Resumo da Doença de Kikuchi-Fujimoto: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo da Doença de Kikuchi-Fujimoto: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Doença de Kikuchi-Fujimoto, também conhecida como linfadenite histiocítica necrotizante, uma condição rara e autolimitada que acomete principalmente adultos jovens, caracterizada por linfadenopatia cervical dolorosa associada a febre e sintomas sistêmicos. 

Apesar de sua apresentação clínica muitas vezes sugerir infecções graves ou até linfomas, trata-se de uma doença benigna de provável origem imunomediada, com evolução geralmente favorável.

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Vamos nessa!

Definição de Doença de Kikuchi-Fujimoto

A doença de Kikuchi-Fujimoto, também conhecida como linfadenite histiocítica necrotizante, corresponde a um processo inflamatório raro de natureza benigna e curso autolimitado, descrito inicialmente no Japão em 1972. 

Embora tenha sido mais frequentemente identificada em populações asiáticas, afeta indivíduos de diferentes faixas etárias e origens étnicas. Caracteriza-se por um processo imunomediado que envolve principalmente linfonodos, com achados histopatológicos típicos marcados por necrose e infiltrado de histiócitos, sem participação significativa de neutrófilos e eosinófilos. 

Sua etiologia não está totalmente esclarecida, sendo proposta uma possível relação com respostas imunes desencadeadas por agentes infecciosos ou mecanismos autoimunes. A doença possui relevante importância clínica por integrar o diagnóstico diferencial de linfadenopatias associadas a infecções, neoplasias hematológicas e doenças autoimunes, especialmente devido à semelhança histológica com a linfadenite do lúpus eritematoso sistêmico. 

Etiologia da Doença de Kikuchi-Fujimoto

A etiologia da doença de Kikuchi-Fujimoto permanece indefinida e baseia-se principalmente em duas hipóteses: infecciosa e autoimune. A teoria infecciosa sugere que agentes virais ou bacterianos possam desencadear a resposta inflamatória característica da doença. 

Entre os vírus investigados estão Epstein-Barr vírus, citomegalovírus, herpesvírus humanos e parvovírus B19, enquanto possíveis agentes bacterianos incluem Bartonella henselae, Yersinia enterocolitica e Brucella. Apesar disso, nenhum patógeno específico foi comprovado como causa direta, e exames microbiológicos geralmente são negativos, reforçando a ausência de uma origem infecciosa confirmada.

A hipótese autoimune é sustentada pela identificação de predisposição genética em indivíduos portadores de determinados alelos do complexo HLA de classe II, como HLA-DPA1 e HLA-DPB1, mais prevalentes em populações asiáticas, onde a doença é mais frequente. 

Além disso, a doença de Kikuchi-Fujimoto apresenta associação com distúrbios autoimunes, em especial o lúpus eritematoso sistêmico, além de síndrome de Sjögren, artrite reumatoide, granulomatose com poliangeíte e doença de Still. 

Essas associações indicam a participação de mecanismos imunomediados na sua fisiopatogênese, sendo possível que condições autoimunes antecedam, coexistam ou se desenvolvam após o quadro inicial.

Fisiopatologia da Doença de Kikuchi-Fujimoto

A fisiopatologia da doença de Kikuchi-Fujimoto ainda não está completamente esclarecida, mas acredita-se que envolva uma resposta imunológica exagerada desencadeada por fatores infecciosos, predisposição autoimune ou algum tipo de agressão tecidual. 

Esses estímulos ativariam uma cascata inflamatória mediada principalmente por linfócitos T citotóxicos, levando à apoptose celular nos linfonodos e à liberação de citocinas pró-inflamatórias. 

Esse processo resulta na necrose característica observada histologicamente. A intensa ativação imune também explica a possível associação da doença com condições autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, e, em casos raros, com neoplasias linfoproliferativas.

Manifestações clínicas da Doença de Kikuchi-Fujimoto

As manifestações clínicas da doença de Kikuchi-Fujimoto apresentam início agudo ou subagudo e evoluem ao longo de semanas. A característica predominante é a linfadenopatia cervical posterior unilateral dolorosa, descrita em 60% a 90% dos casos, podendo também atingir linfonodos supraclaviculares e axilares. 

Os linfonodos acometidos costumam ser móveis, não supurativos e medem entre 1 e 2 cm, embora diámetros maiores, de até 7 cm, tenham sido relatados. Em até 22% dos pacientes, a linfadenopatia pode ser bilateral ou generalizada.

