Resumo de Eflúvio Telógeno: conceito, causas e mais!
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Resumo de Eflúvio Telógeno: conceito, causas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! O eflúvio telógeno é uma das causas mais frequentes de queda difusa de cabelos, e leva frequentemente o paciente a buscar atendimento por medo de alopecia permanente. Apesar do impacto visual e emocional, trata-se de um processo reversível e autolimitado, decorrente de alterações temporárias no ciclo de crescimento capilar. 

Geralmente a normalização da queda ocorre entre três e seis meses após o controle do fator desencadeante.

O que é Eflúvio Telógeno 

Eflúvio telógeno é uma condição não cicatricial caracterizada por queda difusa de cabelos devido à transição precoce de folículos da fase anágena para a fase telógena. O couro cabeludo mantém ostia foliculares preservados e não há sinais de inflamação destrutiva. 

Em geral, o quadro surge após uma latência de 6 a 12 semanas de um gatilho sistêmico ou local, com desprendimento acentuado, porém reversível. Quando dura até 6 meses, descrevo como agudo. Quando a queda se estende além de 6 meses, com flutuações de intensidade, descrevo como crônico.

Gatilhos e etiologia  

O eflúvio telógeno surge quando um número significativo de folículos capilares entra precocemente na fase telógena, geralmente após algum estresse fisiológico ou metabólico. Diversos fatores podem atuar isoladamente ou em conjunto, e a identificação do gatilho costuma ser o ponto-chave para o manejo clínico.

Estresse físico e metabólico

Infecções agudas, febre alta, cirurgias extensas, traumas, queimaduras e doenças sistêmicas descompensadas figuram entre os desencadeantes mais reconhecidos. Esses eventos desviam energia metabólica do folículo capilar, provocando a interrupção temporária da fase anágena e a queda de fios entre 6 e 12 semanas depois.

Deficiências nutricionais

A deficiência de ferro é a mais associada, especialmente em mulheres com sangramento menstrual intenso, dietas restritivas ou distúrbios gastrointestinais. Também observo associação com baixos níveis de zinco, vitamina D, biotina e proteínas. O déficit nutricional prolongado prejudica a síntese da matriz capilar e favorece a miniaturização transitória dos fios.

Alterações hormonais

O período pós-parto é um clássico exemplo, pela queda abrupta dos níveis de estrogênio, levando ao desprendimento capilar acentuado após o segundo mês do parto. Alterações da tireoide, tanto hipotireoidismo quanto hipertireoidismo, também figuram como causas frequentes de eflúvio persistente.

Estresse emocional e psicogênico

Situações de sofrimento psicológico, luto, ansiedade ou depressão prolongada podem precipitar, ou perpetuar o quadro. A liberação de cortisol e citocinas inflamatórias altera a dinâmica folicular, prolongando o período telógeno.

Fármacos e substâncias

Diversos medicamentos estão implicados: anticoagulantes (heparina, varfarina), retinoides, anticonvulsivantes, betabloqueadores, antidepressivos tricíclicos, contraceptivos hormonais e interferons. A relação temporal entre o início do uso e o aparecimento da queda costuma esclarecer a suspeita.

Doenças crônicas e inflamatórias

Condições como lúpus, hepatopatias, insuficiência renal e infecções virais prolongadas, incluindo COVID-19, podem desencadear o eflúvio por múltiplos mecanismos, entre eles inflamação sistêmica, febre e desnutrição associada.

Fatores iatrogênicos e ambientais

Exposição a metais pesados, substâncias tóxicas e até procedimentos cosméticos agressivos (alisamentos, descolorações repetidas) podem contribuir para o dano folicular temporário.

Avaliação clínica

O eflúvio telógeno costuma se manifestar de forma insidiosa, com queixa de queda difusa de cabelos, geralmente percebida ao lavar, pentear ou notar fios espalhados pelo travesseiro e pelas roupas. O paciente descreve a sensação de “cabelos ralos” ou “perda de volume”, sem formação de áreas de alopecia franca. Em muitos casos, o quadro provoca angústia intensa, já que o desfecho visual pode ser desproporcional à gravidade clínica.

