Resumo de alterações morfológicas dos eritrócitos: tamanho, coloração e mais!

Resumo de alterações morfológicas dos eritrócitos: tamanho, coloração e mais!

Os eritrócitos, glóbulos vermelhos do sangue, são células altamente especializadas cuja função é transportar gases e nutrientes por todo o corpo humano. A sua morfologia é específica em forma de disco bicôncavo com uma área de palidez central que ocupa em torno de um terço da célula. 

Eritrócito. Crédito: Medcell.org

Essas células apresentam uma membrana de bicamada fosfolipídica que envolve toda a célula e é sustentada por um citoesqueleto formado por diversas proteínas, como espectrina e actina, o que permite a integridade estrutural celular, bem como a maleabilidade. 

Sua morfologia permite a flexibilidade necessária para navegar no sistema cardiovascular e passar por locais estreitos, como sinusoides esplênicos, além de possuir uma área de superfície aumentada que suporta troca gasosa suficiente e permite que a célula desempenhe sua função. 

A hemoglobina é formada por quatro grupos heme, onde está localizado o ferro, e por quatro cadeias globínicas. O sangue desoxigenado que chega aos pulmões contém hemoglobina com heme ferroso (Fe) com afinidade pelo oxigênio e, ao chegar aos tecidos desoxigenados, a diminuição da pressão parcial de oxigênio e o baixo pH fazem com que o heme perca sua afinidade pelo oxigênio, entregando-o ao tecido. O dióxido de carbono é então levado para a célula e combinado com água para formar bicarbonato e hidrogênio via anidrase carbônica. A maior parte do dióxido de carbono retornará aos pulmões na forma de bicarbonato e será exalado. 

Desta forma, alterações em sua morfologia faz com que os eritrócitos diminuam sua capacidade de transportar os gases sanguíneos, além de existirem outras repercussões sistêmicas, como sequestro esplênico. As alterações de tamanho dos eritrócitos são chamadas de anisocitose e as de forma são chamadas de poiquilocitose

Alterações no tamanho dos eritrócitos (Anisocitose)

No eritrograma mensuramos o tamanho das células principalmente através do volume corpuscular médio (VCM). O intervalo de referência da normalidade fica entre 80 a 100 fl (femto litro, ou seja, 80-99×10-15 litro), podendo variar de acordo com cada laboratório.

A alteração de tamanho mais comum dos eritrócitos é microcitose, denominação utilizada quando o tamanho é menor do que o normal, com VCM abaixo de 80 ou células com diâmetro abaixo de 7 μm.

As causas mais comuns de microcitose são as anemias ferropênicas. Outras causas incluem talassemias, anemias sideroblásticas e as anemias das doenças crônicas, quando severas. 

Por outro lado, a macrocitose significa eritrócitos de tamanho acima dos limites normais, como quando o VCM excede 100 fl ou eritrócitos com mais do que 9 μm de diâmetro e bem hemoglobinizados.

#Ponto importante: A presença de reticulocitose pode ser um fator confundidor no esfregaço sanguíneo, visto que os reticulócitos, por serem células imaturas, são maiores. A contagem de reticulócitos ajuda na diferenciação. 

A macrocitose é comumente causada por anemia megaloblástica que pode ocorrer na deficiência sérica de vitamina B12 ou ácido fólico, predominando nesses casos as hemácias grandes e ovaladas. Outras causas que devem ser consideradas são as doenças endócrinas (particularmente hipotireoidismo), as doenças hepáticas e os distúrbios da medula óssea, especialmente as insuficiências medulares. O excesso de ingestão de álcool também é causa comum de macrocitose, assim como o uso de medicamentos, que sempre deve ser cuidadosamente investigado. 

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Alterações na coloração dos eritrócitos 

A hipocromia refere-se à presença de eritrócitos que se coram menos pela eosina e ficam com coloração mais pálida que o normal. Quando há redução da síntese de heme ou de cadeias globínicas existe diminuição na produção de hemoglobina e a hemácia torna-se hipocrômica e com aumento da área de palidez central. A causa mais comum é a deficiência de ferro, mas também pode ser causada por anemia sideroblástica e talassemias. 

A policromasia ou policromatofilia é o termo utilizado em hemácias que apresentam uma coloração azulada ou roséo-azulada, particularmente encontrada em eritrócitos imaturos e reticulócitos jovens. 

Alterações na forma dos eritrócitos (Poiquilocitose)

Os esferócitos são hemácias com forma esférica, geralmente devido a perda de uma porção da membrana com manutenção do conteúdo celular, mas há perda da palidez central, geralmente com microcitose e são mais intensamente coradas. A principal causa é a esferocitose hereditária, mas pode ocorrer também em condições adquiridas como nas anemias imuno-hemolíticas. 

Esferocitose. Crédito: Wikipedia

Os dacriócitos ou hemácias em forma de lágrima aparecem quando existe fibrose da medula óssea ou diseritropoese grave. É característica da mielofibrose tanto idiopática quanto secundária às infiltrações da medula óssea, mas podem ocorrer em algumas anemias hemolíticas e nas anemias megaloblásticas. 

Hemácias em gotas ou lágrimas. Crédito: GUALANDRO, S. F. M. Tratado de Hematologia, 2014.

As hemácias em alvo são hemácias com uma mancha central de hemoglobina rodeada por uma área de palidez, provocadas pelo excesso de membrana em relação ao volume do citoplasma. Podem ocorrer no excesso de lipídeos na membrana, causadas por icterícia obstrutiva e nas hepatopatias graves, ou quando existe redução do conteúdo citoplasmático sem redução da membrana como ocorre nas talassemias e na anemia ferropriva. 

Hemácias em alvo. Crédito: GUALANDRO, S. F. M. Tratado de Hematologia, 2014. 

Os drepanócitos ou hemácias em foice são as típicas hemácias da anemia falciforme, podendo ocorrer em outras hemoglobinopatias. A desoxi-hemoglobina S tende a formar polímeros que se alinham em fibras paralelas, tracionando a membrana do eritrócito que adquire a forma de foice ou crescente, característica dessas doenças.

Hemácias em foice. Crédito: Pixnio

Os esquizócitos são fragmentos eritrocitários muitos dos quais espiculados, decorrente de depósito de fibrina ou trauma mecânico na circulação por anormalidades do coração e grandes vasos. Eles são característicos das anemias hemolíticas microangiopáticas, mas podem ser encontrados em múltiplas situações que incluem anemia megaloblástica, coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, carcinomas disseminados, eclâmpsia e pré-eclâmpsia, próteses valvares cardíacas e queimaduras graves.  

Esquizócitos. Crédito: GUALANDRO, S. F. M. Tratado de Hematologia, 2014. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Barbalato L, Pillarisetty LS. Histology, Red Blood Cell. [Updated 2022 Nov 14]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539702/
  • Franco RS, Puchulu-Campanella ME, Barber LA, Palascak MB, Joiner CH, Low PS, Cohen RM. Changes in the properties of normal human red blood cells during in vivo aging. Am J Hematol. 2013 Jan;88(1):44-51. doi: 10.1002/ajh.23344. Epub 2012 Oct 31. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4067949/
  • GUALANDRO, S. F. M. Análise do exame hematológico. Alterações dos eritrócitos. In: Tratado de Hematologia. Editora: Atheneu, 2014. Capítulo 84. p. 833-939.
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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