Resumo de talassemia: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de talassemia: diagnóstico, tratamento e mais!

Confira agora os principais aspectos referentes à talassemia, uma das hemoglobinopatias mais importantes, que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica!

Definição da doença

A talassemia é uma hemoglobinopatia genética que resulta da diminuição da síntese das cadeias alfa ou beta da hemoglobina (Hb). 

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Epidemiologia da talassemia

Os primeiros relatos ocorreram em países banhados pelo mar Mediterrâneo, como Itália e Grécia. No entanto, a doença alastrou-se praticamente no mundo todo. As talassemias são uma das hemoglobinopatias mais comuns, perdendo apenas para a doença falciforme. 

Estima-se que 5% da população mundial tenha pelo menos um alelo variante da talassemia, com até 900.000 indivíduos com doença clinicamente significativa neste século, maioria no sul da China, Índia e sudeste da Ásia, onde a prevalência pode chegar a 10%. 

Enquanto a  talassemia alfa é mais prevalente em populações asiáticas e africanas, a talassemia beta é mais prevalente na população mediterrânea, embora seja relativamente comum no sudeste da Ásia e na África também.  

Patogênese

Ocorre produção prejudicada de um tipo de cadeia de globina, alfa ou beta. A talassemia alfa é causada pela deleção de um ou mais genes da alfa-globina, formada por 4 alelos. Essa alteração resulta na produção reduzida ou ausente de cadeias de alfa-globina e a gravidade da doença varia de leve a grave, dependendo do número de deleções dos alelos. 

Enquanto a alfa é causada por deleções de genes da globina alfa, as talassemias beta são causadas por uma mutação pontual no local de splicing e nas regiões promotoras do gene da globina beta no cromossomo 11.Uma mutação heterozigótica, onde apenas um gene é multado, resulta em talassemia beta menor, na qual as cadeias beta são subproduzidas e os sinais e sintomas leves. 

A talassemia beta maior, onde dois genes são mutados, é causada por uma mutação homozigótica do gene beta-globina, resultando na ausência total de cadeias beta, com sinais e sintomas moderados a graves. 

#Ponto importante: A doença se manifesta devido ao desequilíbrio na relação entre as cadeias alfa e beta. A síntese balanceada é importante porque os tetrâmeros intactos da hemoglobina A (Hb A) e da hemoglobina F (Hb F) são altamente solúveis no citoplasma dos glóbulos vermelhos, mas as cadeias alfa e beta não ligadas não são

A alteração em alguma das cadeias faz com que elas se precipitem causando problemas na maturação das hemácias e levando à eritropoiese ineficaz, anemia hemolítica, sobrecarga de ferro e complicações subsequentes. 

A capacidade de deformar é uma propriedade essencial que permite que hemácias com diâmetro de 7 a 8 mícrons atravessem a circulação capilar e o sistema reticuloendotelial formado por macrófagos que revestem a forma de fenda sinusóides no baço e fígado. Na talassemia, as hemácias apresentam deformabilidade reduzida. 

Manifestações clínicas da talassemia

Os achados de talassemia alfa estão presentes no nascimento, enquanto os achados da talassemia beta se desenvolvem em 6 a 12 meses. Além disso, a apresentação clínica varia de acordo com o subtipo de talassemia. 

Talassemia alfa: Quando todos os alelos da cadeia alfa são eliminados (talassemia alfa maior), ocorre a forma mais grave da doença, geralmente incompatível com a vida, e que resulta em hidropisia fetal. A deleção de um alelo é a forma mais branda e clinicamente silenciosa.

Talassemia beta menor: É leve e geralmente assintomática, mas que pode apresentar anemia leve, hipocromia e microcitose sem outras manifestações clinicamente óbvias. A condição entre esses este tipo e a talassemia maior é chamada beta-talassemia intermediária com sintomas clínicos leves a moderados.

Talassemia beta maior: também chamada de anemia de Cooley, manifesta-se clinicamente como icterícia, retardo de crescimento, hepatoesplenomegalia, anormalidades endócrinas e anemia grave que requer transfusões de sangue por toda a vida. 