Início e evolução

A queda inicia-se, em média, de 6 a 12 semanas após o evento desencadeante, podendo persistir por até seis meses nas formas agudas. Nos casos crônicos, o desprendimento ocorre em ondas, com períodos alternados de melhora e recidiva. O couro cabeludo permanece íntegro, sem eritema ou descamação evidente.

Distribuição e padrão da perda

A rarefação é difusa, predominando nas regiões frontoparietais e vértex, embora o desprendimento ocorra em todo o couro cabeludo. Em pacientes com alopecia androgenética concomitante, a redução de densidade é mais notável na linha anterior e região do topo, o que pode confundir o diagnóstico inicial.

Exame físico e teste de tração

No teste de tração, realizado puxando suavemente grupos de 40 a 60 fios em diferentes áreas, o resultado é positivo quando mais de 10% se desprendem, indicando aumento da proporção de folículos em fase telógena. Os fios perdidos são inteiros, com bulbo esbranquiçado típico do ciclo telógeno. O couro cabeludo apresenta ostia foliculares preservados, sem áreas de fibrose ou inflamação ativa.

Sintomas associados

Não há dor, prurido ou inflamação significativa, embora alguns pacientes relatem formigamento ou leve sensibilidade no couro cabeludo — possivelmente relacionada à inflamação perifolicular discreta ou à ansiedade diante da queda. Em situações prolongadas, surgem sinais de impacto emocional, como insegurança e retraimento social.

Intensidade e autopercepção

A percepção de perda varia conforme o volume capilar inicial e o perfil psicológico do paciente. Mulheres costumam buscar atendimento mais precocemente, preocupadas com a estética e o simbolismo do cabelo. Muitos relatam que a queda parece “não ter fim”, mesmo quando o processo já se encontra em regressão fisiológica.

Evolução espontânea

Nos casos reativos, a queda tende a cessar gradualmente conforme o gatilho é resolvido. O crescimento de novos fios pode ser notado após 3 a 6 meses, com recuperação completa em até um ano, dependendo da intensidade e da causa.

Diagnóstico 

O diagnóstico do eflúvio telógeno é essencialmente clínico, baseado na história detalhada, no exame físico do couro cabeludo e na exclusão de outras causas de alopecia difusa. O processo diagnóstico requer uma escuta atenta, pois a identificação do gatilho costuma depender da correlação temporal entre o evento desencadeante e o início da queda.

Anamnese dirigida

Investigo o início, a duração e a intensidade da queda, além de eventos ocorridos nas últimas 8 a 12 semanas, como febre, infecção, cirurgia, parto, dieta restritiva, estresse emocional, início ou suspensão de medicamentos. Questiono também sobre distúrbios menstruais, alterações de peso, sintomas tireoidianos e uso de suplementos, já que podem sugerir causas metabólicas ou endócrinas.

Exame físico e teste de tração

O couro cabeludo mantém ostia foliculares visíveis e sem inflamação, e os fios apresentam bulbo esbranquiçado e ausência de fratura. O teste de tração é frequentemente positivo, sobretudo nas fases ativas da doença. A tricoscopia revela heterogeneidade no diâmetro dos fios, presença de cabelos curtos em crescimento e ausência de sinais de cicatrização ou miniaturização permanente.

Avaliação laboratorial

Os exames complementares são solicitados conforme o contexto clínico. Incluo de rotina:

  • Hemograma completo (anemia e infecções);
  • Ferritina e ferro sérico, especialmente em mulheres em idade fértil;
  • TSH e T4 livre, para detectar disfunções tireoidianas;
  • Vitamina D, zinco e proteínas totais, quando há suspeita nutricional;
  • Sorologia para sífilis (VDRL), se queda persistente e sem causa aparente.

Esses testes ajudam a confirmar deficiências e afastar condições sistêmicas subjacentes.

