Resumo da Síndrome PFAPA: riscos, tratamento e mais!
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Resumo da Síndrome PFAPA: riscos, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A síndrome PFAPA representa uma das causas mais comuns de febre recorrente na infância e tem despertado crescente interesse clínico e científico. Apesar de seu curso benigno, ela desafia o diagnóstico devido à semelhança com infecções repetidas e síndromes febris hereditárias.

Mesmo sendo uma doença autolimitada, o impacto na qualidade de vida do paciente e da família é significativo durante os episódios ativos.

O que é síndrome PFAPA

A síndrome PFAPA (Periodic Fever, Aphthous Stomatitis, Pharyngitis and Adenitis) é uma condição autoinflamatória caracterizada por episódios recorrentes de febre associados a estomatite aftosa, faringite e adenite cervical. Esses episódios surgem de forma súbita, duram poucos dias e se repetem em intervalos regulares, geralmente a cada duas a oito semanas.

Etiopatogenia e mecanismos imunológicos  

Na síndrome PFAPA, o organismo desencadeia uma resposta inflamatória desregulada que se manifesta de forma recorrente, mesmo sem a presença de agentes infecciosos. O processo inflamatório tem início com a ativação exagerada do sistema imune inato, especialmente do inflamasoma NLRP3, que estimula a produção de interleucinas como IL-1β, IL-6 e IL-18. Essas substâncias promovem febre e recrutamento de células inflamatórias para o tecido linfático da orofaringe.

Os linfócitos T também participam de forma intensa. Durante as crises, eles migram para as tonsilas e liberam interferon-gama (IFN-γ), reforçando o padrão inflamatório do tipo Th1. Essa ativação sustentada gera aumento de proteínas inflamatórias como S100A8/A9 e S100A12, além de linfopenia transitória no sangue periférico, resultado da migração celular para o foco inflamatório.

Variantes genéticas nos genes MEFV e NLRP3 modificam a intensidade das manifestações, favorecendo episódios mais curtos e menos severos. Em conjunto, esses mecanismos explicam o caráter periódico da síndrome e sua melhora após a remoção das tonsilas, onde se concentra boa parte da resposta imune anormal.

Epidemiologia 

A síndrome PFAPA é reconhecida como a forma mais frequente de febre periódica não hereditária na infância, afetando principalmente crianças menores de cinco anos. Estudos populacionais apontam uma incidência aproximada de 2 a 3 casos para cada 10 mil crianças, embora o número real possa ser maior devido ao subdiagnóstico, especialmente em regiões onde a doença ainda é pouco conhecida.

Existe uma discreta predominância no sexo masculino, e não há evidências de predisposição étnica específica. A maioria dos casos surge entre os dois e cinco anos, com tendência à resolução espontânea durante a adolescência.

Nos últimos anos, têm sido relatados casos de início em adultos, desafiando a antiga concepção de que a PFAPA seria exclusivamente pediátrica. Nessas formas tardias, os sintomas podem ser menos típicos, e a periodicidade das crises costuma ser menos regular. 

Manifestações clínicas

A síndrome PFAPA manifesta-se por episódios recorrentes de febre alta, que surgem de forma abrupta e duram de três a sete dias, repetindo-se em intervalos regulares, geralmente entre duas e oito semanas. Durante as crises, a temperatura corporal costuma ultrapassar 39 °C, e o quadro não responde a antibióticos ou antitérmicos comuns.

Os sintomas clássicos incluem faringite intensa, muitas vezes acompanhada de exsudato, úlceras aftosas dolorosas localizadas na mucosa não mastigatória da boca e adenite cervical bilateral, com linfonodos aumentados e sensíveis. A combinação desses sinais com a ausência de infecção evidente é característica da doença.

Além das manifestações principais, o paciente pode apresentar mal-estar, dor abdominal, cefaleia, mialgia e artralgia durante as crises, sem sinais respiratórios como tosse ou rinorreia. Entre os episódios, a criança mantém crescimento e desenvolvimento normais, sem febre ou sintomas residuais.

