Resumo de Gripe K (H3N2): transmissão, sintomas e mais!
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Resumo de Gripe K (H3N2): transmissão, sintomas e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A Gripe K (H3N2) corresponde a uma variante recente do vírus influenza A, associada a ampla disseminação internacional e impacto relevante na prática clínica. As particularidades virológicas, epidemiológicas e clínicas desse subclado exigem atenção quanto ao diagnóstico, manejo e estratégias de prevenção.

O subclado K do influenza A(H3N2) apresenta mutações na hemaglutinina que favorecem maior transmissão e escape parcial da imunidade prévia.

O que é a Gripe K (H3N2) 

A gripe K (H3N2) corresponde a uma variante do vírus influenza A subtipo H3N2, pertencente ao subclado K, também denominado J.2.4.1. Trata-se de uma linhagem identificada inicialmente por meio de vigilância molecular e que apresentou rápida disseminação internacional, tornando-se predominante em diferentes regiões.

Esse subclado é caracterizado por múltiplas mutações na proteína hemaglutinina, especialmente na área de ligação ao receptor celular, o que resulta em variações antigênicas relevantes. Essas alterações favorecem escape parcial da imunidade prévia, inclusive daquela induzida por vacinação recente, e contribuem para maior capacidade de transmissão.

Do ponto de vista clínico e epidemiológico, a influenza A(H3N2) subclado K está associada a maior frequência de quadros graves, sobretudo em idosos, indivíduos com comorbidades e outros grupos de risco, além de impacto significativo sobre a dinâmica sazonal da influenza

Epidemiologia 

Cenário global

Desde 2025, a influenza A(H3N2) subclado K apresenta rápida disseminação internacional, com aumento expressivo da circulação em países do hemisfério norte. Observa-se início precoce da temporada de influenza em diversas regiões, com predomínio progressivo do H3N2 e substituição de subclados anteriormente circulantes. Esse comportamento reflete vantagem adaptativa e maior capacidade de transmissão, mantendo atividade relevante em múltiplos continentes.

Região das Américas

Nas Américas, a dinâmica de circulação é heterogênea. Na América do Norte, há crescimento sustentado da influenza A, com predominância do H3N2 e identificação frequente do subclado K em análises genômicas. Em países da América Central e Caribe, ainda predomina o A(H1N1)pdm09, enquanto a circulação do H3N2 avança de forma gradual. Na América do Sul, a atividade de influenza A(H3N2) aumentou no segundo semestre de 2025, inicialmente sem ampla detecção do subclado K, mas com sinais de possível expansão.

Situação epidemiológica no Brasil

No Brasil, os dados mais recentes apontam aumento da circulação de influenza A, com variações regionais. Estados das regiões Norte e Nordeste apresentam crescimento de hospitalizações associadas ao vírus, enquanto no Sul observa-se recrudescimento em períodos recentes. No Sudeste, a tendência é de redução gradual, embora ainda haja circulação ativa. A vigilância laboratorial demonstra elevação da positividade para H3 sazonal, com identificação do subclado K em amostras isoladas, especialmente na Região Norte, indicando introdução e circulação inicial dessa variante no país.

Impacto em casos graves

A influenza A corresponde a parcela significativa dos casos e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave com confirmação viral no Brasil. O impacto é mais evidente em idosos, crianças pequenas, gestantes e indivíduos com comorbidades, grupos nos quais o H3N2 está associado a maior frequência de hospitalizações. Embora não haja evidência de aumento abrupto da gravidade, a predominância do H3N2 sugere maior carga assistencial durante a temporada.

Tendências atuais

O cenário epidemiológico indica expansão global do subclado K, com circulação crescente de H3N2 e comportamento sazonal variável. No Brasil, a presença inicial do subclado K, associada ao aumento de influenza A, reforça a necessidade de monitoramento contínuo, especialmente em períodos de maior atividade respiratória e sobreposição com outros vírus sazonais.

Características Morfológicas do Vírus H3N2 

Classificação e estrutura

O vírus influenza A(H3N2) subclado K pertence à família Orthomyxoviridae e apresenta morfologia típica dos vírus influenza A. É um vírus envelopado, com formato esférico ou pleomórfico, medindo aproximadamente 80 a 120 nm de diâmetro.

Envelope viral e proteínas de superfície

O envelope lipídico contém as principais glicoproteínas virais, hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA), além da proteína M2, que atua como canal iônico. A hemaglutinina está organizada em trímeros, formando espículas responsáveis pela ligação aos receptores celulares, enquanto a neuraminidase apresenta estrutura tetramérica, relacionada à liberação das partículas virais recém-formadas.

