Caso clínico de Gota: abordagem, diagnóstico e mais!

Caso clínico de Gota: abordagem, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A gota é uma condição inflamatória causada pelo acúmulo de cristais de urato monossódico nas articulações, geralmente associada à hiperuricemia prolongada. Este caso clínico descreve a apresentação, evolução e abordagem terapêutica de um paciente masculino que procurou atendimento médico devido a uma crise aguda de dor articular, ilustrando aspectos relevantes para o diagnóstico e o manejo dessa enfermidade.

Informações do paciente 

Nome: J.C.S

Sexo: masculino

Idade: 47 anos

Motivo da consulta: Dor intensa e inchaço súbito no dedão do pé direito, iniciada durante a madrugada.

Histórico da moléstia atual  

J.C.S relata dor intensa no primeiro pododáctilo direito, com início súbito durante a madrugada, após um jantar com consumo de frutos do mar e grande ingestão de cerveja. Observa que a articulação está extremamente sensível, avermelhada e inchada, o que o impede de caminhar normalmente. Recorda episódios semelhantes mais leves nos últimos anos, mas destaca que esta crise é a mais severa. Usou analgésicos comuns, com alívio parcial dos sintomas, mas sem resolução completa.

História patológica pregressa  

Paciente com histórico de hipertensão arterial em uso de hidroclorotiazida há três anos. Nega alergias medicamentosas conhecidas. Nunca foi submetido a cirurgias prévias.

Histórico familiar  

Refere que seu pai foi diagnosticado com gota na idade adulta, apresentando episódios frequentes de dor articular.

Histórico social 

Relata consumo regular de álcool, especialmente cerveja nos finais de semana. Nega tabagismo. Diz ter um padrão de sono irregular e vida sedentária. Sua alimentação é rica em carnes vermelhas, frutos do mar e embutidos, e refere dificuldade em manter hábitos alimentares saudáveis.

Exame físico 

Paciente em bom estado geral, alerta e orientado em tempo e espaço. Apresenta marcha claudicante devido à dor intensa no pé direito.
Sinais vitais: Pressão arterial 135/85 mmHg, frequência cardíaca 88 bpm, temperatura axilar 36,8ºC, frequência respiratória 18 irpm, saturação de oxigênio 98% em ar ambiente.

Na inspeção do pé direito, observa-se edema importante, hiperemia intensa e calor local na articulação metatarsofalangeana do primeiro dedo (podagra clássica). À palpação, o paciente refere dor excruciante, incapaz de suportar o toque leve na articulação acometida. Não há presença de feridas, úlceras ou secreção purulenta local. As articulações contralaterais e restantes articulações dos membros inferiores não apresentam alterações.

Exame dos outros sistemas sem alterações relevantes:

  • Cardiovascular: ritmo cardíaco regular, sem sopros.
  • Respiratório: murmúrio vesicular preservado, sem ruídos adventícios.
  • Abdome: plano, flácido, indolor à palpação superficial e profunda, sem visceromegalias.
  • Neurológico: sensibilidade preservada, força muscular preservada em membros superiores e inferiores, reflexos tendíneos normais.
Starpearls.

Exames complementares

Solicitados: punção articular para análise do líquido sinovial, pesquisa de cristais, Gram e cultura; exames laboratoriais; e exames de imagem para avaliação articular.

Exames laboratoriais

  • Hemograma completo: discreta leucocitose
  • PCR elevado
  • Creatinina e ureia dentro da normalidade
  • Ácido úrico sérico: 9,8 mg/dl
  • Urina tipo 1: sem alterações relevantes

Exames de imagem

  • Raio-X do pé: ausência de erosões típicas neste momento.
  • Ultrassom abdominal: sem evidências de nefrolitíase.

Hipótese diagnóstica 

J.C.S apresenta quadro clínico sugestivo de gota aguda, desencadeada pelo excesso de ingestão de alimentos ricos em purinas e álcool. A confirmação será realizada por análise do líquido sinovial, onde se espera encontrar cristais de urato monossódico. O histórico familiar, uso de diuréticos e hábitos alimentares reforçam a suspeita. Será iniciado tratamento da crise e orientações para manejo crônico da hiperuricemia.

