A anedonia é um dos principais sintomas relatados pelos pacientes com transtornos depressivos. Confira agora as bases fisiopatológicas e como avaliar e manejar um paciente com este sinal, pois a depressão é tema frequente tanto nas provas de residência quanto na prática médica.
Navegue pelo conteúdo
Dicas do Estratégia para provas
Seu tempo é precioso e sabemos disso. Se for muito escasso neste momento, veja abaixo os principais tópicos referentes à anedonia.
- A anedonia é um dos sintomas centrais da depressão e os dados de prevalência muitas vezes se misturam;
- Tem sido associada a redução na transmissão de dopamina;
- Os autoquestionários para avaliação da anedonia têm sido usados com mais frequência na prática clínica e na pesquisa com boa acurácia;
- O tratamento é similar ao da depressão e envolve medidas de suporte, psicoterapia e utilização de antidepressivos.
Definição da doença
A anedonia é uma característica presente e central dos transtornos depressivos. Representa déficits na experiência de prazer e redução do comportamento motivado relacionado à abordagem e/ou aprendizado prejudicado sobre recompensas no ambiente.
É utilizado como critério central de acordo com o DSM-V para depressão maior e a definição de subtipo melancólico, e em relação à sua capacidade de prever a resposta antidepressiva. Além disso, a anedonia é considerada um importante sintoma negativo da esquizofrenia e a literatura também tem sido dedicada à anedonia na psicose.
Frequência e fisiopatologia da anedonia
Como a anedonia é um dos sintomas centrais da depressão, os dados de prevalência muitas vezes se misturam. A prevalência da depressão na população varia muito em relação ao estudo realizado e ao país onde vivem os pacientes, de maneira que os achados variam de 5% até 20% de pacientes com transtornos depressivos em relação à população geral.
Sentir uma emoção normal requer a identificação do significado emocional de um estímulo, depois a produção de um estado afetivo, que pode ser regulado em diferentes níveis.
Anatomicamente, envolve o sistema ventral (incluindo a amígdala, ínsula, estriado ventral e regiões ventrais do giro cingulado anterior e córtex pré-frontal) que se conecta com o sistema dorsal (incluindo o hipocampo e as regiões dorsais do giro cingulado anterior e do córtex pré-frontal) para avaliação e regulação das emoções.
O córtex orbitofrontal desempenha papel importante no elo entre a recompensa e a experiência hedônica através do nexo para integração sensorial, modulação de reações autonômicas e antecipação na aprendizagem e, previsão e tomada de decisão para comportamentos emocionais e relacionados a recompensas.
As respostas eufóricas, recompensatórias e até mesmo respostas agradáveis à músicas e fotos, foram associadas à atividade dentro do núcleo accumbens, caudado ventral e putâmen ventral.
A anedonia nos transtornos do humor há muito tem sido hipotetizada por estar relacionada a uma redução na transmissão de dopamina (DA) através do sistema de recompensa do cérebro com ingestão ou expectativa de alimentos, sexo e autoadministração de drogas.
O glutamato também tem um papel significativo no sistema de recompensa, por exemplo, através do subiculum, uma estrutura do hipocampo contendo neurônios glutamatérgicos que se projetam para o núcleo accumbens.
Manifestações clínicas e avaliação da anedonia
Conforme descrito no DSM-V, pacientes com anedonia sentem-se menos interessados em hobbies, não se importam mais, não sentem prazer em atividades que antes eram consideradas prazerosas e há a redução dos níveis anteriores de interesse sexual ou desejo. Geralmente os membros da família percebem o retraimento social ou negligência de ocupações prazerosas.
Os autoquestionários para avaliação da anedonia têm sido usados com mais frequência na prática clínica e na pesquisa, sendo que a validade preditiva desses instrumentos parece ser boa. Dentre elas, as mais validadas incluem a escala revisada de anedonia física, a escala de prazer de Fawcett-Clark e a escala de prazer Snaith-Hamilton.
A escala de Snaith-Hamilton, composta por 14 perguntas, avalia a capacidade hedónica do indivíduo nos últimos dias:
1. Gostaria de assistir meu programa de televisão, rádio e séries favoritas.
2. Gostaria de estar com a minha família ou com os meus amigos mais chegados.
3. Encontraria prazer nos meus hobbies ou passatempos.
4. Seria capaz de saborear a minha refeição favorita.
5. Gostaria de tomar um banho quente ou um duche refrescante.
6. Encontraria prazer no aroma das flores ou no cheiro fresco da brisa do mar ou do pão acabo de fazer.
7. Gostaria de ver as caras sorridentes de outras pessoas.
8. Gostaria de me sentir elegante, depois de ter melhorado a minha aparência.
9. Gostaria de ler um livro, revista ou jornal.
10. Gostaria de saborear uma chávena de chá ou café ou a minha bebida favorita.
11. Sentiria prazer nas pequenas coisas, p. ex. num dia de sol, num telefonema de um amigo.
12. Seria capaz de apreciar uma paisagem ou vista bonita.
13. Sentiria prazer em ajudar os outros.
14. Sentiria prazer ao receber elogios de alguém.
Manejo da anedonia
O tratamento é similar ao da depressão pois envolve medidas de suporte, psicoterapia e fármacos. O suporte envolve o acompanhamento médico do paciente ao longo da evolução para observar a evolução ou regressão dos sintomas e a educação do paciente e dos familiares sobre a condição patológica da doença, de maneira a esclarecer que não se trata de “frescura”. Por fim, é importante estimular a retomada das atividades, como exercícios físicos.
A psicoterapia é reconhecida como eficaz em pacientes com transtorno depressivo maior, em especial a terapia cognitiva-comportamental e a terapia interpessoal. Além disso, existem uma ampla gama de classes farmacológicas para o tratamento da doença, como os inibidores seletivos de recaptação da serotonina, inibidores de recaptação de serotonina e noradrenalina, antidepressivos tricíclicos e inibidores da monoaminoxidase.
Atualmente, o tratamento de primeira linha são os inibidores seletivos de recaptação da serotonina e os principais representantes dessa classe são o escitalopram, fluoxetina, paroxetina e sertralina.
Veja também:
- Resumo de distimia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo sobre os ansiolíticos: classes, farmacologia e mais!
- Resumo de deficiência intelectual: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de fadiga: diagnóstico, manejo e mais!
- Resumo sobre fobia social: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de insônia: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo de psicofarmacologia
- Resumo de Rivotril: indicações, farmacologia e mais
- Resumo sobre transtorno bipolar: diagnóstico, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5.
- Cooper JA, Arulpragasam AR, Treadway MT. Anhedonia in depression: biological mechanisms and computational models. Curr Opin Behav Sci. 2018 Aug;22:128-135. doi: 10.1016/j.cobeha.2018.01.024. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5828520/
- Gorwood P. Neurobiological mechanisms of anhedonia. Dialogues Clin Neurosci. 2008;10(3):291-9. doi: 10.31887/DCNS.2008.10.3/pgorwood. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181880/
- Jürgen De Fruyt; Bernard Sabbé ; Koen Demyttenaere. Anhedonia in Depressive Disorder: A Narrative Review . Psychopathology (2020) 53 (5-6): 274–281. https://doi.org/10.1159/000508773
Crédito da imagem em destaque: Pexels