Resumo de Dor Torácica Parte 2: dor torácica na urgência

Resumo de Dor Torácica Parte 2: dor torácica na urgência

Olá, querido doutor e doutora! Na primeira parte sobre dor torácica, discutimos como lidar com essa condição quando ela é motivo de consulta em um consultório. Agora, na segunda parte, vamos aprofundar nosso entendimento sobre a abordagem da dor torácica como motivo de consulta em um centro de urgência.

Vem com o Estratégia MED conhecer as principais causas de dor torácica na urgência e como abordar um paciente com essa queixa. Ao final, separei uma questão de prova sobre o tema para respondermos juntos!  

Conceito de Dor Torácica na Urgência 

A dor torácica é a segunda queixa mais comum em pacientes adultos em serviços de emergência. Este sintoma é considerado uma emergência médica potencialmente séria, por poder estar associado a condições que ameaçam a vida, como infarto do miocárdio, embolia pulmonar, dissecção aórtica, entre outras. Devemos conhecer os principais passos para avaliação inicial, incluindo a anamnese, exame físico e exames complementares, e as possíveis causas para conduzir o atendimento de forma eficaz e segura.

Causas de Dor Torácica na Urgência 

Síndrome Coronariana Aguda (SCA): a SCA é a causa mais comum e potencialmente fatal de dor torácica, incluindo infarto do miocárdio e angina instável. Pacientes podem apresentar dor torácica opressiva, desconforto que irradia para o braço, pescoço ou mandíbula, e sintomas associados como dispneia e sudorese. 

Dissecção Aguda da Aorta: a dissecção aórtica caracteriza-se por dor torácica súbita, intensa e lancinante, frequentemente descrita como uma dor que rasga, irradiando para as costas ou abdômen. Pode estar associada a sinais de hipoperfusão e diferenças de pressão arterial entre os braços. 

Embolia Pulmonar: a embolia pulmonar pode causar dor torácica pleurítica, dispneia súbita, taquipneia e, ocasionalmente, hemoptise. A dor pode piorar com a respiração profunda e pode ser acompanhada de sinais de tensão cardíaca direita no ECG. 

Pneumotórax Hipertensivo: o pneumotórax hipertensivo apresenta dor torácica súbita e severa, com dispneia, desvio da traqueia, ausência de murmúrio vesicular no lado afetado e hipotensão. É uma emergência médica que requer descompressão imediata. 

Tamponamento Pericárdico: o tamponamento cardíaco causa dor torácica, dispneia e sinais de pressão venosa elevada, como turgência jugular. A tríade de Beck (hipotensão, abafamento das bulhas cardíacas e turgência jugular) pode estar presente. 

Mediastinite (Ruptura Esofágica): a mediastinite, frequentemente causada por ruptura esofágica, provoca dor torácica severa, febre, taquicardia e sinais de sépsis. Pode ocorrer após episódios de vômito vigoroso (síndrome de Boerhaave). 

Miocardite: a miocardite pode causar dor torácica, frequentemente associada a sintomas virais precedentes, e pode apresentar alterações inespecíficas no ECG e sinais de insuficiência cardíaca. 

Cardiomiopatia por Estresse (Takotsubo): esta condição, frequentemente precipitada por estresse emocional ou físico intenso, imita um infarto do miocárdio com elevação do segmento ST, mas sem obstruções coronarianas significativas. Apresenta-se com dor torácica e dispneia. 

Úlcera Péptica Perfurada: a perfuração de uma úlcera péptica pode causar dor torácica que se irradia para o abdômen, associada a sinais de peritonite, como rigidez abdominal e dor intensa ao movimento.

Abordagem Diagnóstica na Dor Torácica na Urgência

A avaliação de pacientes com dor torácica na emergência começa com uma história clínica focada e um exame físico para avaliar a estabilidade hemodinâmica e identificar possíveis causas fatais. Os sinais de instabilidade hemodinâmica incluem: 

  • Alterações nos sinais vitais: hipotensão, taquicardia, bradipneia ou taquipneia e saturação de oxigênio baixa;
  • Sinais de hipoperfusão: pele fria e úmida e sudorese profusa;
  • Alterações no nível de consciência: confusão ou desorientação, letargia ou coma;
  • Sinais de angústia respiratória: dificuldade para respirar e uso de músculos acessórios;
  • Dor torácica severa ou síncope; 
  • Pulsos periféricos fracos ou ausentes;
  • Oligúria ou anúria.