#Ponto importante: esses pacientes geralmente são saudáveis ​​ao nascer, mas a doença começa a se manifestar após 6 meses de vida, quando a hemoglobina fetal (Hb-gama) desaparece e é substituída pela Hb adulta. 

A principal causa de óbito e complicações sérias nesses pacientes é de origem cardíaca com insuficiência cardíaca ou arritmias provocadas pelo acúmulo de ferro. Alguns pacientes apresentam alterações pulmonares, sendo a hipertensão pulmonar descrita em alguns pacientes adultos.

Diagnóstico de talassemia

O primeiro exame onde há a suspeita dessa condição é o hemograma completo. O principal achada é a anemia microcítica, onde o nível de hemoglobina pode ser extremamente baixo. Ao esfregaço sanguíneo, observam-se, além da microcitose, hipocromia, poiquilocitose, hemácias em alvo e corpúsculos de inclusão,  representando precipitados de alfa-globina (corpúsculos de Heinz). 

A eletroforese de hemoglobina avalia o tipo e as quantidades relativas de hemoglobina presentes nos glóbulos vermelhos. A hemoglobina A (HbA) é o tipo de hemoglobina que normalmente representa 95% a 98% da hemoglobina para adultos., sendo o restante formado por hemoglobina A2 (HbA2) e hemoglobina F. 

A talassemia beta perturba o equilíbrio da formação da cadeia de hemoglobina beta e alfa. Pacientes com beta-talassemia maior geralmente têm porcentagens maiores de HbF e HbA2 e HbA ausente ou muito baixa. Aqueles com talassemia beta menor geralmente apresentam uma leve elevação da HbA2 e uma leve diminuição da HbA. 

O diagnóstico é melhor confirmado por testes genéticos, como análise de DNA, ou teste genético de líquido amniótico. No entanto, sua disponibilidade é muito baixa, sendo o diagnóstico muitas vezes restrito a eletroforese de hemoglobina.  

Tratamento de talassemia

O tratamento da talassemia depende do tipo e gravidade da doença, sendo que pacientes com talassemia menor raramente precisam de tratamento específico, visto que os sinais e sintomas são geralmente leves. 

Na talassemia moderada a grave, com Hb menor que 5 a 6g/dl, os pacientes geralmente requerem transfusões de sangue regulares, possivelmente a cada poucas semanas. O objetivo é reduzir os sintomas e morbidades associadas à anemia e eritropoiese ineficaz, que pode prejudicar o crescimento e o desenvolvimento e causar anormalidades esqueléticas, esplenomegalia e sobrecarga de ferro. 

#Atualidade: O Luspatercept, uma nova proteína de fusão recombinante demonstrou eficácia em reduzir a necessidade de transfusão em adultos com talassemia beta dependente de transfusão no estudo BELIEVE, publicado no início de 2020. Esta droga melhora a maturação dos glóbulos vermelhos e reduz os requisitos de transfusão por um mecanismo não totalmente compreendido que pode envolver efeitos na sinalização do TGF-beta. 

Quelantes de ferro, como a deferasirox, mesilato de desferroxamina e a deferiprona, são comumentes usados em associação quando há necessidade de transfusões crônicas, visto que a sobrecarga de ferro começa a se depositar em vários órgãos do corpo. 

Para pacientes que têm necessidade de transfusão anual aumentada ou mais de 200 a 220 mL de hemácias/kg/ano com um valor de hematócrito de 70%, geralmente são submetidos a esplenectomia para limitar o número de transfusões necessárias. 

O transplante de medula óssea é uma opção potencial em casos selecionados, como crianças nascidas com talassemia grave. Pode eliminar a necessidade de transfusões de sangue ao longo da vida.  

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Bajwa H, Basit H. Talassemia. [Atualizado em 8 de agosto de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545151/
  • Edward J Benz, Jr; Emanuele Angelucci. Management of thalassemia. Uptodate.
  • Nelson Hamerschlak; Dirceu Hamilton C. Campêlo. Talassemia. Cap 6. Disponível em Einstein 
  • Crédito da imagem em destaque: Pixabay
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