Resumo de Cãibra Muscular: formação, causas e mais!
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Resumo de Cãibra Muscular: formação, causas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! As cãibras musculares são episódios de contração súbita, dolorosa e involuntária da musculatura esquelética, com alta prevalência tanto em indivíduos saudáveis quanto em pacientes com doenças neurológicas e metabólicas. Apesar de, na maioria das vezes, apresentarem curso benigno, podem causar desconforto importante, distúrbios do sono e prejuízo no desempenho esportivo. 

Em atletas de endurance, até 70% relatam episódios durante provas de longa duração, evidenciando sua relevância clínica e funcional.

Conceito 

A cãibra muscular é caracterizada por uma contração súbita, involuntária e dolorosa de fibras musculares esqueléticas, geralmente acompanhada de rigidez e incapacidade transitória de movimentação. Esses episódios são autolimitados, mas podem variar em intensidade e duração, deixando, em alguns casos, dor residual ou sensibilidade local por horas após a crise.

Do ponto de vista clínico, as cãibras podem ser classificadas em diferentes grupos:

  • Idiopáticas (ou noturnas): surgem sem causa aparente, geralmente durante o sono, afetando sobretudo panturrilhas e pés. São frequentes em idosos e podem comprometer a qualidade do descanso.
  • Associadas ao exercício (EAMC – Exercise-Associated Muscle Cramps): aparecem durante ou logo após esforço físico, especialmente em atividades de longa duração ou alta intensidade. Afetam atletas de endurance, como corredores, triatletas e ciclistas.
  • Secundárias a condições médicas: associadas a doenças neurológicas (como esclerose lateral amiotrófica, neuropatias periféricas), metabólicas (diabetes, alterações eletrolíticas, insuficiência hepática ou renal) ou até ao uso de determinados medicamentos.

Essa classificação auxilia na abordagem clínica, permitindo distinguir situações benignas de contextos em que a cãibra pode ser um sinal de doença sistêmica.

Fisiopatologia  

A origem das cãibras musculares ainda é motivo de debate, e os estudos atuais apontam para mecanismos múltiplos que podem atuar isoladamente ou em conjunto. Duas hipóteses principais são frequentemente discutidas:

Hipótese hidroeletrolítica

Tradicionalmente, atribuiu-se a ocorrência de cãibras à perda de líquidos e sais minerais durante transpiração excessiva ou estados de desidratação. Essa teoria foi reforçada por observações em trabalhadores expostos a ambientes quentes e úmidos, que apresentavam crises frequentes reduzidas com suplementação salina. A redução de sódio e cloro, aliada à ingestão de grandes volumes de água sem reposição adequada de eletrólitos, poderia favorecer alterações na excitabilidade neuromuscular. 

Entretanto, pesquisas com atletas mostraram que nem sempre há correlação direta entre níveis séricos de eletrólitos e episódios de cãibra, sugerindo que esse mecanismo, embora possível, não explica todos os casos.

Hipótese neuromuscular

Atualmente, a explicação mais aceita relaciona a cãibra a um desequilíbrio no controle reflexo da medula espinhal. Durante a fadiga muscular, ocorre aumento da atividade dos fusos musculares (estímulo excitatório) e redução da inibição proveniente dos órgãos tendinosos de Golgi. Esse desbalanço gera descargas repetitivas dos motoneurônios alfa, desencadeando contração sustentada e dolorosa. 

Esse modelo justifica, por exemplo, por que as cãibras são mais comuns em situações de esforço prolongado, intensidade elevada e em músculos previamente encurtados.

Visão atual

É provável que as cãibras resultem de mecanismos combinados, onde fatores como fadiga, ambiente quente, reposição hídrica inadequada e suscetibilidade individual interajam. Essa multiplicidade ajuda a explicar por que o fenômeno é tão frequente e, ao mesmo tempo, tão imprevisível.

Epidemiologia 

As cãibras musculares estão entre os distúrbios neuromusculares mais frequentes da prática clínica. Estima-se que cerca de metade dos adultos apresentem episódios ocasionais ao longo da vida. A incidência aumenta com a idade, e em indivíduos acima de 65 anos, é comum que ocorram de forma repetida, especialmente durante o sono.

Em gestantes, particularmente no último trimestre, os episódios também são comuns, alcançando até metade das mulheres nessa fase, muitas vezes relacionados a alterações circulatórias e metabólicas próprias da gravidez.

No ambiente esportivo, a prevalência varia conforme a modalidade:

  • em triatletas, mais de 60% relatam crises durante ou após competições;
  • entre maratonistas e ciclistas de longa distância, as taxas podem chegar a 70%;
  • em esportes coletivos, como o futebol americano, um terço a metade dos atletas refere episódios.

Apesar de seu caráter benigno na maioria dos casos, episódios graves ou recorrentes podem comprometer o desempenho esportivo, a qualidade do sono e, em situações específicas, sinalizar doenças neuromusculares ou metabólicas subjacentes.

