E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre o endométrio, um tecido composto por vários vasos sanguíneos e glândulas que cobrem a parte interna do útero, sendo de extrema importância no ciclo menstrual.
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Composição do endométrio
O endométrio é a camada interna do útero que sofre mudanças cíclicas em resposta às variações hormonais ao longo do ciclo menstrual. Ele é composto por duas camadas principais: a camada funcional e a camada basal.
A camada funcional é a porção mais superficial do endométrio que prolifera e é descartada a cada ciclo menstrual, caso não ocorra gravidez. Essa camada é composta por uma zona intermediária (stratum spongiosum) e uma zona compacta superficial (stratum compactum).
Durante a fase secretora do ciclo menstrual, as glândulas endometriais da camada funcional formam vacúolos contendo glicogênio, preparando o endométrio para a possível implantação do embrião.
Por outro lado, a camada basal é a região mais profunda do endométrio e não sofre proliferação mensal significativa. Em vez disso, ela atua como a fonte de regeneração endometrial após cada menstruação.
Acredita-se que as células-tronco endometriais possam residir na camada basal, contribuindo para a regeneração do endométrio. Estudos sugerem a existência de uma pequena população de células epiteliais e estromais com características de células-tronco endometriais, embora ainda não haja documentação definitiva desse fato. Essas células podem desempenhar um papel crucial na manutenção da saúde e regeneração do endométrio.
Fases do ciclo menstrual relacionadas ao endométrio
O ciclo menstrual pode ser analisado e dividido de duas maneiras principais, relacionadas tanto à ovulação quanto às mudanças no endométrio uterino. Em relação a ovulação pode ser dividido em: fase folicular, ovulação e fase lútea.
Relacionadas ao endométrio, as fases são:
Fase proliferativa (Fase estrogênica)
Durante a fase proliferativa do ciclo menstrual, que ocorre antes da ovulação, os níveis de estrogênio estão aumentados. Nesta fase, o endométrio começa a se reconstruir após a menstruação anterior.
As células do estroma e as células epiteliais proliferam rapidamente sob a influência dos estrogênios secretados pelos ovários. A superfície endometrial é reepitelizada cerca de 4 a 7 dias após o início da menstruação.
O endométrio aumenta sua espessura devido ao crescimento das células estromais, das glândulas endometriais e de novos vasos sanguíneos. No momento da ovulação, o endométrio atinge uma espessura de 3 a 5 milímetros, preparando-se para a possível implantação de um óvulo fertilizado.
Fase secretora (Fase progestacional)
Durante a fase secretora do ciclo menstrual, que ocorre após a ovulação, o corpo lúteo secretará grandes quantidades de progesterona e estrogênio. Esses hormônios desempenham papéis essenciais na preparação do endométrio para a possível implantação de um óvulo fertilizado.
Os estrogênios causam uma leve proliferação celular adicional no endométrio, enquanto a progesterona promove um inchaço e um desenvolvimento secretor acentuados do endométrio. Essas mudanças são fundamentais para criar um ambiente favorável para a implantação do óvulo fertilizado.
Durante a fase secretora, o endométrio atinge seu pico de espessura, geralmente cerca de uma semana após a ovulação, com uma espessura de 5 a 6 milímetros.
Neste momento, o endométrio está altamente secretor e contém uma grande quantidade de nutrientes armazenados, prontos para prover condições ideais para a possível gravidez.
Essas alterações endometriais são essenciais para garantir que o útero esteja preparado para receber e nutrir um embrião em caso de fertilização bem-sucedida.
Menstruação
A menstruação é a fase do ciclo menstrual em que ocorre a descamação do endométrio, caso não haja implantação do óvulo fertilizado. Essa fase é desencadeada pela redução dos níveis de estrogênio e progesterona, especialmente da progesterona, no final do ciclo ovariano.
A diminuição desses hormônios leva à redução da estimulação das células endometriais, seguida pela involução do endométrio para cerca de 65% de sua espessura prévia.
Nas 24 horas que antecedem a menstruação, os vasos sanguíneos tortuosos que levam às camadas mucosas do endométrio tornam-se vasoespásticos, possivelmente devido à liberação de substâncias vasoconstritoras, como as prostaglandinas.
Durante a menstruação, o útero se contrai para expelir o tecido endometrial e o sangue, que dura em média de 3 a 7 dias. A perda de sangue durante a menstruação cessa quando o endométrio já se reepitelizou, geralmente de 4 a 7 dias após o início do sangramento.
Durante esse período, grandes quantidades de leucócitos são liberadas juntamente com o material necrótico e o sangue, conferindo ao útero uma resistência às infecções, apesar das superfícies endometriais estarem desprotegidas.
Principais doenças relacionadas ao endométrio
A saúde do endométrio desempenha um papel crucial no bem-estar ginecológico e reprodutivo das mulheres. Entretanto, algumas doenças podem acometer esse tecido.
Adenomiose
A adenomiose é uma condição ginecológica em que o tecido endometrial cresce no músculo uterino. Caracterizada por sintomas como sangramento menstrual intenso, dor durante o sexo e menstruação dolorosa, é mais comum em mulheres acima de 40 anos.
O diagnóstico é geralmente clínico, com a confirmação muitas vezes exigindo histerectomia.
O tratamento varia de anti-inflamatórios e contraceptivos hormonais a procedimentos mais invasivos, dependendo da idade da paciente e do desejo de preservar a fertilidade. O acompanhamento médico é crucial para decidir a abordagem mais adequada.
