamente à terapêutica específica, é indispensável garantir suporte clínico intensivo. Isso inclui avaliação da hidratação, indicação de líquidos intravenosos quando necessário, manejo de nutrição enteral em pacientes com recusa alimentar prolongada, prevenção de trombose venosa profunda, cuidados com pele e mudança frequente de decúbito para evitar úlceras de pressão.
A equipe deve monitorar de perto sinais de instabilidade autonômica, rabdomiólise, insuficiência renal, infecções e eventos tromboembólicos. Fisioterapia, terapia ocupacional e intervenções de mobilização auxiliam na redução de contraturas e decondicionamento.
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Referências Bibliográficas
- EBSCO Information Services. Catatonia – DynaMed. 2025.



