Resumo de linfocitopenia: causas, abordagem e mais! 

Resumo de linfocitopenia: causas, abordagem e mais! 

A linfocitopenia ou linfopenia significa o número reduzido de linfócitos e corresponde a uma contagem <1000 células/microL para adultos ou <2.000 em crianças < 6 anos de idade. A faixa normal de contagem de glóbulos brancos em adultos é de 4.400 a 11.000 células/microL na maioria dos laboratórios clínicos, sendo que os linfócitos representam 8 a 33% dos leucócitos no sangue periférico em condições normais.

Características dos linfócitos 

Os linfócitos são um tipo de leucócitos, glóbulos brancos presentes no plasma e tecidos linfóides que possuem importante papel na defesa do corpo contra microrganismos patogênicos.  

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Constituem uma família de células esféricas, com diâmetro variável entre 6 e 8 μm, mas no sangue ocorre ainda uma pequena porcentagem de linfócitos maiores que podem alcançar 18 µm de diâmetro. 

O linfócito pequeno tem núcleo esférico, às vezes com uma chanfradura. O citoplasma do linfócito pequeno é muito escasso, aparecendo nos esfregaços como um anel delgado em volta do núcleo. Apresenta basofilia discreta, corando-se em azul claro. 

Crédito: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. 13ª edição, 2017.

O tempo de sobrevivência dos linfócitos é muito variável; alguns vivem apenas alguns dias, enquanto outros vivem durante muitos anos e os linfócitos geralmente constituem 8 a 33% dos leucócitos no sangue periférico. 

Apesar de apresentarem características semelhantes, Uma das populações, os linfócitos T, é a responsável pela formação de linfócitos, essas células se dividem distintivamente em duas grandes populações, linfócitos T e B. 

#Ponto importante: Ao contrário dos outros leucócitos que não retornam ao sangue depois de migrarem para os tecidos, os linfócitos voltam dos tecidos para o sangue, recirculando continuamente. 

Linfócitos T

Todas essas duas populações de linfócitos se originam na medula óssea, mas os linfócitos T completam sua maturação no timo, enquanto os linfócitos B saem da medula já como células maduras. No timo, os linfócitos T se diferenciam nas subpopulações das células T helper, T supressora e T citotóxica. 

Os linfócitos T helper estimulam a transformação dos linfócitos B em plasmócitos, através da apresentação de antígenos. Os linfócitos T supressores inibem as respostas humoral e celular helper e T supressores são células reguladoras. Os linfócitos T citotóxicos agem diretamente sobre as células estranhas e as infectadas por vírus, graças a produção de proteínas chamadas perforinas, que causam lise nas células, ou através da indução apoptótica nas células-alvo. 

Linfócitos B

Os linfócitos B representam entre 5 e 10% dos linfócitos do sangue. Elas são responsáveis pela imunidade humoral, onde no sangue ou tecido linfóide produzem imunoglobulinas de superfície (anticorpos). Esse mecanismo ocorre após as células T helper apresentar um antígeno de superfície às células B, estimulando a conversão dessas células em plasmócitos, células ativa na produção de anticorpos. 

Os anticorpos são glicoproteínas plasmáticas circulantes, também chamadas de imunoglobulinas (Ig). Os antígenos que se ligam aos anticorpos IgG e IgM,  ativam o complemento, que causam a lise (ruptura da membrana) dos microrganismos. Uma vez ativado, o complemento também facilita a fagocitose de bactérias e outros microrganismos patógenos. 

Os neutrófilos e macrófagos têm receptores para a região Fc do complexo antígeno-IgG, e, desta maneira, IgG prende o complexo antígeno-anticorpo à superfície dessas células. As bactérias ligadas ao complexo antígeno-IgG são ditas opsonizadas. A opsonização facilita muito a fagocitose. 

Crédito: JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. 13ª edição, 2017.