Para pacientes que chegam ao departamento de emergência com dor torácica e instabilidade hemodinâmica, é essencial realizar uma ressuscitação imediata com as seguintes medidas: 

  1. Manejo das vias aéreas e suporte ventilatório: avaliar a necessidade de suporte ventilatório invasivo ou não invasivo para garantir ventilação adequada e prevenir insuficiência respiratória. 
  1. Oxigênio suplementar: fornecer oxigênio para manter saturação entre 90% e 94%. Para pacientes com insuficiência cardíaca, podem ser necessárias terapias adicionais como diuréticos e ventilação com pressão positiva.
  1. Acesso intravenoso e exames laboratoriais: estabelecer acesso IV e realizar testes laboratoriais, incluindo troponina de alta sensibilidade se houver suspeita de SCA. 
  1. Monitoramento cardíaco e ECG: iniciar monitoramento cardíaco contínuo e realizar um ECG, garantindo que o equipamento de ressuscitação de emergência esteja disponível. 
  1. Suporte circulatório: fornecer suporte circulatório conforme necessário, priorizando terapias específicas para a etiologia do choque. 

Exames Complementares

ECG: é essencial realizar um ECG padrão de 12 derivações para todos os pacientes que chegam ao departamento de emergência com dor torácica cardíaca potencial. As diretrizes do American College of Cardiology e da American Heart Association recomendam que o ECG seja obtido e interpretado dentro de 10 minutos após a apresentação do paciente.

Radiografia de tórax: a radiografia torácica póstero-anterior (PA) e lateral é obtida para a maioria dos pacientes, a menos que uma causa não pulmonar óbvia (por exemplo, IAM com supradesnivelamento do segmento ST) seja identificada.

USG a beira leito: a ultrassonografia realizada pelo clínico de emergência à beira do leito pode identificar várias condições críticas, incluindo tamponamento pericárdico e embolia pulmonar. 

Cai na Prova 

Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no Banco de Questões do Estratégia MED): 

RJ – UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ (HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ERNESTO – HUPE) 2024

Homem de 25 anos atendido em serviço de emergência apresenta dor precordial de forte intensidade, em aperto, que irradia para membro superior esquerdo, relatando ainda uso de álcool e cocaína feito nas últimas horas. Ao exame, o paciente apresenta-se ansioso, hipertenso e taquicárdico. O eletrocardiograma (ECG) de admissão evidencia taquicardia sinusal, com infradesnivelamento do segmento ST nas derivações V4, V5 e V6. A primeira dosagem de troponina foi positiva. A fisiopatologia mais provável da precordialgia e a medicação que deve ser evitada no seu manejo nesse momento, respectivamente, são: 

A. dissecção de aorta / aspirina 

B. trombose de artéria coronária / nitroglicerina 

C. vasoconstrição coronariana / betabloqueador 

D. miocardite aguda / bloqueador de canal de cálcio

Comentário da Equipe EMED: 

Alternativa A incorreta: a dissecção de aorta é plausível, mas não justifica a alteração isquêmica ao eletrocardiograma. De qualquer forma, o betabloqueador é uma droga utilizada no manejo da dissecção de aorta e está formalmente contraindicada neste caso.

Alternativa B incorreta: apesar do uso da cocaína gerar um estado pró-trombótico, não é o principal mecanismo de SCA. Além disso, nitroglicerina não é contraindicada nesse caso.

Alternativa C correta

Alternativa D incorreta: cocaína não está envolvida na ocorrência de miocardite, assim como os bloqueadores de canais de cálcio não estão contraindicados.

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Referências Bibliográficas 

Hiten Patel. Approach to the adult with nontraumatic chest pain in the emergency department. UpToDate. Last updated: May 18, 2024.

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