Resumo da Síndrome de Verner-Morrison: conceito e mais!
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Resumo da Síndrome de Verner-Morrison: conceito e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Verner Morrison, também conhecida como síndrome WDHA, é uma condição rara que se manifesta por diarreia aquosa persistente, hipocalemia e acloridria, causadas pela secreção excessiva do peptídeo intestinal vasoativo (VIP). Essa síndrome pode se apresentar tanto em adultos, geralmente por tumores pancreáticos, quanto em crianças, associada a tumores de origem neurogênica. 

Em muitos casos, o alívio completo dos sintomas ocorre após a remoção cirúrgica do tumor secretor de VIP.

O que é a Síndrome de Verner-Morrison

A Síndrome de Verner–Morrison, também chamada de síndrome WDHA (Watery Diarrhea, Hypokalemia, Achlorhydria), é uma condição clínica rara causada pela produção excessiva do peptídeo intestinal vasoativo (VIP) por tumores neuroendócrinos, conhecidos como VIPomas. Essa secreção anormal do VIP provoca uma diarreia aquosa intensa e persistente, acompanhada por perda de potássio e redução ou ausência de ácido gástrico, resultando em um quadro de desidratação grave e distúrbios metabólicos.

Fisiopatologia e bases hormonais  

Função normal do VIP

O peptídeo intestinal vasoativo (VIP) é um neuropeptídeo normalmente presente nas terminações nervosas do trato gastrointestinal, no pâncreas e no sistema nervoso central. Em situações fisiológicas, ele atua de forma equilibrada, controlando o tônus das alças intestinais, estimulando a secreção de água e eletrólitos e inibindo a liberação de ácido gástrico. Assim, o VIP participa da regulação do processo digestivo e da homeostase do trato gastrointestinal.

Produção tumoral e hipersecreção hormonal

Na síndrome de Verner–Morrison, o equilíbrio se rompe devido à produção autônoma e contínua de VIP por um tumor neuroendócrino secretor, geralmente um VIPoma pancreático em adultos ou tumores neurogênicos (como ganglioneuromas e ganglioneuroblastomas) em crianças. Essas células passam a liberar o hormônio de forma descontrolada, sem o feedback normal do organismo, resultando em hipersecreção intestinal e perdas maciças de líquidos e eletrólitos.

Efeitos celulares e metabólicos

O excesso de VIP aumenta o adenosina monofosfato cíclico (AMPc) nas células epiteliais intestinais, ativando canais de secreção de cloro e potássio. Essa ativação contínua leva a uma diarreia aquosa intensa e persistente, com hipocalemia, acidose metabólica e risco de desidratação grave. O VIP também inibe a secreção gástrica de ácido clorídrico, resultando em acloridria — uma característica marcante da síndrome — e estimula a glicogenólise hepática, favorecendo a hiperglicemia.

Repercussões sistêmicas

Além dos efeitos digestivos, o VIP promove vasodilatação periférica, que pode causar rubor facial e sensação de calor. Em conjunto, esses mecanismos explicam a tríade clássica da síndrome: diarreia aquosa, hipocalemia e acloridria, resultando em um quadro clínico de perda de volume e distúrbios eletrolíticos severos.

Epidemiologia e tipos de tumores associados

Prevalência e faixa etária

A Síndrome de Verner–Morrison é considerada uma doença rara, correspondendo a menos de 1 caso por 10 milhões de habitantes por ano. A maioria dos casos ocorre em adultos entre 30 e 60 anos, com discreta predominância no sexo feminino. Em crianças, é uma condição excepcional, geralmente associada a tumores de origem neurogênica e não pancreática.

Tumores produtores de VIP em adultos

Nos adultos, o VIPoma pancreático é o tipo mais comum. Ele surge, na maioria das vezes, nas células das ilhotas não β do pâncreas, sendo responsável por aproximadamente 80% dos casos. Em cerca de metade dos pacientes, o tumor é maligno e pode apresentar metástases hepáticas já no diagnóstico. Mesmo assim, tumores localizados podem ser curáveis por ressecção cirúrgica completa.

Tumores produtores de VIP em crianças

Na faixa pediátrica, os tumores que produzem VIP raramente se originam no pâncreas. Nesses casos, a síndrome está frequentemente relacionada a ganglioneuromas e ganglioneuroblastomas, neoplasias derivadas das células da crista neural. Esses tumores se localizam com maior frequência na medula adrenal, no retroperitônio ou no mediastino posterior. Em geral, apresentam comportamento benigno e bom prognóstico após ressecção.

Outros locais de origem tumoral

Embora o pâncreas e as estruturas simpáticas sejam os locais mais habituais, já foram descritos casos de tumores secretores de VIP em pulmão, cólon, fígado, esôfago, timo e rim. A presença de níveis elevados de VIP plasmático em pacientes com diarreia crônica deve sempre levar à investigação desses possíveis sítios primários.

Quadro clínico

Diarreia aquosa persistente

A manifestação mais marcante da Síndrome de Verner–Morrison é uma diarreia aquosa abundante e contínua, que pode ultrapassar 5 a 10 litros por dia. Diferentemente de outras causas, ela não cessa com o jejum e contém excesso de sódio, potássio e bicarbonato. Essa perda constante de líquidos e eletrólitos leva rapidamente à desidratação grave, hipovolemia e fraqueza intensa, podendo causar colapso circulatório se não houver reposição adequada.