Contagem de linfócitos no sangue

. Esta contagem inclui todos os subconjuntos de linfócitos T, linfócitos B e células natural killer (NK), que apresentam as seguintes proporções: 

  • Células T (CD3+) – 60 a 80%
  • Células B (CD20+) – 10 a 20%
  • Células NK (CD56+) – 5 a 10% 

Já as proporções normais de subtipos de células T no sangue periférico são: 

  • Células T auxiliares/indutoras (CD4+) – 60 a 70%
  • Células T supressoras/citotóxicas (CD8+) – 30 a 40%

Causas de linfocitopenia

#Ponto importante: A desnutrição protéico-calórica é a causa mais comum de linfopenia de produção reduzida em todo o mundo. 

  • Infecções virais, principalmente vírus da imunodeficiência humana (HIV), mas pode ser causada por influenza, coronavírus, hepatite e sarampo. 
  • Infecções bacterianas, micobacterianas, fúngicas e parasitárias. 
  • Quimioterapia ou terapia imunossupressora, incluindo glicocorticóides. 
  • Estado cirúrgicos ou hemorragias
  • Distúrbios de imunodeficiência congênita. 

Em um estudo recente com hospitalizados com contagem de linfócitos <600/microL em um hospital universitário de alta complexidade, as causas mais comuns de linfocitopenia foram sepse bacteriana ou fúngica (24%), estado pós-operatório (22%), Malignidade (17%), uso de glicocorticóides (15%), quimioterapia citotóxica e/ou radioterapia (9%), trauma ou hemorragia (8%).

Implicações clínicas da linfocitopenia

A neutropenia aumenta o risco de infecção, mas não se sabe se isso também se aplica à linfopenia. Por mais que seja particularmente comum nos pacientes críticos durante a infecção viral, como SARS-CoV-2 ou Ebola, que necessitam de unidade de terapia intensiva (UTI), a linfopenia isolada geralmente não é considerada ameaçadora à vida. 

Em um estudo recente, a linfopenia, definida como linfócitos sanguíneos < 1,1 × 10 9 /l, foi associada a um risco 1,4 vezes maior de hospitalização posterior com infecção e a um risco 1,7 vezes maior de morte relacionada à infecção. É importante ressaltar que a causalidade não pode ser deduzida de nossos dados.  

Avaliação e manejo da linfocitopenia

A história e o exame físico devem buscar evidências de infecções virais recentes ou outras infecções. Quando a causa subjacente não é clara, deve-se pesquisar ativamente  medicamentos e possíveis deficiências nutricionais e distúrbios sistêmicos subjacentes que possam causar a linfocitopenia. 

Se a etiologia continua indefinida, deve- se avaliar o status de HIV e mensurar as subpopulações de linfócitos (por exemplo, contagem de CD4) e os níveis de imunoglobulina, em busca de alguma imunodeficiência primária ou secundária.  

Na maioria das vezes, não deve haver intervenção em pacientes com linfocitopenia assintomática sem doença associada. Ser paciente crítico ou sintomático, o manejo deve ser voltado para causa subjacente responsável. Por exemplo: 

  • Síndrome de imunodeficiência associada a hipogamaglobulinemia: terapia de reposição de imunoglobulina. 
  • Imunodeficiências congênitas: transplante de células hematopoiéticas. 
  • HIV: anti-retrovirais.
  • Sepse bacteriana: antibióticos e reposição volêmica. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 8ᵃ Edição. Elsevier, 2015 (livro-texto). 
  • JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica. 13ª edição. Rio de Janeiro – RJ: Guanabara Koogan, 2017.
  • Guo Z, Zhang Z, Prajapati M, Li Y. Lymphopenia Caused by Virus Infections and the Mechanisms Beyond. Viruses. 2021 Sep 20;13(9):1876. doi: 10.3390/v13091876. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8473169
  • Warny M, Helby J, Nordestgaard BG, Birgens H, Bojesen SE. Lymphopenia and risk of infection and infection-related death in 98,344 individuals from a prospective Danish population-based study. PLoS Med. 2018 Nov 1;15(11):e1002685. doi: 10.1371/journal.pmed.1002685. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6211632/
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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