Endometriose
A endometriose é uma condição ginecológica em que o tecido endometrial cresce fora da cavidade uterina, comumente no fundo de saco, ovários e peritônio.
Estima-se que afete aproximadamente 10% da população feminina em geral, com taxas mais elevadas em mulheres com infertilidade e Dor Pélvica Crônica (DPC). Os sintomas incluem dor intensa durante a menstruação, dor pélvica, dispareunia e sangramento irregular.
Essa dor pode começar até duas semanas antes do início da menstruação e se manifestar na linha média, na parte inferior do abdome, no dorso e no reto.
Outros sintomas frequentes são dispareunia (dor durante o sexo), sangramento irregular mesmo em ciclos ovulatórios, e sintomas não ginecológicos como urgência urinária, distensão abdominal e, ocasionalmente, hematoquezia ou hematúria.
O diagnóstico é desafiador, geralmente envolvendo procedimentos invasivos como laparoscopia. O tratamento abrange opções farmacológicas, como anti-inflamatórios e contraceptivos hormonais, até intervenções cirúrgicas, como ablação ou ressecção de lesões endometrióticas. Em casos graves, a histerectomia com remoção dos ovários pode ser considerada.
A abordagem terapêutica é individualizada, considerando a idade da paciente, objetivos reprodutivos e resposta aos tratamentos. A gestão a longo prazo é crucial, pois a endometriose pode recorrer mesmo após tratamentos bem-sucedidos.
Endometrite
A endometrite é uma condição caracterizada pela inflamação do endométrio, a camada interna do útero. Essa inflamação pode ser desencadeada por diversos fatores, incluindo doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como clamídia e gonorreia.
Além disso, procedimentos médicos como abortos, curetagem, partos, cesarianas, histeroscopia e inserção de dispositivos intrauterinos (DIU) também podem aumentar o risco de desenvolver endometrite.
Outros fatores de risco incluem condições clínicas como diabetes, obesidade e doenças circulatórias. A presença de infecções em órgãos adjacentes também pode contribuir para o desenvolvimento da endometrite.
Os sintomas mais comuns da endometrite incluem corrimento vaginal, dor nas relações sexuais (dispareunia) e sensibilidade ao toque durante o exame ginecológico.
O reconhecimento precoce desses sinais é fundamental para garantir uma intervenção médica adequada e prevenir complicações decorrentes da inflamação do endométrio.
Pólipos endometriais
Pólipos endometriais, frequentemente assintomáticos, podem causar sangramento irregular e estão associados a condições como uso de tamoxifeno, dismenorreia e infertilidade.
O diagnóstico é feito por ultrassonografia e confirmado por procedimentos como histeroscopia. Não há consenso sobre a remoção de pólipos sem sintomas. Estudos indicam regressão espontânea, principalmente em pólipos menores, mas a tendência à transformação maligna é baixa antes da menopausa e aumenta após.
A remoção é comum, tornando a avaliação do risco de malignidade desafiadora, variando de 0,2 a 24% para alterações pré-malignas e de 0 a 13% para neoplasia maligna, com riscos mais elevados pós-menopausa.
De olho na prova!
PB – Hospital de Emergência e Trauma Sen. Humberto Lucena – HEETSHL – 2020
Assinale a resposta CORRETA:
A) Durante a fase folicular, a progesterona suprime a produção do hormônio luteinizante (LH na adeno-hipófise).
B) A progesterona torna o endométrio receptivo à nidação. Como efeito secundário, diminui levemente a temperatura basal da mulher.
C) Designa-se oligomenorreia ciclos regulares com intervalos de 21 dias ou menos.
D) A inibina é sintetizada pelas células da teca dos folículos ovarianos, tem a ação inibidora específica sobre o GnRH.
E) A concentração alta de estrógeno inicialmente reduz o pulso de LH e FSH.
Opção correta: Alternativa “E”
Comentário da questão:
A) Incorreta alternativa “A” e correta alternativa “E”,o estradiol possui um efeito bimodal. No início do ciclo, os níveis crescentes de estradiol inibem o LH e FSH. Entretanto,no final da fase folicular, valores acima de 200 pg/ml, por um período mínimo de 50 horas provocam feedback positivo, gerando o pico de LH e, consequentemente, a ovulação.
Além disso, o discreto aumento da progesterona 24 horas antes da ovulação também contribui para o pico de LH.
B) Incorreta alternativa “B”, na segunda fase do ciclo endometrial (fase secretora), a progesterona estimula a diferenciação das glândulas, que se tornam mais tortuosas e começam a secretar glicogênio e glicoproteínas.As arteríolas espiraladas se tornam menos resistentes, para facilitar a implantação e nutrição do embrião. Entretanto, o efeito da progesterona é de aumentar a temperatura basal de 0,5-1°C.
C) Incorreta alternativa “C”, a oligomenorreia é definida como a presença de ciclos menstruais com intervalo superior a 35 dias. A tabela abaixo traz as denominações das variações do ciclo menstrual. Apesar de a FIGO orientar desde 2017 que esses nomes não sejam mais utilizados, para as provas, você deve sabê-los.
D) Incorreta alternativa “D”, a inibina B é secretada pelas células da granulosa dos folículos e é responsável pela inibição do FSH.
E) Correta!
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Referências
GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier.13ª ed., 2017. -MENAKER, L
BEREK,JonathanS. Tratado de Ginecologia.15.ed.[s.l.]:GrupoGen-GuanabaraKoogan,2014.