Vacina para HIV cada vez mais próxima!

Vacina para HIV cada vez mais próxima!

A cada dia que passa, o mundo está mais próximo de uma vacina eficaz contra o vírus do HIV. Para saber todas as informações sobre a pesquisa “Mosaico”, a mais avançada em análise, e outros estudos sobre o assunto, acompanhe esse texto!

A pandemia do HIV

O primeiro caso de AIDS registrado no mundo foi no começo da década de 80, já no Brasil, o primeiro caso foi datado em 1983. Segundo a National Geographic Brasil, pesquisadores da época pensavam que estimular o corpo a produzir anticorpos seria a solução para o vírus, assim como vacinas bem-sucedidas de sarampo, varíola e até mesmo da Covid-19. Porém, durante mais de três décadas, cientistas não encontraram uma solução eficaz para o vírus causador da AIDS.

A busca por uma vacina contra o vírus do HIV começou logo após a sua descoberta, em 1984, porém, ele sofre mutações rapidamente e possui variantes que os anticorpos não reconhecem. Ainda no início dos anos 2000, pesquisadores se dedicaram à produção de uma vacina focada na morte das células infectadas, em vez de produzir anticorpos, mas a ideia fracassou

Na década de 1980, surgiram os medicamentos antirretrovirais, que ajudam a manter controlada a carga viral do corpo dos infectados, impedindo a multiplicação do vírus no organismo. Esses medicamentos não matam o HIV, mas evitam o enfraquecimento do sistema imunológico do paciente. O seu uso é fundamental, porém, os medicamentos não são acessíveis em  muitas partes do mundo, por conta das desigualdades sociais existentes.

Segundo o programa UNAIDS, que tem o objetivo de prevenir o avanço do HIV, até o final de 2020, houve quase 35 milhões de mortes por conta da doença desde o começo da pandemia, há quase 40 anos. Por isso, a produção de uma vacina para todos é a ferramenta mais eficaz para erradicá-la e será uma das descobertas mais importantes do mundo. O Estratégia MED separou para você uma tabela das vacinas dos estudos mais avançados, confira:

VacinaLocalDataResultado
RV144Tailândia2003 até 200931% de eficácia
HVTN 702África do Sul2016 até 2020Sem evidências de eficácia
Imbokodo (HVTN 705)África Subsaariana2017 até 2022Em análise
Mosaico (HVTN 706)América Latina, Europa e Estados Unidos2019 até 2023Em análise
PreppVacÁfrica Subsaariana2020 até 2023Análise interrompida pela Covid-19
Dados coletados da Veja Saúde

Sobre os estudos da vacina para HIV

Na falta de marcadores imunológicos de proteção para orientar o desenvolvimento da vacina, pesquisadores vêm realizando ensaios de eficácia em larga escala para identificar possíveis respostas imunológicas. Segundo o New England Journal, existem vários estudos sobre a vacina para HIV ao redor do mundo, dentre eles, dois – RV144, HVTN 702 – já foram finalizados.

Existem outros dois estudos em andamento com vacinas experimentais na fase 3. O chamado PrepVacc, que teria fim em 2023, teve seus estudos interrompidos por conta da Covid-19. Os que estão em análise, Mosaico e Imbokkodo, possuem mais de 6 mil cobaias em países da África, Europa, América Latina e América do Norte. Entenda cada um deles:

Imbokodo

A primeira frente da vacina está localizada na África Subsaariana, que testou o imunizante em 2.637 mulheres heterossexuais e se chama Imbokodo, ou HVTN 705/HPX2008. 

O Imbokodo é inspecionado pelo “Conselho de Monitoramento de Segurança de Dados”, órgão independente. Esse estudo difere do chamado “Mosaico”, que adicionou um segundo componente na vacina proteica – o vetor Bivalent gp140. O Imbokodo utiliza apenas o vetor Ad.26. Essa proteína adicional pode ser a esperança para uma vacina eficaz ao redor do mundo. 

Mosaico

Na fase 1 dos estudos, o imunizante foi testado em macacos e apresentou proteção de 67%, o que foi um marco na pesquisa contra a AIDS, já que a vacina com mais eficácia, anteriormente era a RV144, da Tailândia, que havia apresentado 31% de proteção e foi deixada de lado.

O Mosaico acontece há mais de 15 anos e está em processo de avaliação das duas últimas vacinas projetadas contra as variedades do vírus, que juntas estimulam resposta imunológica ampla para a redução dos riscos de infecção contra o HIV.  O estudo é coordenado pela Rede de Ensaios de Vacinas Anti-HIV, com financiamento da farmacêutica Janssen, da Johnson & Johnson, mesma produtora da vacina contra a Covid-19.

O Mosaico acontece no Brasil, México, Argentina, Itália, Peru, Polônia, Espanha e Estados Unidos e as inscrições para realizar o teste acontecem desde novembro de 2019.  No Brasil, o estudo ocorre em oito centros de pesquisa entre São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Além disso, na capital paulista a pesquisa é realizada na Casa da Pesquisa, vinculada ao Centro de Referência e Treinamento em IST/Aids.

As inscrições para a fase 3 – que testa a eficácia em larga escala nos humanos – estão abertas para 136 voluntários, que recebem quatro doses da vacina e são acompanhados por 30 meses. As duas primeiras doses utilizam o apenas o vetor viral e as duas últimas o vetor viral e o proteico, com um intervalo de três meses cada. A expectativa é de que, a partir da primeira dose, o organismo comece a produzir anticorpos para a defesa contra o HIV.

