Caso clínico de Dermatite Atópica: abordagem, diagnóstico e mais!
Estratégia MED.

Caso clínico de Dermatite Atópica: abordagem, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! Vamos acompanhar a história de uma criança que apresenta sintomas dermatológicos persistentes e incômodos, com impacto significativo em sua rotina e bem-estar. O caso aborda uma condição frequente na infância, associada a antecedentes alérgicos e que exige atenção cuidadosa tanto no diagnóstico quanto no manejo clínico. 

Informações do paciente 

Nome: Beatriz Ferreira da Silva

Idade: 6 anos

Motivo da consulta: Lesões na pele com coceira intensa, especialmente nas dobras dos braços e joelhos.

Histórico da moléstia atual  

A mãe de Beatriz relata que, há cerca de oito meses, surgiram lesões pruriginosas na pele da criança, inicialmente localizadas nas dobras dos braços e joelhos. As lesões se apresentam avermelhadas, descamativas e, em alguns momentos, exsudativas devido à coceira intensa

Observa-se um padrão de recorrência, com períodos de melhora intercalados por agravamentos, especialmente em dias mais quentes, após banhos longos ou quando a criança está mais ansiosa. Durante as crises, a coceira se intensifica, levando à formação de escoriações e espessamento da pele. A mãe também notou piora quando Beatriz entra em contato com poeira ou roupas de lã.

História patológica pregressa  

Beatriz é uma criança com diagnóstico prévio de asma brônquica, com episódios ocasionais de sibilância e uso esporádico de broncodilatadores. Também apresenta rinite alérgica, manifestada por crises de espirros, coriza e congestão nasal, principalmente durante mudanças de clima. Não faz uso contínuo de medicamentos, nunca foi hospitalizada e não possui histórico de cirurgias prévias. Não há relatos de alergias medicamentosas conhecidas até o momento.

Histórico familiar  

A família de Beatriz apresenta antecedentes significativos de condições atópicas. A mãe tem histórico de eczema e rinite alérgica, enquanto o pai é portador de bronquite asmática desde a adolescência. Não há casos conhecidos de doenças autoimunes, imunodeficiências ou câncer na família. Esses antecedentes reforçam a predisposição genética da paciente para manifestações alérgicas e dermatológicas.

Histórico social 

Beatriz reside com os pais e um irmão em ambiente urbano. Não há fumantes no domicílio, e o local possui ventilação adequada, embora haja presença eventual de poeira, especialmente em estofados e cortinas. A alimentação da criança é pouco variada, com consumo reduzido de frutas e verduras.

Não pratica atividades físicas regularmente e passa grande parte do tempo em ambientes fechados. O sono costuma ser interrompido durante a noite devido à coceira. A mãe relata que períodos de maior estresse emocional, como provas escolares, coincidem com piora das lesões cutâneas.

Exame físico 

Ao exame físico, Beatriz apresenta-se em bom estado geral, normocolorada e hidratada, com sinais vitais dentro da normalidade. A inspeção da pele revela lesões eritematosas, descamativas e áreas de liquenificação nas fossas cubitais e poplíteas, bilateralmente. Há presença de escoriações lineares associadas ao ato de coçar. A pele em geral apresenta aspecto ressecado (xerodermia), especialmente em membros e tronco. Observa-se ainda prega de Dennie-Morgan nas pálpebras inferiores. Não há sinais de infecção secundária como pústulas, crostas purulentas ou linfadenomegalias regionais.

Exames complementares

Foram solicitados exames complementares com o objetivo de avaliar possíveis fatores associados e excluir diagnósticos diferenciais. Incluem-se:

  • IgE sérica: 880 UI/mL (valores de referência: até 150 UI/mL) – elevada
  • Hemograma completo: dentro dos limites da normalidade, sem leucocitose ou eosinofilia significativa
  • Zinco sérico: 82 mcg/dL (valores de referência: 70–120 mcg/dL) – normal
  • Teste alérgico de contato (patch test): reações positivas para ácaros da poeira e pelo de animais
  • Biópsia de pele: não realizada, considerada desnecessária pela clínica típica do quadro.

Hipótese diagnóstica 

O quadro clínico de Beatriz, com lesões pruriginosas crônicas, presença de liquenificação em regiões de dobras cutâneas, história familiar de atopia e ressecamento cutâneo difuso, é compatível com o diagnóstico de dermatite atópica

A apresentação é típica da fase pré-puberal, com envolvimento predominante das áreas flexoras e recorrência dos sintomas. A presença de prega de Dennie-Morgan, associada à elevação de IgE sérica, reforça o diagnóstico clínico, de acordo com os critérios de Hanifin e Rajka. Trata-se de uma doença de curso crônico e flutuante, com períodos de exacerbação intercalados por remissão.

