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Visão geral
O canabidiol é um dos composto abundantes na planta Cannabis sativa, a droga de uso abusivo mais utilizada em todo o mundo, popularmente conhecida como maconha. Seu uso gera polêmica e ainda é motivo de muita discussão no meio médico.
O principal componente psicoativo da planta é o delta-9-tetrahidrocanabinol (Δ9-THC), uma das substâncias responsáveis pelos efeitos psicoativos da maconha. Os efeitos farmacológicos do canabidiol são diferentes e muitas vezes opostos aos do Δ9-THC.
Cada vez mais as evidências demonstram seu benefício nas crises epiléticas em geral, demonstrando a partir de relatos de casos importante impacto na qualidade de vida de pacientes com tipos específicos de epilepsia.
A resolução do CFM n/ 2.324, de 11 de outubro de 2022 aprovou o uso do canabidiol para o tratamento de epilepsia da criança e do adolescente refratárias às terapias convencionais na Síndrome de Dravet e Lennox-Gastaut e no Complexo de Esclerose Tuberosa.
Dicas rápidas sobre uso de canabidiol
- É autorizada seu uso no Brasil para crises convulsivas refratárias na síndrome de Lennox-Gastaut, síndrome de Dravet ou complexo de esclerose tuberosa.
- A via inalatória é a mais eficaz e de rápida ação para controle dos sintomas convulsivos.
- O medicamento à base de canabidiol não causa os efeitos alucinógenos e cognitivos de quando se fuma um cigarro de maconha.
- O uso associado ao clobazam, outro anticonvulsivante, gera acúmulo desta outra droga.
- Deve-se monitorizar a função hepática, pois elevações de transaminases são comuns.
- Alguns estudos demonstraram seu efeito e segurança como ansiolítico, mas seu uso ainda não é rotulado para estes fins.
Indicações e dosagem
O canabidiol é indicado para o tratamento de convulsões refratárias associadas à síndrome de Lennox-Gastaut, síndrome de Dravet ou complexo de esclerose tuberosa em pacientes com um ano de idade ou mais.
A epilepsia é classificada como refratária quando o paciente não consegue ficar livre de convulsões após avaliação adequada de causas secundárias e utilização de dois medicamentos anticonvulsivantes prescritos em monoterapia ou combinados.
- Convulsão associada à síndrome de Lennox-Gastaut ou síndrome de Dravet: Iniciar com dose de 2,5 mg/kg duas vezes ao dia, podendo ser aumentado em incrementos semanais conforme resposta terapêutica ou tolerabilidade até uma dosagem máxima de 10 mg/kg duas vezes ao dia. A dosagem de 20 mg/kg/dia resultou em reduções um pouco maiores nas taxas de convulsão, mas com um aumento nas reações adversas.
- Convulsão associada ao complexo da esclerose tuberosa: dose inicial de 2,5 mg/kg duas vezes ao dia, pode aumentar a dose em incrementos semanais de 2,5 mg/kg duas vezes ao dia até uma dose de manutenção de 12,5 mg/kg duas vezes ao dia. A eficácia de doses <12,5 mg/kg duas vezes ao dia não foi estudada.
#Ponto importante: Ao interromper o tratamento, deve-se evitar a interrupção abrupta, diminuindo a dose deve ser gradualmente.
Uma revisão publicada pela sociedade brasileira de psiquiatria apresentou resultados de estudos em animais de laboratório, humanos voluntários saudáveis e pacientes com transtornos de ansiedade que sustentam a proposta do uso de canabidiol como uma nova droga com propriedades ansiolíticas.
O potencial benefício, associado à ausência de efeitos psicoativos e sobre a cognição, demonstrou um perfil de segurança adequado, boa tolerabilidade, resultados positivos que parecem estar mais próximos de ter suas descobertas preliminares na ansiedade traduzidas para a prática clínica.
Contraindicações
Hipersensibilidade ao canabidiol ou a qualquer componente da formulação. Além disso, o canabidiol deve ser descontinuado ou interrompido se surgirem sintomas ou sinais de disfunção hepática.
Efeitos adversos do canabidiol
As reações mais comuns são diarreia, sonolência, diminuição do apetite, elevação das transaminases, fadiga, mal-estar, insônia e outros problemas de sono e infecções.
#Ponto importante: Durante a produção do canabidiol, o THC é eliminado. Portanto, os pacientes que utilizam um medicamento à base de canabidiol não sentem os efeitos alucinógenos e cognitivos de quando fumam um cigarro de maconha.
O aumento das transaminases séricas ocorrem com frequência. Por este motivo, deve ser feito o acompanhamento das transaminases hepáticas durante o tratamento, assim como os níveis de bilirrubina total no início do tratamento e periodicamente de acordo com aumentos da dose e adição de outros medicamentos que afetam a função hepática.
Características farmacológicas do canabidiol
Farmacodinâmica
Por mais que estudos sugiram seu potencial anticonvulsivante, o mecanismo exato de ação é desconhecido, mas não parece envolver seus efeitos nos receptores canabinóides. Especula-se que ele atue em receptores e canais celulares, reduzindo a excitabilidade e a transmissão neuronal.
Farmacocinética
A via de administração inalatória é a mais eficiente, embora a via oral também possa ser usada. O início de ação terapêutica ocorre dentro de quatros semanas.
É metabolizado principalmente no fígado por CYP2C19, CYP3A4, UGT1A7, UGT1A9 e UGT2B7 em metabólitos ativos e inativos, com potencial para múltiplas interações medicamentosas nessas vias. É eliminado principalmente pelas fezes, com meia-vida de 56 a 61 horas.
#Ponto importante: O canabidiol como inibidor do CYP2C19 aumentará as concentrações séricas de clobazam e seu metabólito ativo. Portanto, é apropriado reduzir a dose e monitorar os níveis de clobazam.
Veja também:
- Resumo de dependência química
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Referências bibliográficas:
- A.R.M. Schier et al. Canabidiol, um componente da Cannabis sativa, como um ansiolítico. Rev Bras Psiquiatr. 2012;34(Supl1):S104-S117.
- Antiseizure medications: Mechanism of action, pharmacology, and adverse effects. Uptodate.
- Cannabidiol: Drug information. Uptodate.
- Ministério da Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária/2ª Diretoria/Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos. RESOLUÇÃO RE Nº 1.298, DE 20 DE Abril DE 2022.
- Crédito da imagem em destaque: Pexels
