Olá, querido doutor e doutora! O mixoma atrial é uma neoplasia benigna de origem mesenquimal, com grande variabilidade clínica e potencial para causar obstrução intracardíaca ou eventos embólicos. A mobilidade da massa e sua localização determinam a expressão dos sintomas, que podem oscilar entre manifestações leves e quadros graves.
O ecocardiograma costuma revelar uma massa móvel aderida ao septo interatrial, característica que auxilia fortemente na suspeita diagnóstica.
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O que é o Mixoma Atrial
O mixoma atrial é uma neoplasia cardíaca primária benigna composta por células mesenquimais primitivas, originada no tecido subendocárdico e caracterizada por crescimento intracavitário. A maioria dessas lesões ocorre no átrio esquerdo, frequentemente aderidas ao septo interatrial por um pedículo, o que confere intensa mobilidade e potencial de obstrução dinâmica do fluxo sanguíneo.
Trata-se de um tumor de estroma mixoide e aspecto gelatiniforme, com morfologia variável que pode incluir superfícies lisas ou vilosas, influenciando o risco de embolização e a forma de apresentação clínica.
Etiologia e mecanismos fisiopatológicos
Origem tumoral
Os mixomas atriais derivam de células mesenquimais primitivas localizadas no tecido subendocárdico, cuja diferenciação anômala leva à formação do estroma mixoide característico. A etiologia exata permanece incerta, envolvendo provável combinação de predisposição celular e estímulos locais que favorecem proliferação lenta e expansão intracavitária. A origem endocárdica explica a fixação típica ao septo interatrial e o comportamento pedunculado da lesão.
Contribuição genética e síndromes associadas
A maioria dos casos é esporádica, porém formas familiares ocorrem em síndromes como Carney, LAMB e NAME, que incluem alterações cutâneas, endócrinas e maior propensão à multicentricidade. Nessas síndromes, mutações específicas favorecem recorrência e surgimento de múltiplos tumores, caracterizando um padrão distinto do mixoma isolado. A apresentação precoce nesses pacientes reforça o papel das alterações genômicas na manutenção do fenótipo tumoral.
Mecanismos de sintomas e complicações
As manifestações clínicas resultam do tamanho, mobilidade e localização do tumor, que podem gerar obstrução dinâmica do fluxo em válvulas mitral ou tricúspide. A movimentação contínua causa ruptura vascular intratumoral e áreas de hemorragia, produzindo alterações estruturais e instabilidade da massa. Fragmentos tumorais ou trombos aderidos podem embolizar, levando a eventos sistêmicos ou neurológicos.
Epidemiologia e fatores associados
Distribuição populacional
O mixoma atrial é a neoplasia cardíaca primária benigna mais observada em adultos, apesar de permanecer pouco frequente na população geral. A faixa etária predominante situa-se entre 30 e 60 anos, com média ao redor da quinta década. Há maior incidência em mulheres, sugerindo possível influência hormonal ou genética.
Perfil etiológico e contexto clínico
A grande maioria dos casos é esporádica, sem herança identificável. Uma pequena parcela está ligada a síndromes hereditárias, como Carney, LAMB e NAME, nas quais há tendência a múltiplas lesões cardíacas e manifestações cutâneas ou endócrinas. Essas condições aumentam a probabilidade de recorrência tumoral e levam frequentemente a diagnósticos em idades mais jovens.
Padrão de localização e impacto anatômico
Cerca de três quartos dos mixomas se originam no átrio esquerdo, geralmente no septo interatrial, área da fossa oval. As demais localizações incluem átrio direito e, menos frequentemente, câmaras ventriculares, o que pode alterar a forma de apresentação clínica. A posição tumoral influencia risco de embolização, obstrução valvar e complicações hemodinâmicas, reforçando a necessidade de avaliação precoce e completa.