Genoma e organização interna

O genoma é composto por oito segmentos de RNA de fita simples, senso negativo, associados a proteínas nucleares e à RNA polimerase viral. Essa organização segmentada permite rearranjos genéticos e contribui para a variabilidade do vírus influenza A.

Alterações morfológicas no subclado K

O subclado K caracteriza-se por múltiplas mutações na hemaglutinina, sobretudo na região de ligação ao receptor celular. Entre as principais substituições descritas estão K189R, T135K, N145S, N158D e I160K, que resultam em modificações conformacionais da superfície da HA e alterações antigênicas.

Implicações estruturais

Apesar de manter a morfologia clássica do influenza A, o H3N2 subclado K apresenta diferenças estruturais na hemaglutinina que interferem no reconhecimento imunológico e contribuem para sua distinção em relação a outros subclados previamente circulantes.

Transmissão e fatores de risco

Vias de transmissão

A influenza A(H3N2) subclado K é transmitida principalmente por gotículas respiratórias eliminadas durante tosse, espirro ou fala. A transmissão por aerossóis pode ocorrer, sobretudo, em ambientes fechados, pouco ventilados e com aglomeração, favorecendo a disseminação rápida do vírus. 

O contato direto com secreções respiratórias de indivíduos infectados também representa via relevante. A transmissão por fômites é possível, uma vez que o vírus pode permanecer viável por algumas horas em superfícies, embora tenha menor impacto epidemiológico.

Contextos de maior transmissão

A disseminação é mais frequente em ambientes coletivos, como escolas, creches, instituições de longa permanência, unidades de saúde, eventos sociais e meios de transporte coletivo. O subclado K apresenta vantagem de transmissão, associada à sua capacidade de circular mesmo em populações com imunidade prévia parcial.

Fatores individuais de risco

Apresentam maior risco de infecção e evolução desfavorável crianças pequenas, idosos, gestantes, imunossuprimidos e pessoas com doenças crônicas, incluindo cardiopatias, pneumopatias, doenças metabólicas e neurológicas. Profissionais de saúde e cuidadores também estão mais expostos devido ao contato frequente com casos sintomáticos.

Fatores populacionais e ambientais

A baixa cobertura vacinal, associada ao descompasso antigênico entre a vacina e o subclado K, aumenta a suscetibilidade coletiva. Condições ambientais, como baixa umidade, clima frio e permanência prolongada em ambientes fechados, contribuem para maior circulação viral durante os períodos sazonais.

Quadro Clínico 

Manifestações iniciais

A infecção pelo vírus influenza A(H3N2) subclado K apresenta quadro clínico semelhante ao de outras infecções por influenza A. O início costuma ser abrupto, com febre alta, tosse seca, odinofagia, mialgia, cefaleia, calafrios, fadiga intensa e mal-estar geral. Sintomas respiratórios altos, como coriza e congestão nasal, podem estar presentes, embora sejam menos proeminentes em alguns casos.

Evolução clínica

Na maioria dos indivíduos previamente saudáveis, o quadro é autolimitado, com melhora progressiva em poucos dias. Entretanto, o H3N2 está associado a maior intensidade sintomática, podendo cursar com fadiga prolongada e tosse persistente após a fase aguda.

Quadros em populações de risco

Em idosos, crianças pequenas, gestantes, imunossuprimidos e pacientes com comorbidades, há maior probabilidade de evolução para formas mais graves. Nesses grupos, podem ocorrer pneumonia viral primária, descompensação de doenças crônicas, insuficiência respiratória e necessidade de hospitalização.

Complicações

As principais complicações incluem pneumonia, síndrome do desconforto respiratório agudo, exacerbação de asma e doença pulmonar obstrutiva crônica, além de manifestações sistêmicas como miocardite, encefalite, sepse e óbito. Infecções bacterianas secundárias também podem ocorrer, especialmente em idosos.

Diagnóstico 

Avaliação clínica

O diagnóstico da infecção pelo vírus influenza A(H3N2) subclado K inicia-se pela identificação de quadro clínico compatível, caracterizado por febre de início súbito, tosse seca, odinofagia, mialgia, cefaleia, fadiga e mal-estar geral. Em grupos de risco, a presença de sinais de gravidade respiratória ou sistêmica deve aumentar a suspeita diagnóstica.

Contexto epidemiológico

A investigação deve considerar exposição recente a ambientes fechados ou aglomerados, contato próximo com casos suspeitos ou confirmados e circulação comunitária de influenza A, especialmente em períodos sazonais com predomínio do H3N2. A avaliação epidemiológica é particularmente relevante em surtos e em pacientes vulneráveis.

