Olá, querido doutor e doutora! A síndrome de Löfgren representa uma forma aguda e autolimitada de sarcoidose, com apresentação clínica bem definida e evolução geralmente benigna. Reconhecê-la precocemente permite evitar exames invasivos e tratamentos desnecessários, especialmente em pacientes jovens.
Mais de 90% dos pacientes evoluem para remissão completa dentro de um ano.
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Conceito
A síndrome de Löfgren é uma forma de apresentação aguda da sarcoidose, caracterizada pela combinação de eritema nodoso, linfadenopatia hilar bilateral e poliartralgia ou artrite migratória. Essa tríade clínica, quando presente, é altamente sugestiva da condição e permite o diagnóstico mesmo na ausência de biópsia. Embora faça parte do espectro da sarcoidose, difere por sua evolução rápida, curso autolimitado e bom desfecho clínico na maioria dos casos.
Ao contrário da sarcoidose crônica, que pode comprometer diversos órgãos e exigir tratamento prolongado, a síndrome de Löfgren costuma se resolver espontaneamente em até um ano, com baixo risco de recidiva. Seu reconhecimento é importante para evitar exames invasivos e terapias desnecessárias.
Fisiopatologia
A síndrome de Löfgren reflete uma resposta inflamatória exagerada e localizada, desencadeada por fatores ambientais em indivíduos geneticamente predispostos. Ainda não se conhece o agente inicial responsável, mas acredita-se que a exposição a antígenos — como bactérias (ex.: Mycobacterium tuberculosis, Propionibacterium acnes) ou partículas inorgânicas (ex.: poeiras, bário) — possa ativar a imunidade celular em certos hospedeiros.
O mecanismo central envolve a ativação de linfócitos T CD4+, que, ao reconhecerem esses antígenos, secretam citocinas inflamatórias como IL-2, IFN-γ e TNF-α. Essa cascata favorece o recrutamento de macrófagos ativados e promove a formação de granulomas não caseosos, característicos da sarcoidose.
Na forma aguda representada pela síndrome de Löfgren, esses granulomas surgem de forma abrupta, especialmente nos gânglios hilares e no interstício pulmonar. O perfil imunológico predominante é Th1, com aumento na relação CD4/CD8 no lavado broncoalveolar, embora esse achado nem sempre seja necessário para o diagnóstico.
Epidemiologia e fatores de risco
A síndrome de Löfgren ocorre com mais frequência em adultos jovens, sendo mais prevalente em indivíduos com menos de 35 anos. Há uma discreta predominância entre as mulheres, especialmente quando o eritema nodoso é a principal manifestação, enquanto as artrites são mais comuns em homens.
Sua distribuição geográfica acompanha a da sarcoidose, mas com maior incidência nos países do norte da Europa, como Suécia e Noruega, e menor prevalência em regiões mediterrâneas e asiáticas, como Espanha e Japão. Entre os grupos étnicos, europeus caucasianos de origem escandinava são os mais frequentemente acometidos.
Os fatores genéticos também influenciam o risco. A presença do haplótipo HLA-DRB1*03, especialmente quando associado ao HLA-B8, está fortemente relacionada tanto à ocorrência da síndrome quanto à sua remissão espontânea, sendo um marcador de bom prognóstico.
Avaliação clínica
A apresentação clínica da síndrome de Löfgren é geralmente abrupta, com sintomas que se instalam de forma rápida e marcante. A manifestação mais característica é a tríade clássica, composta por:
- Eritema nodoso: surgimento de nódulos subcutâneos dolorosos, vermelhos e geralmente simétricos, localizados nas regiões anteriores das pernas. Essas lesões não evoluem com ulceração e tendem a desaparecer espontaneamente, podendo deixar hiperpigmentação residual, mas sem cicatrizes.
- Linfadenopatia hilar bilateral: visualizada principalmente em exames de imagem (como radiografia de tórax), essa alteração reflete o acometimento ganglionar intratorácico e, muitas vezes, é assintomática.
- Artrite ou poliartralgia migratória: costuma afetar de forma simétrica os tornozelos, mas pode também acometer joelhos, punhos e cotovelos. Nos homens, pode se manifestar como tenossinovite e edema periarticular, mais do que artrite verdadeira.
