Este resumo explora os principais aspectos da doença, desde sua fisiopatologia e classificação até as estratégias de diagnóstico e tratamento mais eficazes.
Olá, querido doutor e doutora! A dacriocistite é uma inflamação do saco lacrimal que pode comprometer significativamente o bem-estar ocular do paciente, causando dor, lacrimejamento persistente e secreção purulenta. Embora seja uma condição comum, sua evolução pode levar a complicações graves, como celulite orbitária e abscessos. O reconhecimento precoce dos sinais clínicos e a abordagem terapêutica adequada são fundamentais para evitar desfechos adversos.
Nos recém-nascidos, cerca de 90% dos casos se resolvem espontaneamente até o primeiro ano de vida com massagem lacrimal
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Conceito de Dacriocistite
A dacriocistite é um processo inflamatório que acomete o saco lacrimal, geralmente secundário à obstrução do ducto nasolacrimal. Essa obstrução impede a drenagem normal das lágrimas, favorecendo a proliferação bacteriana e levando à infecção local. Pode ocorrer de forma aguda, com sintomas inflamatórios intensos, ou de maneira crônica, caracterizando-se por episódios recorrentes de inflamação e acúmulo de secreção.
Como Ocorre a Dacriocistite
O sistema lacrimal é responsável pela produção, distribuição e drenagem das lágrimas. A secreção lacrimal inicia-se na glândula lacrimal e percorre os canalículos superiores e inferiores até o saco lacrimal, de onde segue pelo ducto nasolacrimal até as fossas nasais.
A dacriocistite ocorre quando há obstrução nesse sistema, impedindo o fluxo normal das lágrimas. Isso leva à estase lacrimal no saco lacrimal, criando um ambiente favorável para a proliferação bacteriana e o desenvolvimento da infecção.
O acúmulo de secreção e o crescimento bacteriano desencadeiam um processo inflamatório, que pode evoluir para abscessos e até complicações orbitárias se não tratado adequadamente.
Classificação da Dacriocistite
Quanto à Evolução Clínica
- Aguda: início súbito, com dor intensa, edema, hiperemia e secreção purulenta. Pode evoluir para abscesso ou celulite orbitária se não tratada.
- Crônica: progressão lenta, com lacrimejamento persistente e abaulamento na região do saco lacrimal. A infecção é recorrente, mas os sinais inflamatórios são menos intensos.
Quanto à Fisiopatologia
- Congênita: decorre da falha na canalização do ducto nasolacrimal ao nascimento, levando a epífora persistente nos primeiros meses de vida.
- Adquirida: resulta da obstrução ao longo da vida, podendo ser primária (sem causa definida) ou secundária (associada a sinusites, traumas, tumores ou uso de medicamentos).
Quanto à Idade de Início
- Neonatal: associada à obstrução congênita do ducto nasolacrimal, geralmente resolvendo-se espontaneamente com massagem lacrimal.
- Adulto: mais frequente após os 40 anos, especialmente em mulheres, com maior necessidade de tratamento cirúrgico para evitar recorrências.
Fatores de Risco para Dacriocistite
A dacriocistite é uma das condições mais frequentes das vias lacrimais, ocorrendo em diferentes faixas etárias, com dois picos principais de incidência: na infância e em adultos acima dos 40 anos.
- Dacriocistite congênita: decorre da falha na canalização do ducto nasolacrimal ao nascimento, sendo diagnosticada nos primeiros meses de vida. Afeta cerca de 1 em cada 3.884 recém-nascidos.
- Dacriocistite adquirida: mais comum em adultos, especialmente após os 40 anos. Ocorre com maior frequência em mulheres, possivelmente devido a diferenças anatômicas no ducto nasolacrimal, que tende a ser mais estreito.
Diversos fatores podem predispor à dacriocistite, incluindo:
- Alterações anatômicas: estenose congênita ou adquirida do ducto nasolacrimal.
- Doenças inflamatórias sistêmicas: granulomatose de Wegener, sarcoidose, lúpus eritematoso sistêmico.
- Infecções crônicas: sinusites recorrentes podem contribuir para a obstrução do ducto lacrimal.
- Traumas faciais e cirurgias: fraturas da região nasoetmoidal e procedimentos otorrinolaringológicos podem lesionar ou obstruir a via lacrimal.
- Uso de medicamentos: agentes tópicos, como beta-bloqueadores e antivirais, podem levar a reações inflamatórias locais e obstrução do ducto lacrimal.
- Neoplasias: tumores do saco lacrimal ou estruturas adjacentes podem comprometer a drenagem lacrimal.
Sintomas de Dacriocistite
Dacriocistite Aguda
Caracteriza-se por um processo inflamatório intenso e de instalação rápida. Os principais sintomas incluem:
- Dor intensa na região do saco lacrimal (canto medial do olho). Edema e eritema local, tornando a pele avermelhada e quente ao toque;
- Lacrimejamento excessivo (epífora) devido à obstrução do ducto nasolacrimal;
- Secreção purulenta, que pode ser expressa ao se aplicar pressão sobre a região afetada; e
- Febre baixa e mal-estar em casos mais avançados, sugerindo um processo infeccioso mais significativo.
Nos quadros mais graves, pode haver extensão da infecção para os tecidos adjacentes, levando a celulite periorbitária e risco de complicações orbitárias.
