Olá, meu Doutor e minha Doutora! A palavra “criptorquidia” tem origem no grego, sendo formada pela junção de “kryptos”, que significa “escondido”, e “orkhis”, que se refere ao “testículo”. Portanto, “criptorquidia” descreve a condição em que os testículos estão ocultos ou não descem para o escroto, como deveriam normalmente.
Vem com o Estratégia MED entender as causas e o manejo do paciente com criptorquidia. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!
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O que é a Criptorquidia
A criptorquidia é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para o escroto. Normalmente, os testículos se desenvolvem no abdômen durante a gestação e descem para o escroto antes do nascimento. Em casos de criptorquidia, esse movimento não ocorre corretamente, deixando os testículos no abdômen ou no canal inguinal.
Fisiopatologia da Criptorquidia
A passagem do testículo pelo canal inguinal, que se inicia na 28ª semana de gestação, pode estar prejudicada por qualquer um dos fatores que contribuem para a descida testicular normal: a deficiência de gonadotrofinas no útero, a diminuição da substância inibidora mülleriana e o aumento da expressão de estradiol na placenta.
Epidemiologia e Fatores de risco para Criptorquidia
Entre 2 e 5% dos recém-nascidos a termo e aproximadamente 30% dos prematuros do sexo masculino nascem com um testículo não descido. Aproximadamente 70% dos testículos não descendentes desce espontaneamente, de modo que até um ano a prevalência é de aproximadamente 1%.
Os fatores de risco para criptorquidia incluem:
- Prematuridade;
- Ser pequeno para a idade gestacional ao nascer;
- Peso ao nascer <2,5 kg; e
- Exposição pré-natal a produtos químicos desreguladores endócrinos.
Quadro Clínico da Criptorquidia
Ao examinar um menino cujo testículo não está em posição adequada na bolsa escrotal, o pediatra pode estar à frente de uma das seguintes situações:
1. Testículos palpáveis (80% a 90% dos casos):
- Testículo retrátil: é um testículo normalmente descido que se retrai ao canal inguinal devido à contração hiperreflexa do músculo cremaster, mas pode ser trazido para dentro do escroto durante o exame;
- Testículos intracanaliculares: localizam-se entre o anel inguinal interno e o externo;
- Testículos extracanaliculares: localizam-se entre o anel inguinal externo e o escroto (suprapúbicos ou infrapúbicos);
- Testículo ectópico: testículos ectópicos tiveram um caminho anormal de descida extracanalicular em direção ao escroto. Podem ser encontrados na superfície inguinal, na face interna da coxa, na região perineal, pré-pubiana ou no hemiescroto contralateral.
2. Testículo não palpável (10% a 20% dos casos):
- Intra-Abdominais: quando presentes e localizados entre o polo inferior do rim e o anel inguinal interno;
- Atrófico: apresentam-se intra ou extracanaliculares, porém, não são palpáveis por serem atróficos, bem como redução importante de seu tamanho; e.
- Ausentes: quando não estão localizados na cavidade abdominal, nem apresentam indícios de descida para a região inguinal. Essa circunstância pode decorrer de agenesia ou evanescência.
Tratamento da Criptorquidia
Aproximadamente 70% a 77% dos testículos crípticos completam a descida espontânea ao escroto até o terceiro mês de vida, porém isso raramente ocorre após o primeiro ano de vida. Caso a descida espontânea não ocorra entre os seis meses a um ano, o tratamento cirúrgico deve ser indicado. A cirurgia para testículos crípticos palpáveis é a orquidopexia aberta.
As indicações para encaminhamento ao cirurgião pediátrico podem incluir:
- Testículos não descendentes palpáveis ou não palpáveis congênitos (uni ou bilateral);
- Testículo ascendente além da infância (sempre que a mudança de exame é notada);
- Tecido palpável no escroto pensado para ser um testículo atrófico; e
- Dificuldade em diferenciar testículo não descendente, retrátil ou ectópico (em qualquer idade).
Cai na Prova
Acompanhe comigo uma questão sobre criptorquidia (disponível no banco de questões do Estratégia MED):
(Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE – 2018) Um menino de 3 anos de idade é levado pela mãe ao médico. Queixa: o testículo esquerdo nunca foi palpável no escroto, desde o nascimento. Exame físico abaixo: No exame físico sob narcose também não se identificou o testículo esquerdo. Realizada laparoscopia diagnóstica com os achados abaixo: A sequência que melhor descreve o(s) diagnóstico(s) em questão, o tratamento preconizado e os principais riscos potenciais relacionados ao(s) diagnóstico(s) é:
A) Criptorquidia e fimose; orquidopexia e postectomia; infertilidade e câncer de testículo.
B) Fimose e varicocele; varicocelectomia; infertilidade e câncer de testículo.
C) Criptorquidia; orquiectomia; varicocele.
D) Fimose e anorquia; orquidopexia escrotal ou inguinal; varicocele.
E) Hérnia inguinal e fimose; herniorrafia inguinal; varicocele.
Comentário da Equipe EMED:
Observe a primeira imagem: à inspeção da genitália, apenas o testículo direito é percebido na bolsa escrotal, o hemiescroto esquerdo encontra-se vazio! Ainda, na imagem superior direita, o médico executa uma manobra para expor a glande, sem sucesso. Diante da impossibilidade de palpar o testículo esquerdo, foi indicado tratamento cirúrgico. Em até 20% dos casos de testículo não palpável, ao examinar a criança já anestesiada e relaxada, o cirurgião é capaz de palpar o testículo no canal inguinal, tratando-se, portanto, de testículo retido. Veja que o examinador teve o cuidado de dizer que, mesmo no exame sob narcose, o testículo esquerdo não foi palpado. Quando, após examinar a criança anestesiada, o testículo permanecer não palpável, a conduta cirúrgica deve ser a exploração laparoscópica, que permite o diagnóstico da condição exata (presença ou não de testículo), bem como o tratamento.
A sequência de imagens inferiores corresponde aos achados cirúrgicos! A imagem à esquerda corresponde ao anel inguinal direito sendo penetrado pelos vasos gonadais e o ducto deferente, que seguem até o testículo direito que está na bolsa escrotal. À direita, vemos os vasos gonadais, o ducto deferente e o testículo esquerdo!! Significa que esse paciente apresenta um testículo críptico intra-abdominal baixo, ou seja, localizado a menos de 02cm do anel inguinal interno! Qual é a conduta? Orquidopexia em tempo único!
Portanto, alternativa A.
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Referências Bibliográficas
- Christopher S Cooper & Steven G Docimo. Undescended testes (cryptorchidism) in children: Clinical features and evaluation. 2022. Disponível em: UpToDate
- Christopher S Cooper & Steven G Docimo. Undescended testes (cryptorchidism) in children: Management. 2023. Disponível em: UpToDate