Critérios diagnósticos e exames complementares 

O diagnóstico da síndrome PFAPA é clínico e depende da identificação do padrão típico de febres periódicas associadas às manifestações orofaríngeas. Os critérios mais utilizados, descritos por Thomas e colaboradores em 1999, incluem:

  1. Início dos episódios antes dos cinco anos.
  1. Presença de pelo menos um dos três sintomas principais: estomatite aftosa, faringite ou adenite cervical.
  1. Intervalos regulares entre as crises febris, com retorno completo ao estado de saúde entre os episódios.
  1. Crescimento e desenvolvimento normais.
  1. Exclusão de outras causas de febre recorrente, como neutropenia cíclica, infecções de vias aéreas superiores, imunodeficiências e síndromes febris hereditárias.

Durante os episódios, os exames laboratoriais costumam mostrar elevação transitória de marcadores inflamatórios, como proteína C reativa (PCR), velocidade de hemossedimentação (VHS) e leucocitose com neutrofilia. Esses parâmetros retornam ao normal nos períodos assintomáticos.

A procalcitonina normal ajuda a afastar infecções bacterianas, e a expressão aumentada de CD64 em neutrófilos e monócitos, juntamente com níveis elevados de CXCL10, reforça o caráter inflamatório não infeccioso da doença.

Alguns pacientes apresentam níveis reduzidos de vitamina D, possivelmente relacionados à desregulação imunológica. Em casos com características atípicas, a análise genética pode revelar variantes nos genes MEFV ou NLRP3, associadas à modulação da intensidade dos episódios.

Tratamento e prognóstico

O manejo da síndrome PFAPA visa controlar as crises febris e reduzir a frequência dos episódios. O tratamento é individualizado, conforme a gravidade dos sintomas e o impacto sobre a rotina familiar.

O corticoide em dose única (geralmente prednisona de 1 a 2 mg/kg) é a conduta mais utilizada para interromper as crises. A febre costuma ceder em menos de 24 horas, embora o uso repetido possa encurtar os intervalos entre os episódios. Essa resposta rápida ao corticoide é considerada um marcador clínico importante, tanto para diagnóstico quanto para manejo.

Nos casos em que as crises são muito frequentes ou causam grande prejuízo à qualidade de vida, a tonsilectomia, isolada ou associada à adenoidectomia, representa uma opção terapêutica eficaz. A maioria das crianças apresenta remissão completa dos sintomas após a cirurgia, o que reforça o envolvimento das tonsilas na origem inflamatória da síndrome.

A colchicina pode ser utilizada como terapia preventiva, principalmente em pacientes portadores de variantes no gene MEFV. Esse medicamento tende a reduzir a frequência das crises e é uma alternativa para evitar o uso recorrente de corticoides.

Em situações raras e refratárias, os bloqueadores da interleucina-1 (IL-1), como anakinra e canaquinumabe, podem ser empregados, com bons resultados descritos em casos isolados.

O prognóstico da PFAPA é favorável. A doença costuma desaparecer espontaneamente após alguns anos, geralmente entre a infância e o início da adolescência. Em poucos casos, as manifestações persistem até a vida adulta, mas mantêm o mesmo comportamento benigno e sem sequelas. Mesmo sendo autolimitada, a síndrome pode gerar impacto emocional e desgaste familiar, razão pela qual o acompanhamento médico regular é importante para orientar, tranquilizar e ajustar a conduta conforme a evolução clínica.

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Referências Bibliográficas 

  1. ALI, N. S.; SARTORI-VALINOTTI, J. C.; BRUCE, A. J. Periodic fever, aphthous stomatitis, pharyngitis and adenitis (PFAPA) syndrome. Clinics in Dermatology, v. 34, n. 4, p. 482–486, 2016.
  1. BATU, E. D. Periodic fever, aphthous stomatitis, pharyngitis, and cervical adenitis (PFAPA) syndrome: main features and an algorithm for clinical practice. Rheumatology International, v. 39, p. 1–16, 2019.
  1. VANONI, F. et al. Towards a new set of classification criteria for PFAPA syndrome. Pediatric Rheumatology Online Journal, v. 16, n. 1, p. 60, 2025.

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