Conduta

Inicialmente, foi orientado repouso com elevação do membro acometido e aplicação de gelo local para controle da dor e inflamação. Para o manejo da crise aguda, foi prescrito ibuprofeno 600 mg, com administração de 8/8 horas enquanto persistirem os sintomas. Foi evitado o uso de ácido acetilsalicílico, devido ao risco de piora da hiperuricemia.

A punção articular foi realizada, confirmando a presença de cristais de urato monossódico com birrefringência negativa. Após melhora da crise, será iniciado tratamento para redução de ácido úrico sérico, com previsão de iniciar colchicina 0,5 mg a cada 12 horas como profilaxia por 6 meses, seguido de introdução gradual de alopurinol, visando níveis de ácido úrico abaixo de 6 mg/dl.

Foram feitas orientações quanto à mudança de hábitos alimentares, com restrição de alimentos ricos em purinas (carnes vermelhas, frutos do mar, vísceras) e redução do consumo de bebidas alcoólicas, principalmente cerveja. Incentivou-se a hidratação adequada e a perda ponderal progressiva, evitando dietas restritivas bruscas.

Agendada consulta de reavaliação em 2 semanas para seguimento clínico e ajuste terapêutico conforme evolução.

Perguntas 

  1. Por que o dedão do pé é frequentemente acometido na gota?
    Porque a temperatura mais baixa nas extremidades favorece a precipitação dos cristais de urato monossódico.
  1. Quais fatores podem precipitar uma crise de gota?
    Consumo de álcool, alimentos ricos em purinas, desidratação, traumas articulares e uso de certos medicamentos como diuréticos tiazídicos.
  1. A presença de ácido úrico elevado confirma o diagnóstico de gota?
    Não obrigatoriamente. Embora a hiperuricemia seja um fator de risco, o diagnóstico deve ser confirmado pela detecção de cristais de urato no líquido sinovial.

Resumo de Gota 

Conceito

Gota é uma artrite inflamatória causada pelo depósito de cristais de urato monossódico nas articulações e tecidos adjacentes, decorrente da hiperuricemia. Embora o aumento do ácido úrico no sangue seja necessário para o desenvolvimento da doença, nem todo paciente hiperuricêmico apresenta sintomas.

Epidemiologia e fatores de risco

Acomete cerca de 3% da população mundial, sendo mais frequente em homens entre 30 e 50 anos e em mulheres após a menopausa. A prevalência é maior em países com padrão alimentar rico em carnes, frutos do mar e bebidas alcoólicas.


Principais fatores de risco

  • Consumo excessivo de alimentos ricos em purinas
  • Ingestão regular de álcool (especialmente cerveja e vinho)
  • Uso de diuréticos tiazídicos
  • Obesidade e síndrome metabólica
  • Insuficiência renal crônica
  • História familiar de gota

Sintomas

As manifestações iniciam com crises súbitas de dor intensa, calor, inchaço e vermelhidão em articulações periféricas, principalmente na primeira articulação metatarsofalangeana (podagra). Com o tempo, pode evoluir para episódios mais frequentes, envolvendo múltiplas articulações e formação de tofos (depósitos subcutâneos de cristais).

Diagnóstico

O diagnóstico clínico é apoiado pela presença de quadro típico de monoartrite e histórico de hiperuricemia. A confirmação definitiva ocorre pela identificação de cristais de urato monossódico no líquido sinovial, com birrefringência negativa sob luz polarizada. Exames complementares como dosagem de ácido úrico, hemograma, PCR e avaliação renal também são utilizados.

Tratamento

O manejo da crise aguda é feito com anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), colchicina ou corticoides. A longo prazo, busca-se reduzir os níveis de ácido úrico sérico utilizando medicamentos como alopurinol (inibidor da xantina oxidase) ou uricosúricos como a benzbromarona. Orientações dietéticas e controle dos fatores de risco associados são fundamentais para a prevenção de novas crises e complicações.

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Referências Bibliográficas 

  1. FENANDO, Ardy; REDNAM, Manjeera; GUJARATHI, Rahul; WIDRICH, Jason. Gout. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. 
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