Diagnóstico laboratorial

A confirmação é realizada por testes moleculares, principalmente RT-PCR, capazes de detectar o RNA do vírus influenza A. A identificação do subtipo H3N2 pode ser feita por métodos específicos, e a caracterização do subclado K requer sequenciamento genético, evidenciando as mutações típicas da hemaglutinina.

Diagnóstico diferencial

É necessário diferenciar a influenza de outras infecções respiratórias virais com apresentação semelhante, como SARS-CoV-2, vírus sincicial respiratório, rinovírus, metapneumovírus e adenovírus, utilizando testes laboratoriais adequados conforme o contexto clínico.

Indicações de testagem

A testagem é especialmente indicada em pacientes hospitalizados, indivíduos com fatores de risco para complicações, casos com evolução atípica ou grave e em situações de vigilância epidemiológica, devido à relevância do subclado K na dinâmica atual da influenza.

Tratamento

Tratamento antiviral

O manejo da infecção pelo vírus influenza A(H3N2) subclado K baseia-se no uso de antivirais específicos, com destaque para os inibidores de neuraminidase, como oseltamivir, zanamivir e peramivir, além do inibidor de endonuclease baloxavir marboxil. Os isolados do subclado K avaliados até o momento mantêm sensibilidade a essas medicações.
O tratamento apresenta maior benefício quando iniciado precocemente, preferencialmente nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas, recomendado para pacientes com fatores de risco, quadros moderados a graves ou necessidade de hospitalização.

Manejo clínico

Nos casos leves, o tratamento é predominantemente sintomático, com hidratação adequada, controle da febre e alívio da dor. Em pacientes hospitalizados, o manejo inclui suporte respiratório, monitorização clínica contínua e tratamento das complicações associadas, como pneumonia ou descompensação de doenças crônicas. Em situações selecionadas, pode-se considerar terapia antiviral combinada, especialmente em imunossuprimidos ou em quadros graves.

Tratamento em populações especiais

Gestantes, idosos, crianças pequenas e indivíduos com comorbidades devem ser tratados com prioridade, mesmo quando a apresentação clínica inicial é leve. O oseltamivir é amplamente utilizado nessas populações, inclusive durante a gestação, enquanto o uso de baloxavir requer cautela em determinados grupos.

Prognóstico

Na maioria dos indivíduos previamente saudáveis, o prognóstico é favorável, com recuperação completa em poucos dias. Contudo, o H3N2 está associado a maior risco de hospitalização em comparação a outros subtipos de influenza, especialmente em idosos e pacientes com doenças de base. A evolução pode ser mais prolongada, com maior frequência de complicações respiratórias.

Fatores associados à evolução desfavorável

Idade avançada, presença de comorbidades, atraso no início do tratamento antiviral e coinfecções respiratórias estão associados a pior desfecho clínico. Em temporadas com predomínio do subclado K, observa-se aumento da demanda por serviços de saúde, reforçando a necessidade de diagnóstico oportuno e manejo adequado.

Prevenção e vacinação

Vacinação

A vacinação anual contra influenza permanece a principal estratégia preventiva frente à circulação do vírus influenza A(H3N2) subclado K. Embora esse subclado apresente variações antigênicas na hemaglutinina, estudos observacionais demonstram que a vacina disponível mantém proteção relevante contra formas graves, hospitalizações e atendimentos de emergência, especialmente em crianças e adolescentes, com efeito mais moderado em adultos.

A vacinação é recomendada para todas as pessoas a partir de 6 meses, com priorização de grupos de maior risco, como idosos, gestantes, crianças pequenas, imunossuprimidos, portadores de doenças crônicas e profissionais de saúde. Mesmo diante de descompasso antigênico parcial, a imunização contribui para redução da gravidade clínica e da sobrecarga dos serviços de saúde.

Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia pós-exposição com antivirais, como oseltamivir, zanamivir ou baloxavir, pode ser considerada em pessoas com alto risco de complicações após contato próximo com casos confirmados ou suspeitos, especialmente quando iniciada precocemente. Essa estratégia é útil em surtos institucionais e em contextos de alta vulnerabilidade.

Medidas não farmacológicas

Medidas de prevenção não farmacológicas complementam a vacinação e incluem higiene das mãos, etiqueta respiratória, uso de máscaras por indivíduos sintomáticos, ventilação adequada de ambientes e isolamento de casos durante o período de transmissibilidade. Essas ações são particularmente relevantes em ambientes fechados, serviços de saúde e instituições de longa permanência.

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Referências Bibliográficas 

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