Dacriocistite Crônica
O processo inflamatório é mais arrastado e menos exuberante. Os sintomas mais comuns incluem:
- Lacrimejamento persistente (epífora constante);
- Abaulamento na região do saco lacrimal, geralmente indolor;
- Secreção mucopurulenta intermitente, especialmente ao pressionar a área; e
- Leve desconforto na região medial do olho, sem sinais inflamatórios intensos.
Na forma crônica, os episódios podem se repetir ao longo do tempo, e a secreção acumulada pode apresentar um aspecto mais espesso, semelhante a uma massa pastosa. Se não tratado, o quadro pode evoluir para episódios agudos recorrentes e maior risco de complicações.
Diagnóstico da Dacriocistite
O diagnóstico da dacriocistite é essencialmente clínico, baseado na história do paciente e no exame físico. No entanto, em casos específicos, exames complementares podem ser necessários para confirmar a obstrução do ducto nasolacrimal e avaliar complicações.
Teste de Expressão do Saco Lacrimal
Ao pressionar levemente a região do saco lacrimal, a saída de secreção mucopurulenta pelo ponto lacrimal confirma a obstrução e a infecção ativa. Esse teste auxilia na diferenciação entre dacriocistite e outras causas de epífora, como a obstrução do canalículo lacrimal.
Exames de Imagem
Em casos recorrentes ou suspeita de complicações, exames de imagem podem ser úteis. A dacriocistografia permite visualizar o trajeto da via lacrimal e identificar o local da obstrução. Já a tomografia computadorizada de órbitas pode ser indicada quando há suspeita de celulite orbitária ou abscesso associado.
Diagnóstico Diferencial
A dacriocistite deve ser diferenciada de outras condições que cursam com inflamação periorbitária, como celulite pré-septal, dacrioadenite, sinusite etmoidal, cistos sebáceos infectados e tumores da região lacrimal. O exame físico associado aos exames complementares ajuda a excluir essas possibilidades.
Tratamento da Dacriocistite
- Casos leves e sem complicações: são tratados com compressas mornas associadas à antibioticoterapia oral direcionada contra os patógenos mais comuns, como Staphylococcus aureus e Streptococcus spp.. Os antibióticos mais utilizados incluem amoxicilina com clavulanato, cefalexina e cefaclor.
- Casos graves ou com sinais de disseminação: requerem antibioticoterapia endovenosa e internação hospitalar. Antibióticos como ceftriaxona ou vancomicina podem ser necessários, especialmente em pacientes imunossuprimidos.
- Presença de abscesso lacrimal: pode ser necessária drenagem cirúrgica para alívio da infecção e evitar complicações orbitárias.
- Tratamento definitivo: consiste na correção da obstrução lacrimal, geralmente por meio de dacriocistorrinostomia (DCR), que pode ser realizada por via externa ou endoscópica. Essa técnica cria uma nova via de drenagem entre o saco lacrimal e a cavidade nasal, prevenindo recorrências.
- Em recém-nascidos, a conduta inicial inclui massagem da região lacrimal (técnica de Crigler) para facilitar a abertura espontânea do ducto. Se não houver resolução até os 6 meses de vida, pode ser indicada sondagem lacrimal e, em casos persistentes, cirurgia.
Evolução
A evolução da dacriocistite é favorável na maioria dos casos quando o tratamento é instituído precocemente. A resolução completa ocorre na maior parte dos pacientes tratados com antibióticos, especialmente quando há intervenção cirúrgica definitiva para corrigir a obstrução.
- Dacriocistite aguda: com o tratamento adequado, a infecção costuma se resolver sem sequelas. No entanto, se a obstrução persistir, há risco de recorrência.
- Dacriocistite crônica: geralmente requer tratamento cirúrgico, sendo que a dacriocistorrinostomia apresenta taxas de sucesso superiores a 90%.
- Recém-nascidos: em aproximadamente 90% dos casos, a obstrução do ducto nasolacrimal se resolve espontaneamente até o primeiro ano de vida, sem necessidade de cirurgia.
Complicações
Se não tratada adequadamente, a dacriocistite pode levar a complicações locais e sistêmicas potencialmente graves. As principais incluem:
- Celulite periorbitária: inflamação dos tecidos ao redor da órbita, podendo evoluir para celulite orbitária. Abscesso orbitário: coleção purulenta na órbita, podendo levar a proptose, dor intensa e restrição dos movimentos oculares.
- Trombose do seio cavernoso: complicação rara, mas grave, resultante da disseminação da infecção para os vasos intracranianos. Pode levar a déficits neurológicos e risco de morte.
- Fístula lacrimal: formação de um trajeto anômalo entre o saco lacrimal e a pele, geralmente decorrente de infecções recorrentes ou não tratadas.
- Perda visual: em casos graves, a inflamação pode comprometer o nervo óptico, levando a danos irreversíveis.
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Referências Bibliográficas
- LORENA, Silvia Helena Tavares; SILVA, João Amaro Ferrari. Dacriocistite aguda: relato de 2 casos. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 70, n. 1, p. 37-40, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbof/. Acesso em: 24 jan. 2025.
- TAYLOR, Roger S.; ASHURST, John V. Dacryocystitis. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470565/. Acesso em: 24 jan. 2025.