Alterações eletrolíticas e metabólicas

A hipocalemia é uma consequência direta da perda de potássio nas fezes, manifestando-se com fadiga muscular, arritmias cardíacas e, em casos severos, paralisia flácida. A eliminação excessiva de bicarbonato resulta em acidose metabólica, o que agrava ainda mais a instabilidade clínica. A acloridria é outro achado típico, provocada pela inibição da secreção gástrica de ácido pelo excesso de VIP.

Sinais sistêmicos e manifestações associadas

Além das alterações digestivas, podem ocorrer rubor facial transitório, hiperglicemia devido à glicogenólise hepática e, em alguns casos, hipercalcemia associada à desidratação ou à secreção de peptídeos calcitrofos. A perda de peso é progressiva, e episódios repetidos de desidratação contribuem para um estado de caquexia e prostração.

Particularidades em crianças

Em pacientes pediátricos, o quadro costuma ser semelhante, mas pode haver atraso no crescimento, irritabilidade e desnutrição severa antes que o diagnóstico seja suspeito. Como a diarreia crônica em crianças tem diversas causas mais comuns, o reconhecimento de uma diarreia secretória que persiste durante o jejum é o ponto-chave para levantar a hipótese de tumor secretor de VIP.

Diagnóstico 

Exames laboratoriais

O achado laboratorial mais característico é a elevação do peptídeo intestinal vasoativo (VIP) no plasma, geralmente acima de 200 pg/mL (valores normais: até 190 pg/mL). Esse resultado confirma a natureza endócrina da diarreia. Outras alterações comuns incluem hipocalemia, acidose metabólica, hiperglicemia leve e, em alguns casos, hipercalcemia. Como o VIPoma pode secretar o hormônio de forma intermitente, recomenda-se repetir a dosagem caso o primeiro resultado seja normal, mas o quadro clínico persista.

Métodos de imagem

Após a confirmação bioquímica, é fundamental localizar o tumor. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) do abdome são os exames mais utilizados para identificar lesões pancreáticas ou retroperitoneais. A cintilografia com octreotídeo (Octreoscan) e o PET-CT com Ga-68 ajudam a detectar tumores neuroendócrinos pequenos ou metastáticos. Em crianças, o ultrassom abdominal é frequentemente o primeiro exame solicitado, por ser não invasivo e sem radiação.

Diagnóstico diferencial

É importante distinguir o VIPoma de outras causas de diarreia crônica, como infecções persistentes, doença celíaca, doença inflamatória intestinal, abuso de laxantes e outras síndromes hormonais, como a síndrome de Zollinger–Ellison. A confirmação de uma diarreia que continua mesmo em jejum, associada a um nível elevado de VIP, é o critério diagnóstico mais confiável.

Tratamento

Estabilização inicial

O primeiro passo no manejo da Síndrome de Verner Morrison é a correção urgente da desidratação e dos distúrbios eletrolíticos. A diarreia intensa provoca perdas que podem chegar a vários litros por dia, exigindo reposição endovenosa vigorosa de água, sódio, potássio e bicarbonato. Essa etapa é vital para estabilizar o paciente e prevenir complicações como arritmias cardíacas, choque hipovolêmico e insuficiência renal aguda.

Controle dos sintomas hormonais

Após a estabilização clínica, o foco passa a ser reduzir a ação do VIP circulante. Os análogos da somatostatina, como octreotida e lanreotido, são o tratamento farmacológico de escolha, pois inibem a secreção de VIP e proporcionam melhora significativa da diarreia. Esses medicamentos também ajudam a controlar o crescimento tumoral em muitos casos. Quando a resposta é insuficiente, podem ser associados fármacos como indometacina (inibidor da síntese de prostaglandinas) ou glicocorticoides em situações específicas.

Tratamento cirúrgico

A ressecção completa do tumor é o tratamento curativo sempre que possível. Em tumores localizados, a cirurgia pode levar à remissão total dos sintomas e normalização do VIP plasmático. Nos casos metastáticos, realiza-se ressecção parcial (citorredução) ou embolização hepática para reduzir a carga tumoral e melhorar a qualidade de vida. Mesmo quando a cura não é alcançável, a redução do volume tumoral tende a diminuir a diarreia e a necessidade de reposição contínua de eletrólitos.

Terapias complementares

Nos casos de doença disseminada, podem ser utilizados quimioterápicos como estreptozocina e fluorouracil, que já demonstraram controle parcial da doença e redução dos níveis de VIP. Além disso, a terapia radionuclídica com análogos da somatostatina marcados com lutécio 177 (PRRT) tem mostrado resultados promissores em tumores neuroendócrinos metastáticos. O acompanhamento multidisciplinar, envolvendo endocrinologia, oncologia e cirurgia, é essencial para o manejo adequado e duradouro.

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Referências Bibliográficas 

  1. BELEI, Oana Andreea et al. Verner–Morrison syndrome. Literature review. Romanian Journal of Morphology and Embryology, v. 58, n. 2, p. 371–376, 2017.
  1. GAGEL, Robert F. et al. Streptozocin-treated Verner–Morrison Syndrome: Plasma vasoactive intestinal peptide and tumor responses. Archives of Internal Medicine, v. 136, p. 1429–1435, 1976.

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