Localização, morfologia e crescimento tumoral
Distribuição anatômica
A maioria dos mixomas atriais se origina no átrio esquerdo, especialmente na região da fossa oval do septo interatrial. Entre quinze e vinte por cento surgem no átrio direito, enquanto apresentações ventriculares são incomuns. Essa localização define o padrão de obstrução, risco de embolização e impacto hemodinâmico, variando conforme a câmara acometida.
Aspectos morfológicos
Os mixomas podem apresentar morfologia polipoide ou papilar, com superfície gelatinosa e textura variável. Lesões mais lisas tendem a causar obstrução mecânica predominante, enquanto formas vilosas têm maior probabilidade de fragmentação e embolização, refletindo a friabilidade do tecido tumoral. O tamanho é bastante variável, podendo alcançar dimensões superiores a dez centímetros, o que altera de forma expressiva o comportamento clínico.
Padrão de crescimento e comportamento intracavitário
O crescimento é geralmente lento, mas progressivo, permitindo que a massa ocupe parte significativa da cavidade cardíaca. A fixação por pedículo estreito proporciona mobilidade marcada, levando a movimento pendular através da válvula mitral ou tricúspide, principalmente durante o enchimento diastólico. Esse padrão favorece episódios intermitentes de obstrução, variação postural dos sintomas e microtraumas intratumorais, que podem gerar hemorragia interna e mudanças estruturais ao longo do tempo.
Avaliação clínica
Manifestações cardiovasculares
Os sintomas variam amplamente conforme o tamanho, mobilidade e localização do tumor, podendo ir de ausência de queixas a apresentações abruptas. Dispneia, palpitações, dor torácica e síncope são observados com frequência, especialmente quando há obstrução intermitente ao fluxo em valvas mitral ou tricúspide. Muitos pacientes desenvolvem sinais de insuficiência cardíaca, incluindo fadiga, ortopneia e edema periférico.
Sintomas constitucionais
Uma parcela significativa apresenta manifestações sistêmicas inespecíficas, como febre baixa, perda de peso, mialgia e artralgia. Esses sintomas podem relacionar-se à produção tumoral de interleucina 6, que promove resposta inflamatória persistente. Alterações cutâneas como fenômeno de Raynaud podem ocorrer, reforçando o componente imunoinflamatório associado ao tumor.
Eventos embólicos e apresentações neurológicas
O mixoma atrial pode se manifestar inicialmente por quadro embólico, com envolvimento sistêmico ou do sistema nervoso central. Acidente vascular cerebral e ataque isquêmico transitório são descritos com frequência, especialmente quando a lesão apresenta superfície vilosa ou trombos aderidos. Em localização direita, os quadros embólicos tendem a comprometer circulação pulmonar, levando a dispneia súbita e hipóxia.
Achados ao exame físico
O exame pode revelar sopros variáveis, estertores pulmonares e sinais de congestão, dependendo do grau de obstrução valvar. O chamado tumor plop diastólico pode ser auscultado em alguns casos, refletindo o movimento pendular da massa. Alterações hemodinâmicas flutuantes são comuns, e costumam piorar em determinadas posições corporais devido à mobilidade tumoral.
Diagnóstico
Avaliação inicial e suspeita clínica
O diagnóstico deve ser considerado em pacientes com dispneia aguda, sopros novos ou sintomas embólicos sem explicação, especialmente na ausência de fatores de risco cardiovasculares tradicionais. Achados como variação postural dos sintomas e sinais de obstrução intermitente reforçam a suspeita, uma vez que decorrem da mobilidade tumoral. Em pacientes assintomáticos, o mixoma pode surgir como achado incidental em exames de imagem, o que torna a abordagem sistemática fundamental.
Métodos de imagem e confirmação diagnóstica
O ecocardiograma transtorácico é o principal exame para identificação da massa, permitindo visualizar localização, pedículo, mobilidade e impacto hemodinâmico. A presença de massa móvel aderida ao septo interatrial por pedículo estreito é altamente sugestiva, especialmente quando se observa protrusão tumoral através da valva correspondente. Tomografia ou ressonância cardíaca são úteis quando o pedículo não é claramente visualizado, garantindo melhor caracterização tecidual e diferenciação entre tumor, trombo ou outras massas.