Diagnóstico diferencial

É fundamental distinguir o eflúvio telógeno de:

  • Alopecia androgenética: rarefação progressiva e padrão típico em áreas frontoparietais;
  • Alopecia areata difusa: queda abrupta, teste de tração negativo e achados tricoscópicos específicos;
  • Eflúvio anágeno: ocorre logo após insulto tóxico ou quimioterapia, sem período de latência;
  • Tricotilomania: fios de tamanhos variados e áreas de quebra irregular;
  • Alopecias cicatriciais: presença de inflamação e perda de ostia foliculares.

Biópsia do couro cabeludo (casos selecionados)

Indico a biópsia quando há dúvida diagnóstica ou persistência da queda por mais de seis meses. O achado típico é um aumento da proporção de folículos telógenos (>25%) sem sinais de inflamação destrutiva ou fibrose, confirmando a natureza não cicatricial do processo.

Tratamento

O tratamento do eflúvio telógeno concentra-se em identificar e corrigir o gatilho, restaurando gradualmente o equilíbrio do ciclo capilar. A abordagem é guiada pela causa, pelo tempo de evolução e pelo impacto emocional do paciente. Geralmente, a recuperação ocorre de forma espontânea, e o papel do médico é acompanhar, esclarecer e evitar intervenções desnecessárias.

Medidas gerais e orientação ao paciente

A primeira conduta é explicar o caráter reversível da condição e a cronologia esperada da melhora. O paciente deve compreender que, mesmo após o controle do gatilho, o ciclo capilar leva de 3 a 6 meses para se normalizar. Reforço que o uso de shampoos ou suplementos isoladamente não acelera a repilação. O apoio emocional é parte essencial do cuidado, já que o impacto estético pode gerar ansiedade e distorção da autoimagem.

Correção do gatilho identificado

  • Anemia e deficiência de ferro: reposição oral de ferro por 3 a 6 meses, ajustando à ferritina alvo (>70 ng/mL em mulheres).
  • Doenças endócrinas: controle de hipotireoidismo, hipertireoidismo ou outras disfunções hormonais.
  • Deficiências nutricionais: adequação proteica e suplementação de zinco, vitamina D e biotina apenas quando confirmado déficit.
  • Fármacos indutores: substituição ou suspensão do medicamento associado, se possível.
  • Estresse emocional: apoio psicológico, técnicas de manejo de ansiedade e sono.
  • Pós-parto: não há necessidade de medicação específica; oriento acompanhamento e cuidados com o couro cabeludo.

Terapias adjuvantes

O minoxidil pode ser utilizado em casos de eflúvio telógeno crônico ou em pacientes com alopecia androgenética associada, ajudando a sincronizar o crescimento dos fios. O uso tópico diário de 2% a 5% promove repilação mais uniforme. O minoxidil oral em baixa dose tem sido alternativa sob supervisão médica, especialmente quando há baixa adesão ao uso tópico.

Outras terapias, como LED capilar, microagulhamento e PRP (plasma rico em plaquetas), podem ser discutidas em casos refratários, embora a resposta varie e os estudos mostrem benefício limitado em quadros puramente reativos.

Cuidados complementares

Oriento evitar procedimentos químicos agressivos, escovação excessiva e pentes finos durante a fase ativa. O uso de cosméticos reparadores, como máscaras hidratantes e protetores térmicos, pode reduzir a quebra e melhorar a aparência. A alimentação equilibrada, rica em proteínas, ferro e vitaminas, contribui para a recuperação.

Acompanhamento clínico

Reavalio o paciente a cada 8 a 12 semanas, comparando densidade e presença de fios curtos em crescimento. Quando não há melhora após seis meses, reavalio causas persistentes ou coexistentes, e considero biópsia ou encaminhamento ao dermatologista especializado em tricologia. 

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Referências Bibliográficas 

  1. CHEN, C.; HU, S.; HUANG, W. Telogen Effluvium. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430848/.

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