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também se juntou ao grupo de pesquisa internacional e agora ajuda a coordenar a fase 3 dos testes clínicos da vacina no Brasil.

Segundo o site do estudo Mosaico, os imunizantes não oferecem risco de infecção por HIV, pois não são desenvolvidos com o vírus, sendo ele vivo, morto ou inativado, ou com células humanas infectadas. As vacinas experimentais são feitas de uma proteína produzida artificialmente em laboratório e imitam uma das proteínas da parte externa do vírus.

Além disso, o estudo inclui em sua pesquisa grupos sociais de homens cis homossexuais e mulheres e homens trans entre 18 a 60 anos, com vida sexual ativa e com alta vulnerabilidade à infecção, mas com HIV negativo. A pesquisa analisa os possíveis efeitos colaterais, resposta imunológica e a capacidade de prevenção da vacina.

Vetores utilizados na vacina para HIV

Vetor Ad26.Mos4.HIV

A vacina que utiliza o adenovírus 26, versão enfraquecida do vírus do HIV, que tampouco causa resfriados, trabalha com a tecnologia de vetor, em que são injetadas informações genéticas para a produção de proteínas do HIV dentro de um vírus, utilizado como vetor, e que não afeta os seres humanos. 

O vetor recebe sequências sintéticas do HIV e, com sua aplicação, espera-se um estímulo do corpo para a produção de proteínas parecidas com as do vírus, mas sem o contato direto com ele. Com isso, as proteínas são vistas como invasoras pelo corpo, que estabelece uma resposta imunológica contra elas. Dessa forma, o sistema imunológico estaria pronto para reconhecer e combater as proteínas do vírus.

Vetor Bivalent gp140

A vacina Bivalent gp14 também estimula a resposta imunológica por anticorpos, porém é feita de proteínas sintéticas similares a uma estrutura encontrada na superfície do HIV, sendo aplicada como um reforço à vacina viral.

Por meio dessa vacina, pesquisadores conseguiram causar o estímulo de células imunes, raras e neutralizantes, que até então eliminavam até mesmo as mutações do vírus do HIV. As proteínas do sangue utilizadas são conhecidas como “anticorpos amplamente neutralizantes”, ou bnAbs e são capazes de se ligar às superfícies da cápsula do vírus, enquanto o desabilita por regiões de difícil acesso.

Outros estudos e pesquisas atuais da vacina para HIV

Além do Imbokkodo e Mosaico, já na fase 3, existem outros estudos, de fase 1, e pesquisas que estão sendo realizadas para ajudar a combater o vírus do HIV, confira:

Vacina com RNA Mensageiro

A IAVI e a Scripps Research já estão fazendo parceria com a empresa Moderna de biotecnologia para o desenvolvimento de uma vacina contra o HIV baseada na utilização de RNA mensageiro, capaz de codificar a sequência de proteínas certas para os imunizantes, o que pode acelerar o desenvolvimento da vacina.

Vacina HIVconsvX

Pesquisadores da Universidade de Oxford começaram, no dia 5 de julho de 2021, no Reino Unido, o teste para a fase 1 de um novo imunizante contra o HIV, chamada HIVconsvX.  Esse ensaio faz parte da European Aids Vaccine Initiative (EAVI2020), chama-se HIV-Core 0052 e avalia a segurança, tolerabilidade e imunogenicidade da vacina.

O teste será feito em 13 adultos saudáveis, soronegativos, entre 18 e 65 anos e sem alto risco de infecção. Eles receberam inicialmente uma dose da vacina e após 1 mês, receberão outra dose de reforço.

A vacina HIVconsvX tem como alvo uma grande quantidade de variantes do vírus e torna-se aplicável contra as cepas do HIV em qualquer lugar do mundo. Outras vacinas contra o HIV candidatas induzem anticorpos gerados pelas células B do sistema imunológico, já a vacina do estudo HIV-CORE 0052 induz as células T, destrói patógenos e as direciona para regiões vulneráveis do vírus.

Os resultados do ensaio serão divulgados pelos pesquisadores até abril de 2022.

Vacina para HIV do Instituto de Pesquisa Scripps e IAVI

A vacina desenvolvida pelo Instituto de Pesquisa Scripps, em parceria com a Iniciativa Internacional pela Vacina da Aids (Iavi), nos Estados Unidos, obteve sucesso. Durante a fase 1 dos testes clínicos em humanos, a pesquisa utilizou 48 voluntários adultos soronegativos, que foram divididos entre receber duas doses do imunizante ou o placebo, e ela desenvolveu resposta imune em 97% dos vacinados. Estudos de fase 2 e 3 devem ser realizados a seguir.

Pesquisa do departamento de Saúde e Serviços Humanos e NIH

No dia 17 de julho de 2021, foi aberto um edital do Projeto de Departamento de Saúde e Serviços Humanos, em parceria com a organização do National Institutes of Health (NIH), com o objetivo de apoiar pesquisas com a abordagem de interação entre doenças não transmissíveis (DNT’s) e o HIV, em instituições nacionais de países de baixa e média renda

O programa será financiado pela Funding Opportunity Announcement (FOA) e terá como objetivo descobrir até que nível a infecção pelo vírus do HIV influencia a existência das DNT’s, com diagnósticos, prevenção, intervenções, cuidados clínicos e novas ideias para diminuir o sofrimento ao longo prazo dos distúrbios.

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