Frequentemente, o quadro acompanha-se de sintomas sistêmicos semelhantes aos das chamadas “sintomas B”, como febre, perda de peso, sudorese noturna, fadiga, cefaleia, artralgias, odinofagia e manifestações digestivas como náuseas e vômitos. Em menor proporção, observam-se hepatoesplenomegalia e, ocasionalmente, envolvimento de medula óssea e sistema nervoso.

Alterações cutâneas ocorrem em cerca de 40% dos casos e apresentam-se de forma variada, podendo incluir exantema maculopapular, lesões morbiliformes, nódulos, pápulas, eritema malar, alopecia difusa e alterações semelhantes às do lúpus cutâneo. Em apresentações mais graves, podem surgir púrpuras ou petéquias associadas à vasculite.

A apresentação clínica pode diferir entre crianças e adultos. Em pacientes pediátricos, observa-se maior frequência de febre persistente e quadros mais intensos, com maior predisposição a necrose linfonodal.

Diagnóstico da Doença de Kikuchi-Fujimoto

O diagnóstico da doença de Kikuchi-Fujimoto é desafiador devido à sua raridade e à apresentação clínica variável, não existindo critérios padronizados. Inicialmente, é necessário excluir outras causas de linfadenopatia, como infecções, neoplasias e doenças autoimunes.

Exames laboratoriais podem revelar elevação discreta de marcadores inflamatórios, aminotransferases e lactato desidrogenase, além de leucopenia em 20% a 58% dos casos; linfócitos atípicos podem aparecer em cerca de 25% dos pacientes. 

Não há achados laboratoriais específicos para a doença. A investigação infecciosa deve considerar vírus como EBV, CMV e HBV, além de bactérias e parasitas conforme histórico do paciente, e testes tuberculínicos quando indicado.

A avaliação autoimune, especialmente para lúpus eritematoso sistêmico, inclui anticorpos antinucleares, anti-DNA de cadeia dupla, anti-Smith, anti-Ro e anti-La, sendo necessária atenção especial à histologia quando marcadores autoimunes são positivos. Em casos de suspeita de malignidade, citometria de fluxo periférica e análises histológicas e imuno-histoquímicas auxiliam na exclusão de neoplasias.

Exames de imagem, como ultrassonografia de linfonodos, radiografia de tórax e, eventualmente, tomografia, podem mostrar linfonodos aumentados, hipervascularização, realce homogêneo e infiltração perinodal, ajudando a diferenciar de outras condições.

O diagnóstico definitivo depende da biópsia excisional de linfonodo, que revela alterações histológicas características da doença. Biópsia repetida ou de pele pode ser necessária em casos de necrose acentuada ou envolvimento cutâneo.

Tratamento da Doença de Kikuchi-Fujimoto

O tratamento da doença de Kikuchi-Fujimoto é principalmente de suporte, já que a doença segue um curso autolimitado, com resolução espontânea geralmente entre 1 a 6 meses. A abordagem consiste no uso de antipiréticos e analgésicos para aliviar os sintomas. 

Em casos mais graves, pode ser necessário um esquema prolongado de corticosteroides, após a exclusão de causas infecciosas. Outras terapias que tiveram sucesso incluem hidroxicloroquina, minociclina ou imunoglobulina intravenosa.

A doença costuma ser monopásica, com taxa de recorrência em adultos de aproximadamente 3% a 4%, enquanto em crianças esse índice pode chegar a 31% a 39%. É essencial o acompanhamento próximo dos pacientes para monitorar a resolução dos sintomas e avaliar o surgimento de doenças autoimunes, especialmente lúpus eritematoso sistêmico, após a resolução do quadro de Kikuchi-Fujimoto.

Nos casos em que a doença ocorre associada a outras condições autoimunes, o tratamento deve contemplar a enfermidade secundária, frequentemente com corticosteroides ou hidroxicloroquina. 

O acompanhamento a longo prazo por médico de atenção primária e reumatologista é fundamental para detectar possíveis recidivas e manejar adequadamente doenças autoimunes subjacentes.

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Referências

Masab M, Surmachevska N, Farooq H. Kikuchi-Fujimoto Disease. [Updated 2023 Oct 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/books/NBK430830/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc

BOSCH, Xavier; GUILABERT, Antonio. Kikuchi-Fujimoto disease. Orphanet Journal of Rare Diseases, v. 1, n. 18, 23 maio 2006. DOI: 10.1186/1750-1172-1-18. Disponível em: https://ojrd.biomedcentral.com/articles/10.1186/1750-1172-1-18. 

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