Condutas

A conduta foi baseada na gravidade moderada do quadro e incluiu medidas gerais associadas à terapia farmacológica. Orientou-se hidratação da pele duas vezes ao dia com creme sem fragrância contendo ureia 5%, além de banhos rápidos com água morna, uso de sabonete neutro, e secagem suave da pele, sem fricção.

Para controle do prurido, foi prescrita loratadina 5 mg/dia por 10 dias. Para as lesões, iniciou-se fluticasona tópica 0,05%, aplicada em camada fina duas vezes ao dia até melhora. Orientou-se evitar contato com alérgenos ambientais, manter as unhas curtas, evitar roupas de lã e reforçar cuidados em períodos de estresse. Agendado retorno em 15 dias para reavaliação e possível ajuste terapêutico.

Perguntas 

  1. Quais são os principais critérios para diagnóstico clínico de dermatite atópica?

O diagnóstico é baseado nos critérios de Hanifin e Rajka, que incluem prurido, padrão morfológico e distribuição das lesões, recorrência crônica e histórico de atopia pessoal ou familiar. É necessário cumprir ao menos três critérios maiores e três menores.

  1. Por que é importante manter a pele hidratada em pacientes com dermatite atópica?

A pele desses pacientes apresenta alteração na barreira cutânea, o que aumenta a perda de água e facilita a entrada de irritantes e alérgenos. A hidratação regular ajuda a restaurar a função de barreira, reduzindo a frequência e a gravidade das crises.

  1. Quais medicamentos são indicados nos casos moderados de dermatite atópica?

Em casos moderados, recomenda-se o uso de anti-histamínicos orais para alívio do prurido, como loratadina, e corticosteroides tópicos de média potência, como fluticasona ou mometasona, aplicados nas áreas lesadas até melhora do quadro.

Resumo de dermatite atópica

Definição

Dermatite atópica é uma inflamação crônica e recorrente da pele, caracterizada por prurido intenso, ressecamento cutâneo, lesões eczematosas e liquenificação. É uma dermatose de base imune, associada à disfunção da barreira cutânea e à hiperreatividade inflamatória. Também é chamada de eczema atópico e costuma iniciar-se na infância.

Epidemiologia

Afeta cerca de 10% das crianças e 1% dos adultos, com início em até 50% dos casos antes de 1 ano de idade. A relação entre mulheres e homens acometidos é de aproximadamente 1,3:1. É comum sua associação com asma brônquica e rinite alérgica.

Fatores de risco

  • História familiar de atopia (eczema, asma, rinite);
  • Pele seca (xerose);
  • Exposição a alérgenos ambientais (ácaros, pelos de animais, mofo, pólen);
  • Estresse emocional;
  • Climas extremos;
  • Mutação genética (ex.: gene FLG).

Quadro clínico

O quadro varia com a idade. Em crianças, predominam lesões exsudativas e pruriginosas em áreas como face e dobras. Em maiores de 2 anos e adultos, as lesões tornam-se espessadas e descamativas, com predomínio nas áreas flexoras (fossas cubitais e poplíteas). A coceira é constante e intensa, levando a escoriações. Pode haver xerodermia, prega de Dennie-Morgan, hiperpigmentação periocular e ceratose pilar.

Diagnóstico

É clínico, baseado nos critérios de Hanifin e Rajka, que exigem pelo menos 3 critérios maiores (como prurido, lesões típicas, cronicidade e história familiar de atopia) e 3 menores (como xerose, IgE elevada, prega de Dennie-Morgan, entre outros). Exames laboratoriais como IgE sérica e patch test podem auxiliar, mas não são essenciais.

Tratamento

  • Medidas gerais: hidratação regular da pele, evitar banhos longos e quentes, uso de sabonetes neutros, evitar alérgenos e roupas irritantes.
  • Casos leves: medidas gerais são suficientes.
  • Casos moderados e graves: uso de anti-histamínicos orais e corticosteroides tópicos (potência conforme a idade e local das lesões).
  • Imunomoduladores tópicos (como tacrolimo e pimecrolimo) podem ser usados como alternativa.
  • Casos refratários: fototerapia ou imunossupressores (ex.: ciclosporina) em adultos.
  • Exacerbações agudas: em adolescentes ou adultos, pode-se utilizar corticoterapia sistêmica por curto período.
  • Prevenção de recaídas: aplicação intermitente de corticoide ou imunomodulador tópico em áreas previamente lesadas por até 16 semanas.

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Referências Bibliográficas 

  1. Instituto Nacional De Artrite E Doenças Musculoesqueléticas E De Pele (Niams). Atopic Dermatitis–Eczema Symptoms & Causes. Bethesda: U.S. Department of Health and Human Services, National Institutes of Health, 2023. 
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