Além da tríade, outros sintomas podem estar presentes:
- Febre baixa e mal-estar geral;
- Fadiga;
- Uveíte anterior (menos comum, mas possível);
- Adenopatias periféricas (ex.: cervicais ou inguinais, geralmente indolores);
- Sintomas respiratórios são raros, mas podem ocorrer em alguns casos (ex.: tosse seca leve).
Os sintomas articulares e cutâneos costumam ser flutuantes, com episódios mais intensos intercalados por períodos de melhora, frequentemente relacionados ao aparecimento e desaparecimento do eritema nodoso.
Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome de Löfgren é eminentemente clínico-radiológico, baseado na identificação da tríade clássica: eritema nodoso, linfadenopatia hilar bilateral e artralgia ou artrite. Quando ao menos dois desses achados estão presentes, especialmente em pacientes jovens e com quadro típico, o diagnóstico pode ser feito sem necessidade de biópsia.
Exames de imagem
- Radiografia de tórax: é essencial para confirmar a linfadenopatia hilar bilateral, achado chave para o diagnóstico. Em casos duvidosos, a tomografia computadorizada pode ser indicada.
Exames laboratoriais
- Velocidade de hemossedimentação (VHS) e PCR: podem estar discretamente elevadas.
- Enzima conversora da angiotensina (ECA): pode estar aumentada, embora tenha baixa especificidade e sensibilidade, principalmente na forma aguda.
- Hemograma: pode revelar linfopenia.
- Teste tuberculínico (PPD) ou QuantiFERON: utilizados para excluir tuberculose, importante no diagnóstico diferencial.
- Função tireoidiana: pode ser investigada em casos com suspeita de associação com sarcoidose cutânea.
Lavado broncoalveolar (LBA)
Em casos atípicos ou persistentes, pode-se realizar LBA para análise da relação CD4/CD8, que frequentemente está aumentada (>3,5), embora esse achado não seja obrigatório nem específico.
Tratamento e prognóstico
Manejo inicial e controle sintomático
O tratamento da síndrome de Löfgren costuma ser conservador, voltado principalmente ao alívio dos sintomas. Nos casos típicos, com apresentação leve a moderada, o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) é suficiente para controlar febre, mal-estar e, principalmente, as artralgias. Esses medicamentos também auxiliam na recuperação funcional das articulações envolvidas, especialmente tornozelos e joelhos, que são frequentemente acometidos.
Uso de corticosteroides
Quando os sintomas articulares são mais intensos, com comprometimento funcional significativo, pode ser necessário o uso de corticosteroides orais. A prednisolona em doses baixas, como 10 mg/dia, costuma promover melhora clínica rápida, sendo mantida por tempo curto, geralmente duas a quatro semanas. A retirada deve ser progressiva, evitando efeitos adversos e respeitando a resposta clínica do paciente.
Alternativas terapêuticas em casos específicos
Em situações onde há intolerância aos AINEs ou quando os sintomas persistem por mais tempo, pode-se considerar o uso de colchicina ou hidroxicloroquina. Essas medicações são mais utilizadas em casos de artrite prolongada ou recorrente, embora seu emprego na síndrome de Löfgren seja menos comum e geralmente reservado a contextos específicos.
Prognóstico favorável e remissão espontânea
O desfecho da síndrome de Löfgren costuma ser muito positivo. Em mais de 90% dos casos, ocorre resolução espontânea completa dentro de 6 a 12 meses, sem necessidade de tratamento prolongado. O eritema nodoso tende a regredir nas primeiras seis semanas, enquanto as linfadenopatias hilares podem levar alguns meses para desaparecer. A presença do haplótipo HLA-DRB1*03 está associada a uma taxa ainda maior de remissão.
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Referências Bibliográficas
- BROWN, Falon; MODI, Pranav; TANNER, Laura S. Lofgren Syndrome. StatPearls Publishing, 2023.
- CASCAIS, Joana C. et al. Síndrome Löfgren – o melhor cenário da sarcoidose. Revista Ciencias de la Salud, Bogotá, v. 17, n. 1, p. 149–155, 2019.