Vacina contra a Covid-19 no Brasil: tecnologia, eficácia, estudos, histórico e muito mais!

Vacina contra a Covid-19 no Brasil: tecnologia, eficácia, estudos, histórico e muito mais!

Confira o material sobre a vacina contra a Covid-19 e a crise sanitária que o Brasil enfrenta, preparado pelo Estratégia MED!

Lei contra “sommelier de vacina”

No dia 27 de julho de 2021, o prefeito Ricardo Nunes, de São Paulo, sancionou na cidade a lei que coloca no fim da fila de vacinação o chamado “sommelier de vacina”, pessoa que tentar escolher o fabricante da vacina contra a Covid-19. A regra também vale para pessoas inscritas na “xepa“.

Desde o dia 1º de julho de 2021, a prefeitura de São Bernardo do Campo, em São Paulo, já havia adotado as medidas. A pessoa que tomar tal atitude, além de ir para o final da fila, apenas será vacinada após o restante da população adulta da cidade. Segundo a CNN Brasil, a recusa de vacina contra a covid-19 caiu 91% após a norma.

Outras nove cidades, como São Caetano do Sul, Jales, Urupês, São José do Rio Preto, Caieiras, Rio Grande da Serra, Embu das Artes, Guararema e Osasco, também aplicaram medidas parecidas, como termo de recusa, bloqueio no sistema, fim da fila e vacinação apenas na repescagem.

Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em parceria com a Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador dos Estados Unidos, comprovaram que apesar de alguns efeitos adversos das vacinas contra a Covid-19 terem sido relatados, eles são raros. Casos de trombose pela AstraZeneca, por exemplo, são de 1 a cada 100 mil pessoas e todas as vacinas aplicadas no Brasil foram testadas anteriormente.

As vacinas contra covid-19 utilizadas no Brasil e como funcionam

No Brasil já são milhões de casos de pessoas infectadas pela Covid-19 e com Síndrome pós-Covid. Porém, os receios sobre a vacinação não são novidade no país. A crise da Covid-19 é um dos maiores desafios em escala global do século, levando todo o planeta a uma crise sanitária e humanitária. Para entender melhor sobre as vacinas contra Covid-19, o Estratégia MED preparou a tabela abaixo para você:

VacinasTecnologiaEficácia geral (2 doses)IntervaloPaíses da AL* com uso emergencial
CoronavacVírus inativado51%14 a 28 diasBrasil, Chile, Colômbia, México, Panamá e Uruguai
AstrazenecaVetor viral76%, após 15 dias ou mais da segunda dose12 semanasBrasil, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Haiti, Guatemala, Honduras, México, Panamá e Peru
PfizerRNA mensageiro95%Até 12 semanasArgentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Peru e Uruguai
JanssenVetor viral67%, após 14 dias da vacinaDose únicaChile, Colômbia e México
Dados de eficácia coletados do Viva Bem Uol
*América Latina

Dados coletados do Instituto Butantan e do site Our World in Data, revelam que o Chile é o país da América do Sul com a vacinação mais adiantada. Em abril deste ano, o governo chileno divulgou que a porcentagem de pessoas vacinadas com duas doses era de 33,7% e que, dentre elas, mais de 90% receberam a CoronaVac.

Porém, mesmo com o recente aumento dos casos de Covid-19 em países com a vacinação avançada, como o Chile e Argentina, dados divulgados pelo Ministério da Saúde chileno mostraram que os novos casos afetam principalmente jovens que não receberam a vacina contra a covid-19. 

Testes do Ministério da Saúde do Chile também mostraram que a CoronaVac teve eficácia na prevenção de 90,3% de internações em UTI, 86% das mortes, 87% em hospitalização e 65,3% em infecções sintomáticas por Covid-19.

Terceira dose da vacina contra a Covid-19

Sobre a terceira dose da vacina, em comunicado público, o Ministério da Saúde declarou que não há evidências científicas que confirmem a necessidade. Além disso, Jean Gorinchteyn, secretário de Saúde do Estado de São Paulo, disse no dia 17 de julho de 2021 que o governo da cidade planeja começar um novo ciclo de vacinação contra a Covid-19 no dia 17 de janeiro de 2022, seguindo o modelo de vacinação contra a gripe.

Como funcionam as vacinas contra a Covid-19?

Assim que a vacina entra no corpo do indivíduo, o organismo se depara com um antígeno e estimula a criação de anticorpos, reduzindo os riscos das pessoas após a entrada de agentes patogênicos.

Para que os imunizantes funcionem, é essencial que eles tenham em sua composição um agente patogênico, como um vírus, bactéria ou RNA mensageiro. Confira mais sobre as 4 vacinas utilizadas no Brasil e a tecnologia de cada uma com o Estratégia MED:

CoronaVac

A CoronaVac foi criada na China pela biofarmacêutica Sinovac Biotech. No Brasil, a parceria com a empresa para testar e fabricar a fórmula foi feita com o Instituto Butantan. A tecnologia utilizada pela vacina é a de vírus inativado e são necessárias duas doses para o combate do vírus.