Diferenciação com outras lesões cardíacas
O diagnóstico diferencial inclui trombos, fibroelastomas, lipomas e tumores malignos, dentre outros. Características como heterogeneidade do sinal na ressonância e realce parcial à perfusão auxiliam na distinção, enquanto trombos tendem a apresentar aspecto homogêneo e menor mobilidade. A ausência de infiltração miocárdica e a presença de formato polipoide ou papilar favorecem o diagnóstico de mixoma, reduzindo a necessidade de métodos invasivos.
Confirmação histopatológica
O diagnóstico definitivo é obtido após ressecção cirúrgica, quando avaliação macroscópica e microscópica confirma estroma mixoide, células mesenquimais dispersas e padrão típico da lesão. A histologia descarta tumores malignos e identifica variações estruturais relevantes, como áreas hemorrágicas e presença de trombos superficiais. Essa confirmação orienta seguimento e avaliação de risco de recorrência, especialmente em pacientes com possíveis síndromes associadas.

Tratamento
A base do tratamento do mixoma atrial é a ressecção cirúrgica precoce, indicada para praticamente todos os pacientes após confirmação diagnóstica. O objetivo principal é remover completamente a massa para prevenir embolização sistêmica e descompensação cardiovascular, reduzindo o risco de eventos neurológicos, insuficiência cardíaca e morte súbita. A decisão cirúrgica deve ser tomada mesmo em pacientes oligossintomáticos ou assintomáticos, já que a evolução clínica é muitas vezes imprevisível.
Abordagem cirúrgica
A via clássica para ressecção é a esternotomia mediana com circulação extracorpórea, permitindo ampla exposição das câmaras cardíacas. Durante o procedimento, procura-se ressecar o tumor em bloco com o pedículo e parte do septo ou parede de origem, minimizando a chance de fragmentação e de implante tumoral em outras áreas. Defeitos residuais são usualmente corrigidos com enxerto ou patch, e todas as câmaras devem ser inspecionadas em busca de lesões adicionais.
Técnicas menos invasivas, como mini-toracotomia ou abordagens videoassistidas e robóticas, vêm sendo empregadas em centros especializados, especialmente em tumores em posição favorável. Essas estratégias podem reduzir tempo de internação e morbidade, mantendo taxas de ressecção completa semelhantes, desde que realizadas por equipes experientes. A escolha da técnica depende de fatores como localização tumoral, comorbidades, experiência da equipe e disponibilidade de recursos.
Manejo peroperatório e complicações
No período pré-operatório, o controle de insuficiência cardíaca, arritmias e sintomas embólicos é prioritário, com uso de diuréticos, controle de frequência cardíaca e anticoagulação em casos selecionados. Em presença de mixoma infectado, associa-se antibioticoterapia dirigida a partir de hemoculturas e, quando possível, de material cirúrgico, integrando abordagem clínica e cirúrgica. Pacientes com história de eventos embólicos prévios e tumores vilosos ou muito móveis costumam ser tratados com maior urgência devido ao risco de novos episódios.
No pós-operatório imediato, monitoram-se complicações como baixo débito cardíaco, arritmias e acidente vascular cerebral, que podem exigir suporte inotrópico, marcapasso temporário ou definitivo e manejo neurológico específico. A fibrilação atrial de novo é achado relativamente frequente, principalmente em pacientes idosos ou com átrio previamente dilatado, e pode requerer anticoagulação prolongada. Após alta, a estratégia de seguimento inclui avaliação clínica e ecocardiográfica periódica, com foco em função cardíaca, arritmias e detecção precoce de recidiva.
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Referências Bibliográficas
- EBSCO Information Services. Atrial Myxoma. DynaMed. 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/atrial-myxoma.