Avaliação clínica

Início e sintomas

A cãibra surge de forma súbita, acompanhada por dor intensa e aguda, levando à contração visível e palpável do músculo envolvido. O episódio costuma durar de segundos a minutos, mas pode deixar dor residual ou sensibilidade por horas após a resolução.

Localizações mais comuns

Os músculos mais afetados são os de membros inferiores, especialmente panturrilhas, pés e coxas. Em situações específicas, como doenças neuromusculares ou metabólicas, a cãibra pode acometer também músculos dos membros superiores e até do tronco.

Duração e frequência

A duração é variável: algumas crises desaparecem espontaneamente em poucos segundos, enquanto outras podem persistir por vários minutos. A frequência também difere entre indivíduos, podendo ir de episódios ocasionais até ocorrências quase diárias.

Impacto funcional

Além do desconforto, a cãibra pode causar limitação temporária do movimento e interromper atividades físicas ou esportivas. Quando ocorre durante o sono, provoca despertares noturnos, prejudicando o descanso. Em atletas, pode comprometer treinos, provas e até a continuidade da carreira esportiva.

Diagnóstico 

Avaliação clínica

O diagnóstico da cãibra muscular é essencialmente clínico, baseado na história relatada pelo paciente e na observação típica da contração involuntária e dolorosa do músculo. Geralmente, o paciente descreve dor súbita, incapacidade de movimentar o segmento acometido e rigidez palpável no momento da crise.

Exame físico

Na maioria das vezes, o exame físico realizado fora do episódio não revela alterações. Entretanto, em pacientes com cãibras frequentes, pode-se observar sensibilidade residual ou encurtamento muscular. Quando a crise é presenciada, nota-se o encurtamento evidente do músculo e dor intensa à palpação.

Investigação de causas secundárias

Embora muitos casos sejam idiopáticos ou relacionados ao exercício, é importante considerar doenças associadas. Exames laboratoriais podem ser solicitados quando há suspeita de distúrbios metabólicos ou eletrolíticos (como hipocalemia, hipomagnesemia ou hipocalcemia). Situações como diabetes, insuficiência renal, cirrose hepática ou neuropatias periféricas também devem ser investigadas quando o quadro é recorrente e de difícil controle.

Exames complementares

  • Eletroneuromiografia: pode ser utilizada em casos selecionados para avaliar hiperexcitabilidade neuromuscular, comum em doenças como esclerose lateral amiotrófica ou neuropatias.
  • Exames de imagem: não são rotineiros, mas podem ser úteis quando há suspeita de compressão radicular ou distúrbios musculoesqueléticos associados.

Tratamento e prevenção

Medidas não farmacológicas

A primeira abordagem deve priorizar estratégias simples e seguras. O alongamento passivo do músculo afetado é considerado a forma mais eficaz de aliviar a crise aguda, pois promove inibição reflexa mediada pelos órgãos tendinosos de Golgi. Técnicas de massagem leve e aplicação de calor local também podem auxiliar no relaxamento muscular.

No contexto preventivo, recomenda-se:

  • Hidratação adequada, especialmente em atletas ou indivíduos expostos a ambientes quentes;
  • Reposição de eletrólitos em casos de sudorese intensa, preferindo bebidas com sódio e sais minerais;
  • Ajustes no treino, evitando sobrecarga, treinos intensos em calor excessivo e incorporando sessões de alongamento regular;
  • Higiene do sono, que pode reduzir episódios noturnos em idosos.

Terapias farmacológicas

Embora não exista medicação universalmente eficaz, algumas drogas foram estudadas:

  • Quinina e derivados: apresentam eficácia na redução da frequência e intensidade das cãibras, mas seu uso rotineiro é desaconselhado devido ao risco de efeitos adversos graves (alterações hematológicas, cardíacas e de coagulação). Podem ser considerados apenas em casos selecionados, com monitorização.
  • Vitamina B complexa: estudos sugerem possível benefício na redução da frequência em pacientes idosos.
  • Bloqueadores de canal de cálcio (ex.: diltiazem, verapamil): podem diminuir a ocorrência de cãibras em indivíduos refratários.
  • Naftidrofuril: mostrou eficácia em alguns ensaios clínicos, mas seu uso não é amplamente difundido.
  • Magnésio e vitamina E: não demonstraram benefícios consistentes em ensaios clínicos.

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Referências Bibliográficas 

  1. MAUGHAN, R. J.; SHIRREFFS, S. M. Muscle cramping during exercise: causes, solutions, and questions remaining. Sports Medicine, v. 49, supl. 2, p. S115-S124, 2019.
  1. KATZBERG, H. D.; KHAN, A. H.; SO, Y. T. Assessment: Symptomatic treatment for muscle cramps (an evidence-based review). Neurology, v. 74, p. 691–696, 2010.
  1. GIURIATO, G. et al. Muscle cramps: A comparison of the two-leading hypothesis. Journal of Electromyography and Kinesiology, v. 41, p. 89–95, 2018.
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