Os testes para estudos clínicos com a CoronaVac começaram em julho de 2020 em oito estados brasileiros e a Anvisa aprovou o seu uso emergencial no país no dia 17 de janeiro.

Vacina AstraZeneca

A AstraZeneca foi criada no Reino Unido, em parceria com a Universidade de Oxford. No Brasil, é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a responsável por sua produção e a tecnologia empregada é o uso do vetor viral.

São necessárias duas doses para o combate do vírus e a aprovação de seu uso emergencial pela Anvisa foi publicada no mesmo dia que a CoronaVac, 17 de janeiro.

Vacina Pfizer

A vacina da Pfizer é desenvolvida pela empresa BioNTech e produzida pela multinacional Pfizer, exige a aplicação de duas doses e se baseia na tecnologia de RNA mensageiro.

A Pfizer foi a primeira vacina a receber o registro definitivo para imunizantes contra a Covid-19 no Brasil. Ao contrário do restante das vacinas, ela teve o seu registro liberado pela Anvisa no dia 23 de fevereiro de 2021, sem o uso emergencial.

O Uruguai foi o primeiro país da América Latina a vacinar pessoas menores de idade com o imunizante da Pfizer.

Janssen

A vacina produzida pela farmacêutica Janssen, da companhia Johnson & Johnson, diferente das outras vacinas, precisa apenas de uma dose e assim como a AstraZeneca, também usa a tecnologia de vetor viral.

Seu uso emergencial ocorreu no Brasil no dia 31 de março de 2021 e ela utilizou a AdVac e PER.C6, tecnologias que foram desenvolvidas pela farmacêutica e colocadas em práticas para imunizantes contra ebola, HIV e zika.

Sobre as tecnologias das vacinas contra a Covid-19

Para entender melhor o que é a tecnologia das vacinas, o Estratégia MED separou para você uma explicação sobre cada uma das que são utilizadas nos imunizantes do Brasil, confira:

Vetor viral

O tipo de vacina de vetor viral usa o adenovírus, para entregar proteínas de interesse e gerar uma resposta imunológica do corpo sem causar doenças. Para produzir a vacina, uma parte da proteína do Sars-CoV-2 é colocada dentro do adenovírus e, quando o indivíduo toma a vacina, o corpo inicia um processo de defesa e produz anticorpos

Esse processo serve como uma plataforma ou vetor para entregar a proteína e desencadear uma resposta imunológica que cria uma memória contra a Covid-19 no corpo, ensinando-o a reconhecer e atacar o vírus.

Vírus inativado

Uma das formas de se fazer a vacina é contrair o vírus ou bactéria que carrega a doença, cultivados em laboratórios para a multiplicação, e depois inativá-los ou matá-los utilizando produtos químicos, calor ou radiação. O corpo recebe a vacina com o vírus já inativado e gera os anticorpos, que ficam incapazes de se replicar e causar doenças.

O Sars-CoV-2, causador da Covid-19 é cultivado em laboratório e tratado com uma substância que o deixa incapaz de cópias. Um exemplo é a vacina da gripe, feita da mesma maneira.

RNA mensageiro

Ao contrário das vacinas que utilizam vírus inativos e vetores virais com o cultivo do vírus em laboratório,  a vacina com RNA mensageiro utiliza o próprio corpo do indivíduo.

O RNA mensageiro transmite uma mensagem para os ribossomos, que indicam os aminoácidos e sequência das proteínas certas para os imunizantes. Dessa forma, vacinas como a Pfizer, utilizam o processo para a mimetização da proteína chamada spike, presentes no Sars-CoV-2 e que o auxiliam a invadir as células humanas. Assim, há uma reação das células do sistema imunológico, que criam uma defesa no organismo.

O que é segurança e eficácia da vacina?

Para desenvolver a vacina é exigido um alto padrão de qualidade. Ou seja, uma pesquisa que inclua testes e avaliação dos resultados pelas agências governamentais, como a Anvisa, que estabelece requisitos mínimos para fases de desenvolvimento demandadas pela Resolução (RDC). Esses requisitos são:

  • Fase exploratória: inicial, onde são avaliadas as moléculas para a melhor composição da vacina;
  • Fase pré-clínica: após a fase exploratória, são feitos testes em animais para comprovação das experimentações; e
  • Fase clínica: investigação nas pessoas e análise dos efeitos para investigar a segurança e eficácia com detalhamento, visando a distribuição em território nacional.

As fases são feitas pelo laboratório fabricante e conforme o resultado, elas são encaminhadas para a Anvisa que, acompanhada pelo Ministério da Saúde, avalia a segurança e os riscos de complicações geradas pelas vacinas, para mitigar ou eliminar os riscos que as doenças geram.

Todos os passos garantem o melhor produto para a população, com prevenção, controle ou até mesmo erradicação de algumas doenças. A eficácia de uma vacina é a capacidade do imunizante com a proteção imunológica, após a terceira fase dos ensaios clínicos. 

Lembrando que a eficácia é o estudo entre os voluntários de uma pesquisa, o número com o impacto da vacina na população é a efetividade.

Vacina universal contra a Covid-19

Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), as vacinas já existentes contra a Covid-19 ensinam o sistema imunológico a reconhecer a proteína spike do Sars-CoV-2, porém, cientistas pensam que futuras mutações podem favorecer variantes irreconhecíveis em pessoas vacinadas.

Por isso, a importância de uma vacina universal contra o  vírus, para a proteção contra as variantes e mutações, além de uma eficácia contra cepas desconhecidas de múltiplos coronavírus que podem surgir.

Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade Duke e do Departamento de Epidemiologia da Universidade da Carolina do Norte fizeram testes com duas plataformas, uma parecida com as vacinas da Pfizer e Moderna, usando RNA mensageiro, e a outra com o uso de nanopartículas de ferritina.

Os testes foram feitos em macacos e camundongos e, segundo a revista Nature, eles tiveram a produção de anticorpos neutralizantes contra diversos sarbecovírus.

A Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA), em abril, deu a aprovação para a fase 1 dos testes clínicos da vacina, iniciados no dia 6 de abril, com participação de 72 pessoas não vacinadas e sem infecção anterior com o vírus.

As informações dos primeiros 25 voluntários sairão em breve e todos serão acompanhados por 18 meses. O propósito da vacina é funcionar contra todas as variantes do Sars-CoV-2 e 1. 

Na costa oeste dos Estados Unidos também estão sendo feitos estudos pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), dessa vez usando nanopartículas em mosaico e avaliando a proteção contra o Sars-CoV-2 e 1 em primatas vacinados e não vacinados. Em caso de sucesso, serão feitos ensaios clínicos em humanos.

Histórico da vacinação no Brasil

A Covid-19 e a Revolta da Vacina

A Revolta da Vacina foi um movimento que ocorreu no Rio de Janeiro, durante a Primeira República, motivado pela rejeição da população em se vacinar, compulsoriamente. Uma das medidas para a modernização da capital era acabar com doenças como a varíola e a febre-amarela, por isso, o médico Oswaldo Cruz criou uma campanha sanitarista.

O problema da lei da vacinação obrigatória foi não esclarecer o que seria a campanha sanitarista, quais eram os seus objetivos e o que continha nas vacinas. A população, então, acreditava que era uma forma de controle do governo que matava as camadas mais pobres da sociedade.

Os agentes sanitários apenas invadiam as casas das pessoas com o uso da força policial e injetavam a vacina, muitas vezes contra a vontade delas. Além disso, os comprovantes de vacinação começaram a ser exigência para a matrícula em escolas e para o emprego das pessoas.

Pode-se relacionar o período com a pandemia da Covid-19. O governo brasileiro, hoje, também precisou recorrer à ciência e medidas sanitárias para conter o surto do vírus no país, assim como o alvo, antes, era a varíola.

Lidar socialmente com o surto de varíola no passado foi um desafio, bem como o que acontece hoje. Apesar do grande acesso à informação, ainda existe a resistência de algumas pessoas para a vacinação.

A varíola é considerada a doença infecciosa que mais causou mortes na história, e graças à vacina, ela foi erradicada em 1980 pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Devido a programas de vacinação presentes no país, doenças como poliomielite, tuberculose e sarampo puderam ser combatidas.

Porém, a resistência à vacinação entrou na lista das 10 ameaças da saúde global da OMS em 2019 e causa preocupação. O estudo chamado “Quando a política colide com a saúde pública: país de origem da vacina COVID-19 e aceitação da vacinação no Brasil”, publicado no site da Science Direct e realizado com 2.771 adultos brasileiros entre setembro e outubro de 2020, mostrou que há uma recusa maior das pessoas com vacinas vindas da Rússia e China em relação às dos Estados Unidos e Inglaterra

Tudo isso mostra a importância de testes com mensagens efetivas, para proporcionarem reais chances de mudança do comportamento individual com relação à necessidade de vacinação. A revolta de 1904 mostrou como o envolvimento da população nas ações de saúde pública e o entendimento da eficácia das vacinas na longevidade humana são importantes.

Se você se interessou pelo assunto e quer saber muito mais sobre o tema, não deixe de acompanhar o blog do Estratégia MED para conferir todas as novidades sobre a medicina!

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